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Há relação direta e hierárquica entre o ecossistema e as comu- nidades e entre a população da biota e os ecossistemas. Essa interação de forças provoca respostas em plantas e animais que, por sua vez, configuram um certo número de padrões definíveis em cada nível da biota, e pode causar processos de sucessão que poderão modificar o padrão da paisagem, como ressalta Vieira e Ribeiro (1999, p. 130). Essa dinâmica focaliza o destino das espécies, podendo levar ao risco de sua extinção, provocada pela exploração desordenada feita pelo homem, e até afetar as dimensões ecológicas do ecossistema.

Vieira e Andrés Ribeiro (1999) argumentam que nada é por acaso, pois há uma dependência direta dos ecossistemas com os recursos fornecidos pela paisagem; quando essas forças antrópicas atuam sobre o meio ambiente, contribuem para influenciar os processos ecológicos de um ecossistema.

O impacto ambiental provocado pelo homem com a exploração e o uso da terra, resultante de desmatamento, construção de estradas, aração da terra para o plantio e pastagem, uso de agrotóxico e ingresso de espécies exóticas destrói ou modifica hábitats, numa verdadeira devastação da natureza.

A dinâmica dos ecossistemas tem seu próprio ciclo vital. Por isso, é preciso reconhecer que o chamado desenvolvimento trouxe o machado,

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a serra elétrica, o arado e uma série de outros equipamentos agrícolas a serviço do homem, o qual vem substituindo as matas nativas por soja, milho e capim para o pastoreio do gado, modificando completamente o ecossistema.

A impressão que se tem é a de que o homem se apropriou da natureza. A transformação na paisagem é uma questão de tempo, gerando os perigos da fragmentação: a desconectividade. Com isso, vêm sendo criados ecossistemas novos, com as grandes extensões de áreas com plantios de monoculturas e pastos para o gado bovino, que estão ainda por ser estudadas. É como se as relações ambientais não necessitassem ser consideradas de forma integrada.

A magnitude do impacto humano decorrente do uso do espaço regional tem relação estreita com o ecossistema, induzindo a processos interativos e de sucessão que modificam a paisagem. Do ponto de vista ambiental, esses processos influenciam e afetam o solo, a flora, a fauna, a hidrografia e o ar e acarretam nível insatisfatório ou de insustentabili- dade das espécies da fauna e flora, levando à sua migração ou extinção.

Esse fenômeno vem acontecendo na maioria dos biomas e ecos- sistemas brasileiros. Todavia, estamos longe de oferecer uma proposta concreta para solucionar essa problemática ambiental por se tratar de comunidades e ecossistemas que exigem um estoque de informações consistentes e especializadas.

O impacto humano no ecossistema é cada vez mais abrangente e de elevada magnitude, em face dos complexos problemas ambientais daí decorrentes. A verdade é que os ambientalistas estão ainda sem uma definição concreta sobre como resolver a problemática ambiental.

O que se observa são ideias inovadoras baseadas em tentativas de acertos para conservar e preservar a biodiversidade nos ecossistemas dos biomas brasileiros. Porém, ainda não se tem uma definição consolidada sobre gestão, nem resultados concretos da implantação de corredores ecológicos. Neste livro, serão apresentadas algumas sugestões também de gestão ambiental por resultados para corredores ecológicos.

Projetos voltados para a conservação e preservação dos recursos naturais são elaborados todos os anos. São projetos que avaliam as situações, interpretam nível de conservação dos recursos naturais e sugerem formas diversificadas de usos do espaço e a gestão de ditos

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recursos, além de predizerem formas racionais de evitar impactos sobre a paisagem. Um exemplo disso foi o projeto denominado Programa- Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PP-G7), lançado no início da década de 1990, como veremos adiante.

Além dos projetos do PP-G7, sob a responsabilidade do MMA, outros vêm sendo implementados pela Coordenação Geral de Ecossistemas, que vêm definindo áreas e realizando workshops nas diversas regiões, com a finalidade de discutir propostas e legitimar o engajamento do Estado, das organizações não governamentais, do cidadão e da sociedade, no que concerne à concepção e implantação dos corredores ecológicos.

Não obstante, ainda temos um longo caminho a percorrer para tornar essa ideia mais profunda e permanente. Tudo pela conservação ambiental e da biodiversidade. O que não falta nos órgãos ambientais são projetos, fundamentados em leis, que objetivam subsidiar e estabelecer estratégias de gestão para a conservação dos recursos naturais. Contudo, o fato é que não são implementados tais projetos, alegando-se falta de recursos financeiros, quando, na verdade, o que vimos são fugas dos parceiros potenciais diante das responsabilidades assumidas na consolidação de projetos.

Não cabe aqui apresentar uma lista dos projetos e atividades não concluídos ou implementados, mas apresentar uma síntese dos avanços e resultados na temática ambiental neste novo milênio.

A urgência em agir contra os crimes ambientais e oferecer alternativas para salvaguardar o meio ambiente dos biomas e ecos- sistemas brasileiros têm levado um número cada vez mais crescente de estudiosos a se reunir para discutir as origens dos problemas e as recomendações de soluções que pareçam mais viáveis para harmonizar a diversidade de ambientes. Mas a problemática ambiental é cada vez mais reconstruída, formando novos cenários de degradação e ameaças de risco de desertificação, especialmente no bioma Caatinga e Campos Sulinos. É cada vez mais frequente a constatação de poluição e morte de rios que até há pouco tempo eram perenes.

Os corredores ecológicos representam justamente uma dessas linhas de argumentação de que a conservação dos recursos naturais não deve se limitar somente aos espaços geográficos das unidades de

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conservação, como “ilhas verdes” isoladas do resto do ecossistema local, sem uma ligação com a outra parte das áreas naturais. A preservação e a conservação da biodiversidade requerem ação integrada que leve em consideração as áreas distintas dos ecossistemas, tendo-se uma visão do todo.

Somente com esta visão do todo pode-se confrontar as ameaças ambientais com as crises (de energia, poluição, camada de ozônio, enchentes, insuficiência de água potável para o consumo humano) por que passam muitos países.

No início da década de 1990, foi lançada a primeira sementinha da concepção dos corredores ecológicos, por meio do Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PP-G7), para buscar formas de conservar as florestas tropicais da Amazônia e da Mata Atlântica. O programa PP-G7 foi proposto na reunião do Grupo dos Sete países industrializados – G7, em Houston, Texas, em 1990, sendo aprovado pelo G7 e pela Comissão Europeia, em dezembro de 1991. Os objetivos do PP-G7 foram:

a) demonstrar que o desenvolvimento econômico sustentável e a conservação das florestas podiam ser alcançados simulta- neamente;

b) preservar a biodiversidade das florestas tropicais;

c) reduzir a emissão global de gases que produzem efeito estufa e estabelecer um exemplo de cooperação internacional entre países, para a solução de problemas ambientais de escala global.

Os esforços desse programa foram concentrados na Floresta Amazônica, enquanto a participação da Mata Atlântica restringiu-se ao Projeto Demonstrativo (PDA). Por meio do PDA, foram apoiados 33 projetos em nove estados da Federação, nas áreas de sistemas de preservação ambiental, de manejo florestal e agroflorestal e de recuperação ambiental.

Como iniciativa de ampliar a participação da Mata Atlântica no PP- G7, em 1998 foi elaborado o Plano de Ação da Mata Atlântica,aprovado em 1999, como subsídio para a elaboração do subprograma Mata Atlântica.

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A fim de viabilizar a elaboração do referido subprograma, foi criado o Grupo de Trabalho da Mata Atlântica, no âmbito do Ministério do Meio Ambiente (MMA), composto por uma coordenação executiva e um grupo assessor, dentro desse Ministério. Previa-se que o trabalho seria realizado em parceria com os vários setores da sociedade que trabalhavam com esse bioma, os 17 estados nele inseridos, órgãos governamentais, organizações não governamentais e setor privado.

Em julho de 2000, foi realizado o I Seminário do Subprograma Mata Atlântica do PP-G7, como primeira fase de um processo de consul- ta visando à elaboração desse subprograma.

Embora o PP-G7 tenha interrompido as ações previstas de implan- tação dos corredores ecológicos, em razão da não renovação do acordo com o G7, a semente lançada foi germinada, e o Ibama aproveitou essa experiência para trabalhar a temática de corredores ecológicos nos biomas e ecossistemas brasileiros, como veremos adiante.

Confrontar o meio ambiente com as crises atuais é válido, desde que se mobilizem as pesquisas, as intervenções setoriais e os processos de gestão e decisão política para criar alternativas de busca de soluções para as situações emergentes cujo enfoque seja a percepção das necessidades dos usuários e clientes dos recursos naturais.

Essas seriam as premissas básicas para se alcançar o desen- volvimento sustentável, à luz de um plano de utilização que impusesse a convergência de todas as forças do Estado, das organizações não governamentais, do cidadão comum e da sociedade, por meio das ciências e técnicas associadas à educação ambiental e justiça.