• Nenhum resultado encontrado

O Estágio Supervisionado e a formação docente no curso de Pedagogia

CAPITULO 1 A FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL E O CURSO DE PEDAGOGIA

1.4 O Estágio Supervisionado e a formação docente no curso de Pedagogia

As mudanças ocorridas nas últimas décadas, no campo educacional, a ressignificação do papel da escola e das concepções acerca da aprendizagem, as alterações na legislação, as transformações da sociedade contemporânea, dentre outros fatores, contribuíram para alterações no modo de conceber a profissão e a formação dos professores. Num intuito de maior praticidade, a perspectiva é que educando e educador se formem num processo de aprendizagem mútuo e contínuo.

Podemos destacar as disciplinas de Estágio Supervisionado como lócus para formação inicial docente, haja vista sua gênese teórico-prática de modo diferenciado e investigativo. Ela deve, pois, priorizar uma formação baseada na reflexão dos conteúdos acadêmicos, diante do contexto real da profissão, pois, “como componente curricular, o estágio pode não ser uma completa preparação para o magistério, mas é possível, nesse espaço, professores, alunos e comunidades escolares e Universidade trabalharem questões básicas de alicerce [...]” (PIMENTA; LIMA, 2012, p.100).

No início do capítulo, apontamos vários acontecimentos que favoreceram a formalização da profissão e um breve construto da formação docente, a partir dos quais percebemos a formação prática de forma insipiente, como imitação de modelos e instrumentalização nas escolas normais. Portanto, desde o surgimento das escolas normais essas disciplinas, consideradas práticas, foram ganhando espaço no currículo de forma generalizada. Destacamos, então, a promulgação da lei que organizou, de fato, o Ensino Normal (Decreto de Lei n.8.530/1946).

O Titulo II, Cap. IV, item c. Estabelece como orientação geral que “nas aulas de Metodologia deverá ser feita a explicação sistemática dos programas do ensino primário, seus objetivos, articulação da matéria [...]. E em exercícios de observação e de participação real no trabalho docente, de tal modo que nela se [sic] integrem os conhecimentos teóricos e técnicos de todo o curso”[grifo nosso]. O Titulo estabelece que “todos os estabelecimentos de ensino normal manterão escolas primárias anexas para demonstração e prática de ensino” (PIMENTA, 2012, p.33-34).

A partir desse documento, os estágios foram sendo formulados de forma vinculada à disciplina de didática, entretanto, continuaram numa perspectiva moldada a partir de receitas e

modelos acabados, desconsiderando as especificidades da profissão. Porém, com as exigências legais, esse momento formativo tem se tornado cada vez mais próximo do contexto docente, instigando práticas reflexivas e dinâmicas de formalização.

Não é novidade que a aproximação dos licenciandos com o espaço profissional torna- se facilitador para o desenvolvimento de habilidades docentes. Isso já vem sendo debatido, mesmo que de forma elementar, desde as tentativas promissoras de atuação do professor propostas pelas Escolas Normais. Indubitavelmente, a aprendizagem proporcionada por esse contato com o campo educacional permite aos professores em formação a percepção de seus limites; as possibilidades de atuação; a troca de conhecimentos com professores mais experientes e outros profissionais; o relacionamento dos conhecimentos adquiridos na academia com as especificidades da sala de aula; a reflexão; o conhecimento da diversidade dos alunos; dentre outros fatores necessários à prática.

Logo, o Estágio Supervisionado caracteriza-se por ser uma disciplina teórico-prática fundamental para formação inicial docente, perpassando o sentido dado à disciplina como componente curricular, chegando a ser protagonista nessa formação, principalmente, por ser instrumento necessário à práxis. Nessa perspectiva, Pimenta; Lima (2012, p.45), afirmam que “o estágio Supervisionado é atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, objeto da práxis. Ou seja, é no contexto da sala de aula, da escola, do sistema de ensino e da sociedade que a práxis se dá”.

Esse processo de contato com o palco educacional e possibilidades de atuação, mesmo ainda estando em formação, propiciado pelas exigências das disciplinas de Estágio, é fator facilitador da constituição do ser professor. Os momentos de reflexão que os professores em formação vivenciam nesse período são primordiais à constituição da sua identidade e formalização dos saberes adquiridos em sua formação acadêmica.

A identidade do professor é construída ao longo de sua trajetória como profissional do magistério. No entanto, é no processo de sua formação que são consolidadas as opções e interações da profissão que o curso propõe legitimar (PIMENTA; LIMA, 2012, p.62).

Como defendem as autoras, o estágio é um lugar de reflexão sobre a construção e fortalecimento da identidade. Por ser um espaço animador da profissão, torna-se ponte entre a

aprendizagem teórica e a prática, resultando na reflexão da realidade vivenciada e possibilitando a construção de novos saberes inerentes à prática educativa. Para corroborar com essa ideia, podemos citar Lima (2012, p.127), que afirma: “reconhecer o Estágio como espaço de aproximação da realidade e a reflexão sobre a mesma, é perceber a capacidade de desenvolvimento da prática educativa em suas possibilidades e limites”.

A reflexão na formação inicial docente caracteriza-se, portanto, como elemento estruturador da formação, como afirma Garcia (1995). Essa etapa de contato com as realidades da sala de aula permite que o formando analise sua prática e conflitos gerados para compreender os dilemas, possibilidades e limites da profissão numa visão ampla de superação dos desafios. Não só nessa etapa, mas em todo processo contínuo de formação docente, a reflexão é considerada essencial para compor a prática pedagógica.

Os estudos que apontam a necessidade de um professor reflexivo se dão desde os conceitos fundamentais para educação reflexiva, proposta por Dewey (1953, 1959), para a educação brasileira. O educador norte americano, na década de 1990, influenciou a formação docente propondo a necessidade de um professor reflexivo, assim como apontam Nóvoa (1995) e Schon (1995). Alguns pesquisadores que se fundamentam na prática reflexiva para formação de professores apoiam-se na ideia de Dewey, de que há “[...] a necessidade de formar professores que venham a refletir sobre a sua prática, na expectativa de que a reflexão será um desenvolvimento do pensamento e da ação” (GARCÍA, 1995, p. 60).

Nesse momento de aprendizagem proposto pelas práticas de estágio, recorremos às ideias de Schon (1995), ao apresentar o conceito de ação-reflexão-ação como processo pelo qual os professores aprendem a compreender e analisar suas práticas. Para o autor, há uma necessidade de se formar um professor capaz de refletir na e para a prática. Assim posto, as aprendizagens propostas pelo estágio podem fortalecer esse processo e instigar o professor em formação há perceber seus limites e possibilidades na prática educativa no contexto da sala de aula.

Para Nóvoa (1995), a formação do professor não se promove por acumulação de cursos, de conhecimentos ou técnicas, mas pelo posicionamento reflexivo do docente sobre suas práticas e a (re) construção permanente de sua identidade pessoal. Com isso, ressalta a importância do saber da experiência e da reflexão afirmando o seguinte:

A formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva que forneça aos professores os meios de pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada. Estar em formação implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional (NÓVOA, 1995, p. 25).

Nessa etapa, portanto, a prática reflexiva pode ser ponte para a superação dicotômica entre teoria e prática, tornando-se um eixo formativo para a profissão. Devemos atentar para o fato de que as próprias concepções geradas pela sociedade em transformação incitam a repensar uma formação docente amparada pela necessidade de atender aos novos desafios da sociedade. Para tanto, o docente em formação precisa ter clareza dos objetivos e ações que orientam o contexto de atuação profissional, sendo necessário refletir sobre o processo de e na ação pedagógica.

Nesse processo, o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações provisórias da realidade (PIMENTA; LIMA, 2012, p.43).

De fato, todo o itinerário gerado através das práticas propostas pelo estágio nos faz perceber que há uma tríade formada pela teoria, prática e reflexão, imbricada nesse processo de formação docente. Esse tripé favorece, de forma singular e construtiva, predicados que permitem a formalização da profissão.

Diante do exposto, percebemos, então, a importância que o Estágio assume na formação de professores. Corroborando, pois, esta assertiva, apresentamos, a seguir, os fundamentos legais que pautam essa etapa da formação docente.

1.5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO