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Dificuldades da utilização da Modelagem

CAPÍTULO II: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

CAPÍTULO IV– ANÁLISE

4.1 Percepção dos participantes acerca da Modelagem

4.1.4 Dificuldades da utilização da Modelagem

Nos dois subitens anteriores discorremos sobre aspectos positivos da Modelagem como metodologia de ensino. Por outro lado, entendemos que identificar dificuldades de

utilização da Modelagem também é uma forma de percebê-la. Vamos então buscar evidências das dificuldades nas falas dos participantes, confrontando com o que dizem os referenciais.

Considerando a Modelagem diferente das práticas, de certa forma aceitas, que tratamos aqui como aulas expositivas e considerando também a resistência às mudanças, não somente da parte dos professores, mas de toda a comunidade escolar32, podemos dizer que, de certa forma, é previsível alguma resistência e desconfiança quanto à eficácia da Modelagem. Silva, Santana e Barbosa (2007) discorrem sobre a resistência de um grupo de alunos à mudança na aula de Matemática desencadeada pela Modelagem, baseados na descrença no aprendizado que seria gerado por aquela proposta, por ser algo muito diferente do praticado normalmente, que eram aulas expositivas centralizadas no professor. Também tivemos relatos da rejeição de alunos com bom rendimento escolar por estarem habituados às aulas expositivas e se saírem bem nesse tipo de aula.

Alguns professores, assim como a literatura (BAZZANESI, 2002), apontam como dificuldade a demora das atividades de Modelagem e o receio de não conseguir cumprir os programas. Outros mencionam o receio de não dominarem a metodologia ou de surgirem de assuntos alheios a seu domínio. Relatos de participantes desta pesquisa ilustram essa realidade:

Olha, a turma em geral achava mais difícil modelar, porque aparentemente, quando você modela, você tem que aprofundar muito no assunto, acaba que as pessoas achavam que a aula não rendia, o conteúdo não desenvolvia, não andava, mas dava para aprender bastante coisa. (PE2)

Tenho a concepção de que se eu tiver um problema que eu não saiba responder na hora, porque a Modelagem tem disso né, se o professor não estiver preparado para falar com o aluno que não sabe alguma coisa na hora ou que vai pesquisar e depois responder, ele tem medo daquilo e do aluno achar que ele não é um bom professor. (PE2)

Você prepara a aula, mas você não se prepara para a aula. Você tem de se preparar para qualquer situação. A segunda dificuldade é o apoio do colégio, porque eu tentei trabalhar assim em outros colégios e não consegui, é fora do tradicional, porque a maioria dos colegas querem os meninos calados, quietos e copiando. Essa coisa dos alunos em pé, em grupos, fora da carteira, o colégio tem de apoiar. (PE 9)

Percebemos nesses relatos algumas dificuldades com relação à inclusão da Modelagem nas aulas de Matemática. A literatura aponta aspectos semelhantes. Bassanezi (2002) elenca três tipos de obstáculos, especialmente quando se trata de cursos regulares: obstáculos instrucionais que se referem ao programa a ser cumprido, ao fato de a Modelagem ser um processo demorado e também às duvidas que os professores têm se as conexões com

32 Entendemos comunidade escolar como direção, coordenadores, professores, alunos e “responsáveis pelos

outras áreas devem ou não fazer parte das aulas de Matemática; obstáculos para os estudantes que acostumados com o professor como transmissor do conhecimento demoram a se adaptar a aulas em que eles são totalmente responsáveis pelo processo; e obstáculos para os professores que se sentem despreparados a desenvolver as atividades por temerem enfrentar situações imprevistas inerentes à Modelagem.

A questão de o processo ser demorado, apontada por Bassanezi (2002), também foi mencionada por um dos participantes da pesquisa:

Se eu tivesse uma turma com uma maior quantidade de aulas, tipo seis aulas por semana, provavelmente eu poderia trabalhar com a Modelagem, pois eu acredito na metodologia, e no que a Modelagem pode proporcionar, porque confere aprendizado aos alunos. (PE2)

No entanto, a literatura aponta a possibilidade de desenvolver atividades de Modelagem também em períodos curtos. É o caso descrito por Araújo, Freitas e Silva (2011), de um trabalho de Modelagem com uma turma de formação continuada, na disciplina Tópicos Especiais em Educação II, em um curso de pós-graduação. Nesse trabalho, os autores utilizaram o formato do Caso 1 de Barbosa (2001), trazendo o tema e os dados para os alunos. Esse foi um trabalho realizado em duas aulas33, sem abrir mão do debate crítico e das

discussões sobre as potencialidades do uso da Modelagem na Educação Matemática e de sua inserção nas salas de aulas dos professores participantes.

As classes numerosas são também apontadas por Jacobini (2004) como fator de dificuldade para a Modelagem. Barbosa (2004) menciona ainda:

- falta clareza sobre a operacionalização dessas atividades no contexto escolar, onde, em geral, predomina programas pré-estabelecidos e cujas rotinas já estão estabelecidas;

- dúvidas sobre os conhecimentos dos professores para conduzir as atividades; - não se sabe como os alunos, colegas de trabalho, coordenadores e pais reagirão à

proposta. (BARBOSA, 2004, p. 5)

Para finalizar essa etapa, frisamos que dificuldades existem como na implantação de qualquer situação diferente e ainda inovadora na rotina das aulas de Matemática, mas entendemos como contornáveis. Ainda os benefícios das citadas vantagens e potencialidades da Modelagem no ensino de Matemática encorajam sua implementação. Podemos ver pelos relatos dos professores que, mesmo não tendo em sua formação a presença da Modelagem, ainda a defendem e em alguns casos a praticam em suas aulas.

33 Esse trabalho foi relatado pessoalmente pela professora Jussara Loyola de Araújo em palestra na UFOP em

Assim, tendo discorrido sobre as idéias dos diferentes participantes da pesquisa sobre a Modelagem, a sua inclusão na sala de aula, as potencialidades dessa metodologia e as dificuldades na sua utilização, acreditamos ter respondido nossa primeira questão de pesquisa:

Como professores de Matemática, em exercício ou em formação, percebem e lidam com a Modelagem com base no contato que tiveram com ela?

Resta-nos agora procurar responder qual o entendimento dos participantes sobre a inserção da Modelagem na formação de professores.