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Lei do diferencial de produtividade

Capítulo 1 – Interpretações teóricas sobre a evolução do Terciário

1.3 Teorias e estudos sobre as causas do crescimento e importância

1.3.2 Lei do diferencial de produtividade

A Lei do diferencial de produtividade de meados do século XX, ligada aos nomes de Clark, Fischer, Fourastié e Baumol, também é apontada como responsável pelo crescimento mais que proporcional do Terciário. Segundo essa lei, em média ocorreria um distanciamento estrutural entre os ritmos de crescimento da produtividade na agricultura, indústria e serviços; devido a razões essencialmente técnicas relacionadas às possibilidades de substituição do trabalho por capital que tenderiam a ser mais limitadas nos serviços, influindo para a produtividade crescer em ritmo menor no Terciário quando comparada com a Indústria e com a Agricultura. Essa explicação teórica está na base da formulação anterior da hipótese da doença de custos. Os parâmetros dessa hipótese foram extraídos dos estudos de W. J. Baumol, publicados entre 1966 e 1991. Esta supõe que o maior peso do Terciário em termos de geração de emprego e de riqueza seria resultante do crescimento desigual da produtividade entre os macro-setores econômicos. O crescimento inferior da produtividade no Terciário facilitaria empreendimentos no Terciário e atrairia e absorveria mão-de-obra liberada dos outros dois macro-setores da economia.

Um ponto controverso da hipótese da doença de custos, base da lei, está na suposição de uma tendência à uniformização dos salários, dado que os aumentos de salários nos setores agroindustriais com maior produtividade acabariam pressionando para cima os salários do Terciário também, devido a pressão das organizações trabalhistas, como os sindicatos (MELO et alli, 1998). Estudos mostram que, especialmente em países menos desenvolvidos, há uma ocorrência de um “inchaço” do Terciário, que passou a exercer o papel de “colchão amortecedor” do desemprego. Ou seja, na insuficiência de oferta de emprego, parte do contingente de desempregados optariam por ocupações em atividades de serviços, em grande parte informais, onde as condições de uso e remuneração do trabalho são consideradas precárias. Todavia, é preciso ressaltar que mesmo nos

países desenvolvidos o crescimento da mão de obra do Terciário pode estar relacionada com o chamado inchaço do setor terciário resultante do ‘colchão amortecedor’ que este exerce em momentos de crise e superação da acumulação capitalista. Mas, além de outras atividades e setores não pertencentes ao terciário também absorverem mão de obra, é difícil generalizar a condição de precariedade dado as diferentes formas de contratação e de remuneração que dificultam generalizar essa situação; notadamente entre os informais, para os quais não há estatísticas metodologicamente uniformes e sua renda é desconhecida, inclusive havendo várias formas de remuneração não monetária. Por outro lado, muitas ocupações em serviços, não só formais, sob contratos das mais diferentes formas, são comprovadamente bem remuneradas e não se tratando necessariamente de opções involuntárias dos trabalhadores diante das crises.

Outro ponto controverso da lei do diferencial de produtividade diz respeito às suposições em torno da variação da produtividade em relação aos três macro- setores da economia. A mensuração da produtividade é polêmica por diversas razões, especialmente quando medida macroeconomicamente.6 No que tange ao terciário, uma crítica importante em relação a esse ponto da lei mostra sua inaplicabilidade para todos os setores dos Serviços, dado a heterogeneidade, sendo que muitos deles vêm apresentando elevada produtividade, sejam capital-intensivos como instituições financeiras (bancos), comunicações, transportes e armazenagem,

serviços prestados às empresas etc. sejam trabalhos-intensivos. Pois a

produtividade pode ser aumentada não só por recursos tecnológicos de alto custo (máquinas, ferramentas, instrumentos de informática e telemática etc.), mas também pelos de baixo custo e,também, através da organização e gerenciamento do processo de trabalho. Sem falar que na mensuração da produtividade é difícil contabilizar bens e serviços comprados de terceiros, seja de fonte local, regional, nacional ou internacional que influem na produtividade das empresas e do trabalhador. E, ainda, em determinados serviços com características específicas,

6 GADREY (1999) cita que ao menos a evolução da produtividade na França e nos Estados Unidos entre 1970 e 1997 confirma essa lei Na França entre 1970 e 1997 a taxa de progresão média da produtividade foi de 5,4% na agricultura, 3,9% na indústria e de 2,1% no comércio e serviços mercantis. Nos Estados Unidos o diferencial de

notadamente os que envolvem o contato pessoal, a produtividade pode ser menor para não comprometer a qualidade e eficácia do serviço prestado (Exemplo típico: serviços de saúde) e, portanto, de difícil comparação com a produtividade medida em atividades agrícolas e industriais, já difíceis de mensurar e comparar.

Isso não descarta que a busca pela produtividade é intrínseca à concorrência e está relacionada à redução dos custos, muitas vezes vital à sobrevivência das atividades econômicas sejam em nível macro seja em nível microeconômico, mas isso independente do macro-setor em que estão inseridas.

Em suma, dada as controvérsias, é preciso ressaltar que o crescimento das atividades e das ocupações terciárias também é estimulado por outros fatores e decisões não necessariamente relacionados ao diferencial de produtividade ou à função de “colchão amortecedor” das crises exercido por vezes pelo macro-setor Serviços.

Essas controvérsias não invalidam o fato de que essa linha teórica trouxe elementos que contribuem para explicar o crescimento do Terciário e alguns aspectos da evolução e do papel dos serviços. Inclusive trouxe elementos para outras visões e interpretações mais atuais do debate, abordadas mais à frente no item 1.3.5.

Mas, antes trataremos, nos itens 1.3.3 e 1.3.4, dos estudos de duas causas do crescimento do Terciário (terceirização e urbanização), bem menos questionáveis e amplamente aceitas, cujo enfoque pode ser considerado não- teórico, especialmente em termos abstratos, por prevalecer traços de uma análise econômica aplicada.

Iniciemos pela prática da terceirização, por estar estreitamente ligada à redução dos custos e, indiretamente, relacionada com a busca pelo aumento da produtividade.