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Diagnosticando e tratando a dislexia

No documento 2013CailaLanfredi (páginas 65-69)

2 DISLEXIA: NOVOS OLHARES

2.3 Diagnosticando e tratando a dislexia

Como vimos, a dislexia, salvo a do tipo ocasional, não é curada sem tratamento apropriado. Por não ser um problema que passa com o tempo, a dislexia merece atenção para não passar despercebida. Em primeiro lugar, professores devem ter o devido entendimento para identificar a possibilidade de que as dificuldades que seu aluno esteja apresentando, pode se tratar, na verdade, de uma dislexia. É importante que o diagnóstico seja efetuado o quanto antes, assim, as crianças tratadas desde cedo têm grandes chances de superar ou conviver melhor com os sintomas.

A palavra diagnóstico provém de duas outras: dia (através de) e gnosis (conhecimento). Dessa forma, se nos ativermos à origem etimológica e não ao uso comum (que pode significar rotular, definir, etiquetar), podemos falar de diagnóstico como “um olhar- conhecer através de”, que relacionaremos com um processo, com um transcorrer, com um ir olhando através de alguém envolvido mesmo como observador, através da técnica utilizada e, nessa circunstância, através da família (FERNANDEZ, 1991).

Dando continuidade à importância do diagnóstico precoce e da fundamental necessidade de os educadores identificarem casos de dislexia em sala, é imprescindível que esses professores atualizem-se constantemente para que tenham compreensão das dificuldades que poderão vir a surgir no processo ensino-aprendizagem para que haja comprometimento com seus alunos, ajudando-os a superar os obstáculos encontrados na aprendizagem da leitura e da escrita. Quando um aluno demonstra contínua dificuldade, deverá ser imediatamente encaminhado aos profissionais especializados, estes ajudarão a fazer averiguações concretas.

Para que seja realizado o diagnóstico correto, é imprescindível verificar se na família existem casos de dislexia e/ou, até mesmo, dificuldades de aprendizagem. Verificar se na história do desenvolvimento da criança ocorreu algum atraso na aquisição da linguagem, também é caminho indicado. Também se deve excluir, primeiramente, as possibilidades de outros distúrbios, pois há problemas de origem neurológica, sensorial, emocional e até dificuldades de aprendizagem por falta de ensino e de metodologias adequadas ou em função das condições socioculturais não satisfatórias, que são distintas da dislexia.

Shaywitz (2006) diz que o diagnóstico da dislexia apresenta um quadro muito particular de circunstâncias, segundo suas pesquisas e estudos, as dificuldades de leitura eram muito mais comuns aos garotos do que às garotas; estudos haviam indicado que a dislexia atingia algo entre quatro a seis vezes mais os garotos.

Para Topczewski (2010), entende-se que a dislexia é uma dificuldade na habilidade fonética, que torna difícil a identificação, a combinação e a utilização dos fonemas. Esse processo de identificação fonêmica é realizado na região temporal posterior do hemisfério cerebral esquerdo. Então, a avaliação da fonoaudióloga é indispensável para verificar a habilidade verbal, a capacidade para ler e para memorizar, bem como para perceber se há falha no Processamento Auditivo Central (PAC). O PAC consiste em avaliar a execução auditiva quando existem estímulos, ainda compreende a capacidade do indivíduo para ouvir, localizar, discriminar, reconhecer e interpretar o estímulo auditivo.

Se percebido comprometimento do PAC algumas dificuldades particulares poderão ser observadas, segundo Topczewski (2010, p. 25):

– Falha da compreensão das ordens verbais; – Falha da resposta à solicitação verbal: – Necessidade de repetir a ordem mais uma vez; – Desvio fácil da atenção;

– Reduzida capacidade de concentração; – Falha na percepção e localização do estímulo.

Cabe ressaltar que nem toda pessoa que demonstra alterações ao PAC é disléxica, mas na maioria dos casos de dislexia o PAC se encontra comprometido.

Existem exames para ajudar a investigar casos de suspeita de dislexia, como o exame neurológico. Esse identifica as alterações e o déficit no processo de evolução da criança no que se refere ao equilíbrio, à coordenação, à fala, entre outros. O exame oftalmológico e o de processamento visual são procedimentos importantes, uma vez que identificam símbolos gráficos que são necessários para interpretação do seu significado. Havendo alterações do processamento visual a leitura ficará debilitada e, como consequência, a escrita sofrerá confusões entre letras parecidas.

De acordo com os estudos de Topczewski (2010), é essencial lembrar que cada sujeito é único e tem particularidades únicas. Então, as dificuldades também serão diferentes, podendo ser parecidas, dependendo da estimulação e das condições ambientais vivenciadas. Os disléxicos poderão apresentar disfunções associadas, como as seguintes:

– Disortografia – distorções na escrita entre o som (fonema) e o símbolo gráfico(grafema);

– Discalculia – dificuldade no aprendizado de cálculos;

– Dispraxia – dificuldade na área motora, inabilidade de realizar determinada tarefa; – Disgnosia – defasagem na percepção dos cinco sentidos, perda da capacidade

anteriormente adquirida de reconhecimento por meio dos vários tipos de percepção.

Ainda, há outras comorbidades diagnosticadas nos disléxicos, como:

– Transtorno do Déficit da Atenção (TDA) esse aparece frequentemente associado à dislexia;

– Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) alterações comportamentais;

– Transtorno Desafiador de Oposição (TOD) se manifesta de forma negativa às solicitações, se dirigindo a todas as pessoas de forma agressiva, provocadora e crítica;

– Transtorno de conduta (TC) caracteriza-se por promover agressões físicas ou verbais, furtos, mentira, fugas de casa, da escola e até mesmo violência sexual; – Transtornos de Tiques (TT) manifestações motoras estereotipadas, os tiques

sonoros, como: fungar, pigarrear, tosse, grunhidos, assovios, estalar da língua, aumentando em ocasiões de estresse emocional, podendo falar palavrões sem propósito;

– Transtorno de Ansiedade (TA) a ansiedade pode interferir no aprendizado, interferindo na memória ocasionando o “branco”, fazendo que o indivíduo sofra por antecipação. Alguns sintomas podem se apresentar, como a cefaleia, a dor abdominal, as tonturas, a sudorese, a inquietação, a taquicardia e os distúrbios do sono;

– Transtorno Depressivo (TD) esses indivíduos demonstram alterações do sono, do apetite, cansam-se com facilidade, denotam desinteresse, são tristes. Pacientes disléxicos provavelmente pelas condições de vivência em seu meio acabam desencadeando o TD;

– Migrânea ou enxaqueca: dores fortes na cabeça, causados pelo estresse físico e o estresse emocional, associados a vômitos, tonturas, náuseas, alterações visuais, intolerância à luz e aos ruídos;

– Epilepsia se apresenta de muitas formas podendo influenciar física, social e intelectualmente na vida da pessoa. O indivíduo com dislexia poderá ter seu quadro mais comprometido por conta das crises epilépticas;

Topczewski (2010, p. 47) destaca que “A identificação das comorbidades é fundamental para que a orientação ao disléxico seja bem-sucedida”.

Existem outros exames como a ressonância nuclear magnética. Este se trata de um exame bem delicado, uma vez que revela as prováveis alterações estruturais do cérebro, como as malformações, simetria entre o lado esquerdo e o lado direito, detectando as anomalias do tecido cerebral podem ser feitos. O SPECT, que se trata de uma Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único, o PET-SCAN que é uma Tomografia por Emissão de Pósitrons e o RNMF que é uma Ressonância Nuclear Magnética Funcional. Tais exames detectam quais áreas estão sendo ativadas e qual o volume circulatório local para a execução do ato de ler e de escrever.

O SPECT avalia as áreas que têm alterações do fluxo sanguíneo regional, o que significa a existência de alterações circulatórias metabólicas localizadas. O PET-SCAN mostra as alterações metabólicas relacionadas ao consumo de glicose celular. Esses dois exames são processados após injeção de contraste radioativo, nos pacientes com dislexia, mostrando ter uma hipoperfusão na área temporal, parietal e occipital do hemisfério cerebral esquerdo e hiperperfusão no giro frontal inferior esquerdo e direito. Topczewski refere que:

Vários estudos mostraram que o paciente disléxico apresentava uma atividade reduzida nas áreas posteriores do hemisfério cerebral esquerdo e maior atividade na região frontal inferior esquerda e direita durante a leitura, diferentemente do que ocorre com um leitor normal. Em virtude dessas alterações funcionais, esses pacientes apresentam um padrão de leitura lento e não automático (2010, p. 50).

A pronúncia da palavra escrita e o seu significado integram a área temporo-occipital esquerda, sendo essa a trajetória rápida de leitura utilizada pelo leitor normal. Já no disléxico se apresentam diferentes caminhos para desenvolver a leitura. Entretanto, exames por imagem funcional são de custo muito elevados, o que inviabiliza a recomendações a todos.

Ainda há muitos casos que necessitam de tratamento medicamentoso associado a sessões com os profissionais especializados, trarão mais eficiência na superação das dificuldades.

Infelizmente, o que se verificou nos estudos acerca desses diagnósticos, por mais necessário e adequado que sejam esses exames, é que são extremamente caros, impossibilitando muitas vezes o seu uso. Apesar de ter-se visto que a dislexia não advém da situação econômica, a falta de recursos financeiros torna-se um impeditivo de exames elaborados e tratamentos de uma equipe multidisciplinar, vindo a prejudicar os disléxicos com baixa renda familiar.

No documento 2013CailaLanfredi (páginas 65-69)