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Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais

2.1 Direitos Fundamentais

2.1.6 Dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais

Em se tratando de uma análise acerca dos direitos fundamentais, se mostra relevante analisar o que se entende por suas dimensões objetiva e subjetiva, dimensões que, se inter-relacionam e se complementam.120

A questão das dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais foi citada na Corte Federal Constitucional alemã em 1958, e através do caso Lüth, já mencionava-se que

       116 Ibid., p. 251. 117 Ibid., p. 252. 118 ANDRADE, op cit., p. 79. 119 Ibid., p. 79. 120

os direitos fundamentais constituem-se não só como um direito subjetivo dos indivíduos, mas também como decisões constitucionais objetivas, eficazes perante todo o ordenamento jurídico e vinculativas para os três poderes.121

Em síntese, a dimensão subjetiva entende os direitos fundamentais como capazes de reger efetivamente relações jurídicas, enquanto a dimensão objetiva considera os direitos fundamentais como princípios básicos da ordem constitucional. Neste sentido:

Enfatizou-se, até aqui, a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais, que é a mais afeiçoada às suas origens históricas e às suas finalidades mais elementares. A dimensão subjetiva dos direitos fundamentais corresponde à característica desses direitos de, em maior ou em menor escala, ensejarem uma pretensão a que se adote um dado comportamento ou então essa dimensão se expressa no poder da vontade em produzir efeitos sobre certa relação jurídica.122

A dimensão objetiva resulta do significado dos direitos fundamentais como princípios básicos da ordem constitucional. Os direitos fundamentais participam da essência do Estado de Direito democrático, operando como limite do poder e como diretriz para a sua ação. As constituições democráticas assumem um sistema de valores que os direitos fundamentais revelam e positivam. Esses fenômenos fazem com que os direitos fundamentais influam sobre todo o ordenamento jurídico, servindo de norte para a ação de todos os poderes constituídos.123

A citada dimensão objetiva acarretaria em situações vantajosas no campo dos direitos fundamentais, na medida em que estes perderiam sua concepção individualista, bem como passariam a ser mais bem tutelados, pois, sendo entendidos como princípios, passam a ter um valor em si mesmo.124

A dimensão objetiva acaba por impor ao Estado um dever de proteção em face de qualquer desrespeito aos direitos fundamentais, seja provocado pelo Estado ou mesmo por particulares. Verifica-se, desta forma, que esta concepção contempla não só um direito à prestação dos direitos fundamentais como um direito de defesa.125

Com relação à dimensão objetiva, esta não deixa de se caracterizar por Ingo Wolfgang Sarlet126 como uma eficácia dirigente e irradiante, configurando-se como uma imposição e um dever aos entes do Estado para que sejam efetivados os direitos fundamentais, além de que tal dimensão, acaba proporcionando um referencial ao controle de constitucionalidade e um referencial para a interpretação e aplicação das normas infraconstitucionais. Ademais, a perspectiva objetiva dos direitos fundamentais também estabelece referencial para a constituição de organizações estatais e seus procedimentos.127

      

121

SARLET, 2009a, p. 143. 122

MENDES et al., op cit., p. 265. 123 Ibid., p. 266. 124 Ibid., p. 266. 125 Ibid., p. 267. 126 SARLET, 2009a, p. 146. 127 Ibid., p. 150.

Sobre a dupla dimensão dos direitos fundamentais, José Carlos Vieira de Andrade128 também se manifesta, apontando a existência tanto de uma dimensão subjetiva, quanto de uma dimensão objetiva, não se limitando à concepção de que, por se constituírem os direitos fundamentais em direitos subjetivos, estes estariam inseridos em um direito objetivo.

No que se refere à dimensão subjetiva esta significa que direitos fundamentais correspondem a posições jurídicas individuais, ou seja, direitos subjetivos fundamentais revestidos de individualidade, universalidade e fundamentalidade.129

São individuais, na medida em que os direitos fundamentais podem ser individualizados aos seus titulares, isto em regra, uma vez que se vislumbram os direitos de exercício coletivo que são exercitados por um grupo de indivíduos.130 A marca da universalidade se mostra pelo fato de que os direitos fundamentais são inerentes a todos os indivíduos simplesmente por serem humanos.131 Já a característica da fundamentalidade toca na sua vertente substancial de proteção da dignidade humana.132

A dimensão subjetiva, para José Carlos Vieira de Andrade133, implica em um aspecto funcional, quando busca a satisfação dos titulares de direitos fundamentais, por outro lado ela carrega um aspecto estrutural, posto que os direitos fundamentais visam proteger um bem ou espaço de autodeterminação individual cujas consequências implicam na possibilidade de exigir comportamentos e na produção automática de efeitos jurídicos de determinados preceitos.

Para José Carlos Vieira de Andrade134 a dimensão objetiva se constituiria em uma propagadora de efeitos jurídicos, complementando a dimensão subjetiva, uma vez que os preceitos constitucionais produzem efeitos que vão além de posições jurídicas subjetivas e reconhecimento de direitos individuais, e cuja função acarreta uma maior carga de imperatividade aos direitos fundamentais e um maior poder de influência dos preceitos fundamentais na produção normativa e na sociedade.

Em síntese, a dimensão subjetiva dos direitos fundamentais é entendida como uma dimensão principal a que corresponde todas as faculdades referentes a direitos individuais, e a dimensão objetiva corresponde a uma dimensão normativa de garantias ou deveres que não se

       128 ANDRADE, op cit., p. 108. 129 Ibid., p. 111. 130 Ibid., p. 116. 131 Ibid., p. 127. 132 Ibid., p. 132. 133 Ibid., p. 112. 134 Ibid., p. 109.

equipare a direitos individuais.135

Para Ingo Wolfgang Sarlet136, a dimensão subjetiva possibilita ao titular de determinado direito fundamental exigi-lo judicialmente, na medida em que os indivíduos possuem os direitos fundamentais como direitos subjetivos, ressaltando que estes mostram-se exigíveis em diferentes graus.