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3 PROPOSTA DIDÁCTICA: OCORRÊNCIA DE DOBRAS E FALHAS

3.4 Descrição Sumária das Aulas Leccionadas

3.4.6 Diário da aula VI (50’+50’)

Sumário: Falhas de desligamento: causas e consequências. Análise do exemplo do Golfo de Cádis.

Descrição da aula

Esta foi uma aula em que os alunos estavam divididos em turnos, pelo que houve algumas diferenças na dinâmica da discussão que se estabeleceu durante a análise dos mapas (ver Apêndice F, Ficha de Trabalho 3). Em ambos os turnos, à medida que os alunos entravam na sala, fui-lhes explicando que eu tinha feito uma pequena alteração na organização dos grupos de trabalho, pelo que lhes dei indicação de onde se deveriam de sentar. Em cada turno foram formados 4 grupos de três alunos, com excepção de um grupo, no segundo turno, que ficou com 4 elementos. No primeiro turno houve três alunos que chegaram atrasados e um aluno que faltou.

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Os alunos passaram o sumário escrito no quadro e dei início ao primeiro momento da aula, no qual os questionei acerca das conclusões a que já tinham chegado sobre as consequências das tensões distensivas e compressivas na litosfera. Para iniciar o tema desta aula questionei-os, ainda, sobre qual o tipo de limite e tensão que ainda não tinha sido abordado. De seguida pedi que um aluno explicasse como se movimentam os blocos num limite transformante e posteriormente classifiquei o tipo de falha a que corresponde – falha de desligamento.

Num momento seguinte entreguei uma ficha de trabalho (Apêndice F, Ficha de Trabalho 3) intitulada “Terá o “nosso” lado do Atlântico uma margem passiva?”, explicando que esta é uma questão que vários investigadores colocaram e que têm estado a tentar responder através de muitos estudos. Pedi a um aluno que lesse em voz alta o texto introdutório e que elaborassem, em grupo, as respostas às questões da ficha. Enquanto o faziam circulei pelos grupos ajudando na compreensão do que era pedido nas questões e na redacção das respostas. Em algumas situações, em particular no 2º turno, tive ainda que ajudar a resolver atritos entre alguns alunos. Os alunos demoraram mais tempo do que o previsto e por conseguinte, passei para a projecção de diapositivos em PowerPoint (ver Apêndice F), fazendo a ligação entre o trabalho que os alunos tinham estado a desenvolver, analisando os mapas da ficha, com o trabalho de investigação científica que tem sido levado a cabo nos últimos 15 anos. No segundo turno faltou discutir, de uma forma mais evidente, as causas e consequências dos movimentos das placas nos limites transformantes.

Reflexão

Nesta aula os alunos pareciam estar mais calmos, apesar da agitação inicial com a alteração dos grupos de trabalho. Senti que, à excepção de dois grupos (um em cada turno) em que houve alguns atritos, no geral os grupos funcionaram melhor, tendo havido mais partilha, cooperação e concretização. No final da aula do segundo turno uma aluna comentou comigo que não se importaria de ficar com o colega que não se integrou bem num dos grupos. Julgo que é uma opção a experimentar na próxima aula.

Após analisar as respostas aos dois questionários de avaliação das actividades anteriores deparei-me com uma questão que me fez sentir ansiosa.

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Uma aluna, das duas vezes, apontou como ponto a melhorar “melhor explicação”. Ora, já me tinha questionado anteriormente “o que quereria ela dizer com aquilo?” E pensei em questioná-la, mas na aula anterior não foi possível, porém desta vez, não deixei passar, e enquanto os alunos se sentavam perguntei-lhe. Ela disse que achava que às vezes os alunos tinham uma dúvida e eu nem sempre ia ao lugar esclarecê-la. Agradeci-lhe e disse que ia tentar que não voltasse a acontecer. Foi estranho, na minha perspectiva julgava que isso era algo que eu estava a tomar muita atenção para que não falhasse, afinal nem sempre as nossas perspectivas correspondem às perspectivas dos alunos.

Os três principais objectivos desta aula foram cumpridos, apesar de não ter terminado a síntese da aula com a resposta ao problema geral inicialmente colocado. Houve alguns alunos, em ambos os turnos, que ficaram realmente entusiasmados com a construção da ciência, e em particular com o facto de este ser um assunto controverso e para o qual ainda não há um consenso na comunidade científica. Este entusiasmo deixou-me bastante satisfeita e realizada.

A dinâmica de grupo que se criou em cada um dos turnos foi muito diferente e nem sempre foi fácil de gerir. Os alunos do primeiro turno foram menos autónomos, mas mesmo assim consegui discutir a actividade mais facilmente e de forma mais rápida. No segundo turno os alunos aparentam ser mais autónomos, com menos dificuldade na escrita, mas colocam questões que por vezes desviam o rumo da aula, o que a torna mais difícil de gerir, quer no que respeita ao fio condutor, quer no que respeita ao tempo. Isto vai-me deixando um pouco ansiosa à medida que o tempo vai passando e parece que não há progressão. Mas é mesmo assim, nestas aulas de cariz investigativo o professor não detém o controlo absoluto da aula, uma vez que é dada ao aluno a liberdade de ir construindo o seu próprio conhecimento.

Na elaboração das respostas escritas, alguns alunos sentiram dificuldade na questão que pedia para compararem a forma de fazer investigação atual com a que Wegener levou a cabo, porque não compreenderam a pergunta. Na análise do mapa da figura 1 não sentiram dificuldade e na análise do mapa de figura 2, foi necessário chamar à atenção para os relevos submarinos e para os diferentes tipos de tensão que estariam associados às formações que os alunos identificaram. Mas, uma vez que fui circulando pelos grupos fui retirando as dúvidas e dando sempre pistas para que conseguissem chegar aos dados pretendidos. Pela primeira vez

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senti que houve grupos que conseguiram trabalhar de forma um pouco mais autónoma, em ambos os turnos, o que me fez sentir que “está a correr bem!” e que afinal é possível pô-los a trabalhar de forma cooperativa, é só preciso encontrar as parcerias certas.

Nesta aula os objectivos foram cumpridos, em grupo os alunos conseguiram recolher os dados, através da análise de mapas, e após a discussão compreenderam como se constrói a ciência. Esta foi, sem dúvida, a actividade que mais trabalho deu a preparar, uma vez que tive de efectuar uma pesquisa muito aprofundada de todo este tema. Mas, no final da aula senti-me realizada, pois todo o esforço de preparação tinha sido recompensado!