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1 INTRODUÇÃO

3.1.3 As redes sociais e suas dimensões

Com o propósito de enriquecer o trabalho aqui proposto e considerando o pressuposto do papel das redes como incrementadoras das atividades empreendedoras e da inovação, este tópico traça um panorama dos esforços empreendidos pelos teóricos para conceituar as dimensões de redes no âmbito dos estudos organizacionais.

Quanto ao aspecto estrutural, as redes podem ser entendidas a partir de quatro elementos: nós (atores), posições, ligações (laços) e fluxos. Tais elementos podem ser plotados em formato de grafos, que são vistos como o conjunto de vértices e

arestas. Estes, por sua vez, denominados, respectivamente, de “nós” e “ligações”,

determinam a relação de algum tipo existente entre os atores (BONACICH, 1987; BRITTO, 2002; NEWMAN; 2003; SACOMATO NETO, 2003; RECUERO, 2005; SILVA et al.; 2006; FERREIRA, 2013).

A Fig. 1 apresenta um modelo de rede.

Figura 1 - Modelo de rede

. Nós - podem ser representados por uma empresa (na figura representam os pontos).

. Posições - o conjunto de relações estabelecidas entre os atores da rede. . Ligações - compreendidas pelos traços em diferentes espessuras que qualificam o relacionamento entre os atores na rede

. Fluxos - recursos, informações, bens, serviços, contatos ocorrem por meio das ligações.

Nesse contexto, vale mencionar a contribuição de Cross, Parker e Borgatti (2014) ao sugerirem a ferramenta de análise das redes sociais (ARS) como relevante instrumental aos estudos das conexões nelas imbricadas, já que essas potencializam a confiança, o compartilhamento, a mentoria, as capacitações e a parceria, propiciando melhor disseminação de informações e conhecimentos.

No âmbito da análise de redes sociais (ARS), a qual determina indicadores de padrões de relacionamentos e monitoramento de seus fluxos, as métricas podem assumir o aspecto estrutural - medidas de centralidade, densidade, reciprocidade, coesão, distâncias geodésicas e cliques - de posicionamento, de elementos organizacionais e de desempenho de papéis dos atores (clusters, equivalência estrutural) - ou relacional (MARTELETO, 2001; RECUERO, 2005; TOMAÉL; MARTELETO, 2006, 2010; SCOTT, 2007; SOUZA, 2012).

Importante notar que esse ferramental pode estar em pressupostos como: relações estruturais - são mais relevantes do que atributos como idade, gênero, valores e ideologias; redes sociais - afetam culturas, percepções e atitudes, propiciando a melhoria de acesso a recursos; relações estruturais - são processos dinâmicos, cujos níveis de análises podem envolver a rede social egocêntrica sustentada por um ator principal, a rede social diádica, cuja análise se concentra na relação entre pares de atores, relações triádicas, ou seja, entre tríades de atores, e análise de uma rede social completa (KNOKE; YANG, 2008; CORLETTE JUNIOR; CARNEIRO, 2012)

Como este estudo prioriza a investigação no âmbito estrutural da rede de startups

San Pedro Valley em termos de grau de centralidade de seus atores, densidade e

índice de centralização da rede, essas dimensões serão um pouco mais exploradas a seguir.

A medida de centralidade, proposta por Freeman (1979, 1999), tornou-se basilar para o desenvolvimento de teorias no campo, ao contribuir para a identificação dos atores-chave, responsáveis pelo dinamismo da rede (BURT, 1992, 2000; MARTELETO, 2001; SCOTT, 2007; SOUZA, 2012).

Pode-se dizer que essa medida é um atributo do ator na rede, uma vez que mede sua posição em relação aos demais. Considera-se que o ator (indivíduo ou empresa) é central em uma rede quando se conecta diretamente com uma quantidade grande de outros atores. Ou seja, quando conta com um número maior de arestas, quando é utilizado como ponte por uma variedade de outros atores ou quando se encontra próximo deles. Consequentemente, a centralidade possibilita a esses atores uma vantagem em relação aos demais na aquisição de informações, na manutenção de contatos e na obtenção de mentorias e capacitações, potencializando sua performance (BORGATTI, 1998; TOMAÉL; MARTELETO, 2006; FERREIRA, 2013). Em termos matemáticos, as dimensões de centralidade assumem medidas de grau, intermediação e proximidade. O grau mensura o nível de contatos diretos que um ator mantém na rede. Ou seja, identifica a capacidade que este possui de assumir um status de referência no compartilhamento de recursos com os demais integrantes (MIZRUCHI, 2006; TOMAÉL; MARTELETO, 2006).

A Fig. 2 oferece um panorama de uma rede com centralidade de grau, em que os atores, coloridos em azul, assumem graus maiores de centralidade, ocupando, portanto, posições privilegiadas na rede. Com isso, acessam com mais facilidade os recursos que dela provêm.

Figura 2 - Rede contendo centralidade de grau

Fonte: Adaptada de Tomaél e Marteleto (2006)

A centralidade de intermediação identifica o ator enquanto meio para alcançar outros atores na rede. Desse modo, permite quantificar as ligações que possui. Marteleto (2001, p. 79) afirma que esse ator intermediador, mesmo possuindo conexões

escassas, assume um papel proeminente na rede, já que “traz em si a marca do

poder de controlar as informações que circulam na rede e o trajeto que elas podem percorrer”.

Já a centralidade de proximidade identifica as distâncias entre os atores. Assim, quanto menores as distâncias entre as conexões de determinado ator, mais chances ele tem de acessar e difundir recursos mais rapidamente, já que mantém contatos mais diretos, independendo de intermediários (BURT, 1992, 2000; MARTELETO, 2001; KIMURA; TEIXEIRA; GODOY, 2006; SCOTT, 2007; SOUZA, 2012).

De acordo com a Fig. 3, o ator mais central, que possui o maior número de ligações diretas, assume o papel de nó focal ("ego") e os nós, a quem o ator central está diretamente conectado, de alters. Os alters assumem o papel de provedor de recursos para o ego. Entretanto, podem-se notar conexões também entre os alters (GRANOVETTER, 1982; ,1998; TOMAÉL; MARTELETO, 2006; FERREIRA JÚNIOR, 2006).

Figura 3 - Desenho de uma rede com centralidade de proximidade – Rede egocêntrica

Fonte: Adaptada de Borgatti (1998)

Seguindo a mesma lógica, a dimensão de densidade, entendida como um atributo da rede, pode ser conceituada como a aderência entre os membros da rede, medida pela proporção do número máximo de conexões cabíveis em relação ao número de conexões existentes. Esta medida traduz os laços fortes, representados pelas relações mais próximas, e os laços fracos, demarcados pelas conexões mais afastadas. Quanto mais fortes as conexões, mais densa a rede e, assim, maior a probabilidade de os membros tomarem decisões conjuntamente e compartilharem recursos tangíveis e intangíveis (GRANOVETTER, 1982; COLEMAN, 1988; AHUJA, 2000; GUIMARÃES; MELO, 2005; TOMAÉL; MARTELETO, 2006; SCOTT, 2007; FERREIRA, 2013; SOUZA, 2012).

Em redes menos densas, os benefícios são maiores à medida que o ator alcança recursos em várias conexões, a partir de outras redes. Isso porque na rede densa, como os contatos efetuados são com os mesmos atores fora da rede, os resultados são ineficientes, uma vez que retorna recursos menos diversificados que a da rede esparsa. Ou seja, quanto mais densa a rede direta de contatos, menor a probabilidade de novos recursos serem obtidos e de oportunidades empreendedoras serem identificadas mais assertivamente (GRANOVETTER, 1982; COLEMAN,

1988; AHUJA, 2000; GUIMARÃES; MELO, 2005; TOMAÉL; MARTELETO, 2006; SCOTT, 2007; DOWLA, 2011; FERREIRA, 2013).

Para Gurgel, Homenko Neto e Moia (2015), a participação das empresas em rede permite a cocriação de produtos e serviços inovadores, gerando diferencial mercadológico, além do encadeamento sistêmico e permanente entre os seus componentes. Assim, quanto mais alargada a networking, mais benesses em relação à agregação de conhecimento e desenvolvimento incorporados às organizações inseridas nessa estrutura.