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de morte violenta e dos principais aspectos relacionados à divulgação dos dados estatísticos de morte violeta letal intencional.

6.1 DIFERENÇAS CONCEITUAIS ENTRE AS ESTATÍSTICAS DE MORTE VIOLENTA DA SEGURANÇA PÚBLICA E DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.

Os casos de violência letal e intencional estão menos sujeitos à subnotificação, seja pelo clamor social que envolve esse tipo de crime, ou pela materialidade evidenciada no cadáver. As mortes violentas seguem diferentes rumos até

resultarem em estatística, que advém de duas fontes principais: Secretaria da Segurança Pública ou de Defesa Social e Ministério da Saúde.

Os conceitos e metodologias dos levantamentos de homicídios feitos pela segurança e pela saúde são sabidamente diferentes e um não é necessariamente mais correto do que o outro. “O pressuposto básico é de que ambas as fontes devem ser convergentes em termos de magnitude e tendência de homicídios e quando isto deixa de ocorrer pode sinalizar problemas de qualidade no levantamento em determinada área”. (KHAN, 2012). Pesquisadores já discorreram que ambas as fontes possuem problemas de validade e confiabilidade (CANO, 1997). Cabe aos pesquisadores, ao definir a fonte, considerar e ponderar essas diferentes metodológicas.

O quadro 5 apresenta uma breve comparação entre as variáveis utilizadas pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia e pelo Ministério da Saúde para o registro de mortes violentas, considerando as fontes primárias dos dados, os instrumentos de coleta, unidade de registro, a classificação e o local do fato ou do registro.

Quadro 5 - Comparação entre variáveis da Segurança Pública e do Ministério da Saúde

Como visto, na Segurança Pública a violência letal é registrada oficialmente pela Polícia Judiciária, pela lavratura do boletim de ocorrência, cuja tipificação do crime violento letal e intencional é feita pelo Delegado de Polícia, que atribui ao fato, o tipo penal correspondente, de acordo com as informações preliminares coletadas no local de crime. No caso da violência letal, é possível classificá-la como homicídio doloso, roubo com resultado, lesão corporal com resultado morte ou qualquer outro crime que resulte em morte. A unidade de registro é a vítima, ou seja, nos casos de

homicídios múltiplos, cada vítima é contabilizada na estatística, mesmo na hipótese de ter sido registrado apenas um boletim de ocorrência.

Contudo, vale salientar que no Brasil não há uniformidade na utilização dessas variáveis. Cada Estado utiliza modelos diferentes de boletim de ocorrência, classificação dos delitos e na consolidação da estatística oficial. Os dados de morte violenta produzidos pelo Ministério da Saúde são aqueles registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM/DATASUS, que consolida as informações da Declaração de Óbito.

O Sistema de Informação Sobre Mortalidade (SIM) foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde em 1975 e informatizado em 1979. Em 1991, com a implantação do SUS e a subjacente premissa de descentralização, a coleta de dados foi repassada à atribuição dos Estados e Municípios, através de suas respectivas Secretarias de Saúde. Até 1995 o SIM adotou a 9ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-9) quando, a partir daí empregou a CID-10. A Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças e de problemas relacionados à Saúde é a última de uma série que se iniciou em 1893 como a Lista Internacional de Causas de Morte.

A Declaração de Óbito, documento-base do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), é composta de três vias pré- numeradas sequencialmente, fornecida pelo Ministério da Saúde e distribuída pelas Secretarias Estaduais e Municipais de saúde conforme fluxo padronizado para todo o País, e possui três finalidades: legal, demográfica e epidemiológica.

O Sistema do Ministério da Saúde é dividido em categorias. De acordo com o CID 10, que trata dos incidentes ocasionados por causas externas de morbidade e de mortalidade, os códigos que representam a violência letal são: x85 – y09 e y35- y36, conforme consta no anexo III24. Nessa categoria estão as mortes por agressão, na qual se enquadra o homicídio, e outros delitos com resultado morte, como exemplo a lesão corporal seguida de morte, o roubo seguido de morte (latrocínio), as mortes decorrentes de intervenção policial.

A metodologia usada pelo Ministério da Saúde evidencia uma preocupação epidemiológica com os casos de morte violenta. Por isso, entende-se como compreensível a diferença com os critérios adotados pela polícia.

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No registro do SIM/DATASUS, o local do fato é aquele que está registrado na Declaração de Óbito. A menor unidade de análise é o município, com informações se o fato ocorreu no hospital ou em outro estabelecimento de saúde, no domicílio, em via pública e outros, sendo possível realizar consultas pelo município de residência da vítima.

Como se pode notar, dificilmente endereço registrado pelo sistema de Saúde estará coerente com aquele constante no sistema de estatística das polícias. A estatística policial usa uma diversidade de fontes para determinar o local do fato, podendo chegar ao detalhamento da coordenada do local exato do fato.

Em relação ao tempo do crime, por questão fática, a data registrada no SIM/DATASUS é a efetiva data do óbito, portanto, não retroage à data do fato criminoso, como ocorre com os dados da segurança pública.

Outro aspecto que dificulta uma comparação com as bases de dados policiais é o fato de a classificação/codificação do delito não seguir o rigor legal. Para as mortes violentas intencionais usa-se a classificação “agressões”, impossibilitando estratificar esse indicador para saber, por exemplo, quantos registros estão associados a homicídios dolosos, latrocínios e outros crimes violentos, isso porque, para a saúde, o interesse é epidemiológico.

As principais publicações em nível nacional sobre morte violenta intencional, notadamente, homicídios dolosos são: O Mapa da Violência25, que tem como fonte de dados o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde e o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, uma publicação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que compila os dados das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e do SINESP. Em quase todas as edições do Anuário Brasileiro de Informações Criminais, o FBSP utilizou o SINESP como fonte básica dos dados criminais, porém não exclusivamente.

Em 2014, além das informações do SINESP, os dados foram coletados diretamente nos portais institucionais, complementados com as informações solicitadas diretamente às Secretarias de Segurança Pública ou de Defesa Social dos Estados, com respaldo na Lei de Acesso à Informação.

Tendo em vista a premente necessidade de se buscar uma padronização, no âmbito nacional, da metodologia dos registros e divulgação dos casos de morte

25 O Mapa da Violência é organizado pelo sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, e pode ser acessado em: http://www.mapadaviolencia.org.br/

violenta, e a fim de possibilitar uma comparação mais justa entre os Estados, o FBSP criou uma metodologia para avaliar a qualidade da informação, classificando os Estados por grupos. Essa avaliação se dá a partir da aplicação de questionários enviados para as Secretarias de Segurança Pública, para coletar informações sobre infraestrutura, metodologia, classificações, cobertura e alimentação dos dados. A Bahia está no grupo de melhor qualidade desde o ano de 2012 e permanece em 2015, conforme o último anuário divulgado.

Diante das divergências metodológicas, é previsível que haja diferença entre as bases de dados do Ministério da Saúde e da Segurança Pública. Conforme é possível observar na tabela do anexo IV26, no Brasil, em 2014, o total de homicídios do DATASUS foi 5,1% superior ao número de incidentes envolvendo CVLI, registrados pela Polícia, portanto, abaixo do limite sugerido no Protocolo de Bogotá. Entretanto, foram identificadas altas discrepâncias entre os dados da saúde e da polícia para vários estados, entre os quais: Roraima (+117,8%); Distrito Federal (+28,1%); Amazonas (+23%); e São Paulo (+20,5%).

Por outro lado, sete unidades federativas foram muito bem avaliadas segundo esse critério, com destaque para o Rio Grande do Norte (-7,5%) e o estado da Bahia (-5,9%). Isto significa que, nesses estados, os dados de CVLI registrados pela Polícia estão maiores do que os dados do Ministério da Saúde.

O Protocolo de Bogotá apresenta como critério de avaliação dos dados de homicídio, a comparação direta, em termos proporcionais, entre os dados da Polícia e da Saúde, estabelecendo um limite máximo de 20% de discrepância entre os dois tipos de fontes.

Partindo do pressuposto de que as estatísticas elaboradas com dados de ambas as fontes deveriam ser convergentes – no que tange a sua magnitude e, especialmente, em relação a sua evolução, distribuição e tendências –, a comparação entre estas fontes permite testar a validade das estatísticas nacionais de homicídio (Cano e Santos, 2007).

A tabela 2 apresenta a série histórica de 2006 a 2014, com o comparativo dos dados de CVLI registrados pela Secretaria da Segurança Pública e os dados de agressões, que equivalem às vítimas de morte violenta, registrados pelo Ministério da Saúde. Com exceção do período de 2009 a 2011, os dados da SSP-BA foram superiores aos dados do Ministério da Saúde.

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Tabela 2 - Comparativo dos CVLI registrados pela SSP e Ministério da Saúde – Bahia

Ao fazer um recorte para a cidade de Salvador, observa-se que nos últimos 5 anos os dados da SSP foram superiores aos dados da Saúde, conforme se observa na tabela 03.

Tabela 3 - Comparativo dos CVLI registrados pela SSP e Ministério da Saúde – Salvador

ANO CVLI (SSP-BA) Agressões

(SIM/DATASUS) Diferença 2006 1004 1187 18,2% 2007 1372 1357 -1,1% 2008 1786 1771 -0,8% 2009 1809 1883 4,1% 2010 1728 1856 7,4% 2011 1622 1615 -0,4% 2012 1660 1575 -5,1% 2013 1485 1395 -6,1% 2014 1397 1377 -1,4%

Fonte: SSP/BA /Sesab/Suvisa/DIS-SIM. Elaboração própria

*Dados da Saúde processados pela SESAB até o dia 30/04/2016 Homicídios = Agressões (X85-Y09).

CVLI: homicídio doloso, latrocínio e lesão com resultado morte

6.2 MORTES POR CAUSAS EXTERNAS CUJA INTENCIONALIDADE É