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5 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

5.1 Resultados da pesquisa qualitativa

5.1.3 Análise integrada das entrevistas qualitativas

5.1.3.1 Dimensão Concepção

Como dimensão abstrata, a Concepção da Rede San Pedro Valley leva em consideração as motivações dos participantes em aderir à rede e o entendimento que possuem acerca dela. Observaram-se consensos e dissensos entre os entrevistados, os quais podem ser traduzidos em visões otimistas ou críticas em relação à formalização da rede.

As motivações dos membros para participar da San Pedro Valley são variadas, mas o que as une é a oportunidade de conviver em uma atmosfera empreendedora, que tende a possibilitar oportunidades que não teriam se estivessem isolados. De forma geral, três foram as principais motivações. A primeira, proferida por E5, E3, e E7, foi: contribuir e agregar valor ao ecossistema de empreendedorismo e inovação em Belo

Horizonte. A segunda, proferida por E2, E6 e E7, foi: potencializar o network, ou seja, manter contato com as demais empresas de tecnologia para otimizarem espaços de trocas, parcerias e cooperação. A terceira, proferida por E3, foi: buscar oportunidades de investimento. As falas a seguir ilustram essas motivações:

Vamos dizer assim: [minha motivação é] ajudar a formar comunidades, né? e a contribuir de forma que a comunidade vá agregar valor ao ecossistema. (E5)

O que me motivou foi [o] fundo de investimento. Isso é meio inerente, né? Acaba que a comunidade é uma matéria-prima de trabalho, onde você busca as oportunidades de investimentos. (E3)

A empresa é um espaço maker, voltado para interação com startups. Acredito que foi por esse motivo [entrou na San Pedro Valley], por ser uma das entidades que poderia potencializar o ecossistema de inovação. (E7)

Em harmonia com os preceitos de Moore (1993), as percepções do ecossistema como uma relação de interdependência podem ser notadas no fragmento a seguir:

Eu acho que a interdependência é essencial e na verdade é pressuposto do ecossistema de inovação atual que a gente tem. Eu vejo isso como uma força, e não como um fracasso, não como uma fraqueza. Acredito que a gente cria mais colaborando. (E7)

Para a maioria dos entrevistados, a concepção que possuem da rede é de um conjunto de organizações e startups que se diferenciam das demais empresas pela proposta de inovação dos seus produtos. Há comparações explícitas à Rede do Vale do Silício nos Estados Unidos e aos ecossistemas de inovação de Israel, Itália e Japão. Quanto à concepção que possuem sobre a rede, apareceram alguns pontos de atenção relativos ao perigo de fechamento dos atores centrais e à tendência de

se criarem ‘panelinhas”. Ou seja, grupos fechados onde há intensa cooperação entre

eles e pouca com o restante do ecossistema. Há, ainda, fragmentos de falas que caracterizam como passivo o comportamento da comunidade no que tange ao desenvolvimento de iniciativas estratégicas no sentido de se tornarem o principal agente desse ecossistema de inovação em Belo Horizonte.

A despeito disso, reforça-se a concepção de alguns teóricos a respeito da interface das redes com o processo de empreendedorismo e inovação, hava vista que promovem a renovação de todo um sistema produtivo, por meio da inovação

(SCHUMPETER, 1959; MINTZBERG; LAMPEL; AHLSTRAND, 2000; SHANE; VENKATARAMA, 2000). Isso pode ser constatado nos recortes dos comentários apresentados a seguir:

Ah! Penso [na rede] em inovação. Inovação. Em gente nova. Nova que eu falo é de cabeça nova, não de idade, né? De pessoa que quer fazer as coisas um pouco diferente do comum. Eu vejo isso. (E1)

Eu penso num ecossistema de startups dentro da região metropolitana. (E 7)

Para mim, vem muito compartilhamento de coisa, sabe? É uma parte que eu acho legal. Quando se cria uma rede, você tem que ter muito cuidado da panelinha, dos fundadores ou principais empresas começarem a se fechar. Mas o que eu acho bem legal da San Pedro Valley que é muito conceito de família. (E 6)

Para mim, é muito assim, como o Vale do Silício, empreendedor experiente ou já mais experiente do que quem está começando e que vai meio que interagindo com essas cabeças que eles entendem que são mais próximas ou que têm potencial de se tornarem grandes empresas em médio e longo prazo. [...] agora, eu não vejo uma ação de transformar isso em algo maior pra Belo Horizonte para ser o principal agente desse ecossistema. (E 3) E quando vem na minha cabeça a rede, é um salto que eu possa dar. Em vez de eu gastar um ano para fazer isso, eu pergunto na rede: “Quem conhece quem”? (E4)

Esses fragmentos dialogam com as colocações de Adner (2006), o qual compreende o ecossistema de inovação como fomentador da integração do processo produtivo, que gera valor a todo o sistema. Nesses termos, o autor entende a interdependência como fundamental para o alcance da inovação.

Outro ponto relevante se refere ao desempenho de papéis no interior dos ecossistemas empresariais, reforçado por E7:

Você articula esses parceiros falando assim: “Olha” Cada qual vai trabalhar de tal maneira. Esse segundo passo que a gente desenhou como cada entidade se propõem atuar. (E7)

Tal comentário se coaduna com o pensamento de alguns teóricos ao entenderem o propósito do ecossistema em focar nos processos, definindo critérios, funções e papéis desses agentes (BORGATTI; HALGIN, 2011; IKENAMI; GARNICA; RINGER, 2016).

Ainda sobre a dimensão conceptiva da rede, vale citar alguns fragmentos captados na entrevista qualitativa:

A primeira coisa que me vem à cabeça é algo que a comunidade traz para o ecossistema, não só do ponto de vista de bons empreendedores, mas também de recersos, né? (E 3)

A San Pedro Valley possui um repositório de especialistas em temas variados. Aí, vem alguém e pergunta: “Vocês têm alguém que sabe disso ou daquilo?” Ou alguém vai se dispor ou os membros informam: “Esse cara aqui entende muito disso. Pode chamar ele”. (E4)

Tais falas apresentam um paralelo com a concepção de pensadores que entendem a função das redes como mecanismo de obtenção de informações, difusão tecnológica e ampliação dos conhecimentos (GRANOVETTER, 1973, 1983; AHUJA, 2000; LOPES, 2001; IKENAMI, 2016).

Com efeito, outras percepções dão a entender que o movimento da rede segue um curso próprio, mostrando-se como uma alternativa aos modelos clássicos de estrutura piramidal (WITHAKER, 1993; GRANDORI; SODA, 1995, CASTELLS, 1999):

É um movimento [a rede] que é independente, e ele segue o fluxo que acha que deve seguir (E 3).

A rede é uma comunidade autônoma em dois sentidos: autônoma enquanto comunidade e autônoma para o empreendedor. (E4)

Essa que é a questão da cultura startup, de ser muito horizontalizada de hierarquia. (E 6).

Uma das coisas que as pessoas mais gostam é da San Pedro Valley ser orgânica, onde as coisas acontecem organicamente, sem necessariamente ter um síndico. (E6)