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4 ANÁLISE I: DIAGNÓSTICO, DECLÍNIO LINGUÍSTICO-COGNITIVO

4.1 DIAGNÓSTICO E OBSERVAÇÃO DO MINI EXAME DO ESTADO

4.1.1 Diagnóstico

Como já foi observado nos capítulos anteriores, é bastante comum o diagnóstico dos prováveis portadores de Alzheimer apenas a partir de uma perspectiva biológica/médica que considera o indivíduo, como uma espécie de sujeito isolado cognitivamente, sem considerar sua vida e práticas sociais habituais.

Dos cinco pacientes portadores de Alzheimer contido nas análises dessa pesquisa 3 possuíam exames como tomografias, 2 apresentaram ressonâncias magnéticas e 4 quatro realizaram o MEEM durante a construção dos dados da pesquisa (como já mencionado anteriormente, o paciente 5 não realizou o MEEM justamente por não possuir capacidade de responder a nossos estímulos já que se encontrava em estágio terminal da doença).

A importância da ressonância magnética e da tomografia computadorizada varia com relação as suas especificidades. A literatura médica, que trata especificamente da radiologia (Guimarães, 2007), concorda que a tomografia computadorizada é mais eficaz em caso de diagnósticos de problemas pulmonares, mas, em questões neurológicas, nada é melhor que a ressonância magnética.

A análise das ressonâncias e tomografias dos pacientes participantes da pesquisa se baseou, por eliminação, na observação de alguns indícios que levassem a acreditar que os doentes poderiam ser de fato acometidos pela doença de Alzheimer. Há uma grande preocupação de tratarmos o diagnóstico da doença de Alzheimer o tendo como uma hipótese, já que sua efetivação é apenas pós-morte, ou seja, quando o indivíduo chega a óbito.

Os médicos neurologistas, psiquiatras, geriatras utilizam as ressonâncias e tomografias como um meio de averiguar se há a existência de morte cerebral em certas áreas do cérebro as quais formam cicatrizes denominadas placas senis. São justamente essas placas que, ao serem comprovadas nesses instrumentos médicos específicos, justificam a existência do comprometimento cerebral que afeta funções como a linguagem, memória, concentração e raciocínio.

Outros elementos também observados pela equipe médica em ressonâncias e tomografias20, durante a evolução da doença, são a degeneração no hipocampo (do sistema límbico) e do córtex cerebral; morte de grande parte do tecido nervoso; encolhimento do tecido cerebral; alargamento dos sulcos cerebrais e encolhimento do gyri; ampliação dos ventrículos.

Levando em consideração essas observações, na análise dos exames era visível o encolhimento do cérebro dos portadores MSF e MF com relação à ressonância do paciente em estágio inicial HC. Foi observada cada uma das ressonâncias e tomografias, mas, foi na comparação desses três pacientes que percebemos a mudança que ocorre no transcorrer da patologia.

No tocante ao Mini Exame de Estado Mental foi realizado oito testes, sendo quatro em portadores de Alzheimer e quatro em um grupo de controle não- Alzheimer. O MEEM21 foi criado em 1975 e hoje é o teste mais difundido no mundo por ser eficaz e de fácil aplicação. Ele leva, a depender da fase e do ânimo do paciente, de 5 a 10 minutos para se aplicado e revela, imediatamente, um indicador aceitável da possibilidade de demência.

Como já elucidado no capítulo que trata da metodologia, a pontuação total do Mini Exame do Estado Mental apresenta 30 pontos. Entretanto, a literatura médica

20 A elucidação de todos esses elementos estão bem detalhadas no livro Tratado de Geriatria e Gerontologia.

FREITAS, Elizabete Viana de et al. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

21

IBNEURO:<

http://www.ibneuro.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=229&catid=3:artigos&Itemid=6 3> acessado em 25/03/2011, às 13:06.

(mais especificamente, o ministério da saúde) sugere um ponto de corte de 23 pontos por entender que o teste possui um caráter universal e saber que dele se utiliza várias pessoas que não possuem, por exemplo, escolaridade.

Os testes foram aplicados na própria instituição, Vila Vicentina, sempre com a presença da enfermeira, fisioterapeuta, e da técnica de enfermagem que trabalham na casa de repouso. As perguntas realizadas não eram complexa, mas, gerou uma certa dificuldade, até mesmo no grupo de controle, por exigir um mínimo grau de escolaridade. A estrutura do teste será vista, detalhadamente, a seguir, mas, só para exemplificar eram questões do tipo: “qual é o mês em que estamos?”; “quanto é 100

menos 7”?; “em que cidade você está?”.

Estatisticamente falando22, os testes realizados apresentaram os seguintes

resultados:

Dados

observados em % de acertos

MC-F RIR-F MSF-F MSA-F DSB-M JTSF-M HC-M SAP-M

Grupo de

Controle 83% 97% 80% 79%

Grupo

Alzheimer 27% 13% 18% 56%

Ao analisar estatisticamente a tabela percebemos o quanto é nítida a diferença no desempenho de cada um dos participantes doentes Alzheimer quando comparamos com a realidade das respostas (e margem de acertos) dos portadores não Alzheimer.

Como podemos observar, todos esses dados observados até então dão conta apenas de situações empíricas e estatísticas que nos fazem chegar a um diagnóstico aceitável de doença de Alzheimer. Entretanto, não são mencionadas as alterações que ocorrerá na vida daquele indivíduo (agora diagnosticado com a patologia), nas possíveis alterações de suas atividades individuais, em como lidar com a doença, como a pessoa passa a ser tratada por indivíduos não-alzheimer, e, principalmente, não menciona as consequencias que o abandono traz para esses indivíduos os quais passam a ser excluídos do meio social justamente a partir do

22 Na nomenclatura apresentada, as duas ou três primeiras letras representam as iniciais dos participantes e a

diagnóstico de uma provável demência. É justamente por essa razão, que sugerimos uma proposta neurocognitiva e sociocognitiva, por entendermos que fatores biológicos são inegavelmente pertinentes nos estudos de patologias médicas, mas, também, por compreendermos que esses fatores são grandemente ligados a questões sociais, oriundas do processo cultural, que leva em consideração como importantes não apenas elementos internos, ou externos, mas, a junção desses elementos como um todo mutuamente construído.

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