• Nenhum resultado encontrado

Satisfação do cuidador familiar face à tarefa de cuidar do idoso dependente 52

No documento de cuidados; velhice; dependência. (páginas 61-64)

1. Enquadramento teórico

1.5 O impacto psicossocial da prestação de cuidados no bem-estar subjetivo dos

1.5.2 Satisfação do cuidador familiar face à tarefa de cuidar do idoso dependente 52

Segundo Figueiredo (2007, p.129), a maioria da literatura científica sobre a

tarefa de cuidar de idosos, por todos os aspetos já mencionados anteriormente,

evidencia sempre os impactos negativos e remete o predomínio da sobrecarga do

cuidador como o foco de atenção, ficando a abordagem muito aquém da realidade, mas

"Estudos recentes sugerem que as satisfações derivadas do cuidar predominam, podendo

ter várias origens e co-existindo a par com as dificuldades." (Nolan et al.,1996 e 1998;

Riedel et al., 1998 cit.por Figueiredo, 2007, p.129-130). Posto isto, o ato de cuidar não

pode ser visto apenas através de uma perspetiva reducionista, que encara só os impactos

negativos desta tarefa, esta última terá de se encarada como uma fonte de gratificação e

realização pessoal. (cf. Oliveira, 2009, p.9)

Brito (2002:45 cit.por Oliveira, 2009, p.10) corrobora a afirmação anterior,

referindo que existem aspetos, potencialmente, satisfatórios e gratificantes na arte de

cuidar do idoso dependente, mencionando que tais aspetos de satisfação e gratificação

dependem dos vínculos relacionais afetivos que o cuidador manteve com o recetor de

cuidados, ao longo da vida. Oliveira, (2009, p. 10) afirma que a satisfação no ato de

cuidar também deriva da relação já existente com quem recebe os cuidados,

evidenciando até que a melhoria na prestação de cuidados se deve a essa relação, à

idade do cuidador e à intensidade do envolvimento que o cuidador tem nesta tarefa,

sendo que alguns autores referem que a presença de gratificações no processo de cuidar

faz com que se melhore a qualidade dessa prestação, ou seja, esta qualidade tende a

aumentar.

Neste sentido, Depuis et al (2004 cit.por Oliveira, 2009, p.10) reconhecem

quatro áreas que são privilegiadas no aumento da qualidade do ato de cuidar quando os

cuidadores sentem gratidão por executar esta experiência: Prática/logística; Cognitiva;

Melhoria nas AVD e no comportamento do recetor de cuidados.

No entanto, para Nolan et al (1996,1998 cit.por Figueiredo, 2007, p.130), as

razões advindas das recompensas e satisfações variam da manutenção da dignidade do

recetor de cuidados, do facto de ver o idoso dependente bem tratado e feliz, ter

consciência de que se dá o melhor, outra razão é o cuidador encarar a tarefa de cuidar

como uma oportunidade para expressar o amor e o afeto pelo idoso, o drama da

institucionalização, ou seja, conseguir manter o familiar idoso longe da instituição,

53

verificar que consegue fazer face às necessidades do outro que está dependente, o

cuidador encarar a tarefa de cuidador como uma possibilidade de crescimento e

enriquecimento pessoal, contribuindo para o sentido da realização e promover o

desenvolvimento de novas competências e conhecimentos (sobretudo sobre saúde e

doença), bem como desenvolver o seu lado solidário e a compreensão da evolução dos

processos de envelhecimento. (cf. Franciso e Mazarrasa, 2000 cit.por Lage, 2005,

p.205)

De notar, que todas as gratificações mencionadas anteriormente possuem um

cariz não material, mas decerto que vantagens financeiras também possuem um papel

evidente como fonte de gratificação.

Existem dois tipos de vantagens financeiras: as imediatas e as futuras. As

imediatas derivam normalmente de uma troca com um caráter consciente. Esta troca

verifica-se quando as necessidades do recetor de cuidados vão ao encontro das

necessidades de quem lhe presta os mesmos, ou seja, um exemplo prático é o seguinte:

O cuidador depende financeiramente da pensão do idoso, ou seja o cuidador aloja-se e

alimenta-se gratuitamente na casa do idoso ou mesmo na sua, por exemplo se for uma

filha que leva o pai para cuidá-lo em casa. Já as vantagens futuras referem-se à herança

do recetor de cuidados, ou seja, existem casos onde se realizam contratos notariais ou

morais, que submetem o legado à cláusula da prestação de cuidados, privilegiando

notoriamente a pessoa que presta os cuidados, de entre os herdeiros. (Janile Bris, 1994

cit.por Figueiredo, 2007, p.130)

Nesta linha de pensamento, os impactos positivos na arte de cuidar do idoso, ou

seja, as recompensas/experiências positivas contêm um sentido de satisfação,

gratificação e de orgulho no papel de cuidar, como também um acréscimo do sentido de

domínio, da competência e da realização, um sentido de finalidade e também um

significado para a vida. (cf. Depuis et al., 2004 cit.por Oliveira, 2009, p. 10) Este

significado de vida é comprovado por Sequeira (2007 cit.por Ferreira, 2012, p.27), na

medida em que o mesmo entende o ato de cuidar como um ato de amor, isto é, uma

relação afetiva entre quem presta os cuidados e quem os recebe, propiciando ao

cuidador um determinado sentido de vida.

Estudos recentes, como o elaborado por Oliveira em 2009, intitulado de

"Cuidados informais ao idoso dependente: motivos e gratificações" vem corroborar

54

aquilo que até agora foi dito. Neste estudo, interessa particularmente os resultados que

se focam nas Satisfações/Gratificações (3º objetivo do estudo), que para Oliveira (2009,

p.41) são uma parte oculta na literatura sobre esta matéria.

Os principais resultados evidenciam que " (…) os cuidadores reconhecem fontes

de satisfação na experiência do cuidar. " (Oliveira, 2009, p.41). Contudo, considerando

as sub-escalas e o principal beneficiário, pode-se constatar que as principais fontes de

satisfação referem-se ao domínio do idoso dependente como principal beneficiário, em

todas as dinâmicas estudadas:

 Interpessoal: Satisfações provenientes da dinâmica interpessoal entre cuidador e

recetor de cuidados;

 Intrapessoal: Satisfações que resultam da orientação intrapessoal ou

intrapsíquica do cuidador;

 E de resultados: Satisfações que derivam, primeiramente, do desejo e da vontade

de promover consequências positivas e evitar consequências negativas para o

recetor de cuidados.

De acordo com a autora do estudo, na dinâmica interpessoal verifica-se que a

manutenção da dignidade e do bem-estar do idoso são as principais fontes de satisfação.

Na dinâmica intrapessoal, os resultados mostram que existe uma elevada gratificação no

que respeita ao bem-estar e satisfação das necessidades do idoso dependente. Já no

âmbito da dinâmica dos resultados/consequências (satisfações que derivam do desejo de

promover consequências positivas e evitar e/ou reduzir as negativas para o recetor de

cuidados), as principais fontes de satisfação advém do facto de querer ajudar a pessoa a

superar as dificuldades e os problemas e evitar a institucionalização do idoso.

Relativamente ao cuidador como principal beneficiário, o estudo indica na

dinâmica interpessoal que a satisfação do cuidador é encontrada no reconhecimento e

valorização do seu papel enquanto prestador de cuidados, contribuindo para um

aumento da sua autoestima, satisfação e bem-estar e consequentemente para uma

melhor qualidade de vida. Na dinâmica intrapessoal é evidenciado a capacidade do

cuidador para a tarefa de cuidar e o sentido do dever, seja ele moral ou social. Quanto à

dinâmica dos resultados, mais uma vez é reconhecida a satisfação dos cuidadores,

principais e secundários, na experiência de prestar os cuidados, promovendo o

desenvolvimento de novas capacidades e competências.

55

evidenciam-se gratificações relacionadas com a afetividade e preservação do bem-estar

da pessoa idosa e por sua vez o sentimento de solidariedade familiar e altruísmo. (cf.

Oliveira, 2009, p.41-45)

A autora mencionada anteriormente foi evidenciando que o estudo na sua

maioria obteve resultados muito similares aos de outros autores, como Grant e Nolan,

1993 Nolan, et al., 1996; Brito, 2002; Figueiredo, 2007; Sequeira, 2007.

Para concluir, "os aspectos positivos no cuidar são o resultado de uma mediação

entre as tarefas desempenhadas pelo cuidador e o bem-estar sentido na execução das

mesmas." (Vieira et al.,2011 cit.por Ferreira, 2012, p. 27)

Com efeito, Figueiredo (2007 cit.por Oliveira, 2009, p.12) acrescenta à citação

anteriormente referida que o impacto positivo relaciona-se também com o bem-estar do

cuidador e consequentemente com o bem-estar e qualidade de vida do recetor.

2. Enquadramento empírico

Após o percurso teórico em torno dos conceitos subjacentes ao tema: “O impacto

da prestação de cuidados a idosos dependentes (que usufruem de Apoio Domiciliário),

no seio familiar, no contexto da transformação da organização familiar contemporânea”,

torna-se imprescindível caraterizar as fases ou etapas, pelas quais, a presente

investigação terá, efetivamente, passado. Até porque, ao caraterizar tais fases, se

consegue perceber o fio condutor e a razão das várias escolhas, tendo em conta,

fundamentalmente, o problema de pesquisa (objeto alvo de estudo).

Por temática, entende-se:

"(…) o assunto que desejamos provar ou desenvolver. Pode surgir de uma dificuldade prática enfrentada pelo pesquisador, da sua curiosidade científica, de desafios encontrados na leitura de outros trabalhos ou da própria teoria. Pode ter surgido pela entidade responsável, portanto "encomendado", o que, porém, não lhe tira o caráter científico." (Prodanov e Freitas, 2013, p.120)

No documento de cuidados; velhice; dependência. (páginas 61-64)