• Nenhum resultado encontrado

Nem sempre será fácil apurar o lugar do crime, tarefa importante para possibilitar a adoção do princípio da territorialidade, no sentido de estabelecer a responsabilidade da apuração por parte da autoridade policial, bem como determinar a competência jurisdicional. Dessa forma, é necessário saber quais foram o local e o tempo do crime, ou seja, a ocasião, o momento, a data em que se considera praticado o delito para a aplicação da lei penal.

A partir das entrevistas com os gestores da segurança pública responsáveis pelas apurações das mortes violentas intencionais, foi possível identificar algumas situações fáticas de conflito de atribuições para apurar os fatos, em face da indeterminação do local onde o crime realmente ocorreu. Exemplos: cadáver, com sinais de violência, encontrado em vagão de trem de carga; boiando na baia de todos os santos; em córrego que representa o limite territorial entre duas Delegacias, e ainda casos de decapitação em que o corpo é encontrado em uma região da cidade e a cabeça, em outro local; e ainda os casos em que as vítimas de violência são socorridas para unidades médicas não sendo coletados os dados do local de procedência do fato.

Na aplicação da regra da territorialidade é necessário que se esclareça qual foi o lugar do crime, não importando a nacionalidade da vítima ou do autor. Para tanto, é relevante esclarecer o conceito de território para o direito brasileiro. Em sentido estrito (material), território abrange o solo (e subsolo) sem solução de continuidade e com limites reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial (12 milhas marítimas), a plataforma continental e o espaço aéreo. Os territórios por extensão (ou ficção) são aqueles considerados para efeitos penais como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ao alto mar ou em alto mar14.

Art. 5º, § 2º É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil. (BRASIL, 1940)

14

Para a compreensão do que deve ser considerado local do crime para fins de política criminal, foram consideradas três teorias utilizadas no Direito Penal. De acordo com Bittencourt (2004), a teoria da ação ou da atividade considera como local do crime aquele em que se realizou a conduta típica, ou seja, o local da conduta criminosa (ação ou omissão).

A teoria do resultado informa que o lugar do crime será aquele em que ocorreu o evento ou o resultado, isto é, onde o crime se consumou, pouco importando a ação ou intenção do agente.

Já a teoria adotada pelo Direito brasileiro é a teoria da ubiquidade, em que considera o local do crime tanto o local da ação como o do resultado, conforme o art. 6º, do Código Penal, que diz: “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”.

Na análise do tempo do crime, são três as teorias adotadas pelo Direito Penal. A teoria da atividade, considera-se como tempo do crime o momento da conduta (ação ou omissão). Pela teoria do resultado (ou do efeito), considera-se tempo do crime o momento de sua consumação, não se levando em conta a ocasião em que o agente praticou a ação. Por fim, a teoria mista ou ubiquidade considera como tempo do crime tanto o momento da conduta como o do resultado. O Código Penal adotou a teoria da atividade que, de acordo com o art. 4o., considera praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado

Para fins de política criminal, o local e o tempo do crime correspondem ao local e a data/hora da ação ou do resultado. Normalmente é aquele onde o corpo da vítima foi encontrado, salvo, se na investigação for constatado que o crime foi cometido em outra localidade.

Na hipótese de a vítima evoluir a óbito posteriormente, e em local diverso de onde ocorreu a ação, seja em hospital ou qualquer outra localidade, para fins de estatística oficial registra-se no sistema de estatística o local e a data/hora que efetivamente ocorreu o fato criminoso. É comum acontecer essa situação quando as vítimas de tentativa de homicídio são socorridas para unidades médicas e dias depois falecem. Nesse caso, o registro do homicídio retroage à data da tentativa de homicídio. Se a vítima vier a falecer hospital, não havendo informações do local de

procedência, o fato é registrado provisoriamente no endereço do hospital, até que novas informações sobre o fato esclareçam qual foi o local da ação.

Nos casos de descarte de corpo em locais conhecidos como “área de desova”, onde o cadáver é encontrado com sinais de violência, mas no local não são identificados vestígios da ação criminosa, a exemplo de marcas de sangue, cápsulas de projéteis, entre outros. Essas situações são registradas preliminarmente no sistema de estatística para o local onde o corpo foi encontrado. Se no curso das investigações, o local da ação for identificado, a estatística é atualizada. A metodologia utilizada pela Secretaria da Segurança Pública, embora, não seja um padrão nacional, atende aos anseios das políticas criminais, sobretudo no aspecto preventivo, por considerar as reais circunstâncias do crime.