1. Enquadramento teórico
2.4 Técnicas e instrumentos de recolha de dados
As técnicas utilizadas para a recolha de dados incidem na documentação indireta,
ou seja, pesquisa bibliográfica (livros, procura de artigos científicos e teses
fundamentadas), com o intuito de elaborar o enquadramento teórico. (cf. Oliveira, 2007,
p.69 cit. por Silva et al, 2009:5-6; Silva et al, 2009, p.6)
Concomitante com as técnicas apresentadas, a recolha de dados traduz-se
também através da documentação direta, onde é realizada uma pesquisa de campo
(“aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca
de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira
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comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.”) (Marconi
e Lakatos, 2003, p.186), através dos seguintes instrumentos:
1. Entrevistas semiestruturadas privilegiadas ao cuidador informal, com o
intuito de compreender as suas vivências e extrair o principal objetivo (apêndice
1).
Marconi e Lakato no seu livro datado de 2003, definem a entrevista como sendo
“um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social.” (Marconi e Lakatos, 2003, p. 195)Consideram a entrevista como sendo um instrumento de recolha de dados muito
pertinente nos vários campos das Ciências Sociais ou de outros setores de atividade,
como seja o Serviço Social, a Psicologia Social, dentre outros.
No livro datado de 2003, os autores anteriormente referidos, evidenciam três
tipos de entrevistas: a padronizada ou estruturada, a despadronizada ou não estruturada
e a entrevista tipo painel, onde cada uma delas possuí caraterísticas inerentes à sua
formulação:
A entrevista estruturada, tal como o seu nome indica, disponibiliza um guião
previamente estabelecido, onde o entrevistador não dá grande margem de manobra para
que a entrevista siga ou abranja outros contornos, sendo o objetivo máximo a
comparação de respostas obtidas no mesmo conjunto de questões, onde as diferenças
devem refletir, fundamentalmente, diferenças nas questões dos respondentes e não
diferenças no conjunto de questões formuladas.
De forma desigual apresenta-se a entrevista não-estruturada, na qual o
entrevistador tem liberdade total para explorar as questões inerentes à temática em
estudo da forma que considere mais adequada. Neste tipo de entrevista, não existe um
guião pré-estabelecido e geralmente as questões colocadas são abertas, dando total
liberdade ao entrevistado se de poder exprimir e manifestar a sua opinião. (Idem,p.197).
No presente estudo, considerou-se pertinente formular uma entrevista
semiestruturada. Esta entrevista é privilegiada “porque esta, ao mesmo tempo que
valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o
informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a
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investigação.” (Triviños, 1987, p. 145-146).
Nesse sentido, pode-se definir a entrevista semiestruturada como sendo
“aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo dapesquisa.” (Triviños, 1987, p. 146)
Salienta-se ainda que as questões não foram formuladas à priori. Foram o
resultado não só das teorias que alimentaram a ação da investigadora, mas também de
toda a informação recolhida sobre a temática social em questão, não sendo menos
importante os seus contactos, sobretudo os realizados na escolha dos indivíduos que
foram entrevistados. (Ibidem)
Por norma, este tipo de entrevista combina perguntas abertas e fechadas, no
entanto, e apesar de como já foi referido, o investigador usufruir de um guião onde
constam perguntas previamente definidas, a forma de conduzir a entrevista é realizada
em contexto muito próximo de um discurso informal (cf. Boni e Quarema, 2005, p. 75),
como se pode verificar através da transcrição integral dos diálogos (apêndice 2).
Em suma, as diferenças primordiais entre a entrevista estruturada, não
estruturada e semiestruturada baseiam-se no facto das duas primeiras terem uma maior
rigidez ao nível do guião e do espaço que é permitido para o entrevistado manifestar a
sua opinião de forma espontânea, motivo pelo qual a entrevista semiestruturada foi,
preferencialmente, escolhida, no presente estudo, o qual tem um caráter mais
qualitativo.
2. Escala de Atividades Básicas de Vida Diária: Versão portuguesa do índice de
Katz (Katz, 1963), adaptada por Sequeira, 2007, que tem o intuito de avaliar a
funcionalidade do idoso (anexo 1).
O índice de Katz foi elaborado em 1963 por Sidney Katz et al., e é um dos
possíveis instrumentos, talvez dos mais citados no âmbito da literatura científica, que
têm o intuito de avaliar a capacidade funcional dos idosos ao nível das AVD’S. A
versão utilizada foi a de Sequeira (2007), a qual avalia as seguintes AVD’S: controlo de
esfíncteres, banho, utilização da casa de banho, mobilidade, vestir/despir e alimentação.
Estas AVD’S, na versão suprarreferida, são avaliadas através de uma escala de likert
com quatro possibilidades de resposta, sendo que 1 significa dependência, 2
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independência com ajuda, 3 independência com necessidade de supervisão e 4 que
representa independência total. Quanto maior for a pontuação, melhor é a
funcionalidade do idoso, pelo que quanto mais próximo de 24 valores (máximo de score
obtido) estiver, mais independência o idoso tem face às referidas AVD’S. (cf.
Evangelista, 2013, p.16)
3. Escala de Avaliação da Componente Emocional do Bem-Estar Subjetivo:
Versão reduzida portuguesa da Positive and Negative Affect Schedule - PANAS
(Watson, Clark e Tellegen, 1988), a PANAS-VRP adaptada por Galinha e
Pereira et al., 2014, que tem o intuito de avaliar a componente emocional,
dimensão inerente ao construto do BES (anexo 2).
Esta escala elaborada por Watson, Clark e Tellegen (1988), foi desenvolvida para
medir o Afeto Positivo e o Afeto Negativo, considerados pelos autores como dimensões
gerais que descrevem a experiência afetiva dos indivíduos. O Afeto Positivo reflete uma
experiência afetiva que envolve sentimentos/emoções positivas, ao invés ao Afeto
Negativo que se traduz em mal-estar subjetivo, pois envolve tal como o nome indica,
emoções e sentimentos negativos, tais como medo, perturbações, entre outros. Com este
intuito, a PANAS, de acordo com o quadro temporal estabelecido (ex.: neste momento,
durante as últimas semana ou em geral), consegue medir o estado afetivo, o humor ou o
afeto traço dos indivíduos (cf. Watson e Clark, 1997 cit.por Galinha e Pereira et al.,
2014, p.54)
Pode ser igualmente utilizada como uma medida afetiva do conceito de
Bem-Estar, uma vez que é umas das componentes inerentes a este mesmo construto, tendo
sido na presente investigação aplicada com esse intuito. (Ibidem)
A versão original da escala traduzida e adaptada à população portuguesa por
Galinha e Ribeiro no ano de 2005 é constituída por 20 itens, onde cada metade objetiva
avaliar a experiência afetiva ao nível do Afeto Positivo e do Afeto Negativo.
Na presente investigação, a versão utilizada foi a de Galinha e Pereira et al.,
(2014). Trata-se de um questionário de autorresposta composto no total por 10 itens, em
que cinco avaliam as emoções inerentes ao Afeto Positivo através da soma dos itens
1-3-5-6 e 9 e a outra metade avalia o Afeto Negativo através da cotação que foi somada de
acordo com os itens 2-4-7-8 e 10. A pontuação pode variar entre 5 (score mínimo) e 25
(score máximo), em cada sub-dimensão (cf. Laginha, 2015, p. 23)
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4. Escala de Avaliação da Componente Cognitiva do Bem-Estar Subjetivo:
Versão portuguesa da Satisfaction With Life Scale - SWLS (Diener e Emmons
et al., 1985) adaptada por Simões, 1992, que tem o intuito de avaliar a
componente cognitiva, segunda dimensão inerente ao construto do BES (anexo
3).
Da autoria de Diener e Emmons et al., a Escala de Satisfação com a vida, elaborada
no ano de 1985 tem o intuito de compreender os julgamentos que a pessoa manifesta
sobre a sua vida. É composta por cinco itens, onde cada item é pontuado numa escala de
likert com 7 possibilidades de resposta.
Posteriormente, vários autores procederam à adaptação e validação de outras
escalas a partir da versão original, tendo sido aplicada no estudo apresentado a versão
de Simões, validada no ano de 1992. A versão deste autor é constituída por 5 itens, os
quais podem ser respondidos de igual forma através de 5 respostas. A cotação final da
escala pode variar entre um score mínimo de 5 e 25 pontos de score máximo, sendo que
o ponto médio é de 15 pontos (cf. Laginha, 2015, p. 24) Posto isto, quanto maior o score
obtido, maior é a satisfação do cuidador com a qualidade da sua vida.
Quanto ao tratamento dos dados obtidos e respeitante às entrevistas, estas foram
analisadas através da técnica de análise de conteúdo.
“A análise de conteúdo constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. Essa análise, conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num
nível que vai além de uma leitura comum.” (Moraes, 1999, p. 7-32)
Ao nível qualitativo, a análise de conteúdo, parte de uma série de pressupostos, os quais
servem de suporte para captar o seu sentido simbólico, mas este sentido nem sempre é
manifesto e o seu significado não é único, podendo ser diverso em função das
perspetivas dos leitores. (cf. Ibidem)
Já quanto às escalas, e tendo em conta o número reduzido da amostra, as mesmas
foram analisadas, subtilmente, através da observação dos quadros elaborados para o
efeito e onde constava a cotação individual de cada unidade amostral.
No documento
de cuidados; velhice; dependência.
(páginas 68-72)