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2 A JUVENTUDE DE MODO GERAL E OS JOVENS DA COLÔNIA DE

3.2 O SABER

3.2.1 Diferença entre saber e conhecimento

Empiricamente, quando nos propomos a diferenciar os saberes dos conhecimentos, uma primeira saída que encontramos para tentarmos dá respostas a esse problema, foi buscar na caracterização semântica dessas duas concepções, possíveis indicativos explicativos de como uma concepção vem se opondo uma em relação a outra.

Contudo, ao partirmos de tal caracterização semântica, um primeiro ponto com o qual nos deparamos, foi que a questão da diferença entre saberes e conhecimento não se restringe simplesmente a reduzida esfera semântica que preconizaria certa oposição de conceitos entre saberes de um lado e, conhecimentos do outro. Para além disso, visto, a partir de uma perspectiva crítica, o que a oposição entre essas duas concepções semânticas revela é que, “[...] trata-se de [locuções] com forte carga ideológico-classista, [que opõe] o saber que atende aos interesses dos trabalhadores [de um lado] aos conhecimentos oriundos dos interesses do capital [do outro]” (RODRIGUES, 2012b, p. 38).

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47 Como adversidade que de alguma forma podem comprometer a existência humana aqui citamos as

Visto sob esse ponto de vista, Zaidan (2003), pautado em Fiorentini, Souza e Melo (1998), contribui para esse debate, haja vista que ao afirmar que o conhecimento, seria aquele que estaria ligado ao resultado da produção científica, oriundo de pesquisas, do acadêmico; e o saber a um modo de conhecer-saber menos rigoroso, mais relacionado à esfera da praticidade; já começaria a nos dá alguns indicio da carga ideológico-classista a que se refere Rodrigues (2012b). Assim nos fala Zaidan (2003, p. 87) apoiando-se em Fiorentini, Souza e Melo (1998):

[...] o conhecimento aproxima-se mais com a produção cientifica sistematizada e acumulada historicamente com regras mais rigorosas de validação tradicionalmente aceitas pela academia; o saber, por outro lado, representaria um modo de conhecer-saber mais dinâmico, menos sistematizado ou rigoroso e mais articulado a outras formas de saber e fazer relativos à prática, não possuindo normas rígida formais de validação.

Diante das definições até aqui feitas, o que já dá para se depreender, é que enquanto o saber se caracteriza como sendo algo produzido a partir do informal, ou seja, a partir das relações construídas de maneiras espontâneas, relacionais e individuais, que “[...] fundado no [...] cotidiano [...], na experiência, [...] e no enfrentamento dos desafios [...]” (ZAIDAN, 2003, p. 87) se modificaria com o tempo, o espaço, o contexto e os sujeitos com ele envolvidos; o conhecimento, seria aquele que, produzido de maneira mais sistematizado, tenderia ao formal, ao cientifico; no qual poderíamos reconhecer “[...] preocupações de generalidade, de especialização temática ou problemática, coerência interna, sistematicidade e validade no desenvolvimento dos argumentos avançados [...]” (CARIA, 2002, p. 806) que tenderiam a dar “[...] resposta a determinadas questões enfrentadas pela humanidade” (TONET, 2013, p. 103).

O que vai ficando claro, então, é que partindo da caracterização semântica para se entender a diferença entre saberes e conhecimentos, quase sempre as concepções e definições que se apresentam trazem de forma apartadas: a) os conhecimentos como sendo uma construção formal sistematizada, e por isso, não raras vezes, ligada a classe daqueles indivíduos que, por dominarem os meios e os instrumentos de produções, produzem os conhecimentos em oposição aos saberes; e b) esses, (os saberes), por estarem ligados a esfera das produções empíricas informais, e por isso produzido pelo grupo dos sujeitos que não dominam, mais são sim, dominados nas relações de produção; como sendo o resultado das interações

práticas-cotidianas e, portanto, produto de um saber-fazer, que se manifesta, se desenvolve e, assim, se define, a partir dos sujeitos, do ambiente e do contexto em que é produzido.

Contudo, em Vázquez (2011), a concepção de conhecimento parece-nos englobar tanto o saber quanto o conhecer de que trata Zaidan (2003), tornando-se

[...] uma unidade com caráter pragmático-revolucionário, no sentido de que [o homem], ao intervir na realidade para a satisfação de interesses imediatos, também atua como materialidade para a transformação da sociedade [...] (RODRIGUES, 2012b, p. 38).

Sendo assim, o que é valido ressaltar das colocações acima feitas tanto por Vázquez (2011), quanto por Rodrigues (2012b), é que para o homem que atua, transforma e, assim, resinifica a realidade, o resultado dessas atuações, transformações e ressignificações gerariam saberes que também compreendidos como conhecimentos, seriam tomados pelo homem, não de forma inconsciente, mais sim consciente, já que segundo Vázquez (2011, p. 187),

O resultado ideal, que se pretende obter, existe primeiro idealmente, como mero produto da consciência, e os diversos atos do processo se articulam ou se estruturam de acordo com o que se dá primeiro no tempo, isto é, o resultado ideal. Em virtude dessa antecipação do resultado que se deseja obter, a atividade propriamente humana tem um caráter consciente.

Não se trata, contudo, de uma consciência aos moldes de Feuerbach, para quem tal consciência estaria alheia a realidade material (cf. MARX & ENGELS, 2009). Mas se trata sim de uma consciência, que produto de uma subjetividade que nasce da relação direta do homem com a realidade social, vai produzindo naquele (no homem), uma consciência que vai se assumindo como produto e produtora do real, ou seja, das relações materiais pelos homens estabelecidas.

É assim que ao atuar sobre a realidade, o homem vai produzindo saberes e conhecimentos, como sendo produtos não de uma idealização, que apartada da realidade concreta, geraria para ele, o conjunto do saber- conhecer de que necessita para se estabelecer no mundo. Mas resultaria sim das concretas interações que ao longo de seu próprio peregrinar histórico, vai se forjando e assim, também mudando, reformulando e atualizando o saber e o conhecimento que a partir daí nasce.

É tomado a partir dessa perspectiva, que na presente investigação, saberes e conhecimentos são assumidos como elementos resultantes das interações reais dos homens com o mundo, e assim, produto das classes fundamentais em disputa, mas que mesmo assim não nos autoriza a aqui assumi-los enquanto duas categorias excludentes, mas, antes, como expressões correlatas (RODRIGUES, 2012b). É nesse sentido que concordamos com Tardif (2002) que, estudando os saberes docentes, não considera a categoria saberes distinta da de conhecimentos. Pelo contrário, esse autor toma esta última categoria como que englobada pela primeira, ao explicar que, o buscar analisar

Quais os saberes que servem de base ao ofício de professor? significa, em outras palavras, investigar [...] quais são os conhecimentos, o saber-fazer, as competências e as habilidades que os professores mobilizam diariamente nas salas de aula e nas escolas, a fim de realizar concretamente as suas diversas tarefas [...] (TARDIF, 2008, p. 9).

Em outras palavras, o que Tardif, (2008) está a afirmar é que conhecimentos, saber-fazer, competências e habilidades constituem, de um modo geral, também, saberes.