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5.2 CONTEXTOS SOCIOPOLÍTICOS ATUAIS DA UNIVERSIDADE LUSITANA

5.3.2 Diferentemente da UFCA, oriunda de um processo de desmembramento de um

instituições universitárias

A partir das observações realizadas durante o estágio doutoral em Portugal, um novo conjunto de considerações pôde ser feito. Desta vez, o foco foi dado ao processo de criação da Universidade de Lisboa em sua configuração atual, que ocorreu de um modo inverso que o da UFCA: através da fusão de duas instituições universitárias pré-existentes. Portanto, a montagem da Universidade de Lisboa convergiu com o mesmo processo das primeiras instituições universitárias do Brasil: é resultante do englobamento de faculdades superiores esparsas em 1911123. Medicina, Letras e Ciências foram o tripé da primeira formatação da instituição lisboeta. No ano de 1930, cria-se, na capital portuguesa, a Universidade Técnica de Lisboa, por sua vez resultante da união entre a Escola Superior de Medicina Veterinária, o Instituto Superior de Agronomia, e o Instituto Superior de Ciências Econômicas e Financeiras. As duas instituições foram se expandindo através da criação e desenvolvimento de suas Escolas, Faculdades e Institutos (a exemplo do ISCSP, que em 2018 completará 112 anos de existência) quando, em 2013, o Governo Português funde as duas instituições na (Nova) Universidade de Lisboa (ULISBOA, s.d.).

Em entrevista concedida à Revista da ULISBOA (2017), o Reitor da instituição, o prof. António Cruz Serra, que esteve presente durante o processo de criação da atual Universidade de Lisboa, afirmou que a fusão mereceu doravante atenção. No que toca ao plano administrativo da recém- criada universidade, foi afirmado que

Desde o início tivemos consciência de que fusão deveria perturbar o menos possível a vida da Universidade. Tinha que se respeitar, na totalidade, as condições que acordámos durante o planeamento da fusão, com respeito pela autonomia das Escolas e pela liberdade académica. As pessoas teriam de ser tratadas com o cuidado que merecem, em particular estando em curso um processo de fusão, que é potencialmente desestabilizador para os trabalhadores envolvidos. Existia a vantagem de a fusão ter uma implicação mais direta, de início, apenas ao nível dos serviços da Reitoria; mas, mesmo assim, havia que ter em conta as diferentes culturas de gestão e organização das duas anteriores universidades. Tínhamos também a vantagem de não ser necessário fundir faculdades, dada a complementaridade de oferta entre as duas universidades. Iremos assistir a situações de reorganização de oferta formativa no conjunto da Universidade apenas nos próximos anos (SERRA, 2016, p.17).

123 O ensino superior está presente em Lisboa desde 1290, quando D. Dinis, um dos primeiros reis de Portugal,

Da citação acima, chamam a atenção duas constatações: em primeiro lugar, a que as pessoas que compunham as duas instituições anteriores foram participantes (diretas ou indiretas) no processo de fusão da Universidade Técnica de Lisboa com a (antiga) Universidade de Lisboa. Em segundo lugar, a oferta educativa entre as duas organizações era complementar, e não concorrente, o que favoreceu sobremaneira a criação de uma nova universidade. Dessa forma, utilizou-se melhor o recurso disponível à universidade em proposituras mais atuais e concernentes com a demanda dos alunos, que acompanha as diretrizes europeias de economia, mercado e trabalho. Com maior apelo institucional, a ULISBOA passou a gozar de melhor

status perante os policy makers portugueses, melhorando níveis de apoio e financiamento

público. Segundo o reitor,

Ganhámos a capacidade de trabalhar em conjunto diferentes áreas. Na reorganização da oferta formativa, criaram-se alguns doutoramentos conjuntos e reorganizaram-se alguns cursos de mestrado; cursos antigos em duas ou três Escolas darão lugar a uma oferta comum. Correu bem a capacidade de influenciarmos as políticas públicas para o Ensino Superior. O que se fez nestes três anos e meio pode medir-se pelos resultados. O resultado mais importante foi a capacidade de contratar novos professores, investigadores e trabalhadores administrativos e técnicos (SERRA, 2016, p.19).

Algumas lições iniciais podem ser depreendidas neste ponto. No Brasil, é comum justificar-se a criação de universidades autônomas com a sentença de que novas organizações podem autorregular-se melhor, tendo em vista a atenuação dos problemas burocráticos observados em grandes organizações. O exemplo da ULISBOA mostrou o contrário. A incorporação entre duas instituições seguiu o decurso do Reuni no Brasil, que manteve como uma de suas estratégias a criação de novas IFES a partir de processos de desmembramento de campi universitários ligados a instituições mais consolidadas, como ocorreu com a UFCA.

6 A CRIAÇÃO DA UFCA: UM PROCESSO INSTITUCIONAL QUE CONTRIBUIU PARA O DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

Neste capítulo são apresentadas as bases político-institucionais de criação da UFCA. Os dados analisados – transformados em informações úteis à compreensão do fenômeno em tela – apresentam as nuances que envolveram as negociações em torno da efetivação de um projeto político de institucionalização da educação superior com vistas a uma nova universidade federal para o território do Cariri cearense. Dá-se ênfase à maneira diferenciada de constituição organizacional e principiológica da instituição universitária caririense, que contou com a participação de atores pouco usuais na implementação da política pública de fomento ao ensino superior no Cariri cearense.

De modo a melhor estruturar a apresentação e análise dos dados, este capítulo foi dividido em duas partes: a primeira refere-se às dimensões de análise, importantes no destaque das informações obtidas; em seguida, a segunda condensa e sistematiza os achados da pesquisa, à luz dos pressupostos constantes no capítulo metodológico, e revelando a resposta da pergunta de partida: como se desenhou, a partir da dimensão político-institucional, a criação da Universidade Federal do Cariri como uma estratégia de desenvolvimento territorial?

Em qualquer estudo científico, a definição das dimensões de análise de dados cumpre o rito metodológico mais pertinente ao objeto em tela. No caso desta tese, cinco dimensões foram estabelecidas com o propósito de se conhecer em profundidade o processo de criação da UFCA: I – A instituição universitária; II – A demanda por uma universidade idealizada para a integração territorial; III – A montagem política da nova universidade; IV – A pluralidade dos atores envolvidos; e V – Motivações e a articulação dos múltiplos interesses. Nelas, os dados primários e secundários coletados foram triangulados com a literatura selecionada, dando respostas aos questionamentos feitos durante o percurso investigativo do doutoramento. As dimensões de análise foram construídas com o intuito de agrupar os principais conjuntos de informações reveladas pela pesquisa. A escolha temática de cada dimensão de análise seguiu critérios oriundos nas bases teóricas deste estudo e nos documentos coletados (dados secundários), como também nas entrevistas realizadas e nas observações feitas durante a investigação (dados primários). Alerta-se não ser o papel destas dimensões de análise

compartimentalizar o fenômeno estudado em diferentes partes, mas sim evidenciar os cinco focos de análise que a pesquisa revelou serem importantes.