• Nenhum resultado encontrado

4. Tipologia do assédio moral e do assédio sexual

4.2 Os diferentes tipos de assédio sexual

No que respeita ao assédio sexual são apenas duas as espécies de assédio sexual apontadas pela doutrina maioritária: o assédio sexual por chantagem e o assédio sexual por intimidação114. O sujeito passivo é o assediado e o sujeito ativo o assediador, sendo que numa ou outra posição podem estar quer homens, quer mulheres115.

4.2.1 Assédio sexual por chantagem

Também denominado assédio sexual quid pro quo116, o assédio sexual por chantagem foi definido por Robert Husbands117 como uma exigência praticada por um

113 Cour de Cassation, chambre criminelle, 6 de Dezembro de 2011, n.º 10-82.266. 114 Há todavia quem defenda uma outra forma de organização para o assédio sexual. V. E

RIKA PAULA

CAMPOS – “Assédio sexual na relação de trabalho”, in SINAL-SP INFORMA, nº 84, 2011, pp. 5 a 9. A autora

expõe que o assédio sexual pode ser definido de quatro formas: quanto ao sexo, quanto à hierarquia, quanto à forma e quanto ao modo. No assédio sexual quanto ao sexo temos que o assédio pode ser realizado por pessoas do mesmo sexo ou pessoas do sexo oposto. No assédio sexual quanto à hierarquia, à semelhança dos tipos de assédio moral que enunciamos, temos assédio sexual vertical descendente, vertical ascendente, assédio sexual horizontal e assédio sexual misto. No assédio sexual quanto à forma temos a forma verbal, física e psicológica. Por último quanto ao modo temos o assédio sexual por intimidação e o assédio sexual por chantagem.

A Diretiva 2002/73/CE também define o assédio sexual de outra forma, dando, como veremos no capítulo II, aquando da análise do ar. 29.º, n.º 3, mais enfase ao objetivo (intenção) ou efeito (resultado) do assédio sexual.

115 Para maiores desenvolvimentos sobre as modalidades subjetivas de assédio sexual no trabalho v.

ISABEL RIBEIRO PARREIRA – “O assédio sexual…”, op. cit., pp. 179-180.

48

superior que é geralmente, mas nem sempre, de sexo masculino, a um subordinado seu, geralmente, porém nem sempre, de sexo feminino, para que se preste a uma atividade sexual se quiser alcançar ou conservar certas vantagens profissionais. Estamos perante um abuso de autoridade por parte do superior hierárquico (assediador). A vítima sente-se ameaçada de perder o emprego ou então é aliciada a ceder às investidas para posteriormente conseguir um aumento salarial, uma promoção, mudança ou permanência no posto de trabalho. Para que se considere assédio sexual por chantagem a vítima assediada tem de ser um trabalhador e o assediador um superior hierárquico118.

Esta forma de assédio é uma consequência direta do abuso de poder por parte de um agente e por essa razão as relações sociais que ostentam uma maior diferença de poder são as mais propícias a este tipo de assédio, verbi gratia, as relações laborais. Contudo, também pode dar-se em diversas áreas: na área educacional, nomeadamente entre professores e alunos, na área desportiva, por exemplo, entre dirigentes de equipa/treinadores e atletas, na área hospitalar entre médicos, auxiliares e pacientes, entre outras.

Um dado a reter é que nem sempre o superior hierárquico pretende os favores sexuais ou condutas afins para si, pois pode acontecer que o faça para clientes da empresa ou terceiros relacionados com o seu mundo empresarial, como por exemplo, credores ou fornecedores119.

A legislação francesa tinha no passado uma definição de assédio sexual que ia precisamente de encontro à de assédio sexual por chantagem, alvo por isso de muitas críticas uma vez que se restringia apenas ao abuso de autoridade por parte de um superior e à chantagem, deixando de fora todas as outras formas de assédio120. O antigo artigo 122-46 do Código do Trabalho francês, sofreu deste modo uma alteração que está em vigor desde

117 Cfr. R

OBERT HUSBANDS – "Analisis internacional de las leyes que sancionan el acoso sexual " in

Revista Internacional del Trabajo, v. 112, nº 1, 1993, p. 115: “Na definição tradicional e estrita de assédio

sexual, este trata-se de uma exigência feita por um superior, geralmente mas nem sempre, de sexo masculino, a um subordinado seu, geralmente mas nem sempre, de sexo feminino, para que se reste a uma atividade sexual, se quiser alcançar ou manter certos benefícios laborais, tais como, um aumento salarial, uma promoção, uma transferência ou permanência no posto de trabalho.”

118 Podem aqui incluir-se também os colegas trabalhadores subordinados ou mesmo clientes com

poderes decisórios fáticos sobre a relação laboral. V. ISABEL RIBEIRO PARREIRA – O assédio sexual…, op. cit.,

pp. 179-180.

119 R

ODOLFO PAMPLONA FILHO – “Assédio sexual: questões conceituais”, in Equipo Federal del

Trabajo, Año II, Revista n.º 15, p. 69. 120 A

49 Maio de 2008. Assim, o atual artigo L1153 do Código de Trabalho francês apresenta uma nova redação, mais ampla qua a anterior, chegando mesmo a dizer no artigo L1153, n.º 5 que o empregador deve tomar todas as medidas necessárias para prevenir atos de assédio sexual. O legislador francês dá desta forma a entender que o assédio sexual pode ter outras vertentes121.

4.2.2 Assédio sexual por intimidação

Esta espécie de assédio é de ambas a mais genérica, sendo também designada pela doutrina de assédio sexual ambiental ou de ambiente hostil122. O assédio sexual por intimidação caracteriza-se por incitações ou solicitações sexuais inoportunas, ou outras manifestações da mesma índole, verbais, físicas ou visuais, com o efeito de prejudicar a atuação laboral de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil de intimidação ou abuso no trabalho123. A hierarquia/poder não é no assédio sexual por intimidação relevante, pois o assediador pode ser quer do mesmo nível hierárquico da vítima, quer de um nível hierárquico inferior124.

A expressão “assédio sexual ambiental” nasce da deturpação do direito a um ambiente de trabalho sadio. No Brasil são ainda conhecidas e utilizadas expressões como

121 Uma outra vertente é a que vamos apresentar de seguida: assédio sexual por intimidação.

122 Queremos aqui englobar todas as situações que não impliquem chantagem, apesar de haver quem

encare na expressão ambiental apenas como o assédio praticado entre colegas. Cfr. RODOLFO PAMPLONA

FILHO – “Assédio sexual: questões…”, op. cit, p.70.

123 Neste sentido v. R

OBERT HUSBANDS – “Analisis internacional de las leyes que sancionan el acoso

sexual”, op. cit., p. 115: “(..) a definição mais geral de assédio sexual trata de incitações sexuais inoportunas, de uma solicitação sexual ou de outras manifestações verbais, não verbais, ou físicas de índole sexual, com a finalidade ou efeito de restringir, sem razão, a atuação laboral de uma pessoa ou de criar um ambiente de trabalho ofensivo, hostil, de intimidação ou de abuso. Neste caso fala-se de «assédio sexual por intimidação » (…)”; Esta definição inspirou outros autores que adotaram designações muito semelhantes

a esta, ou mesmo iguais. V., por exemplo: RODOLFO PAMPLONA FILHO – “Assédio sexual: questões…”, op.

cit., p. 70; ALICE MONTEIRO BARROS – “O assédio sexual…”, op. cit., p. 31; HELENA REBELO – “Assédio sexual e moral no local de trabalho”, [em linha], disponível em http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2008019.pdf, consultado em 18-01-2012, p. 11.

124

DÉBORA DE SOUZA BENDER / JOSÉ LUIS WAGNER/ VALMIR FLORIANO VIEIRA DOS SANTOS/

JULIANO LOCATELLI SANTOS, “Cartilha sobre o assédio sexual”, [em linha], disponível em

http://www.sintfub.org.br/arquivos/publicacoes/Cartilha_AssedioSexual.pdf, consultado em 18-01-2012, p. 4;

RODOLFO PAMPLONA FILHO – “Assédio sexual: questões conceituais”, in Equipo Federal del Trabajo, Año II,

50

“clima de trabalho” ou “clima de trabalho envenenado” para caracterizar o mesmo fenómeno. A razão da denominação destas últimas expressões parece óbvia, na medida em que estão em causa um sem número variado de atuações que atentam contra o ambiente de trabalho como, por exemplo, comentários de carácter sexual sobre a aparência física da vítima, expressões de duplo sentido embaraçosas ou mesmo humilhantes, perguntas indiscretas sobre a vida privada do trabalhador, solicitação de relações íntimas, mesmo sem exigência do coito, ou outro tipo de conduta de natureza sexual, exibição de material pornográfico, como revistas, fotografias ou outros objetos, apalpadelas, fricções ou beliscões deliberados e ofensivos, entre outras125.