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Diferença estrutural nas equações de rendimento estimadas para os servidores de cada sexo

Capítulo III: Diferenciais salariais entre os gêneros no setor público brasileiro no período 1992-

3 Causas do diferencial de rendimentos entre os gêneros no setor público

3.2 Análise de regressão

3.2.4 Diferença estrutural nas equações de rendimento estimadas para os servidores de cada sexo

Nesta seção, estima-se a equação de rendimento especificada na seção 3.2.1 separadamente para homens e mulheres, suprimindo-se do modelo a variável binária para sexo.

A tabela 3.5 apresenta os coeficientes estimados para as regressões, considerando, alternativamente, funcionários públicos do sexo masculino ou feminino. Realizando o teste de Chow, verifica-se que os vetores de coeficientes estimados para cada grupo são, de fato, estatisticamente diferentes,41 o que sugere que parte do hiato salarial por sexo pode decorrer do fato de se atribuir retornos econômicos diferentes às características analisadas, a depender do sexo do indivíduo.

Aplicando testes t a cada par de coeficientes que, nas regressões, associam-se à mesma variável, pôde-se conferir quais deles são, de fato, estatisticamente distintos a um nível de significância de 1% e, portanto, explicam a diferença estrutural observada entre as equações de rendimento estimadas para homens e mulheres. Eles se encontram destacados na tabela 3.5.

40

Exceto na Academia da Força Aérea, que admite mulheres em um de seus cursos de formação de oficiais. 41

O valor de F calculado é igual a 23,51, o que permite rejeitar a hipótese de que são iguais os conjuntos de coeficientes estimados para as duas regressões, a um nível de significância inferior a 0,01%.

Tabela 3.5: Estimativa da equação de rendimento de homens e mulheres empregados no setor público. Brasil, 2008.

Variável Homens Mulheres

Constante 3,8039 3,8535

Log no horas trab./semana 0,2735 0,4503

Idade/10 0,6785 0,4040

(Idade/10)2 –0,0607 –0,0343

Anos de estudo (base = 11 anos de estudo)

Sem instrução e menos de 1 ano –0,5653 –0,2029

1 –0,5231 –0,2266 2 –0,4499 –0,3248 3 –0,4898 –0,1684 4 –0,3778 –0,1974 5 –0,3522 –0,1954 6 –0,2796 –0,2320 7 –0,2346 –0,1559 8 –0,2323 –0,1823 9 –0,2789 –0,1560 10 –0,1819 –0,1530 12 0,1398 0,1356 13 0,1349 0,1945 14 0,1482 0,2701 15 ou mais 0,5374 0,5489

Cor (base = branco)

Indígena –0,1436 ns –0,0162 ns

Preto –0,1110 –0,1164

Amarelo 0,0202 ns 0,0573 ns

Pardo –0,0750 –0,0907

Localização do domicílio (base = área metropolitana)

Urbana não-metropolitana –0,0919 –0,1463

Rural não-metropolitana –0,1654 –0,2239

Condição na família (base = outros) 0,1548 0,0622

Região (base = Nordeste)

Norte 0,0856 0,1823 MG+ES+RJ 0,0791 0,0947 SP 0,1943 0,2362 Sul 0,1480 0,1205 MS+MT+GO 0,1715 0,1402 DF 0,5490 0,6052

Área do emprego público (base = municipal)

Federal 0,5443 0,4953

Estadual 0,3092 0,1492

Ramo de atividade (base = educação, saúde e serviços sociais)

Administração pública 0,3454 0,1984

Outros 0,2919 0,0847

(continuação)

Variável Homens Mulheres

Grupamento ocupacional (base = técnicos de nível médio)

Dirigentes em geral 0,2663 0,2249

Profissionais das ciências e das artes 0,2044 0,0661

Trabalhadores de serviços administrativos –0,2109 –0,1719

Trabalhadores dos serviços –0,2731 –0,2974

Vendedores e prestadores de serviço do comércio –0,2849 ns –0,2335 ns

Trabalhadores agrícolas –0,2243 ns –0,2805 ns

Trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e

Manutenção –0,1832 –0,1447 ns

Membros das forças armadas e auxiliares 0,0523 ns 0,3544

Sindicalização (base = não-sindicalizados) 0,1576 0,1592

R2 (em %) 64,11 60,24

Teste F 391,79 423,91

Nota: ns denota os coeficientes que não são estatisticamente diferentes de zero ao nível de significância de 1%. A probabilidade caudal do teste F é sempre inferior a 0,01%, o que permite rejeitar a hipótese de que o conjunto de variáveis explanatórias incluídas na regressão não afeta o rendimento.

Fonte: Microdados PNAD de 2008. Elaboração própria.

Observa-se uma diferença importante na elasticidade do rendimento mensal em relação ao tempo semanal de trabalho estimada para cada sexo. Embora ambos os grupos de servidores sofram reduções no salário horário à medida que ampliam sua jornada laboral, a perda é menor para as mulheres. A figura 3.2 apresenta o valor estimado do logaritmo do rendimento mensal, em função do número de horas semanais de trabalho, considerando indivíduos com a idade média de seu respectivo grupo e pertencentes à categoria básica dos demais fatores analisados. Os homens auferem rendimentos superiores aos femininos até a jornada semanal de trabalho atingir 33,0 horas. A partir deste valor, o rendimento das servidoras torna-se maior, observando-se a ampliação deste hiato à medida que aumenta a duração da jornada semanal de trabalho dos indivíduos.

Figura 3.2: Variação de em função do tempo semanal de trabalho, estimada separadamente para funcionários públicos dos sexos feminino e masculino. Brasil, 2008.

33,0 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 2 7 12 17 22 27 32 37 42 47 52 57 62

№ de horas semanais de trabalho

Ŷ Homens

Mulheres

Fonte: Microdados PNAD de 2008. Elaboração própria.

A variação do rendimento em função da idade encontra-se representada na figura 3.3. Consideram-se servidores com a jornada semanal de trabalho média de seu grupo e pertencentes às categorias de referência das variáveis binárias. Novamente observam-se diferenças importantes entre os sexos.

As parábolas encontram-se não apenas em níveis distintos, como também possuem inclinações diferentes, sendo menos côncava para as mulheres, o que significa que o retorno a cada ano adicional de vida, quando as curvas são crescentes, é menor para elas.

As duas funções se cruzam ao redor dos 34 e dos 70 anos de idade. Entre estes dois pontos, que compreendem a maior parte da vida profissional dos indivíduos, observam-se rendimentos inferiores para as mulheres. O rendimento máximo é atingido pelos homens entre os 55 e os 56 anos e, pelas mulheres, mais tarde, entre os 58 e os 59 anos. O rendimento máximo feminino é 7,5% inferior ao máximo masculino.

Figura 3.3: Variação de em função da idade, estimada separadamente para funcionários públicos dos sexos feminino e masculino. Brasil, 2008.

4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 idade Ŷ Homens Mulheres

Fonte: Microdados PNAD de 2008. Elaboração própria.

Em relação à escolaridade, percebe-se que a diferença de rendimento entre um indivíduo com até cinco anos de estudo e aquele que concluiu o ensino médio é menor quando se consideram servidores do sexo feminino.42 Este resultado sugere que o estímulo à escolarização é superior para os homens, pois para eles são maiores os ganhos salariais decorrentes de anos adicionais de estudo, quando consideradas as faixas iniciais de escolaridade.

A pessoa de referência na família ganha, em média, 16,7% a mais, se for homem, e 6,4% a mais, se mulher, em relação às demais pessoas da residência. A perda salarial quando o servidor domiciliado em área metropolitana transita para área urbana não-metropolitana é menor para homens.

Analisando os retornos associados à área do emprego público, verifica-se que o incremento salarial decorrente da alteração do vínculo empregatício de municipal para estadual é mais de duas vezes superior para os homens.

Também quando mudam de ramo de atividade, os servidores do sexo masculino veem seu rendimento aumentar muito mais que o de colegas do sexo feminino em igual situação: se trocam

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Cabe observar que a diferença entre os sexos no coeficiente associado à escolaridade de dois anos de estudo é significativa apenas a níveis iguais ou superiores a 9,4%.

um posto de trabalho no ramo de ―educação, saúde e serviços sociais‖ por um emprego na administração pública, por exemplo, seu salário salta, em média, 41,3%, ao passo que servidoras que se submetem ao mesmo tipo de mudança obtêm um aumento salarial de 21,9%.

Finalmente, embora técnicos de nível médio de ambos os sexos alcancem melhorias salariais ao assumir posições como profissionais das ciências e das artes, a vantagem pecuniária deste tipo de mudança de ocupação é, em geral, mais de três vezes superior para os homens.

Os resultados obtidos nesta seção sugerem, portanto, que o estímulo para obter aumentos salariais mediante mudanças de área de emprego, ramo de atividade e tipo de ocupação é maior para os homens. Em contrapartida, as servidoras se veem mais motivadas que seus colegas a alcançar melhorias salariais mediante a ampliação da jornada de trabalho.