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[...] a digitalização não é mais e apenas um meio para criar reproduções digitais de objetos físicos, facilitando o acesso e preservando o original em suporte "analógico" ou resolvendo problemas de falta de espaço de armazenamento. Dela decorre a produção de informação digital que como qualquer informação nato- digital deverá ser eficaz e eficientemente produzida, gerida, armazenada, difundida, usada e preservada. (PINTO, 2011, n. p.).

Sobre a epígrafe citada, faz-se interessante para iniciar a trajetória da digitalização, recorrer a uma distinção entre digitização e digitalização. Brennen e Kreiss (2014) explicam que são termos próximos em conceito e frequentemente usados como sinônimos, mas as diferenças são notáveis. O termo em língua inglesa digitization, apresentado pelos autores, extraído do The Oxford English Dictionary, significa “conversão de dado analógico em formato digital”. O termo digitalization refere-se à “adoção ou implementação no uso de tecnologia digital ou tecnologia de computador pela organização, indústria, país etc.” (BRENNEN; KREISS, 2014, n. p., tradução nossa).

Nessa mesma linha, segue o entendimento de Calixto (2016), digitização “é a consequência imediata da Internet das Coisas, convertendo na virtualização de muitos dos serviços e das atividades providas atualmente em meio físico” (CALIXTO, 2016, n. p.). O autor considera que a automação em massa sob o potencial da internet das coisas e a digitização são escopos da revolução industrial 4.0.

Belluzo (2019) também discorre sobre os distintos conceitos de digitização e digitalização e transformação digital. Por digitização, Belluzo (2019) entende por “procedimento de converter processos organizacionais, sociais e pessoais em digitais [...] transformando sua atuação na sociedade e tornando os procedimentos mais inteligentes” E “digitalização é o momento em que documentos antes físicos passam a ser digitalizados e transferidos para o meio digital, além de facilitar os processos realizando a assinatura digital” (BELLUZO, 2019, p. 9-10).

Diante das diferenças entre digitização e digitalização, faz-se imperioso prosseguir com as fontes teóricas advindas do cerne da arquivística e das ciências documentárias para explorar a trajetória e o conceito de digitalização aplicado aos documentos produzidos, recebidos ou mantidos como fruto das atividades institucionais e particulares.

Indícios do início da digitalização de documentos de arquivos foram encontrados por meio de uma série de estudos realizados por Terras (2015) sob a tônica da digitalização, na

década de 1970. À época, catálogos de informações sobre acervos, em arquivos e bibliotecas, eram digitalizados para facilitar o trabalho de recuperação dos documentos (TERRAS, 2015). Mas o primeiro projeto de digitalização a ser estruturado foi o Optical Digital Image Storage System (ODISS), criado pelo National Archives and Records Administration (NARA), em 1984, “[...] para testar a utilidade da imagem digital e tecnologias de disco óptico para reprodução, armazenamento e recuperação de documentos de arquivo” (TERRAS, 2015, p. 2, tradução nossa).

Outro projeto ocorrido no prelúdio da digitalização aconteceu em 1986, na Espanha. Um acervo valioso e de considerável proporção de 200 anos de história. Documentos do império espanhol nas Américas e nas Filipinas foram digitalizados, conforme Terras (2011). Esse projeto foi considerado pioneiro na digitalização de documentos de valor patrimonial. Elaborado em cooperação entre três instituições: o Ministério da Cultura espanhol, o IBM Espanha e a Fundação Ramón Areces, uma fundação em prol da ciência espanhola. Em 1998, 11 milhões de páginas desse acervo foram digitalizadas, e até 2011 dez milhões de páginas digitalizadas e disponíveis para o acesso.

Terras (2011) esclarece que nesse período bibliotecas e museus, galerias de arte norte-americanas e europeus irromperam nessa tecnologia que proporcionava um acesso mais produtivo que o microfilme diante da propagação dos computadores em redes. Ao final dos anos de 1980, agências federais começaram a se interessar no uso dessa tecnologia para armazenar informações economicamente eficientes. “Programas foram desenvolvidos para disponibilizar informações federais aos cidadãos, redução da criação de papel e a implementação da entrega de serviço” (TERRAS, 2011, p. 4, tradução nossa).

Terras (2011) observa que nesse período, em todas essas instituições, não havia o emprego de instrumentos de boas práticas aplicadas ao processo de digitalização, até, então, os projetos pioneiros acreditavam que somente o OCR era capaz de suprir ao que se refere à otimização da recuperação dos documentos. Inicialmente a digitalização era utilizada para uma vasta proporção de documentos e esse recurso era majoritariamente por países líderes que detinham o financiamento e as tecnologias. Entretanto outras instituições foram corajosas em prosseguir com a digitalização ao entenderem que um processo a longo prazo requer investimentos, principalmente pelos riscos da obsolescência tecnológica (TERRAS, 2011).

Na década de 1990, foi o auge dos investimentos em processos de digitalização. Terras (2011), ao afirmar essa questão, elucida que essa iniciativa se deve à globalização, à

criação do world wide web, ao grande volume de documentos a serem digitalizados e a diversos países aderirem à tecnologia. Embora os custos fossem exorbitantes, os empreendimentos prosseguiram. Conforme Terras (2011), o envolvimento com áreas desenvolvedoras de hardware e software foram primordiais para o avanço em infraestrutura e conceitos, como o primeiro conceito de biblioteca digital.

Coutts (2017) relata que, desde 1990, o Reino Unido vem se empenhando em ser uma das nações mais desenvolvidas no tocante ao avanço digital. Suster e fortalecer essa posição é vista como a chave para o sucesso econômico futuro e para ampliar o desenvolvimento social e educacional do país. Diante disso, a autora critica a postura das instituições governamentais que estabelecem extravagantes objetivos (como, por exemplo, a maciça digitalização do acervo British Library), “mas parecem não se comprometer em apoiar a digitalização como alicerce da estratégia geral” (COUTTS, 2017, p. 13, tradução nossa).

Conforme Coutts (2017), The British Library iniciou sua estratégia de digitalização em 1993, com a promessa de ser o maior centro para armazenagem e acesso a textos digitais para pesquisa, até o ano 2000. Mas somente em 2008, afirma Coutts (2017), a biblioteca implementou uma estratégia de digitalização como prioridade, pois até então não era vista como um processo auxiliar e não era prioridade no programa estratégico de implementação. Serra i Serra et al. (1997) diante da máxima: “digitalização, a solução para os problemas do seu arquivo” (SERRA I SERRA et al., 1997, p. 181), percebem a digitalização como uma oportunidade comercial interpretada por empresas que distorcem conceitos da área documental e potencialmente impedem a atuação factual de arquivistas para delinear sistemas de gestão e o planejamento para o processo de digitalização de documentos administrativos.

A exemplo disso, Serra i Serra et al. (1997) relatam duas situações em que se empregam desvio de visões, como divulgar que qualquer aplicativo de computador capaz de proceder o gerenciamento de documentos é suficiente para um sistema de gestão de documentos. Outro desvio é em relação ao tratamento dispensado aos tipos e aos formatos de documentos, ao desconsiderar as características específicas e suas peculiaridades, assim compromete a integridade.

A digitalização como solução para os problemas da administração pública espanhola nos anos de 1990, conforme os autores, começou a ser regulamentada pela Lei nº 30 de 1992 (revogada pela Lei nº 39/2015), a qual estabelecia exigências para garantias de autenticidade,

integridade e preservação como também sua previsão de valor legal para os documentos eletrônicos.

No Brasil, o que se pôde encontrar como início da digitalização foi o projeto desenvolvido em parceria entre a Scientific Electronic Library Online (Scielo) e a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, em 1997. A digitalização foi desenvolvida por uma metodologia que tinha o objetivo de “armazenamento, disseminação e avaliação da literatura científica em formato eletrônico, por meio da provisão de uma biblioteca digital de periódicos eletrônicos com texto completo” (CUNHA; MCCARTHY, 2006, p. 35).

Em meio à propagação mundial da digitalização, chegou-se aos anos 2000 com ampla aderência ao processo. Nomes como Google e Microsoft foram apontados por Terras (2011) como o comércio emergente e em grande escala que, com sua sofisticação tecnológica, promoveu a digitalização a nível mundial. O que parecia promissor encontrou dificuldades, como direitos autorais e restrições legais, que causaram reclamações e sérios problemas judiciais. Terras (2011) finaliza esse artigo intitulado, pelo que se poderia traduzir, “A ascensão da digitalização”, ao afirmar que a digitalização é o prenúncio de grandes “mudanças na natureza das tecnologias da internet como também na expectativa e nas necessidades dos usuários” (TERRA, 2011, p. 13, tradução nossa).

Uma vez que a produção de documentos no ambiente eletrônico se encontrava em afirmação, a UNESCO lançou um guia com informações básicas, porém necessárias para entender os requisitos da digitalização. O documento intitulado Fundamental principles of digitization of documentary heritage era um resumo não exaustivo com conceitos elementares a serem considerados antes de se empreender um processo de digitalização definido como:

Digitalização é a criação de objetos digitais de originais analógicos físicos por meio de um escâner, câmera ou outro dispositivo eletrônico. É realizado como parte de um processo que inclui: seleção, avaliação, a necessidade, priorização, preparação de originais para digitalização, criação e coleção de metadados, digitalização e criação de coleção de dados, envio de recursos digitais para sistemas e repositórios de entrega. Esse processo é acompanhado por gerenciamento, incluindo propriedade intelectual, gestão de direitos e controle de qualidade e avaliação ao final. Esses passos são essenciais para garantir que o objeto digital permaneça acessível a longo prazo. (UNESCO, n.d., tradução nossa)6.

6Digitization is the creation of digital objects from physical, analogue originals by means of a scanner, camera or other electronic device. It is undertaken as part of a process that includes: selection, Assessment, including of needs, Prioritization, preparation of originals for digitization, metadata collection and creation, digitization and creation of data collections, submission of digital resources to delivery systems and repositories. This

Os princípios fundamentais trazidos pela UNESCO tiveram como fonte guias e manuais produzidos desde 1996, por países, como Canadá, Escócia, Austrália, Reino Unido, Países Baixos e principalmente Estados Unidos. A lista de sites disponibilizada, ao final das orientações, foi verificada e observou-se que alguns deles estão inativos, mas, em sua maioria, a página web se encontra disponível e outras com atualizações. Interessante notar que a preservação do documento original de valor patrimonial é fato, como descrito pelo documento da UNESCO: “os originais devem ser mantidos e preservados sob apropriadas condições enquanto permanecem úteis”7 (UNESCO, n. d., tradução nossa).

Um estudo produzido por Britz e Lor (2003) chama atenção pela repercussão moral, política e legal que envolve a digitalização do patrimônio documental da África. O discurso dos autores incide sobre problemáticas dessa natureza e afirmam que a digitalização “algumas vezes se apresenta como uma panaceia para problemas de preservação e acesso” (BRITZ; LOR, 2003, p. 2, tradução nossa). Os autores enfatizam um dos mais expressivos projetos africanos de digitalização, Digital Imaging Project of South Africa (DISA, 2003). Nesse projeto, foram reunidos 40 periódicos de três décadas, 1960 a 1990, sobre o anti- apartheid, com boas condições de infraestrutura e propensas parcerias para financiar o restante do processo de digitalização fazendo parte do programa da Unesco, memória do mundo.

Britz e Lor (2003), ao questionarem sobre os motivos de a África aderir à digitalização de seu patrimônio documental, respondem sob considerações do entusiasmo proporcionado pela world-wide para o desenvolvimento das instituições de documentação, arquivos e bibliotecas. As preocupações de cunho moral e ético, elencadas pelos autores, versam sobre quais interesses, de quem, a permissão do acesso, o público que poderia acessar, os impactos na sociedade africana e sobre os direitos humanos. Concluem ao afirmarem que a digitalização do patrimônio documental africano pode ser regida por orientações que não firam os direitos e os deveres dos contratos sociais, que preservem as justiças sociais, o respeito às comunidades desfavorecidas da sociedade africana, que também são produtoras de patrimônio material e imaterial (BRITZ; LOR, 2007).

process is accompanied along the way by management, including intellectual property rights management and quality control, and evaluation at the end. These steps are essential to ensure that the digital object remains accessible in the long-term. (UNESCO, n.d., texto original).

7 “Originals shall be maintained and protected under appropriate preservation conditions for as long as they

Ao recriar o contexto de políticas e programas europeus em matéria de digitalização, Alvarez e Vives (2011) discorrem sobre os desafios enfrentados pelo Conselho da União Europeia no início dos anos 2000. A Decisão 2001/48/CE8, adaptada por este órgão, teve a intensão de estimular o desenvolvimento da sociedade da informação e criação de conteúdos digitais pelos países membros. Alvarez e Vives (2011) afirmam que embora houvesse um grande entusiasmo voltado à digitalização, apontaram estudos que impossibilitavam a digitalização como:

[...] a fragmentação do planejamento, a obsolescência, carência de meios de acesso simples e comuns para o cidadão, os direitos de propriedade intelectual, a falta de sinergia entre os programas culturais e programas para novas tecnologias, escasso investimento e compromisso institucional. (ALVAREZ; VIVES, 2011, p. 34, tradução nossa).

A solução encontrada foi dispor de altos investimentos (ALBERCH I FUGUERAS, 2011), criação de comissões para coordenar as atividades, uma dessas atividades era fomentar a avaliação comparativa das práticas de digitalização, ao criar diretrizes de coleta de dados e desenvolvimento de indicadores qualitativos e quantitativos (ALVAREZ; VIVES, 2011).

Os autores abordam a questão da digitalização da informação científica como um marco para a sociedade da informação, pois os setores, como as bibliotecas universitárias e os centros de investigação, têm sido lugar de coleta e distribuição dos resultados científicos. Como, ao momento, na Europa fervilhavam ações e políticas para a preservação e o acesso ao patrimônio, restou elaborar também políticas para ampliar o acesso ao material científico. Dessa forma, a Comissão das Comunidades Europeias, em 2005. Apresentou o programa i20109, uma iniciativa que visava, não somente, mas também a digitalização das coleções analógicas, cuja principal razão é a disponibilização aos utilizadores num ambiente online (ALVAREZ; VIVES, 2011). A acessibilidade online, a qual se refere à iniciativa i2010, é em respeito ao conteúdo digitalizado sobre domínio público, entendido, este, como obras

8 Official Journal of the European Communities. COUNCIL DECISIONof 22 December 2000. Disponível em:

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32001D0048&rid=2. Acesso em: 25 set. 2019.

9 Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comitê Econômico e Social Europeu e

ao Comitê das Regiões. Bibliotecas Digitais i2010. Bruxelas, 2005. Disponível em:< https://eur-

lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52005DC0465&qid=1569761857555&from=PT>. Acesso em: 29 set. 2019.

que podem ser disponibilizadas e ter acesso livre. Citam-se, como exemplo obras que perderam a validade em seus direitos autorais.

O projeto Europeana foi considerado por Winer e Rocha (2013) como um dos mais marcantes que protagonizaram o contexto da digitalização. Trata-se de um projeto iniciado por meio da digitalização em 2005 e lançado ao público em 2008. Ele contou com “27 Estados-membros, 29 línguas, com uma abrangência que vai da pré-história à atualidade” inclusive “com muitas referências ao Brasil” (WINER; ROCHA, 2013, p. 113). Pekel (2011) enfatiza que a Europeana não é um repositório, sua página web serve de portal para centenas de instituições que oferecem acesso aos seus conteúdos digitalizados.

Conforme Winer e Rocha (2013), a Europeana surgiu em decorrência de uma carta do presidente francês Jacques Chirac. O projeto foi considerado, por Pekel (2011), uma reação europeia diante da iniciativa do Google, gigante estadunidense, em digitalizar e tornar disponível quase 5 bilhões de páginas de livros em um período de 6 anos, iniciados em 2004. De acordo com Pekel (2011), a reação partiu do diretor da Biblioteca Nacional da França, Jean-Nöell Jeanneney, por meio do seu artigo “Quand Google defié l’Europe10”. O diretor temia que a empresa estadunidense se apropriasse do patrimônio histórico e cultural europeu e ao se tornar propriedade, “a cultura europeia estaria marginalizada” (PEKEL, 2011, p. 9, tradução nossa). Assim, o presidente francês acionou o presidente da Comissão Europeia em defesa da criação de uma biblioteca digital e uma das suas ações prioritárias era a digitalização dos conteúdos em arquivos, bibliotecas e museus em parceria com países membros, inicialmente França, Alemanha, Espanha, Polônia, Itália e Hungria.

À temática da digitalização voltada ao patrimônio histórico, Dodebei (2007) traz para a digitalização os conceitos de informação e memória; digital e virtual na esfera do patrimônio e da organização do conhecimento. Sob uma análise à luz da filosofia virtual de Bergson e Pierre Lévy, da Cibernética digital de Winner e a teoria da informação de Shannon, Dodebei teve a intenção de verificar a utilidade da digitalização do “patrimônio no ciberespaço” (DODEBEI, 2007, n. p.) ao ter como exemplo o registro patrimonial da Vila Boa dos Goyazes, em Goiás, uma vez que foi elemento digitalizado para constituir a coleção virtual da UNESCO.

10 JEANNENEY, Jean-Noël. Quand Google défie l'Europe: Plaidoyer pour un sursaut. Disponível em:

<https://iseeyouwatchingme.blogspot.com/2018/04/telecharger-quand-google-defie-l.html>. Acesso em: 29 set. 2019.

Dodebei (2007) compreende digitalizar como “processo de representar um objeto concreto ou analógico em bits” (DODEEI, 2007, n. p.). Acerca-se de que há distinção entre o digital e o virtual na digitalização, pois o atributo digital está relacionado ao processo da digitalização e o virtual ao ambiente que se insere o documento. Afirma também que “podem existir, desta forma, objetos que habitam tanto o mundo concreto como o mundo virtual (digitalizado), mas o mundo virtual é habitado apenas por objetos digitais” (DODEBEI, 2007, n. p.).

Para além de disputas quanto à seleção do patrimônio a ser digitalizado, sua representatividade social e sua insegurança voltadas à integridade da memória virtual, Dodebei (2007) conclui que a digitalização pode ser uma estratégia para garantir a preservação do patrimônio, assim como um domínio de conhecimento pode ser organizado por meio de coleções digitalizadas e que os poderes institucionais exercem o controle para se constituir o conceito de patrimônio digital.

Por meio de uma pesquisa prévia intitulada, The Preservation of the Integrity of Electronic Records, o projeto InterPARES − International Research on Permanent Autentic Records in Electronic Systems − alvoreceu em sua primeira versão entre 1999 a 2001. A referida pesquisa foi desenvolvida na Universidade British Columbia, Canadá, pelo Master of Archival Studies Programme. Os estudos foram dirigidos para identificar e definir os requisitos para criar, tratar e preservar registros eletrônicos confiáveis e autênticos.

A primeira fase do InterPARES11 teve como escopo de atuação a preservação da autenticidade dos documentos eletrônicos. Em entrevista12 concedida por Luciana Duranti à diretora do Team Brasil, Cláudia Lacombe, em 2009, foi dito que o projeto contou com “cerca de 60 pesquisadores, de 13 países, em 4 continentes”. Essa entrevista foi realizada após a segunda fase do projeto InterPARES que ocorreu entre 2002 e 2006, em que foram elaboradas orientações que se concentraram na cadeia de preservação a longo prazo.

A terceira fase do InterPARES, 2007 a 2012, na qual o Brasil e a Espanha fizeram parte, entre outros países, consistiu em empreender os conhecimentos das primeiras fases e verificar os efeitos, como, por exemplo, a criação do laboratório de digitalização da

11 INTERPARES 1 – International Research on Permanent Autentic Records in Electronic Systems. Projetc

Summary – 199-2001. Disponível em: < http://www.interpares.org/ip1/ip1_index.cfm. Acesso em: 22 set. 2019.

12 LACOMBE, Cláudia. Projeto InterPARES: entrevista com Luciana Duranti. Ponto de Acesso, Salvador,

v. 3, n. 1, p. 82-

91, abr. 2009. Disponível em: <http://www.brapci.inf.br/_repositorio/2010/05/pdf_92a08c792f_0010413.pdf >. Acesso em: 22 set. 2019.

Universidade de Campinas13, em São Paulo. O laboratório criado em 2011 teve como uma de suas inspirações a referência canadense, como fonte teórica e metodológica, assim como outros projetos no solo brasileiro, ao que se refere à ceara arquivística digital.

Um inusitado achado foram as obras de Martins (2008) e Duarte (2012). Os trabalhos trataram da importância da digitalização nas esferas bélicas e estratégias de guerra. Martins traz a definição:

Digitalização é o processo pelo qual um determinado dado (imagem, som e texto) é convertido para o formato de dígito binário para ser processado por um computador. No plano militar, a digitalização diz respeito à confluência entre o radar, o infravermelho, o laser e as micro-ondas de alta potência. (MARTINS, 2008, p. 7).

O autor acrescenta que a digitalização está também na “confluência tecnológica entre televisão, o telefone e o computador, que passam a operar em uma mesma rede e em uma base de hardware comum” (MARTINS, 2008, p. 7). Duarte (2015) informa que o processo de digitalização se iniciou na Primeira Guerra Mundial, por meio de uma estratégia que “coordenava carga de baterias por telefone” (DUARTE, 2015, p. 8). Afirma que a ideia conceitual mais aceita para o “entendimento da digitalização é a que propõe que a guerra se desenvolveria por meio de determinadas inovações tecnológicas com efeitos revolucionários nas atividades militares” (DUARTE, 2015, p. 11).

Em breve relato das intenções dos projetos de digitalização de documentos no Canadá, Bell (2008) pôde oferecer uma noção da amplitude que esse projeto pode tomar. O autor afirma que instituições públicas e privadas, como o Library and Archives Canada, com acervos de todos os tamanhos e de diversos lugares do país, estão empenhadas em assumir