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Diego Felipe Becerra e a Criação da Mesa Distrital de Graffiti

3. O LUGAR DO GRAFFITI NO CENTRO DA BOGOTÁ

3.3 A (re)efervescência do graffiti na cidade

3.3.1 Diego Felipe Becerra e a Criação da Mesa Distrital de Graffiti

Felipe Becerra, mais conhecido dentro da comunidade do graffiti como “Trípido”. O jovem de 16 anos encontrava-se com um grupo de amigos grafitando embaixo de um viaduto, quando uma viatura da Polícia Nacional chegou ao lugar. No que os policiais qualificaram como “uma ação para conter um roubo”, Diego foi atingido por uma bala nas costas, disparada por um dos oficiais, e morreu pouco depois em um hospital da zona113.

Para além da gravidade do abuso de poder por parte dos policiais envolvidos, que ainda estão sendo investigados, a morte de “Trípido” colocou de novo em cena a questão do graffiti na cidade. Com a prática em um momento de efervescência e com o surgimento de novos praticantes (calcula-se que há aproximadamente 5.000 grafiteiros na cidade114), a tragédia que envolveu a morte de Diego Felipe alentou a discussão pública sobre esta linguagem visual na cidade e algumas ações políticas e administrativas começaram a ser implementadas.

Uma das mais visíveis foi a criação da Mesa Distrital de Graffiti a partir do primeiro semestre de 2012. Com a tarefa primária de efetivar o Proyecto de Acuerdo 482 de 2011 (de 26 de dezembro), o Instituto Distrital das Artes (IDARTES) cria este espaço de discussão sobre a regulamentação da prática do graffiti em Bogotá. Sob várias perspectivas, a criação da Mesa foi motivada pela pressão cidadã que caiu sobre a administração da cidade em razão do assassinato de Diego. Para outros, pelo fato da própria vitalidade do graffiti como expressão cidadã, era inevitável que um espaço desse tipo se abrisse na cidade.

O grafiteiro Zie-Crix do crew Fenómenos, explica assim o processo:

[…] antes de que pasara eso [a morte de “Trípido”], a nosotros hasta nos pegaban [la policía]. Te quitan la pintura, te pegan y de todo. Desde ahí como que ya dijeron “bueno, como que nos jodimos”. La misma policía se jodió porque se

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REDACCIÓN JUSTICIA. “Lo que se sabe de la muerte de Diego Felipe”. El

Tiempo, 4 de setembro de 2013. Disponível em:

<http://www.eltiempo.com/archivo/documento/CMS-13046545> Acesso em: 10 fev. 2015.

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jodieron ellos mismos por abusivos. Por matar un pelado que lo que está haciendo es rayar una pared, más no está matando a alguien, más no está robando a alguien, que es lo que realmente deberían buscar: gente que está robando, gente que está matando. Entonces creo que sí fue como la situación que se prestó para que nos beneficiáramos nosotros en muchas cosas, en que ahora pues es más fácil pintar un muro, es más fácil que no te coja la policía y te lleven, es más fácil que la alcaldía dé pintura para pintar, es más fácil que hagan eventos, es más fácil muchas cosas (sic). Entonces puedo decir que sí fue como la situación positiva que se presentó hacia nosotros.115

Todo o anterior tem se apresentado no meio de um amplo debate116 que envolve o lugar da lei, do papel da arte na cidade, da relação público-privado, do aspecto patrimonial da cidade, não só porque o graffiti pode se encontrar entre os bens considerados de interesse cultural, que estejam em via de ser tombados ou que tenham sido declarados patrimônio, mas porque ele mesmo parece estar dando passos firmes, sem querê-lo, sem propor sê-lo e com certeza sem estar muito de acordo, nessa direção117.

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CRIX. Entrevista. [ago. 2013]. Entrevistadora: Natalia Pérez Torres. Bogotá, 2013. 1 arquivo .mp3 (8 min.). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta dissertação.

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A propósito do Proyecto de Acuerdo para a regulamentação do graffiti em Bogotá, iniciou-se um interessante debate em torno da natureza do graffiti e de certa necessidade de “domesticação” que se esconde por trás deste tipo de propostas. Assim o expressou a colunista do jornal El Espectador, Catalina Ruiz-Navarro, que afirmou que “acordar com los grafiteros lugares ‘donde esté permitido rayar’, traiciona la definición de graffiti. El graffiti es un gesto de rebeldía, una altanería frente al sistema, por eso es clandestino. Al llamar a los grafiteros a que sean ‘cívicos’ se confunde civilización con domesticación, y si bien son parecidas, no son lo mismo: domesticar tiene que ver con la sumisión, y civilizar con la convivencia”.

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Segundo a Agencia EFE, em reportagem para o jornal El Espectador, “la diversidad de técnicas y la apuesta por los enormes murales han encontrado amparo en un marco legal aprobado por la Alcaldía de Bogotá el pasado febrero, por el que se reconoce el graffiti como un bien de interés cultural, siempre que cuente con el permiso del propietario del inmueble”.

No meio desses trânsitos, o graffiti começa a ocupar um lugar importante na cena cultural da cidade que decorre da organização de eventos locais118 que dão a conhecer além dos trabalhos, a experiência de ser grafiteiro, as formas de entender a cidade e os significados do espaço público, entre outros. Receber visibilidade no local e nos circuitos artísticos e espaços culturais nos quais esse tipo de manifestações tiveram uma acolhida inicial (pequenas galerias e encontros financiados por algumas entidades privadas), permitiu ao graffiti bogotano conseguir repercussão internacional e um posterior reconhecimento da cidade como “um grande museu de arte urbana que chama à reflexão social”119

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