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1 A educação em direitos humanos na cidade de São Paulo

1.3 Levar a EDH aos territórios: os Centros de Educação em Direitos Humanos

1.3.3 Articulação territorial

1.3.3.1 Diagnóstico Socioterritorial

Tendo em vista produzir conhecimento sobre os territórios onde os Centros estavam sendo implementados, produziu-se um diagnóstico socioterritorial para levantar dados de perfil daquelas áreas (população, renda, escolaridade, condições de moradia etc.) e mapear os atores locais. O diagnóstico apresentava os objetivos de ser participativo, formativo, mobilizador, articulador e disparador de um plano de ação, e foi desenvolvido em seis etapas37:

• Etapa 1: Definição do território

Os territórios que seriam analisados foram definidos a partir do raio de 2 quilômetros de cada um dos CEUs. As escolas satélites localizadas além desse perímetro também se tornariam o centro de outros raios de dois quilômetros de abrangência a partir delas.

A partir dessa medição, foram identificados os distritos que eram alcançados pelos raios, ou seja, que estavam contidos neles, no todo ou em parte. Esses distritos foram então analisados em sua totalidade, visto que seria inviável aferir dados de pesquisa e censos de regiões muito específicas de cada distrito. (CENTROS …, 2016, p. 44)

• Etapa 2: Formação da equipe técnica

Refere-se ao processo de composição da equipe técnica do projeto – instância sob a responsabilidade da Aprendiz e formada pelos quatro articuladores locais e pelo(a) gestor(a) geral.

• Etapa 3: Levantamento de dados primários

Levantados entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, os dados primários foram extraídos a partir das visitas de campo aos equipamentos e serviços públicos para entendimento de seu funcionamento e das redes existentes entre eles, das conversas com pessoas de referência,

de observação participante e acompanhamento de reuniões das diversas instâncias de participação, além da identificação das condições das escolas para o desenvolvimento integral dos alunos (CENTROS …, 2016).

• Etapa 4: Levantamento de dados secundários

Os dados secundários foram obtidos por meio de diferentes instrumentos de pesquisa: Censo Demográfico, Censo Escolar, Informações dos Municípios Paulistas e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (CENTROS …, 2016).

• Etapa 5: Oficina de leitura e análise dos dados e consolidação do relatório inicial O primeiro relatório do diagnóstico, finalizado em fevereiro de 2015, resultou da leitura e análise do cruzamento dos dados primários e secundários. Esse trabalho foi executado pela equipe técnica.

• Etapa 6: Oficinas do diagnóstico participativo e mapeamento afetivo

Com o documento em mãos, foram realizadas oficinas do diagnóstico socioterritorial participativo no GTC e nos quatro GTLs – oito no total. Por meio do compartilhamento, consulta e aprofundamento do material junto às secretarias, parceiros e atores locais, as oficinas tiveram o objetivo de buscar complementações, análises e hipóteses que confirmassem ou confrontassem os dados levantados. Muitas pessoas tiveram a oportunidade de ampliar seu conhecimento local a partir do contato com o relatório.

Na reunião do GTC de abril de 201538, o diagnóstico foi apresentado e discutido pela primeira vez com esse grupo. Destacamos algumas das contribuições dos participantes registradas na ata:

a) Perfil do território

A representante do CEU Jardim Paulistano observou que o distrito da Cachoeirinha tem o índice mais alto em mortalidade infantil e atribuiu essa indicação à presença de um hospital infantil de alta complexidade na região.

b) Instâncias de participação

A análise das instâncias de participação ressaltou o predomínio de organizações da sociedade civil e menos incidência institucional. Um dos articuladores locais explicou que a institucionalização dos debates era evitada devido às mudanças de governo e consequentemente das pessoas e projetos. Com isso, a população optava por absorver e empoderar-se do que encontrava de positivo nas propostas, continuando-as autonomamente.

c) Unidades educacionais

O Conselho Gestor era considerado um espaço no qual a hierarquização levada à cabo pela direção das escolas resultava no esvaziamento do diálogo e da participação genuína. Foram mencionados como exemplos: a participação só nominal e não efetiva dos pais e o caráter “de cima pra baixo” das discussões, ou seja, conversas para o conselho e não com ele. Diante de tal percepção, o investimento nos grêmios estudantis emergiu como uma nova possibilidade educacional de cidadania. A representante da DRE Campo Limpo relatou que as escolas da região não estavam demonstrando muito interesse na ideia do grêmio, uma vez que todas já contavam com manifestações de participação ativa dos alunos dentro das unidades e com os territórios.

Foi exposto também que o processo de envolvimento das unidades educacionais se dava de forma distinta em relação ao processo de envolvimento da comunidade, devido, entre vários fatores, à existência de questões burocráticas a serem resolvidas no âmbito das DREs.

d) Rede intersetorial e articulação bairro-escola

Foi identificada a necessidade de debater permanentemente nos GTLs a articulação territorial da escola para fora e a do território para com ela, uma vez que a escola é comumente vista como autossuficiente, enquanto o território, sem encontrar abertura para dialogar, acaba desistindo.

e) Educação em Direitos Humanos

A Coordenação de Promoção do Direito à Cidade ressaltou a importância de a articulação ocupar o centro de todas as atividades dos CEDHs, a fim de que a educação em direitos humanos pudesse ser concretizada. A SMDHC chamou a atenção para a pouca visibilidade de assuntos sobre EDH e para os projetos que realizava, sugerindo a inclusão de quem participou do Prêmio Municipal de Educação em Direitos Humanos, das escolas que participaram do Festival Entretodos e das escolas que tinham algum projeto vinculado ao Juventude Viva, entre outros pontos.

Por sua vez, o objetivo do mapeamento afetivo consistia na identificação das relações, emoções e sentimentos das pessoas em relação ao entorno de um determinado local. Nesse sentido, “foram levantados locais de encontro, espaços formais e não formais dos territórios e pontos simbólicos para a luta dos movimentos sociais e em defesa dos direitos humanos” (CENTROS …, 2016, p. 42).

Os dois levantamentos – diagnóstico socioterritorial e mapeamento afetivo – fizeram parte de um mesmo processo de pesquisa e eram complementares. Todo esse processo apontou tanto as fragilidades a serem trabalhadas quanto as potencialidades dos territórios,

possibilitando planejar ações com elas e a partir delas. Também resultou na identificação de mais de 300 equipamentos, espaços públicos e serviços, além de 49 instâncias de participação nos quatro territórios.

Com isso, o relatório inicial foi atualizado, ampliado e tornado público por meio de um banco de dados disponível em <https://www.cidadeescolaaprendiz.org.br/diagnostico-cedh/> (CENTROS …, 2016).