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Assim como admitimos que essa pesquisa se sustenta em uma base epistemológica marxista, também aqui não abrimos mão do uso conjunto dessa base com os procedimentos próprio da chama pesquisa qualitativa.

Se por um lado a referência marxista nos dá a base científica que nos conduzirá a uma análise crítica de nosso objeto, por outro, as pretensões e a natureza da presente pesquisa, nos colocam a necessidade de fazermos uso dos procedimentos próprios da chamada pesquisa qualitativa. É diante disso que afirmamos que para nos orientar na construção deste estudo também nos utilizamos da abordagem qualitativa, mais precisamente dos procedimentos próprio do tipo de pesquisa, o estudo de caso.

Mas antes de nos determos especificamente nos procedimentos próprios do tipo de pesquisa, o estudo de caso, é prudente deixarmos claro que desde já temos consciência da discussão que se tem traçado dentro da academia quanto à possibilidade ou não de se desenvolver estudos nos quais se faça uso conjunto dos procedimentos próprios da abordagem qualitativa com a epistemologia marxista. Contudo, comungando das ideias de alguns autores, dentre os quais, Freitas (2002), Araujo (2012), Brandão (2002) e Minayo (2012) que advogam que o uso conjunto dessas abordagens é atributo de boas pesquisas (ARAUJO, 2012), começamos por justificar que ao elegermos a abordagem qualitativa para essa pesquisa, já de entrada estamos assumindo a real impossibilidade de outras abordagens, entre as quais, a fenomenologia, o positivismo, ou até mesmo a quantitativa, possibilitarem a construção de respostas críticas quanto as verdadeiras estruturas que estão determinando a formação da identidade pescadora dos jovens aqui investigados.

Também advogamos o uso conjunto dessas duas abordagens, por entendermos que na relação de complementariedade, a aplicação de uma não descaracteriza o uso da outra. Essa ideia de complementação fica claro principalmente quando se reconhece que apesar da pesquisa qualitativa ser usada de maneira ampla, “[...] esta amplitude não resulta numa descaracterização de modelos” (MARTINS, L., 2006, p.

4). Desse modo, além dos procedimentos próprios da abordagem qualitativa, as pesquisas também podem fazer uso de outros métodos, entre os quais; a teoria sistêmica, a perspectiva sócio-histórica, a entomologia e o materialismo histórico dialético (idem).

Outro ponto importante que também nos ajuda a entender que há sim uma real possibilidade de se aplicar em pesquisas marxistas os procedimentos próprios da chamada pesquisa qualitativa, se encontra nas teses defendidas por Freitas (2002). Essa autora ao estudar as produções de autores como Vygotsky, Bakhtin e Luria13, defende que a perspectiva sócio-histórica, que tem o materialismo-dialético como pano de fundo, pode sim fundamentar o trabalho de pesquisa em sua forma qualitativa (ARAUJO, 2012), uma vez que

[...] essa outra forma de fazer ciência, que envolve a arte da descrição complementada pela explicação e que pode ser encontrada na

pesquisa qualitativa com enfoque sócio histórico, realizaria a

síntese sonhada por Luria, Vygotsky e Bakhtin (FREITAS, 2002, p. 26, grifo nosso).

Outra questão que também precisamos esclarecer, pois esclarecendo-a também justificamos o uso conjunto das abordagens aqui em questão, está contido na tese que parte do princípio de que antes de nos utilizarmos de qualquer procedimento relacionado a pesquisa qualitativa, primeiramente precisamos apontar de que perspectiva estamos qualificando. Em pesquisas sociais essa tese é pertinente por dois motivos. Primeiro, pelo reconhecimento das mais diversas conceituações que a abordagem qualitativa apresenta hoje para aqueles que têm necessidade de fazer uso dessa abordagem14. Segundo, que não basta apenas afirmar que se vai fazer pesquisa qualitativa, “[...] mas deve-se, sempre, em função da coerência pretendida, deixar clara a perspectiva a partir da qual se entende o termo ‘qualitativo’, qualificando- o” (ARAUJO, 2012, p. 12). É diante disso que afirmamos que o qualitativo que aqui _______________

13 Segundo Freitas (2002), esses autores defendem a insuficiência das chamadas ciências exatas na

investigação cientifica que tem o homem como objeto de estudo e em contrapartida, propõe o uso conjunto de alguns procedimentos próprios da pesquisa qualitativa associados a pesquisa histórica, que por sua vez, tem filiação ao materialismo histórico dialético de Marx.

14 Hoje ao fazermos um levantamento sobre o que é a abordagem qualitativa, encontramos uma

variedade de definições, que por sua vez, estão ancoradas nas mais diversas correntes teóricas e filosóficas. Nesse sentido, não é raro encontrarmos a abordagem qualitativa sendo pautada em referenciais como o materialismo histórico dialético, o positivismo, o empiricismo, o idealismo, entre outros.

elegemos, não é qualitativo somente porque identifica a qualidade da realidade e do fenômeno, mas porque qualifica a realidade e o fenômeno de forma crítica, o que nos dá a possibilidade de entender esses (a realidade e o fenômeno) em suas intimas relações estruturais, quer essas sejam, culturais, econômicas, políticas ou sociais. É nesse sentido que o qualitativo para nós passa a ser considerado atributo dos homens, e não das coisas (GRAMSCI, 1991).

Por fim, porém não menos importante, um outro elemento que nos ajuda a entender e justificar o uso conjunto dos procedimentos metodológicos aqui em questão, é o problema de pesquisa. De acordo com Brandão (2002), é o problema de pesquisa que irá apontar quais serão os instrumentos e abordagens que possibilitarão ao pesquisador construir os caminhos metodológicos que irão lhes permitir, ao final da pesquisa, dá respostas coerente as indagações inicialmente feitas. Assim afirma essa autora, ao discutir a abordagem quantitativa e qualitativa usados pelos pesquisadores em educação e ciências sociais,

[...] a questão que se coloca, [...], não é se as abordagens que se utilizam de materiais quantitativos são mais ou menos adequadas a fenômenos sociais do que as que utilizam os materiais qualitativos; a

questão está em ser capaz de selecionar os instrumentos de pesquisa em consonância com os problemas que se deseja investigar (BRANDÃO, 2002, p. 28, grifo nosso).

Assim, nos valendo da afirmação da autora acima, entendendo as suas recomendações como válidas para essa pesquisa, afirmamos que no presente estudo o problema de pesquisa nos coloca como exigência, além da referência marxista, também o uso dos procedimentos próprios da chamada pesquisa qualitativa, uma vez que para entendermos a formação da identidade pescadora dos jovens em sentido amplo e crítico, além do contato direto com os sujeitos da pesquisa, também teremos de nos utilizar da observação e da descrição, que por sua vez, são procedimentos próprios da abordagem qualitativa.

1.3 A ABORDAGEM QUALITATIVA E O TIPO DE PESQUISA O ESTUDO DE CASO