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Diferenças entre as populações escolares que frequentam as escolas do 1º

7. Lógicas de acção

7.5. Diferenças entre as populações escolares que frequentam as escolas do 1º

Do conjunto de entrevistas realizadas, em que procurámos auscultar a opinião de diferentes actores – órgãos de gestão, professores e pais – parece relevar a ideia consensual de existir alguma diferença, embora difusa, de que as crianças que frequentam as várias escolas do 1º ciclo no território do AVE Arco-Íris têm comportamentos e atitudes diferentes face à escola, as quais se traduzem em resultados escolares divergentes.

Embora não tenha ficado claramente explicitado nas entrevistas, a percepção que a gestão do AVE Arco-Íris e os docentes que lá trabalham têm sobre esta questão indica que, ao longo dos últimos anos, se tem verificado uma alteração na composição social das populações destes territórios educativos, associada à criação de bairros de realojamento maioritariamente habitados por populações africanas provenientes dos PALOP’s, mas também com alguma imigração do leste europeu e do Brasil.

A primeira questão de disputa de alunos e de território educativo entre as duas escolas do 2º e 3º ciclo, que são sede dos respectivos agrupamentos, verificou-se exactamente em torno da distribuição dos alunos do realojamento do Casal do Monte:

«Constrói-se este realojamento do Casal do Monte e começa a “guerra” entre a MT e a nossa escola. Porque a MT entendia que como a nossa escola se chamava escola do Casal do Monte, devia ser para receber os alunos do Casal do Monte, que era o nome do realojamento. E eu achava que não fazia sentido, por causa do nome, os alunos terem que atravessar a estrada principal. Lembro-me de rapidamente ter entrado em contacto com o Secretário de Estado da Educação.

Eles vieram cá e depois eu disse-lhes que, rapidamente, a escola tinha que ter um patrono. Para não criar… primeiro eu não gostava do nome, e depois isto não tem nada a ver com o Casal do Monte. Porque tinham-me explicado que o Casal do Monte fica do lado de lá da estrada, não fica deste lado, e de facto a localização não tinha nada a ver. De maneira que as pessoas baralhavam-se, ficavam confusas.» (Entrevista nº 1 - PCE)

Mas transparece também a ideia de que da parte do outro agrupamento era valorizada a qualidade dos alunos da Escola Lilás, por contraposição ao receio de que os novos habitantes do realojamento fossem causa de problemas e distúrbios:

«Nas reuniões de rede eu apenas dizia: há necessidade de as crianças andarem a atravessar de um lado para o outro? As de baixo, da escola Lilás vão para cima para o AVE MT e as de cima Casal do Monte vêm para baixo para o AVE Arco- Íris. Mas estamos a pensar em quê? Primeiro temos que dizer em que é que estamos a pensar. Não é? Estamos a pensar em que estes alunos do Casal do Monte destroem uma escola e, portanto, temos que fazer aqui uma selecção, separá-los, ou estamos a pensar em quê?» (Entrevista nº 1 - PCE)

Também o corpo docente do AVE Arco-Íris parece associar os alunos da Escola Lilás a mais sucesso escolar e a uma atitude de maior valorização da escola, eventualmente em função do meio familiar e social de que são provenientes:

«PR: Também tenho que dizer que no ano em que entrei nesta escola apanhei uma turma que vinha ali da escola Lilás. Na altura ainda não estávamos em agrupamento. Portanto apanhávamos alunos com outra… “bagagem”. A partir do momento em que entrámos em agrupamento começámos a receber alunos da escola Verde e da escola Rosa. Notei que os miúdos vêm com mais deficiências do que os da escola Lilás.

Entrevistador: Enquanto directora de turma, que diferenças tem notado a nível dos problemas sociais e económicos?

PR: Muitas, muitas. Tem vindo a piorar. Temos alunos com situações muito complicadas. Famílias desestruturadas. Isso aí não tem a ver com a origem de bairro. Tanto acontece com crianças que vivem aqui no seio deste bairro ao pé da escola, como as que vivem nos outros bairros. Crianças em que a família não lhes dá qualquer apoio. E esta falta de acompanhamento é total – a nível médico, a

nível alimentar, a nível monetário, a nível afectivo… nada, nada. Estão completamente entregues a si mesmos. E a escola, nesse aspecto, vai tentando suprimir a falta disso tudo.» (Entrevista nº 2 – Prof. 2º ciclo)

Estas diferenças no comportamento e aproveitamento dos alunos também apareceram referidas na entrevista com a professora do 1º ciclo, que nos últimos anos lecciona na escola Rosa:

«(…) os alunos daqui, da escola Rosa, são menos cumpridores de regras. Em termos de sucesso também não são maus. No entanto acho que têm menos espírito de sacrifício, menos hábitos de trabalho. É curioso que aqui há pais com mais habilitações académicas do que aquele meu grupo inicial na escola Lilás. Mas também acho que desculpabilizam muito os filhos e os protegem demais em relação aos deveres escolares. Enquanto na escola Lilás o “coitadinhos dos meninos” não existia e os pais diziam: «dê-lhes trabalho, professora, que eles fazem», aqui há sempre a tendência de arranjar desculpa para não fazer.» (Entrevista nº 3 – Prof. 1º ciclo)

Curiosamente, também os pais acabaram por corroborar de alguma forma esta percepção de maior interesse pela escola e maior sucesso, por parte dos alunos da Escola Lilás em relação aos seus colegas de outras escolas:

«Entrevistador: Como foi o percurso escolar do seu filho? Fez todos os anos de seguida? Acompanhou os mesmos colegas de turma até chegar a esta escola? EE: Ele não é um bom estudante. Gosta muito de brincadeira e por isso reprovou no 2º ano e depois voltou a reprovar no 5º ano. Quando estava na Escola Verde acompanhou sempre com a mesma professora e os mesmos colegas, mas aqui ficou para trás. (Entrevista nº 4 - EE1)

Entrevistador: Lembra-se de como era a turma do seu filho? Mantiveram-se sempre todos juntos do 1º ao 4º ano?

EE: Era um grupo de alunos razoáveis. A professora gostava muito deles e fez um bom trabalho. A maior parte já vinha junta desde o JI e só houve dois meninos que entraram no 1º ano e depois mais uma menina e um menino que entraram mais tarde. O grupo desfez-se depois, quando entraram para o 5º ano, porque só oito ou nove é que ficaram nesta escola. Há quatro que estão juntos com o meu

filho na mesma turma. Os outros que vieram para aqui também estão no 8º ano, mas são de outras turmas.» (Entrevista nº 5 - EE2)

7.6. Fluxo escolar entre o 2º e o 3º ciclo – alterações verificadas na população