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Dificuldades sentidas no cuidar do idoso dependente

No documento de cuidados; velhice; dependência. (páginas 45-49)

1. Enquadramento teórico

1.4 O suporte familiar e o cuidado ao idoso dependente

1.4.3 Dificuldades sentidas no cuidar do idoso dependente

Culturalmente, na sociedade, prevalece a ideia de que na velhice dos anciãos, os

filhos, pois são os que estão mais diretamente ligados aos pais, ou os outros elementos

da família assumam a responsabilidade de prestar os cuidados necessários, de âmbito

afetivo e material. (cf. Perlini e Leite et al., 2007, p.230)

Assim sendo, cuidar de um familiar, doente e dependente (parcial/total) no

domicílio, acontece, onde parte considerável da vida é vivida, no qual o conhecimento e

a memória dos factos/situações e de relações íntimas são importantes, tanto para o

cuidador, como para o idoso que os vivenciaram.

Neste contexto, os cuidados têm suas peculiaridades e por estas razões, a

preocupação sobre o cuidador familiar, que na maior parte dos casos nem sempre se

encontra adequadamente preparado para essa tarefa de cuidar, vem crescendo com o

aumento do número de idosos que vivenciam um processo de doença crónica e

incapacitante, que os leva a situações de dependência. (cf. Cattani e Girardon-Perlini,

2004; Karsch, 2003 cits.por Vieira e Nobre et al., 2012, p.256)

Para Silveira e Caldas et al (2006, p.1630), a família ao se deparar com esses

processos de doença crónica, muita delas incapacitantes, pode não estar preparada e por

sua vez, pode ficar desorientada, surgindo conflitos no seio da mesma até ao momento

em que a família se começa reorganizar, para enfrentar tal adversidade, sendo que

durante este período terá de haver, obviamente, alguém disponível para cuidar do idoso

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dependente.

Porém,

"Identificar as necessidades dos cuidadores informais é um processo complexo, dada a variabilidade individual, a fase da prestação de cuidados e o contexto em que ocorre. Além disso, os próprios cuidadores familiares sentem algumas dificuldades em formular e imaginar as suas necessidades, principalmente quando desconhecem as respostas formais existentes." (Figueiredo, 2007, p.139)

Nesta linha de pensamento, Caldas (2003, p.777), menciona que a família

enquanto entidade cuidadora, manifesta necessidades que vão desde aspetos materiais

até aos aspetos mais emocionais, sem esquecer da necessidade de informações sobre

como realizar a prestação de cuidados e os apoios formais que garantam uma melhor

qualidade de vida para ambos - cuidador e idoso cuidado, sobretudo para os cuidadores

principais, pois se estes não tiverem os apoios necessários, existe a possibilidade da

prestação de cuidados a outrem o afetar por risco de exaustão.

De acordo com Fernandes (s/d, p.4), os aspetos materiais evidenciam os

recursos financeiros, questões sobre a habitação, acesso aos serviços de saúde, bem

como o transporte do idoso.

Face ao suprarreferido, ocorrem várias razões que evidenciam que a estrutura

familiar não pode ser a única com responsabilidades perante o idoso.

"Entre elas, há idosos cujas famílias são muito pobres para prover um cuidado adequado, outros os familiares não dispõe de tempo suficiente, existem ainda os idosos que perderam o contato com suas famílias ao longo dos anos, muitas pessoas não querem ser dependentes de seus familiares e em muitas situações os membros da família não estão dispostos, estão despreparados ou estão sobrecarregados por esta responsabilidade. É fato que cuidar de um idoso pressupõe, na maioria das vezes, envolvimento emocional, esforço físico, dispêndio de tempo e energia, que não pode ser entendido como algo insignificante na vida dos indivíduos. Além disso, a situação nos faz considerar que os custos são elevados para a saúde e para o bem-estar do cuidador. (Pedro e Espírito- Santo et al., 2012, p. 412)

Com efeito, a seguinte abordagem vai reproduzir um estudo realizado de forma

minuciosa e que trata de verificar quais as dificuldades sentidas por os cuidadores

principais no cuidar do idoso em domicílio. Foi elaborado por Sarmento e Pinto et al

(2010, p.83) no ano de 2006, sendo de ressalvar que a descrição do estudo vai centrar-se

principalmente num dos instrumentos de investigação utilizados pelas autoras -

entrevistas.

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necessários ao idoso estão, particularmente, relacionadas com a necessidade de

informação no sentido de obterem os conhecimentos que facilitam o processo de cuidar.

Este tipo de conhecimentos remete essencialmente às áreas relativas à mobilização e à

prestação de cuidados de higiene ao idoso dependente. A manifestação desta

dificuldade/necessidade também foi evidenciada no mesmo estudo, mas por outro

instrumento de recolha de dados - quantitativo - pois a população estudada neste último

instrumento manifestou dificuldades ao nível da obtenção e colaboração por parte do

idoso; preocupação com os cuidados a prestar ao mesmo e o cansaço que acarreta

devido às exigências físicas e do deficiente apoio profissional (formal). As autoras

referem que estas dificuldades podem estar associadas com a necessidade de uma

explicação sobre a forma mais adequada de cuidar do idoso dependente ou como

sugerem, da falta de preparação sobre como lidar da melhor forma com as limitações

físicas e com o processo de doença crónica do idoso dependente. (cf. Imaginário

2002:220 cit.por Sarmento e Pinto et al., 2010, p.154)

No que respeita aos suportes/apoios que estiveram disponíveis para o seu

auxílio, estes cingem-se apenas ao apoio familiar. Por estas razões, as autoras salientam

que a família é considerada o "porto de abrigo", ou seja, lugar de destaque para o idoso,

tal como se pôde verificar em abordagens anteriores que respeitam a esta matéria. Os

cuidadores do presente estudo demonstraram isso mesmo, uma vez que referiram o

seguinte " (…) fizemos um ajustamento da nossa vida para poder tratar dele".

Do mesmo modo e tal como foi referido anteriormente, os apoios facultados

resumem-se essencialmente ao suporte familiar, visto que em relação aos apoios

obtidos, os serviços tanto ao nível da saúde e da área social foram referenciados como

insuficientes. Ao nível da saúde, o apoio solicitado foi apenas de cuidados de

enfermagem de domínio curativo, apesar das autoras mencionarem que alguns

cuidadores evidenciaram cuidados preventivos, mas tal número assumiu valores

percentuais muito reduzidos.

Posto isto, constatou-se ainda que existe uma necessidade de intervenções da

área da saúde ao nível promocional, pois, segundo as autoras, muitos cuidadores

relataram o facto dos técnicos de saúde não terem a ideia dos problemas que os

cuidadores têm e que enfrentam no seu cotidiano ao cuidar de um idoso dependente.

Assim sendo, para conseguirem passar tais adversidades, os cuidadores precisam de

acompanhamento, ensino e instrução e apoio financeiro, estas foram as necessidades

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expressadas por eles, de forma a conseguirem superar as suas dificuldades.

Neste sentido, sugerem que lhes seja transmitida a informação necessária para

cuidar de forma adequada do idoso dependente, manifestando o interesse de os

envolverem na prestação de cuidados logo em contexto hospitalar; mencionam, de

forma mais expressiva, o apoio socioeconómico, com intuito de comprar ajudas técnicas

que facilitam no processo de cuidar, medicação e para realizar algumas readaptações e

melhorias nas condições da habitabilidade, supondo talvez a eliminação de barreiras

arquitetónicas. Também evidenciam a inserção de uma terceira pessoa no processo de

cuidar, para auxiliar na prestação de cuidados e para que a mesma fosse uma

companhia, a fim de evitar sentimentos de solidão e isolamento.

"Uma das principais dificuldades encontradas é a escassez de recursos financeiros, com os quais é possível obter recursos humanos e materiais. A falta de dinheiro pode gerar angústia do cuidador que quer dar o melhor para o seu familiar idoso." (Thober e Creutzberg et al., 2005 cit.por Jede e Spuldaro, 2009, p.417)

Importa realçar, que, quando, inicialmente, foi colocada a questão das

dificuldades sentidas, as autoras referem que todos os cuidadores mencionaram apenas

as dificuldades relacionadas ao deficit de conhecimentos, mas posteriormente quando

foi colocada a questão de qual a forma que sugere para ultrapassar as dificuldades,

sugeriram todas as que até agora foram referidas. (cf. Sarmento e Pinto et al., 2010,

p.153-155)

Por fim, de modo conclusivo, as dificuldades encontradas refletem as

necessidades sentidas pelo familiar cuidador, visto que

"A necessidade de um indivíduo, de um grupo, ou de um sistema é a existência de uma condição não satisfeita, necessária para lhe permitir viver e funcionar nas condições normais, realizar-se ou atingir os seus objetivos. A satisfação de certas necessidades humanas é indispensável à sobrevivência, ao crescimento, desenvolvimento e bem-estar do ser humano." (Moreira, 2006:49 cit.por Araújo, 2007, p.40)

1. Necessidades cognitivas (Informação; Ensino na componente

teórico/prática);

2. Necessidades de apoio socioeconómico (Apoio financeiro; Apoio Social;

Assistência; Orientação; Material de compensação; Adaptação

habitacional);

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4. Apoio domiciliário (Centro de saúde; Cuidados técnicos;

Acompanhamento; Orientação);

5. Redes de Apoio (Estruturas residenciais para idosos, Unidades de cuidados

continuados integrados);

6. Tempo livre. (cf. Sarmento e Pinto et al., 2010:156; Jani-Le Bris, 1994,

Nac/AARP,1997, Borgermans e Nolan et al 2001 cits.por Figueiredo,

2007, p.139)

Nardi e Santos et al (2012, p.101-104) comprovam os seguintes resultados,

assumindo uma nova necessidade - apoio familiar. "Nesta categoria, a realidade

encontrada refere-se a um cuidador que assume a responsabilidade total pelo

idoso dependente. Tal condição apresenta-se como um fator de dificuldade para o

sujeito (…)" (Nardi e Santos et al., 2012, p.103)

Esta necessidade não é reportada no estudo realizado por Sarmento e Pinto

et al., pois segundo estes autores havia apenas uma insuficiência nos apoios

formais, sendo o suporte familiar o único apoio.

Importa salientar que estudos mais recentes, nomeadamente no ano de 2012,

elaborado por Ramos (2012, p.52-55) explana as mesmas necessidades evidenciadas

pelos estudos anteriores referidos.

1.5 O impacto psicossocial da prestação de cuidados no bem-estar

No documento de cuidados; velhice; dependência. (páginas 45-49)