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Dimensões estruturais da modernidade projetadas para a pós-modernidade

2 O DESENVOLVIMENTO E AMBIENTALISMO NO PASSADO BRASILEIRO E NO

3.3 Dimensões estruturais da modernidade projetadas para a pós-modernidade

Seja pela simplificação excessiva, seja pela compreensão de certos elementos ou conceitos complexos não em si mesmos, mas referidos ou substituídos por outros, o reducionismo acaba povoando corriqueiramente não só as teorias ou perspectivas sociológicas, mas também ideologias.

Embora essa última não constitua objeto desta decomposição, vale também sua citação para fazer demonstrar como o ser humano, na sua vã tentativa de enredar a realidade que o cerca, assim o faz para lograr obter um maior controle do seu entorno. Controle ilusório, porém tranquilizador, servindo o reducionismo de ferramenta para isso. Giddens (1991, p. 61), com precisão, crítica tal postura ao se dirigir no que denomina de dimensões estruturais

da modernidade 31, alertando que a busca de apenas um nexo institucional dominante nas sociedades modernas é uma tarefa predestinada ao fracasso.

Tal entendimento deve ser acompanhado ainda mais quando reiterado o fator complexidade que permeia tanto a sociedade moderna como pós-moderna, nesta de forma cada vez mais intensa. Porém, e mais do que adotar os feixes organizacionais da modernidade ilustrada por Giddens, de suma importância suas abordagens individualizadas com vistas à pós-modernidade, pois, e como visto no tópico anterior, ainda que esta nova fase da ordem social esteja a trilhar seu próprio caminho, a revisita de conceitos do período anterior para o atual é constante.

Nessa linha, a modernidade teria assento com bases refletidas no capitalismo, industrialismo, na vigilância e no poder militar, sem olvidar de suas conexões e subconexões. (GIDDENS, 1991, p. 65). A revisão ao menos das instituições modernas constitui ditame para a mais adequada análise do quadro pós-modernista, admitida uma prolongação transformada daquela mesmo que pelas suas acentuações.

O capitalismo, a iniciar, atende para o mais recente padrão de associativismo na História da humanidade, residindo sua força de expansão na economia e não na política. Tem origem remota na própria relação de troca de bens entre os homens no decorrer do tempo, passando pela compatibilização do comércio reincitado pela própria Igreja medieval ocidental, por ocasião do Concílio de Latrão de 1179 e sua “trégua de Deus” (FORQUIN, 1997, p. 267); pelo renascimento comercial e urbano europeu capitaneado pela nova classe da época, a burguesa, bem como pelo mercantilismo e sua acumulação primitiva de capital nos meados do século XV ao final do XVIII. Encontra recente referência no liberalismo econômico tecido como uma construção mental no final do século XVIII e implementação radical, por meio das revoluções industriais no decorrer do final do também século XVIII ao início do século XX. (COSTA; MELLO, 1991, p. 165).

Atualmente se expressa no subsistema econômico, presente no social, de produção de mercadorias lastrado na relação entre propriedade privada do capital e trabalho assalariado sem posse de propriedade, visando ao lucro, num sistema de preços a servir de sinais para investidores, produtores, consumidores e até para o Estado conforme posições. A desigualdade é inerente ao capitalismo.

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Giddens (1991, p. 61), na verdade, utiliza o termo dimensões institucionais da modernidade. A substituição deliberada de institucionais por estruturais no presente trabalho prestigia o significado que esta última traz consigo: aquilo que dá forma, que é fundamental, intrínseco.

O industrialismo, por sua vez, distante da doutrina a considerar a indústria como o fim cerne da sociedade, vincula o uso de fontes inanimadas de energia material ao próprio processo de produção de bens, centrado na maquinaria, aqui condizente à coordenação da atividade humana, às máquinas propriamente ditas, as aplicações e produções de matéria- prima e bens, num cenário de alta tecnologia.

A vigilância perfila como o outro instituto basilar da modernidade, concentrando a coordenação administrativa direta ou indireta – informação – do Estado em relação aos seus súditos.

Por fim, o monopólio da violência, por meio dos controles da guerra, policial ou de segurança e, principalmente, a industrialização da primeira, presta solidez ao Estado moderno. (GIDDENS, 1991, p. 63).

No concernente às conexões e subconexões, reservar-se-á tal matéria para outra ocasião, a fim de se evitar a perda do foco, contudo salientando sua absoluta presença naquilo que constitui o cenário da modernidade, sem as quais outras posições distintas à atual ordem social, ainda que somente em parte, poderiam ter surgido.

Exceção, no entanto, se faz para a questão do capitalismo, ora num subtipo específico emoldurado como sociedades capitalistas por Giddens (1991, p. 62). Talvez o seu maior recurso de perpetuação no tempo e espaço se dê em virtude da sua índole propagadora de relações além das fronteiras do Estado de origem, isto é, de vocação internacional. Estado este que passa a sofrer dependência da própria sistemática de acumulação de capital, exercendo aí um controle incompleto, mas sensível à ratificação na prática do modelo de desigualdade social, da inalteração da mercantilização da força de trabalho, do industrialismo baseado na tecnologia sempre inovadora e agressora ao ambiente, a ponto de desenvolver e manter o poder de vigilância e militar, de maneira que o entrelaçamento desses apontamentos venha a constituir uma espécie de simbiose.

Já na perspectiva de projeção para o pós-modernismo, a tendência predominante que compartilha com todos os institutos da modernidade é a da expansão no tempo e espaço, verdadeiramente globalizante, marca de sucesso nesta nova fase, podendo se verificar o sistema de autorregulação entre estes, atualmente em constante ajuste, como a exemplificar nos poderes de um Estado e seu “sistema de freios e contrapesos”, só que inerente ao silêncio da forma social artificial em vigência.

A globalização representa sim uma intensificação das relações sociais como preconiza Giddens (1991, p. 69), porém no pós-modernismo esta também se presta para dar sustentação a uma volatilidade e indeterminação sem precedentes, de forma a se sobrepor ao

fator segurança e à ideia de progresso (GRAY, 2009, p. 275), o que nem a ciência comprovada logra mais retroceder, estando mais para causadora do que para força reversa. (TEIXEIRA, 2005, p. 15).

Cada vez mais ações ou omissões, independentemente dos níveis em que forem produzidas, não vêm mais espelhando consequências tidas como habituais, naturais, numa fuga às expectativas de reação de outrora, o que vale para as atmosferas internacionais, nacionais, regionais, locais, entre pessoas e íntimas. É o que vários, inclusive Teixeira (2005, p. 80), denominam de crise proveniente da quebra unitária da história.