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CAPITULO 4 DOCÊNCIA: UM ENTRELAÇAR DE SENTIDOS

4.2 Conteúdo representacional sobre docência: análise das entrevistas

4.2.2 Dimensão criativa e sensível

Percebemos, nos discursos dos sujeitos, a forte presença de termos que enfatizam que os professores precisam ser dotados de uma sensibilidade permissiva de uma melhor transposição didática e conhecimento do público–alvo. Algo relacionado ao trabalho docente que tem como imperativo a dinamicidade, a ludicidade, o cuidado e a sensibilidade como elementos que permeiam a didática envolvente do professor de forma necessária para realização das atividades operacionais relacionadas à docência. É como se, para ser docente, fosse preciso ser uma pessoa sensível, que vê nos olhos do aluno suas necessidades e angústias. Na prática, é necessário desenvolver habilidades que permitam uma aula prazerosa e criativa, de envolvimento teórico-prático que envolva os aprendentes numa dinâmica excitante de ensino e aprendizagem.

Em vários momentos da entrevista, percebemos, fortemente e com recorrência, discursos que os estagiários internalizam nas suas aprendizagens com as disciplinas e professores; necessidades que precisam ser agregadas às suas práticas. Citam elementos necessários à docência e que precisam ser percebidos no fazer docente. “Deveria ter mais disciplinas aqui que os professores instigassem mais, que despertassem mais a ludicidade” (Diamante); “ O docente tem que ter a decência de não corrigir erroneamente, até no ato de corrigir o aluno ele pode frustrar esse aluno pro resto da vida de querer ler e escrever” (Pérola).

Vimos, então, que os sujeitos acreditam que a ludicidade deve estar presente na prática docente por meio de materiais pedagógicos que devem pertencer ao fazer docente. Desse modo, eles cobram, reconhecem a importância de conhecer e de como agir ludicamente diante das metodologias, para, assim, agregarem ao seu perfil profissional certas habilidades. Nesse âmbito, o sujeito indica que o estudo sobre atividades prazerosas e dinâmicas, na formação inicial, é essencial à formação. Como elemento facilitador, o lúdico deve estar presente e imbricada à docência. Diamante, por exemplo, reivindica mais incentivos a essa prática e, nas palavras de Pérola, fica clara a sensibilidade que o professor deve ter ao assumir suas atividades, além da criatividade, que deve ser vetor de inovação.

Quando o (a) estagiário (a) diz, portanto, que “ser professor é ensinar e criar situações para que o aluno possa aprender” nos conduz à necessidade da sensibilidade do docente em perceber o modo como o sujeito aprende e como o professor pode possibilitar tal aprendizado, ou seja, como pode criar estratégias metodológicas positivas. Então, a

criatividade e ludicidade, de acordo com os sujeitos da pesquisa, devem se fazer presentes para incrementar os recursos metodológicos.

Em outro momento desta pesquisa, ao tratarmos sobre o núcleo central que acende o debate sobre o ensinar e o educar, percebemos que aparece também esse sentido sobre o ensinar, um sentido mesmo tímido de possibilitar situações em que o aluno aprenda. Ressaltamos, pois, Paulo Freire (2012), que levanta essa bandeira contrapondo-se ao ensino tradicional e bancário e privilegiando uma educação progressista, libertadora, dialógica e problematizadora, mostrando que necessitamos de uma educação direcionada às necessidades dos alunos. Segundo o autor, (2012) o propósito da educação libertadora é a dialogicidade, a ação e reflexão, posicionando o sujeito como cognoscente. Assim, concluímos que a busca por recursos metodológicos que priorizem essas práticas é elemento primordial para a docência.

Ao apresentarmos os elementos do núcleo central, percebemos que a dedicação e o amor pela docência, para os sujeitos, são qualidades que permitem um melhor trabalho do professor. Sobre isso, foi externado, também, o papel da dedicação como meio impulsionador da realização de novas práticas que favoreçam o desenvolvimento dos alunos e um ensino diferenciando, como está sendo defendido nessa discussão. Exemplos são as falas que seguem: “[..] vem a dedicação e com isso a criatividade aflora, pois é de extrema importância para a docência”. (S90); “[...] a dedicação para elaborar planos de aula, dedicação para conhecer o aluno, dedicação para entender (S29); “Dedicação em buscar novos recursos, saberes, competências para que possam contribuir com a aprendizagem e conhecimento dos alunos (S24). Logo, percebemos uma forte relação entre esses elementos e as colocações que contemplam essa dimensão criativa e sensível que encontramos.

Além disso, os estagiários depositam no professor formador essa imagem de docente ideal, como exemplo de uma profissão a seguir, com dinamismo e empolgação. Muitas vezes, é através das posturas dos professores formadores que os estagiários idealizam a profissão. “A disciplina de didática, deve ser uma disciplina que o professor que aplica tem que ser bastante dinâmico, um professor realmente voltado para docência” (Pérola). Nessa fala, compreendemos que a (o) estagiário (a) vê no seu professor um exemplo de docência, pois ele precisa ser dinâmico. Assim, percebemos que os sentidos permeiam a necessidade de um olhar sensível e criativo, provenientes da dedicação pela profissão para que a atuação docente seja realmente voltada a atender as especificidades do aprendente.

Nas falas dos estagiários encontramos, ainda muito presente, a percepção de que o curso, as disciplinas preparam os sujeitos de maneira muito intensa para ser professor de educação infantil. Senão vejamos: “o curso de Pedagogia me preparou até agora, no 7º período, para ser professor mesmo, ele me preparou e prepara até agora, pelo que eu vi do curso e estou vivenciando pra educação mesmo, e especificamente para Educação Infantil” (Pérola). “Nós vimos muito a questão dos valores da criança, como esse processo de humanização de educação, as disciplinas de Alfabetização e Letramento, teorias Linguísticas, principalmente para atuar na sala de aula com a criança” (Esmeralda). “As contribuições do curso são de grande valia. Quando entrei, no 1º período, não tinha muita noção, mas hoje vejo os avanços. Isso tem me ajudado bastante, como já trabalho atuando há quase dois anos na educação infantil” (Jade).

Por suposto, essa imagem de curso formador de professor de Educação Infantil pode influenciar na caracterização docente a necessidade de ser dinâmico, criativo e sensível. Devemos frisar que essas características podem ser necessárias em outros níveis de ensino, entretanto identificamos mais fortemente essa ponte entre o professor de educação infantil e o professor dinâmico e sensível, o que pode ser reflexo da imagem simbólica construída e exposta nos elementos do núcleo central, amor e dedicação.

Percebemos, nas mensagens supracitadas, que os estagiários consideram relevantes as aprendizagens construídas durante o curso. No entanto, a docência como eixo formativo é percebida pelos estudantes com mais ênfase quando orientados para prática na Educação Infantil e, muito mais, para atuação em sala de aula, compreendendo as especificidades da criança, seu desenvolvimento social e cognitivo. Para eles, essa experiência é um curso que prepara para atuação na educação infantil. No entanto, encontramos na proposta pedagógica do curso que as atividades que permeiam as práticas na academia devem ser compreendidas para além de uma ideia de curso preparatório para atuação professoral em sala de aula. Assim, ressaltamos que é preciso entender sobre as diversas formas de atuação do Pedagogo que contemplam a prática docente.

De acordo com a proposta Pedagógica do curso, a docência deve ser considerada como o fundamento da formação e da identidade do Pedagogo, refletindo na e sobre a prática educativa – o seu sentido, ressaltando-se que a primeira não se restringe unicamente às ações em sala de aula no ambiente escolar. Assim, fica claro, no Projeto Pedagógico do curso, que a formação do licenciado em Pedagogia deve ser uma ação direcionada pelo trabalho

pedagógico, realizado tanto nos espaços escolares como naqueles não-escolares, tendo como referência a docência.

Em específico, o perfil do Pedagogo a ser formado pela UERN requer que ele esteja habilitado para tratar das demandas da atuação docente, dos desafios postos pela prática educativa em diferentes contextos e da gestão educacional (UERN, 2012). Mas, percebemos que os sujeitos dessa pesquisa pouco compreendem sobre essa especificidade do curso, uma vez que encontramos respostas que ressaltam a importância de uma contextualização teórico- prática. No entanto, essa aproximação com a realidade através da práxis e reflexão pode ser direcionada, prioritariamente, à formação para sala de aula, em específico para educação infantil, como bem exaltam esses estagiários.

Dessa forma, inferimos que essa compreensão de atuação professoral para educação infantil e a imagem de um curso que forma para essa especificidade, mesmo sendo contrária a sua proposta, pode interferir na representação que os estagiários constroem sobre docência, pois, se o curso tem em sua prática muito mais sobre as bases teóricas, filosóficas e práxis para sala de aula, esses sujeitos irão compreender ainda mais sobre uma docência que é fortalecida pela prática pedagógica nesse âmbito.

Assim, observamos que a docência, de forma ampla, diversificada, como é defendida pelos DCNs, ainda é pouco entendida pelos sujeitos, o que pode tornar a formação do Pedagogo muito mais voltada para atuação em sala de aula. No entanto, tal fato pode ser justificado, pois a proposta pedagógica do curso ainda é muito recente (2012), o que nos leva a entender que ainda está em processo de amadurecimento prático. Mas acreditamos que esse quadro pode ser revertido.

Decerto, entendemos que ainda pode estar muito enraizado na prática acadêmica disciplinares o discurso dos professores formadores sobre uma necessidade formativa que se restringe a espaços escolares e, principalmente, com atuação em sala de aula. Vejamos o que diz Esmeralda:

Nas discussões que fazemos acerca das crianças, como essa criança se desenvolve, sobre a alfabetização, algumas coisas foram passadas, outras eu tenho carência. Tipo assim, eu sinto muita carência nessa questão de alfabetizar, eu não sei se estou atingindo o meu objetivo. Mas, em outras coisas eu sinto o que o curso está preparado em nos dar, a questão do desenvolvimento social e cognitivo da criança.

Mesmo estando presente nas falas dos estagiários esse entendimento restrito de docência para atuar na educação Infantil, entendemos que essa imagem deve ser repensada em função da efetivação dos eixos teóricos colocados pelas diretrizes curriculares do curso de Pedagogia (2006), que ampliam as especificidades do Pedagogo e dão um novo significado à docência nesse aspecto. Encontramos, na proposta do curso, de forma muito forte, essa necessidade de o eixo da docência ser fortalecido e compreendido como atividade plural também na gestão dos processos educacionais. Porém, acreditamos que, talvez, por ser uma proposta recente, como já mencionamos, ainda está em fase de compreensão e implementação pelos envolvidos. Contudo, é possível que esse caminho já esteja em fase de construção para uma melhor efetivação desses pilares formativos, pois encontramos traços dessa docência compreendida de forma plural.

Pérola e Ametista, principalmente, nos fazem refletir sobre a docência no curso de Pedagogia e sua compreensão nas DCN (2006), trazendo-a como atividade pedagógica em vários níveis de ensino, ficando explícito, mormente na fala de Pérola, a atuação docente em espaços escolares e não escolares, bem como na gestão dos processos educacionais, quando diz: “na minha visão, assim, você é preparado para atuar em qualquer área de educação, isso pra mim é a docência”.

Mesmo não especificando o curso de Pedagogia, mas, sabendo da forte ligação desse conceito ao curso, entendemos que a docência é vista como atividade plural ao tratar das abrangências da sua atuação e amplitude das marcas que podem deixar, estabelecendo relação forte com a caracterização de docência colocada pelos DCN (2006). Corroborando, Ametista, quando expõe sobre a docência, esclarece que:

O professor que não exercer o seu trabalho, a docência, não é professor [...] porque até nos espaços não escolares nós exercitamos a docência; porque nós estamos produzindo conhecimento, mesmo que eu não estejamos a condição de Pedagogo, mesmo que estejamos na elaboração de projeto ou supervisionando um trabalho, estamos exercitando a docência.

Nesse caso, constatamos que o (a) estagiário (a) do curso de Pedagogia da UERN está entendendo a docência, também, como atividade do professor para além da sala de aula, uma atividade que atende todas as competências do docente no contexto atual.

A seguir, expomos uma terceira dimensão encontrada nas falas dos sujeitos. A dimensão sócio- formativa.