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Uma comparação entre os graus de segregação nos setores público e privado

Capítulo IV: Segregação ocupacional por sexo no setor público brasileiro no período 1995-

4 Uma comparação entre os graus de segregação nos setores público e privado

Nesta seção são comparados os graus de segregação ocupacional por sexo nos setores público e privado. Preliminarmente, no entanto, cabe tecer algumas considerações de ordem metodológica.

Primeiramente, ressalta-se que a definição de setor público adotada nesta seção difere da adotada nas análises precedentes deste capítulo, passando-se a incluir os vínculos empregatícios em entidades empresariais estatais e órgãos públicos autônomos. Por setor privado entendem-se os estabelecimentos classificados, no tocante à sua natureza jurídica, como entidades empresariais privadas, entidades sem fins lucrativos, pessoas físicas e outras formas de organização legal.

A distribuição dos vínculos empregatícios segundo ramos de atividade econômica é, obviamente, muito distinta nos segmentos público e privado, conforme se verifica na tabela 4.4. Dos 8,9 milhões de empregos em entidades de natureza pública declarados na RAIS de 2007, 96,5% associavam-se às atividades de serviços. No setor privado, este percentual reduzia-se a 39,1%, de um total de 28,2 milhões de empregos. Logo, comparar os graus de segregação nestes dois segmentos, considerando o conjunto da economia, significaria fundamentalmente analisar a segregação em distintos setores econômicos. Como não é este o objetivo desta seção restringiremos a análise aos serviços, os quais respondem, tanto no segmento público como no privado, por uma quantidade de vínculos de grandeza semelhante — 8,6 e 11 milhões, respectivamente.

Tabela 4.4: Distribuição dos vínculos empregatícios nos setores público e privado, segundo os grandes setores de atividade econômica definidos pelo IBGE. Brasil, 2007.

Grande setor de atividade econômica (IBGE)

Setor público Setor privado No de vínculos Distribuição (em %) No de vínculos Distribuição (em %) Indústria 254.551 2,86 7.377.234 26,20 Construção civil 25.366 0,28 1.592.524 5,66 Comércio 19.887 0,22 6.820.014 24,23 Serviços 8.588.645 96,49 10.993.971 39,05

Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 12.988 0,15 1.368.991 4,86

Total 8.901.437 100,00 28.152.734 100,00

Fonte: Microdados RAIS de 2007. Elaboração própria.

Na tabela 4.5 são apresentados os índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) para o

ano de 2007, conforme os subsetores de atividade econômica. As ocupações são classificadas segundo a CBO versão 2002 e os cálculos das medidas de segregação se baseiam na distribuição por sexo dos servidores em subgrupos ocupacionais.

Tabela 4.5: Índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos vínculos empregatícios nos setores público e privado, calculados com base na distribuição por sexo dos indivíduos nos subgrupos ocupacionais da CBO 2002. Brasil, 2007.

Subsetor de atividade econômica (IBGE)

Setor público Setor privado

No de

vínculos ID Gs

No de

vínculos ID Gs

Serviços (exclusive administração pública) 968.897 0,353 0,494 10.963.406 0,482 0,614

Instituições de crédito, seguros e capitalização 213.286 0,046 0,059 491.315 0,193 0,281 Comércio e administração de imóveis, valores

mobiliários, serviços técnicos e profissionais, etc.

179.316 0,550 0,679 3.547.595 0,518 0,651

Transportes e comunicações 172.447 0,371 0,455 1.713.115 0,591 0,733

Serviços de alojamento, alimentação, reparação, manutenção, redação, rádio, televisão, etc.

66.230 0,336 0,468 3.065.631 0,322 0,452 Serviços médicos, odontológicos e

veterinários 133.612 0,307 0,436 1.102.974 0,315 0,438

Ensino 204.006 0,268 0,397 1.042.776 0,355 0,452

Administração pública 7.619.748 0,327 0,473 30.565 0,383 0,510

Total 8.588.645 0,326 0,478 10.993.971 0,481 0,614

O grau de segregação ocupacional por sexo observado no setor de serviços — que se subdivide em serviços e administração pública — é sensivelmente superior nas organizações privadas, qualquer que seja a medida considerada. Observam-se apenas dois subsetores da atividade econômica nos quais é maior a segregação no setor público — ―comércio e administração de imóveis ...‖ e ―serviços de alojamento, alimentação ...‖. A diferença, no entanto, é bastante pequena.

Conclui-se, assim, que embora a maior feminização do emprego no setor público não se traduza em eliminação da segregação ocupacional por sexo, resulta em sua redução, face ao grau de segregação observado nas entidades de natureza privada.

5 Considerações finais

Ao longo deste capítulo buscou-se aprofundar a análise da segregação ocupacional por sexo observada no setor público brasileiro.

A análise dos dados da RAIS revelou que a forma tradicional de se conceber a divisão sexual do trabalho — atribuindo às mulheres as ocupações que remetem ao imaginário coletivo de que cuidar dos doentes, dos idosos e das crianças são atividades femininas — é, em grande medida, replicada no setor público brasileiro. As mulheres estão, de uma forma geral, mais propensas a trabalhar nos setores estadual e municipal, pois estas esferas ofertam proporcionalmente um maior número de postos de trabalho em ocupações consideradas ―femininas‖.

O cálculo dos índices descritos na seção 2 para o período 1995-2008 revelou que a segregação por sexo mostra-se mais e menos pronunciada, respectivamente, nas esferas municipal e federal da administração pública.

Embora a mudança na metodologia de classificação de ocupações adotada pela RAIS em 2003 requeira que se análise em separado os períodos 1995-2002 e 2003-2008, identificam-se em ambos as mesmas tendências temporais, quais sejam, de redução nos graus de segregação por sexo nas esferas municipal e federal. Em âmbito estadual, por outro lado, as recorrentes oscilações no sentido de variação dos índices não permitiram identificar, no período em questão, uma tendência temporal clara.

Como era de se esperar, os índices calculados com base em categorias ocupacionais mais abrangentes mostram-se sistematicamente menores que aqueles verificados quando considerada a agregação de ocupações identificada pelos três primeiros dígitos do código da CBO.

Ao se comparar os graus de segregação nos setores público e privado, considerando apenas os empregos em serviços, verificam-se valores substancialmente menores entre os vínculos associados a organizações estatais, qualquer que seja a medida considerada. Este resultado indica que, embora a maior feminização do emprego no setor público não se traduza em eliminação da segregação ocupacional por sexo, resulta em sua redução, face ao grau de segregação observado nas entidades de natureza privada.

6 Apêndices

ÂPENDICE A — Cálculo dos índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos

trabalhadores ocupados no setor público considerando outras formas de agregação das ocupações

Tabela 4.6: Índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos trabalhadores ocupados no setor público1, calculados com base na distribuição por sexo dos indivíduos nos grandes grupos de ocupação da CBO 1994. Brasil, 1995 a

2002.

Ano Setor Público

Setor Público Federal Setor Público Estadual Setor Público Municipal ID Gs ID Gs ID Gs ID Gs 1995 0,242 0,350 0,066 0,101 0,199 0,275 0,334 0,487 1996 0,262 0,370 0,058 0,077 0,238 0,310 0,323 0,477 1997 0,261 0,364 0,042 0,062 0,229 0,296 0,324 0,473 1998 0,248 0,351 0,064 0,081 0,219 0,284 0,307 0,451 1999 0,258 0,360 0,054 0,069 0,223 0,289 0,320 0,465 2000 0,262 0,367 0,060 0,075 0,235 0,295 0,311 0,465 2001 0,249 0,352 0,052 0,062 0,218 0,295 0,289 0,430 2002 0,249 0,342 0,062 0,076 0,228 0,289 0,276 0,412 Var. 1995- 2002 (em %) 3,04 –2,21 –6,80 –24,84 14,81 5,16 –17,12 –15,26 Fonte: Microdados RAIS de 1995 a 2002. Elaboração própria.

Tabela 4.7: Índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos trabalhadores ocupados no setor público1, calculados com base na distribuição por sexo dos indivíduos nos subgrupos de ocupação da CBO 1994. Brasil, 1995 a 2002.

Ano Setor Público

Setor Público Federal Setor Público Estadual Setor Público Municipal ID Gs ID Gs ID Gs ID Gs 1995 0,342 0,481 0,116 0,184 0,277 0,391 0,438 0,621 1996 0,351 0,498 0,096 0,155 0,300 0,423 0,428 0,611 1997 0,352 0,495 0,066 0,109 0,288 0,402 0,433 0,615 1998 0,343 0,478 0,076 0,106 0,284 0,399 0,412 0,588 1999 0,355 0,493 0,068 0,100 0,294 0,414 0,426 0,602 2000 0,358 0,494 0,072 0,101 0,302 0,410 0,424 0,602 2001 0,330 0,478 0,060 0,081 0,274 0,396 0,392 0,564 2002 0,337 0,477 0,070 0,094 0,295 0,407 0,382 0,547 Var. 1995- 2002 (em %) –1,52 –0,95 –39,87 –48,62 6,75 3,99 –12,82 –11,92 Fonte: Microdados RAIS de 1995 a 2002. Elaboração própria.

Nota: 1Exclusive órgãos públicos autônomos e entidades empresariais estatais.

Tabela 4.8: Índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos trabalhadores ocupados no setor público1, calculados com base na distribuição por sexo dos indivíduos nos grandes grupos ocupacionais da CBO 2002. Brasil, 2003 a

2008.

Ano Setor Público

Setor Público Federal Setor Público Estadual Setor Público Municipal ID Gs ID Gs ID Gs ID Gs 2003 0,205 0,271 0,133 0,172 0,127 0,164 0,284 0,379 2004 0,203 0,270 0,133 0,166 0,136 0,183 0,283 0,377 2005 0,198 0,264 0,120 0,152 0,127 0,171 0,274 0,362 2006 0,199 0,265 0,122 0,159 0,131 0,171 0,270 0,358 2007 0,199 0,274 0,128 0,170 0,169 0,218 0,261 0,352 2008 0,196 0,263 0,121 0,168 0,159 0,197 0,262 0,357 Var. 2003- 2008 (em %) –3,98 –3,19 –9,12 –2,65 24,84 19,52 –7,75 –5,62 Fonte: Microdados RAIS de 2003 a 2008. Elaboração própria.

Tabela 4.9: Índices de dissimilaridade (ID) e de Gini (Gs) dos trabalhadores ocupados no setor público1, calculados com base na distribuição por sexo dos indivíduos nos subgrupos ocupacionais principais da CBO 2002. Brasil, 2003

a 2008.

Ano Setor Público

Setor Público Federal Setor Público Estadual Setor Público Municipal ID Gs ID Gs ID Gs ID Gs 2003 0,284 0,378 0,175 0,244 0,233 0,310 0,334 0,453 2004 0,281 0,376 0,165 0,237 0,240 0,326 0,332 0,448 2005 0,273 0,369 0,159 0,227 0,230 0,320 0,321 0,431 2006 0,273 0,369 0,166 0,233 0,234 0,318 0,314 0,425 2007 0,265 0,373 0,172 0,247 0,253 0,343 0,307 0,422 2008 0,267 0,356 0,168 0,244 0,239 0,306 0,308 0,423 Var. 2003- 2008 (em %) –5,94 –6,00 –3,91 0,21 2,48 –1,11 –7,76 –6,78 Fonte: Microdados RAIS de 2003 a 2008. Elaboração própria.

Capítulo V: Segregação hierárquica de gênero no setor público