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Dimensão gestão participativa

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS P (páginas 148-152)

5.3 A NÁLISE COMPARATIVA DA GESTÃO DE RSU POR DIMENSÃO

5.3.5 Dimensão gestão participativa

não realizar treinamento de mão de obra, não foi suficiente para conferir uma tendência positiva na operação do sistema de coleta seletiva.

A promoção de cursos de capacitação dos trabalhadores, além de promover melhor operação do sistema em si, é primordial para a conscientização da utilização de EPIs, tendo em vista a insalubridade do tipo de atividade. Nesta avaliação, o indicador do uso de tais equipamentos de proteção individual não seguiu uma tendência, mas pode-se destacar como pontos negativos a falta de fornecimento por parte da Prefeitura de Esmeraldas e o desuso por parte de alguns catadores associados à Asmarcol, em Conselheiro Lafaiete, mesmo havendo fornecimento dos equipamentos.

Por diversas razões, o mero conhecimento do perigo, por esses sujeitos, não é suficiente para transformar seus hábitos e posturas em ação preventiva. A primeira razão é a convivência dos catadores num processo habitual de trabalho atravessado pela precariedade e pela degradação ambiental que naturaliza os riscos, uma vez que esses sujeitos chegam ao ponto de desconsiderar o efeito resultante (CAVALCANTE e FRANCO, 2007).

Fazendo uma analogia com o sistema de gestão de RS como um todo, verifica-se a necessária mudança de hábitos e posturas de toda uma sociedade, que somente é possível a partir do árduo trabalho com foco na mobilização social e educação ambiental – itens a serem discutidos a seguir – de forma a evitar a naturalização dos riscos e impactos resultantes da geração excessiva de RS e sua disposição inadequada no solo.

Tabela 5.16 - Análise comparativa dos indicadores para a Dimensão gestão participativa

Municípios

Bruma-dinho

Con- gonhas

Conselheiro Lafaiete

Cristiano Otoni

Esme-raldas

Mário Campos

Ouro Branco Indicadores

10. Estrutura

10.1) Responsável no quadro2 e 3

Servidor efetivo (dedicação exclusiva)

Servidor efetivo (dedicação exclusiva)

Cargo comissionado (dedicação exclusiva)

Cargo comissionado (dedicação exclusiva)

Servidor efetivo (dedicação exclusiva)

Cargo comissionado (dedicação exclusiva)

Servidor efetivo (dedicação exclusiva) 10.2)

Qualificação do quadro2 e 3

Biólogo

Gestor Ambiental e Administrad or Público

Superior Superior

incompleto Superior Superior incompleto

Doutor em Saneamento e Meio Ambiente 10.3)

Conselho municipal MA2 e 3

Consultivo e Deliberativo

Consultivo e Deliberativo

Consultivo e Deliberativo

Consultivo e Deliberativo

Processo de discussão

Consultivo e Deliberativo

Consultivo e Deliberativo 10.4)

Atuação em consórcios de RS2 e 3

COMPARE-SOLURB ECOTRES ECOTRES CONDAPAV inexistente COMPARE-SOLURB ECOTRES

11. Participão popular

11.1) Canal participação popular2 e 3

Ação temporária

Ação

temporária Existente Ação temporária

Ação

temporária Existente Existente 11.2)

Capacitação em EA2 e 3

Ação

temporária Existente Ação temporária

Ação

temporária inexistente Ação temporária

Ação temporária 11.3)

Participação escolas2 e 3

Ação

temporária Existente Ação temporária

Ação

temporária inexistente Ação temporária

Ação temporária 11.4)

Parcerias c/

outros setores2 e 3

Ação

temporária Existente Ação

temporária inexistente inexistente inexistente Existente 11.5) Fluxo

informação PrefM 2 e 3

Existe com

ressalvas Existente Existente Existente inexistente Existe com

ressalvas Existente Legenda: Comparesolurb = Consórcio Intermunicipal para Gestão Integrada e Manejo Diferenciado de Resíduos Sólidos; Ecotres = Consórcio Público Intermunicipal de Tratamento de Resíduos Sólidos; Condapav = Consórcio Público para o Desenvolvimento da Micro Região do Alto Paraopeba e Vertentes.

Muito Favorável Favorável Pouco Favorável Desfavorável

Todavia, há que se considerar que nenhum dos municípios possui órgão exclusivo para a gestão e o gerenciamento dos RS, estando geralmente vinculados à Secretaria de Obras ou de Meio Ambiente, que também acumulam outras responsabilidades para além do manejo de RS e, na maioria das vezes, se apresentam com o quadro reduzido de funcionários.

Nesse contexto, além da terceirização dos serviços, como já discutido, a figura do consórcio intermunicipal pode contribuir ainda no aspecto do suprimento das carências da estrutura organizacional das Prefeituras Municipais, uma vez que, com a realização conjunta de ações, possibilita a racionalização de equipamentos e a contratação de pessoal, entre outras vantagens.

Como já relatado em item anterior, neste estudo, os municípios de Congonhas, Conselheiro Lafaiete, e Ouro Branco fazem parte do ECOTRES e Cristiano Otoni participa, como município sede, do CONDAPAV. Ambos os consórcios estão em operação (jul/2016) e atuam exclusivamente no gerenciamento de RSU. Também constituído com a finalidade de implantar e operar aterro sanitário destinado à disposição correta dos RSD, o COMPARESOLURB tem Brumadinho e Mário Campos como integrantes dentre seus nove municípios, contudo, desde a subscrição do Protocolo de Intenções, em 2009, não houve quaisquer ações no sentido de construir o aterro sanitário regional (PMB, 2009).

Segundo Faria (2008), os consórcios têm sido apontados como um instrumento que permite ganhos de escala nas políticas públicas, além de ser um modelo gerencial que viabiliza a gestão microrregional.

Entretanto, a avaliação dos municípios integrantes dos citados Consórcios, quando realmente operante, como é o caso do ECOTRES e CONDAPAV, mostra que a atuação limita-se à disposição final dos RSU, corroborando a tendência de maiores investimentos na última etapa do gerenciamento de RSU em detrimento das etapas de montante. Novamente, tal análise também ressalta a tendência negativa do município de Congonhas, que mesmo participando do ECOTRES ainda realiza disposição final dos seus RSU em área inadequada.

Fazendo um comparativo dos consorciamentos da amostra estudada com os ATOs e seus agrupamentos sugeridos no Plano de Regionalização para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Urbanos (PRGIRS), conforme Capítulo 3, e lembrando que, os ATOs foram formados a partir de critérios técnicos, com base nos dados ambientais, socioeconômicos, de transporte e logística e de resíduos, verificou-se que:

 a formação do CONDAPAV está compatível com o agrupamento sugerido pelo PRGIRS, denominado “167”, reunindo os municípios Caranaíba, Casa Grande, Cristiano Otoni, Queluzito e Santana dos Montes, inseridos no ATO “10”, com cidade-polo Conselheiro Lafaiete. O Consórcio, por sua vez, conta também com o município de Caranaíba;

 o ECOTRES, formado por Congonhas, Conselheiro Lafaiete e Ouro Branco estão insertos no agrupamento “248” e ATO “10” que, segundo o PRGIRS, considera viável a inserção do município de Itaverava;

 para os outros municípios da amostra que não participam efetivamente de consórcios de RS (Brumadinho, Mário Campos e Esmeraldas), o PRGIRS sugere a seguinte formação: i) agrupamento “178”: Brumadinho, Ibirité, Mário Campos e Sarzedo; ii) agrupamento

“229”: Belo Horizonte, Contagem, Esmeraldas e Ribeirão das Neves. Ambos os agrupamentos são pertencentes ao ATO “25”, com cidade-polo Belo Horizonte.

Em relação à avaliação quanto aos Conselhos Municipais de Meio Ambiente (CODEMAs) observou-se uma tendência positiva na verificação das legislações de criação, bem como suas competências, que conferem atribuições consultivas e deliberativas. Quanto à atuação desses Conselhos, apenas o município de Esmeraldas informou que não houve formação dos membros e nem tampouco houve qualquer atuação do Conselho, muito embora a lei de criação tenha sido promulgada no ano de 2008.

Os Conselhos Municipais de Meio Ambiente são órgãos criados para a discussão de questões ambientais envolvendo os órgãos públicos, os setores empresariais e políticos e as organizações da sociedade civil. Trata-se de um de um instrumento de exercício da democracia, educação para a cidadania e convívio entre setores da sociedade com interesses diferentes (MMA/CONAMA, 2016). Nesse sentido, Assis (2007) afirma que o fato de existirem legalmente não deve se limitar apenas às exigências burocráticas: deve também, amplamente, tentar atender às expectativas reais.

Em vista disso, Philippi Jr et al.(2004, 2007) apud Nunes et al. (2012) destacam que “esforços devem ser realizados para a construção e consolidação de espaços de atuação da sociedade, associados a atividades de educação ambiental e à articulação política dos municípios entre si e com o Estado”. Corroborando essa afirmação, a PERS, em seu artigo 9º, atribui ao poder público o fomento à implementação de programas de educação ambiental, com enfoque nos princípios estabelecidos na lei em questão, devendo observar, como uma de suas diretrizes (art.7º), a participação da sociedade no planejamento, na formulação e na implementação das políticas públicas, bem como na regulação, na fiscalização, na avaliação e na prestação de serviços, por meio das instâncias de controle social.

Todavia, quanto aos indicadores que avaliam a participação da sociedade, a educação ambiental e a mobilização social, nota-se que, quando existente, na maioria dos municípios

são praticadas na forma de ações temporárias e geralmente em eventos específicos, como por exemplo nas comemorações do dia do meio ambiente.

Em estudo sobre avaliação de programas de coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos em 70 municípios de Minas Gerais, realizado pela FEAM em 2014, os autores observaram que em conversas introdutórias com alguns dos representantes dos gestores públicos, passou-se a falsa ideia de que a colaboração da população para segregar em casa passava apenas pela motivação pessoal e, muitas vezes, que a falta de colaboração estaria associada à oposição política dessa população ao mandato vigente. Todavia, neste mesmo estudo, em questionários de percepção da população foi revelado que para a melhoria nos serviços de coleta seletiva se fazem necessárias divulgação, educação e informação, denotando a falha das administrações municipais em seus programas de comunicação social (FEAM, 2014).

Por outro lado, cabe afirmar que não basta ter consciência ambiental ou conhecimentos necessários para compreender e transformar a realidade socioambiental. Faz-se necessário, sobremaneira, a mobilização da sociedade em torno das questões ambientais, ação dificultada pela desconexão que se proporciona à temática ambiental em relação aos demais problemas cotidianos, o que se deve à internalização e reprodução de uma abordagem reducionista de meio ambiente (restrita aos seus aspectos biológicos), que aliena e forja uma falsa consciência ambiental, que desconsidera o trinômio homem-sociedade-meio ambiente em uma estrutura social fundada no trabalho alienado e na subordinação dos seres humanos e da natureza ao processo de acumulação capitalista (NOVICKI e SOUZA, 2010).

Dessa forma, vale ressaltar que a mobilização social não deve ficar limitada às ações da administração municipal, devendo ser estendida a todos os atores envolvidos nas questões ambientais.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS P (páginas 148-152)