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Um marco divisório relacionado ao debate sobre os serviços

Capítulo 1 – Interpretações teóricas sobre a evolução do Terciário

1.1.2 Um marco divisório relacionado ao debate sobre os serviços

No início do século XX, marcado pela primeira grande guerra mundial, vivenciava---se um grande desafio à sobrevivência da sociedade capitalista já prenunciada por Marx e seus antecedentes. Abre-se outra frente de estudos que se identifica com os estudos estatísticos e empíricos de Nicolai Kondratiev sobre ondas de crescimento, inovações e crise do capitalismo (A economia Mundial e sua

conjuntura antes e depois da Guerra publicado em 1922). Formava-se um marco

teórico divisório de estudos econômicos, sob outro ambiente econômico e com novas concepções, das quais deriva-se uma terceira vertente do debate envolvendo os Serviços.

teoria macroeconômica, da qual a obra de J. M. Keynes se destacou. No que diz respeito ao papel da técnica no processo produtivo e desenvolvimento econômico a obra de J. Schumpeter pode ser apontada como a mais completa:

A) John M. Keynes (1883-1946 – Teoria Geral do Juro e da Moeda

publicada em 1936) é mais conhecido por sua demonstração teórica e

matemática de que a demanda determina a oferta e não a oferta gera a demanda como defendia a escola neoclássica (o princípio da demanda

efetiva já presente entre os clássicos). Considerando as flutuações da

demanda em períodos de desequilíbrio macroeconômico, fez uma consistente demonstração teórica relacionando as crises das economias capitalistas com as quedas do consumo final de bens e serviços, iniciada pela queda dos gastos das famílias. Isto afetaria as expectativas e, consequentemente, os gastos na produção de bens e serviços reduzindo os investimentos, levando à ociosidade de fatores de produção e ao desemprego e queda do poder de compra das famílias, gerando um ciclo recessivo. Sendo necessária ,assim, a manutenção dos níveis de gastos e do poder de compra do consumidor final para evitar as crises. Com isso evidenciou a importância da participação do setor de serviços, seja no montante de riquezas produzidas, seja na porção de mão-de-obra absorvida por suas atividades. Ou seja, a produção dependia do consumo que é realizado através da mediação de atividades de serviços que contribuem para a realização das vendas.

B) Joseph Schumpeter (1883-1950 – Capitalismo, Socialismo e Democracia de 1952), conhecido por sua teoria da concorrência (Schumpeter, 1983), teorizou de forma precisa os efeitos da aplicação das invenções já disponíveis e consequente avanço da técnica relacionando-os ao acirramento da concorrência adotando a visão dinâmica do processo histórico do desenvolvimento econômico. Considerou tanto a esfera microeconômica como a esfera macroeconômica considerando mais de uma dimensão dos efeitos do avanço tecnológico: primeiro, demonstrou que o avanço da técnica também abarcava a reorganização do trabalho na produção e esta poderia ser tão eficaz quando o avanço da mecanização e consequentemente terem efeitos no aumento de produtividade e na eliminação de mão de obra; segundo, incorporou a dimensão regional ,demonstrou a importância das atividades terciárias envolvidas com a disputa por mercados. Por conseqüência, determinadas atividades de serviços ganhavam destaque e não necessariamente fariam parte dos setores agrícolas e industriais.

De fato, as empresas passavam a aumentar muito seus gastos com serviços de conteúdo imaterial, como marketing, propaganda, desenvolvimento e valorização da marca, consultoria, pesquisa e desenvolvimento (P&D), pesquisa de mercado, etc. Dessa forma, podem agregar mais valor a seus produtos, induzir as suas

vendas e prolongar a valorização do capital. O valor alcançado por uma marca atualmente é o exemplo claro da importância de um bem imaterial. (Gorz, 2005)

Frente à evolução das características tecnológicas dos serviços e do seu papel na economia, o debate foi retomado e os serviços tomados como um macro- setor assim como a Agricultura e a Indústria. Os estudos continuaram se concentrando em definir mais especificamente a atividade de serviços desde sua produção ao consumo e, também, à classificação das atividades terciárias, sintetizando e atualizando o pensamento econômico.

Houve turbulências do mercado financeiro que culminaram com as sucessivas crises do início do século XX, especialmente na década de 1930. Desde então, alguns estudos econômicos se desviaram para a mensuração da riqueza criada pela economia e seu mapeamento geográfico, aliados ao desenvolvimento do pensamento teórico preocupado em estudar as causas do crescimento.

O pensamento econômico retoma os estudos dos serviços com outros objetivos, visando não só os aspectos teórico-abstratos mas, também, o tratamento dos dados estatísticos sobre a produção de riqueza/produto e o emprego no setor, agregando assim à visão teórica uma análise aplicada.

Podemos inicialmente dividi-los em duas frentes de estudos mais focadas no macro-setor dos serviços:

1ª) a que aborda a questão conceitual e discute a caracterização, definição e; a classificação dos Serviços. Essa linha de discussão ofereceu mais campo para o debate uma vez que não se chegara a uma conceituação satisfatória que expressasse melhor a realidade do setor. Na verdade, essa dimensão do estudo já havia sido estudada minuciosamente pelos teóricos acima citados, mas a modernização das atividades trouxe novos elementos de análise. Alguns estudiosos ergueram uma barreira teórica relacionada principalmente à opção de caracterizá-lo de forma genérica, tarefa quase impossível atualmente, dada sua crescente heterogeneidade, complexidade e modernização com a transformação dos serviços e a criação de novas modalidades. Para nosso objetivo vale resgatá-la no que tange às possibilidades de sinergia dos Serviços com os outros macro-setores e, principalmente, a necessidade de adotar uma classificação setorial para o estudo macroeconômico.

2ª) a que procura explicar o fenômeno contemporâneo da Terciarização da produção e da ocupação e suas relações com o desenvolvimento econômico.

Fenômeno representado inicialmente pelo crescimento mais que proporcional do Terciário em relação aos outros dois macro-setores da economia e, em seguida, por um deslocamento do centro da dinâmica econômica para o Terciário, onde os serviços assumiriam a direção do desenvolvimento econômico. Essa linha teórica vem estudando e apontando as prováveis causas desse fenômeno, algumas bastante criticadas, outras, totalmente ou em parte, aceitas pelos estudiosos da área. Os motivos apontados pela teoria não só procuram explicar o crescimento mais que relativo do Terciário, mas também o crescimento absoluto desse macro-setor e de suas respectivas atividades, independente de assumir a dinâmica econômica entre os três macro-setores da economia.

As próximas duas seções discutem sinteticamente as principais contribuições a essas duas frentes de estudos que basicamente dividiram os debates sobre o papel dos Serviços realizados até a virada do século XX.

Começamos pela primeira frente de estudos, pois ela dá as bases para a segunda frente que está diretamente relacionada ao tema de estudo desta tese: o papel recente dos Serviços no desenvolvimento econômico do Brasil.