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Diferença entre violência e crime

4 CONSIDERAÇÕES CONCEITUAIS

4.1 Violência urbana ou estrutural

4.1.1 Diferença entre violência e crime

A origem do termo violência deriva do latim vis – força, vigor –, resultado de comportamento ou conjunto de atitudes que utiliza a força contra coisas ou pessoas, seja de forma verbal ou física baseada na ira. Segundo Ferreira (1996), violência dispõe da “qualidade de violento; ato violento; ato de violentar”.

Em consonância com Almeida (2001), violência é “[...] ação intencional de um indivíduo ou grupo que provoca uma modificação prejudicial no estado psicofísico da vítima, pessoa ou grupo, que é alvo da ação violenta”. Assim, para que haja crime, não necessariamente é obrigatório que antes tenha ocorrido algum fato violento, uma vez que crime caracteriza-se por “ação”, ou seja, violência física, sexual e/ou psicológica, ou por “omissão”, que corresponde à negligência física e/ou psicológica (MELLO, 2008, p. 8).

O que diferencia crime de violência é a previsão legal. Para que caracterize crime de alguma ação violenta, é preciso que tal ação esteja prevista no Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940, mais conhecido como Código Penal Brasileiro. O rol dos crimes previstos na Parte Especial do CP. está distribuído em seus artigos 121 ao 359-H que trará de todas as condutas consideradas criminosas, sejam homicídio, infanticídio, abandono material, incêndio, falsificação de papéis públicos, entre outros.

Violência sem dúvidas está relacionada a alguns crimes previstos no ordenamento jurídico, porem, não é necessariamente o ato que representa o crime, a não ser quando o crime se trata da violência ou abuso contra aquilo estabelecido no Código Penal.

Segundo o Art. 13, CP., “[...] o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”. Nucci (2008) analisa tal resultado à luz de dois critérios fundamentais:

a) naturalístico é a modificação sensível do mundo exterior. O evento está

situado no mundo físico, de modo que somente se pode falar em resultado quando existe alguma modificação passível de captação pelos sentidos, ou seja, a morte de uma pessoa.

b) jurídico ou normativo é a modificação gerada no mundo jurídico, seja na forma de dano efetivo ou na de dano potencial, ferindo interesse protegido pela norma penal, ou seja, a inviolabilidade de domicílio.

Segundo indica o princípio da anterioridade, a lei penal incriminadora somente tem força legal se originada antes do fato concreto/conduta para qual se destina. No entanto, pelo princípio da legalidade, “[...] não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” (Art. 1º CP).

De nada adiantaria adotarmos o princípio da legalidade sem a correspondente anterioridade, pois criar uma lei, após o cometimento do fato, pretendendo aplica-la a este, seria totalmente inútil para a segurança que a norma penal deve representar a todos os seus destinatários. O indivíduo somente está protegido contra os abusos do Estado caso possa ter certeza de que as leis penais são aplicáveis para o futuro, a partir de sua criação, não retroagindo para abranger condutas já realizadas (NUCCI, 2008, p. 43).

Para Aurélio (1993), crime é “[...] qualquer violação muito grave de ordem moral, religiosa ou civil, punida pelas leis; Todo o delito previsto e punido pela lei penal; delito, fato repreensível, infração de um dever”. O termo crime deriva do latim

crimino. A criminologia – logos do grego que significa estudo ou tratado ou estudo do crime – buscava explicar a delinquência, a causa do delito, ou seja, o crime, para

erradicando o motivo, eliminar-se-ia o efeito.

De acordo com o ordenamento jurídico vigente, crime é todo fato típico, antijurídico e culpável. Essa máxima jurídica está inteiramente e intrinsecamente direcionada às práticas humanas. Esse tipo de crime refere-se à violação a uma norma moral ou à lei penal incriminadora.

A violência é distribuída em “[...] violência militar, cultural, estrutural, política, étnica, de gênero, a do Estado e a da sociedade do tipo anômico (sem normas)” (TIDEI, 2002, p. 2). Tais violências se revestem de várias formas, sendo a violência urbana a de maior significância devido ao volume de ocorrência e de fatores envolvidos e à sua enorme diversidade.

Violência estrutural é a forma permanente do ato violento com características impar, não sendo necessário o resultado criminoso para que a caracterize violência urbana. Esta violência está envolvida no âmbito político, social e econômico, praticamente imperceptível para os usuários permanentemente atingidos por esse tipo de violência, caracterizada como estrutural.

Para entender a violência estrutural, é de fundamental importância compreender e diferenciar as dimensões e distintas características do conceito dos termos “violência” e “crime”, embora possam ou não ter resultados correlacionados, não é regra que um aconteça em conjunto com o outro, ou seja, poderá haver violência sem o resultado crime e/ou crime sem uma causa violenta. Pois,

o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação (OMS, 2002, p. 5).

A Organização Mundial de Saúde separa a violência em três categorias: violência dirigida a si mesmo (auto infligida); violência interpessoal; e violência coletiva, as quais serão explicitadas abaixo:

(i) a violência auto infligida, ou seja, aquela voltada para o mesmo agente causador, tem como característica a ação perturbadora, ou fatal, podendo ser acidental ou intencional;

(ii) a violência interpessoal é o caso que diz respeito ao exercício entre indivíduos. Esta ocorre no meio das relações familiares, envolvendo as pessoas: crianças, jovens, idosos, companheiros, como também entre grupos de pessoas que se relacionam e,

(iii) a violência coletiva, esta é subdividida em violência social, política e econômica, entre outros.

uso instrumental da violência por pessoas que se identificam como membros de um grupo - independente de esse grupo ser transitório ou possuir uma identidade mais permanente - contra outro grupo ou um conjunto de indivíduos com o intuito de alcançar objetivos políticos, econômicos ou sociais (OMS, 2002, p. 213).

Essas definições dividem-se em três condições, na primeira, nas relações egocêntricas, no segundo, nas relações humanocêntricas e no terceiro, nas relações antropocêntricas. Assim sendo, a terceira corresponde à violência urbana por se tratar de usuários em matéria de classe de pessoas que estão estruturalmente ordenadas.

Tal estrutura pode provocar indiretamente as violências interpessoais e auto infligida por ser violência infraestrutural para outras duas modalidades. Os resultados da violência coletiva costumam serem menos evidentes, atingindo o indivíduo ou grupo, praticadas pelo próprio indivíduo ou pelo poder do Estado, atingindo o espaço físico, em que

a violência coletiva, em suas múltiplas formas, recebe um alto grau de atenção pública. Conflitos violentos entre nações e grupos, terrorismo de Estado e de grupos, estupro como arma de guerra, movimentos de grandes grupos de pessoas desalojadas de seus lares, guerra entre gangues e vandalismo de massas - tudo isso ocorre diariamente em muitas partes do mundo. Em termos de morte, doenças físicas, invalidez e angústia mental, os efeitos na saúde desses diferentes tipos de acontecimentos são muito grandes (OMS, 2002, p. 213).

Dessa forma, evidencia o amplo conceito de violência na ideia de que não significa ser enquadrado em crime apesar de ser danoso, no entanto, entende-se que somente a violência por si ser negativa merece a percepção de uma abstração profunda para qualificar e quantificar os danos interpessoais e pessoais impactante do estado moral, material ou psicológico.

Na mesma ótica, o risco ou ameaça de causar danos devem ser visível para órgãos reguladores estabelecerem controle coletivo. É possível entender que se trata de um conceito complexo uma vez que é a maneira da ocorrência interligada a diferentes fatores. Amaral (1998), afirma que

a violência e o crime (violência reprimida formalmente pela lei), todavia, são comportamentos sociais inerentes à natureza humana; cada sociedade estabelecerá até que ponto há de tolera a violência. Assim, o limite à violência não é apenas legal, mas sobretudo social [...] Dir-se-ia, com precisão, que a violência, quando guiada por valores éticos-sociais, não pode ser descartada, é pois um mal necessário e ainda inerente ao nosso estágio evolucional.

Pode-se dizer que é exatamente os impactos desse tipo de violência que são originais e geralmente não se restringe apenas às pessoas, mas também aos meios tais como a própria coletividade que pode sofrer uma violência auto infligida, ou seja, cometidas pela própria instituição legalmente constituída. Também vale argumentar que os planos e projetos merecem serem espacialmente defletidos sobre princípios visíveis e contundentes que devem amenizar as ameaças e abusos de poderes no âmbito socioambiental.

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