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A distribuição da MO sedimentar ao longo da Bacia de Campos (20-24º S; 39-42º W), margem continental sul-sudeste do Brasil, decorre do complexo sistema hidrodinâmico existente na região, dominada pelo fluxo da Corrente do Brasil, que transporta do norte ao sul águas quentes e oligotróficas e caracteriza baixos níveis de produção primária fitoplanctônica marinha na coluna d’água na altura do talude continental. Os componentes desse sistema são representados pelos seguintes fatores, segundo estudos anteriores (CALADO et al., 2010; MAHIQUES et al., 2004; MARONE et al., 2010; ROSSI- WONGTSCHOWSKI; MADUREIRA, 2006; SILVEIRA et al., 2008; BERNARDES et al., 2012):

ocorrência de vórtices e meandros na Corrente do Brasil e os efeitos associados ao transporte de materiais e de massas d’água na margem continental;

quebra de plataforma da ACAS (Água Central do Atlântico Sul) e ressurgência costeira, próximo a Cabo Frio e do Cabo de São Tomé; intrusão da ACAS na base da zona fótica em escala regional.

No que diz respeito à ressurgência na região, seus eventos são mais freqüentes na primavera e verão, com maior intensidade registrada na altura de Cabo Frio (23º S), ocorrentes tanto próximo à costa como na quebra de plataforma, da Água Central do Atlântico Sul, caracterizada por baixas temperaturas e altas concentrações de nutrientes. Sua influência se estende por centenas de quilômetros na plataforma (LORENZZETTI, GAETA, 1996; CAMPOS et al., 2000; SILVEIRA et al., 2000; BERNARDES et al., 2012), com efeito significativo sobre a produção pelágica e bentônica em escalas espacial e temporal (SUMIDA et al., 2005; DE LEO; PIRES-VANIN, 2006; GUENTHER et al., 2008; MCMANUS et al., 2007; YOSHINAGA et al., 2008; CORDEIRO, 2011; GIANI et al., 2012).

A grande variabilidade hidrodinâmica na região ocorre em função do regime de ventos e das condições climáticas, como a passagem de sistemas frontais nestes locais.

Outro importante fator a ser considerado nos processos de formação e dinâmica sedimentar da bacia de Campos são as alterações no nível do mar ao longo dos 12.000 e 14.000 anos. A maior parte dos sedimentos da bacia, na região do talude, assoalho e cânions (isóbatas de 400 a 3000 m), são de formação antiga e pouco trabalhado pelas correntes, seus sedimentos são relictos. Já a plataforma continental (isobátas de 25 a 150 m) é caracterizada por sedimentos modernos derivados do aporte fluvial e estão em constante retrabalhamento, na margem continental são aprisionadas as partículas sedimentares de granulometria mais grosseira, em detrimento aos finos que são transportados ao longo do oceano aberto (MACHADO et al., 2004). Estudos anteriores realizados no nordeste do Brasil indicam uma dinâmica da origem sedimentar similar a encontrada na bacia de Campos (KNOPPERS et al., 2006).

De forma geral, estudos indicam que a MO sedimentar da Bacia de Campos é predominantemente de origem autóctone, com pouca influência de aportes continentais, uma vez que apenas rios de pequeno ou médio porte deságuam nesta região (EKAU; KNOPPERS, 1999).

Entretanto, segundo Souza et al. 2010, através do uso de traçadores radioativos, a distância que a pluma de sedimentos do RPS pode alcançar offshore e sua capacidade de influência corresponde à 32 km da costa, na direção leste, durante a estação chuvosa. Estes estudos determinaram coeficientes de difusão de aproximadamente 30 km2 d-1 durante a estação seca (agosto de 2007) e 67 km2 d-1 para a estação chuvosa (março de 2008). Em relação ao seu alcance, a pluma do rio pode chegar a 16 km em 10 dias durante o período seco, enquanto que, durante a estação chuvosa atinge mesma distância em 6 dias, a uma velocidade que varia de 1,6 a 2,6 km d-1. Outros estudos na mesma região da bacia de Campos, com o uso de sensoriamento remoto, também corroboram com este perfil de distribuição da pluma do RPS (OLIVEIRA et al., 2012).

As amostras coletadas na zona rasa da plataforma, entre as isóbatas de 25 a 50 m, apresentaram as menores áreas superficiais. A plataforma continental é marcada por uma maior heterogeneidade granulométrica e a predominância da participação de grosseiros (areia média e grossa), corroborando com trabalhos anteriores que classificam esta região como tipicamente arenosa (REZENDE et al., 2011).

De forma geral, as maiores áreas superficiais ocorreram na região do talude, principalmente ao norte da bacia de Campos (Figura 24).

Figura 24 - A área superficial (m2 g-1) dos sedimentos das diferentes estações amostradas, considerando-se os distanciamentos da costa.

As estações amostradas foram marcadas por uma correlação positiva significativa entre área superficial e enriquecimento de finos (silte (n = 59; rs =

0,70; p < 0,05), argila (n = 59; rs = 0,71; p < 0,05), principalmente no talude, a

maior área superficial favorece o potencial de adsorção e preservação da MO nestes sedimentos (Figura 25).

Figura 25 - Correlação entre silte+argila e área superficial dos sedimentos superficiais das estações amostradas na bacia de Campos.

As estações amostradas nas zonas rasas da plataforma continental, isóbatas de 25 m a 50 m, com sedimentos predominantemente arenosos foram consideradas litoclásticas (CaCO3 < 30 %), principalmente nas estações E e I

que apresentam ocorrência de bancos de cascalho (CORDEIRO, 2011). Na faixa de transição para o talude, a partir da isóbata de 75 m aumenta-se consideravelmente o teor de carbonato, sendo classificados como sedimentos bioclásticos (CaCO3 > 30 %). A região do talude, cânions e todo transecto A

apresentaram fundo lamoso, com afloramentos rochosos e falhas geológicas nas regiões mais profundas dos transectos do norte da bacia (transetos G, H e I). Os sedimentos do talude e cânions, isóbatas de 400 m a 1.300 m, foram caracterizados como litobioclásticos (30 % < CaCO3 < 50 %) e o assoalho,

isóbatas de 1.900 m a 3.000 m como biolitoclásticos (50 % < CaCO3 < 70 %),

corroborando com estudos anteriores (CORDEIRO, 2011; FIGUEIREDO JR. et al., 2011). 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 5 10 15 20 25 30 Si lt e + A rg ila ( % ) Área Superficial (m2 g-1)

A distribuição de CarbTno talude e cânions, que é predominantemente lamoso, independe dos valores de área superficial (Figura 26).

Figura 26 - Correlação entre carbonato total (%) e área superficial (m2 g-1) na parte superior, seguido abaixo pela correlação carbonato e areia (%) dos sedimentos superficiais das estações amostradas na bacia de Campos.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

0

5

10

15

20

25

30

C a rbT (% ) Área Superficial (m2 g-1)

Plataf orma Talude Assoalho CanyonCânions 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 C a rb T ( % ) Areia (%)

6.2 ORIGEM E DIAGÊNESE DA MATÉRIA ORGÂNICA NA BACIA DE

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