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4 DINÂMICA URBANA: DE ENCONTRO À RELAÇÃO TEMÁTICA

A incorporação de estudos sobre a dinâmica urbana talvez seja um desafio nas diferentes áreas de conhecimento devido a sua amplitude conceitual. As dificuldades de concepções, todavia, têm se superado pela organização do conhecimento e delimitação de elementos congregantes, assim como por recortes específicos que permitam uma análise detalhada sem perda da conexão com as tendências de seus níveis de análise regional, nacional e global (PEREIRA; FURTADO, 2011). Urbanização, reestruturação de cidades, centralidade, reestruturação produtiva, reorganização do espaço, emergência de novas formas espaciais, regionalização, dentre tantas outras temáticas, são recortes feitos pelos estudiosos da dinâmica urbana, que em cada nível e disciplina demonstram suas essencialidades e historicidades.

Sinteticamente, o quadro analítico estudado por alguns autores envolve a dinâmica urbana em termos ocupacionais, setoriais, econômicos, espaciais e sociais, cada qual com seu ponto de vista, caracterização e repercussão sobre as cidades, seus atores e agentes. Do conteúdo organizado por Pereira e Furtado (2011), em pesquisa sobre as dinâmicas urbanas de diversos estados brasileiros, destaco a concepção de dinâmica urbana em associação aos deslocamentos organizacionais que contribuem para marcação dos espaços de atração ou repulsão governamentais. O que quer dizer que algumas tendências, globais e/ou locais, são os principais elementos que contribuem para compreensão das configurações e interações ocasionadas no espaço urbano, como já venho discutindo. Por esse ângulo, o estudo da dinâmica urbana também envolve análises de políticas públicas e diretrizes de serviços urbanos, bem como estudos de alterações estruturais ou paisagísticas e avaliações de suas repercussões na qualidade de vida das pessoas, do ambiente e patrimônio cultural, como o conhecimento urbanístico desenvolvido por Jacobs (2000), relacionado às vertentes da gestão e do planejamento urbano.

No que concerne aos termos da dinâmica urbana e qualidade de vida, Pizzol (2006) confere uma relação entre urbanização e sociedade, cuja vinculação corresponde ao estágio de desenvolvimento da produção, estruturação e organização do espaço, o qual não se faz sem as projeções humanas e ambientais. Para Saldanha (1993), as formas espaciais e ambientais são produzidas pela ação do homem e expressam os interesses das classes dominantes, dos governantes ou de determinado modo de produção, inserido em um modelo de desenvolvimento específico, com maior ou menor envolvimento da população nas decisões. Recordo-me da

função indispensável do espaço na tomada de decisões, que o torna termo suficiente para as disputas de poder (SANTOS, 1988). Nesse sentido e de acordo com Saldanha (1993) e Pizzol (2006), a análise da dinâmica urbana também contempla um entendimento das desigualdades sociais e uma conexão entre poder e administração, uma vez que o organizar-se sempre foi um problema de construir espaços, demarcando porções de território, amontoando pedras com fim simbólico e utilitário, além de ser uma questão de distinguir lugares, valorizando uns e abandonando outros.

O planejamento estratégico, assim, pode ser encarado como o principal instrumento de administração, organização e controle da dinâmica urbana. No bojo das discussões que envolvem o planejamento estratégico da urbes é preciso contornar uma visão crítica sobre a realidade adotada e experimentada pelos diversos atores sociais. De acordo com Dias (2011, p.

2), “pensar o planejamento atual na cidade requer debruçar-se sobre a realidade local dos dias

de hoje, considerando os diversos agentes inseridos na dinâmica urbana”. Uma política urbana, nesse sentido, não deve orientar-se pelos interesses de grupos dominantes ou de pequenas minorias que têm usufruído de algum tipo de poder nos âmbitos dos sistemas sociais. Evidentemente, a questão da atuação do Estado na dinâmica urbana conduz para a relevância de sua responsabilidade, que na prática é claramente negligenciada (DIAS, 2011).

A dinâmica urbana também evidencia temáticas da sociologia e antropologia urbana, enquadradas pela capacidade de geração da cidade; pelas redes de sociabilidades; instituições e equipamentos urbanos, próprios das sociedades contemporâneas; além de debates sobre poder, política e ideologia, práticas culturais, formas de religiosidade; entre outros. A dinâmica urbana nessas vertentes é calcada em raízes históricas e culturais peculiares às mudanças das cidades, que guardam respeito com os aspectos sociais de formação e crescimento, além de funções geográficas e organizacionais, pelas quais, de acordo com Magnani (2003) é possível alcançar algum vislumbre no amplo e vago campo da antropologia das sociedades complexas.

No âmbito geográfico, a dinâmica urbana estuda as cidades e a produção urbana, segundo as dimensões socioambientais, econômicas e políticas do espaço, em uma orientação de análise das suas expansões, configurações e dos modos como as pessoas se agrupam segundo determinadas lógicas. Segundo Carlos (2006), os estudos sobre a dinâmica urbana em uma perspectiva geográfica, pressupõem reflexão sobre o movimento social e histórico enquanto possibilidade de construção real e continuada da cidade. O caminho, portanto

propõe como horizonte a articulação entre teoria – em que se revelam os processos constitutivos da urbanização, isto é, de seu conteúdo num determinado momento da história – e a prática real urbana – como os homens vivem no movimento real de produção da cidade enquanto espaço-tempo da reprodução da sociedade em sua totalidade (CARLOS, 2006, p. 75).

Para a autora, teoria e prática envolvem a questão da articulação dos elementos capazes de constituírem um fundamento para a teoria urbana, sobre a qual se revela os conteúdos do processo de reprodução da cidade fundado na e pela prática social. A abordagem, assim proposta, evoca o pensamento acerca da cidade como projeto emergente de uma prática socioespacial. A análise da dinâmica urbana, entendida pelo exame dos processos constitutivos da cidade, sugere ao pesquisador a investigação dos processos de expansão e constituição da sociedade urbana, o que inclui as contestações e lutas pelo direito à cidade, evidenciado pela perspectiva capitalista de produção e consumo das cidades (CARLOS, 2006).

Dentre as diferentes orientações disciplinares para análise da dinâmica urbana, os estudos organizacionais praticamente se ausentam de suas nuances impressas por uma vertente simbólica ou instrumental. Nesse âmbito, a dinâmica urbana fora vislumbrada nos olhares sobre a organização da cidade (FISCHER, 1997a; FISCHER; et al., 1997b; MAC-ALLISTER, 2004; SARAIVA, 2009; SARAIVA; CARRIERI, 2012) e teorizações sobre o conceito de organização-cidade, pelo qual compreendo, assim como dizem Saraiva e Carrieri (2012), a

dinâmica urbana como construção organizacional social. No estudo desses autores “o conceito

de organização-cidade permite um olhar organizacional à dinâmica urbana, o que abre

possibilidades para observação da vida social organizada” (SARAIVA; CARRIERI, 2012, p.

548). Essa organização constitui-se pelos sujeitos, em nível individual e coletivo, os quais alimentam a dinâmica urbana em suas relações com os lugares e nos lugares da cidade, além de outros tipos de interações, como sistemas culturais, instituições etc.

A noção de vida social organizada11 vem sendo desenvolvida nos estudos organizacionais a

partir de debates que buscam apontá-la como desafio frente aos discursos reforçados pelo gerencialismo presente no arcabouço da teoria organizacional. Seu escopo considera as práticas dos sujeitos inseridos em organizações, assim como práticas de indivíduos contextualizados na vida social organizada. Esse eixo permite reflexões concernentes à prática cotidiana de pessoas

11 Termo discutido nas instâncias dos estudos organizacionais, apresentado oficialmente no Congresso Brasileiro de

Estudos Organizacionais, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Organizacionais, na cidade de Fortaleza/CE, em novembro de 2013.

e grupos que, de certo modo, não são focalizados pela teoria organizacional hegemônica. Os objetivos de debates concentram-se sobre posicionamentos críticos em relação aos discursos do gerencialismo por meio da diversidade de abordagens teóricas, considerada fundamental para aprofundamento analítico.

Com o olhar teórico direcionado à vida social organizada e os passos materializados no empirismo urbano, encontrei interfaces e relações sustentadas pelo esboço teórico até então traçado. Para melhor compreensão da dinâmica urbana em percepção holística das suas articulações reveladas na prática dos inúmeros indivíduos, grupos, lugares e da cidade como um todo, proponho, então, uma análise interdependente das temáticas e distancio-me de suas autossuficiências, sejam em quaisquer formas de conhecimento ou correntes de pensamento teórico. Nesse sentido, a dinâmica que se tem como referência diz respeito a uma dimensão abstrata, que se concretiza na cidade e seus muitos lugares; também se relaciona às unidades e aos arranjos organizacionais de diversos indivíduos e grupos; e ainda, concerne às práticas organizativas, formais e informais, realizadas em cooperação e conflito.

A concepção urbana que se tem em vista refere-se às características das cidades contemporâneas, suas formas, sistemas e estilos de vida. A dinâmica urbana, assim, não se faz perceber somente no concreto em si, mas no simbolismo dimanantes das subjetivações, as quais existem como força e vida não impeditiva de reinvenções da cidade e do cotidiano. Não está, portanto, somente no planejamento estratégico e muitas vezes se faz nas necessidades diárias que, direta ou indiretamente, subvertem e reformulam os modelos de gestão da cidade. Não se refere ao o quê, mas a como os indivíduos e grupos, vislumbrados como atores e/ou agentes sociourbanos, se organizam no espaço urbano. Por isso trata do universo simbólico da cidade

e, mais especificamente, concerne na interpretação de unidades, arranjos e práticas organizativas de indivíduos e grupos em suas diversas interações, subjetivas e objetivas, nos lugares e, do mesmo modo, com os lugares da cidade.

As práticas organizativas sugerem uma análise dos arranjos e padrões formais de organização e planejamento urbano, assim como um enfoque nos arranjos e modos informais de pensamento e ação sobre a cidade. Além disso, dirige-se sobre os variados elementos citadinos; aos sistemas e lógicas presentes e orientadores da dinâmica urbana, com suas tendências ideológicas, políticas, econômicas, culturais, participativas, cooperativas, competitivas, caóticas; e, sobretudo, às atuações e representações dos atores e agentes sociourbanos em ações individuais,

movimentos coletivos e instituições. Desse modo, apresento uma visão particular para a concepção de dinâmica urbana, que foge das teorizações sobre crescimento populacional e ocupações habitacionais, e busca o que mais se aproxima do que fora indicado por Magnani (2002, p. 18, 25) em seus postulados sobre uma visão da urbes “de perto e de dentro”12.

[...] o que se propõe é um olhar de perto e de dentro, mas a partir dos arranjos dos próprios atores sociais, ou seja, das formas por meio das quais eles se avêm para transitar pela cidade, usufruir seus serviços, utilizar seus equipamentos, estabelecer encontros e trocas nas mais diferentes esferas – religiosidade, trabalho, lazer, cultura, participação política ou associativa etc. [...] a maioria dos estudos que classifico como olhar de fora e de longe dá pouca relevância àqueles atores sociais responsáveis pela trama que sustenta a dinâmica urbana; quando aparecem, são vistos através do prisma da fragmentação, individualizados e atomizados no cenário impessoal da metrópole. Entretanto, contrariamente às visões que privilegiam, na análise da cidade, as forças econômicas, a lógica de mercado, as decisões dos investidores e planejadores, proponho partir daqueles atores sociais não como elementos isolados, dispersos e submetidos a uma inevitável massificação, mas que por meio do uso vernacular da cidade (do espaço, dos equipamentos, das instituições) em esferas do trabalho, religiosidade, lazer, cultura, estratégias de sobrevivência, são os responsáveis por sua dinâmica cotidiana. Postulo partir dos atores sociais em seus múltiplos, diferentes e criativos arranjos coletivos: seu comportamento, na paisagem da cidade, não é errático mas apresenta padrões. [...] Trata-se de uma primeira aproximação à complexidade da dinâmica urbana contemporânea: nesse plano, a unidade de análise da antropologia urbana seria constituída pelas diferentes práticas e não pela cidade como uma totalidade ou uma forma específica de assentamento, configurando o que se entende antes por antropologia na cidade e não – ao menos não ainda – como uma antropologia da cidade.

A compreensão do autor acerca de uma análise da cidade encontra-se no cerne das práticas subjetivas e objetivas no cotidiano, segundo a formação de variados arranjos coletivos. Os arranjos nessa concepção refletem as interações entre os atores sociais e são denominados por Magnani (2002) de circuitos13. Essa categoria de análise representa um modo de captação de um regime de trocas e encontros no contexto mais amplo e diversificado da cidade. Na

concepção da dinâmica urbana analisada “de perto e de dentro”, tais arranjos se integram à

dinâmica cultural e às formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas,

12 A noção proposta pelo autor diz respeito à operacionalização de uma etnografia urbana. Embora esse não tenha sido

o percurso metodológico traçado, a noção na vertente da antropologia urbana se aplica ao presente estudo, ainda que por sua compreensão teórico-metodológica. Sobretudo, a adoção dessa concepção teve como objetivo a elaboração de um esquema ou síntese teórica-empírica do que fora problematizado acerca da dinâmica urbana conexa ao circuito da pichação em Belo Horizonte.

13 Aproprio-me dessa noção ou, talvez, mais do termo, para referenciar o circuito conexo à pichação em Belo Horizonte.

Diferentemente do que indica o autor sobre esse termo, o circuito que se pretendeu caracterizar tem a pichação como prática combatida e defendida por indivíduos e grupos, por meio de instituições, integrações e assimilações. Não há nenhuma indicação teórica ou empírica que adote essa compreensão para a pichação belo horizontina. De certo modo, o circuito é apreendido a partir do olhar para urbes, que inicialmente foi orientado pelo programa Movimento Respeito por BH, posteriormente seguiu agregado à apreensão de outros vínculos e articulações decorrentes dos praticantes da pichação.

considerando que essas dispõem de uma infraestrutura peculiar, equalizada globalmente; e de elementos que lhe permitem certa diferenciação, tais como suas singularidades locais.

A nostalgia entre a rua e a calçada, como discutido por Jacobs (2000), se insere na dinâmica

urbana “de perto e de dentro”. Porém, no exercício das práticas urbanas e dos rituais da vida

pública vale um questionamento sobre outros cenários (MAGNANI, 2002). Nesse sentido, além dos olhares sobre as histórias, memórias, sociabilidades, materialidades e afetividades (PESAVENTO, 2007) presentes na configuração citadina, a dinâmica urbana “de perto e de

dentro” não se priva do olhar estratégico ou competente, “que decide o que é certo e o que é errado, e vai além da perspectiva de poder, que decide o que é conveniente e lucrativo”

(MAGNANI, 2002, p. 15).

Essa visão distanciada do que é esboçado em estudos tradicionais permite a captação de determinados aspectos da dinâmica urbana, os quais passariam despercebidos se enquadrados em outros modos de análise. A estratégia de uma análise diferenciada da dinâmica urbana, segundo o autor “supõe um investimento em ambos os pólos da relação: de um lado, sobre os atores sociais, o grupo e a prática que estão sendo estudados e, de outro, a paisagem em que essa prática se desenvolve, entendida não como mero cenário, mas parte constitutiva do recorte

de análise” (MAGNANI, 2002, p. 18). Diante dos termos elucidados e no bojo dos circuitos

urbanos, segundo Magnani (2002), vislumbra-se estilos de vida não apenas compatíveis com os dos usuários, individuais e coletivos, do grande capital, consumidores da cidade espetáculo, com padrões internacionais de lazer, hospedagem e gastronomia. Além desses sujeitos, também se entrevê

a presença de migrantes, visitantes, moradores temporários e de minorias; de segmentos diferenciados, com relação à orientação sexual, identificação étnica ou regional, preferências culturais e crenças; de grupos articulados em torno de opções políticas e estratégias de ação contestatórias ou propositivas e de segmentos marcados pela exclusão – toda essa diversidade leva a pensar não na fragmentação de um multiculturalismo atomizado, mas na possibilidade de sistemas de trocas de outra escala, com parceiros até então impensáveis, permitindo arranjos, iniciativas e experiências de diferentes matizes (MAGNANI, 2002, p. 16).

Destarte, a dinâmica urbana que se pretende caracterizar refere-se a um universo de indivíduos mais amplo e vocaciona sujeitos, cujos dizeres e visões são, muitas vezes, suprimidos no espectro citadino contemporâneo. A dinâmica urbana nessa pesquisa não remete tanto às apropriações do solo ou processos de urbanização, como nas vertentes geográficas tradicionais;

também não abrange os estudos populacionais, os indicadores econômicos ou demográficos, tanto quanto envolve os fatores históricos, culturais e sociais da cidade, bem como os aspectos simbólicos, identitários e topográficos. Talvez, bem mais, interconecte as questões urbanas como um mosaico de construções vivas, amplamente ligadas às práticas individuais e coletivas de organização da cidade. Portanto, é bem mais referente às relações, experiências e vivências identitárias no espaço urbano. Interessa-me, assim, as intervenções urbanas, as quais produzem e reproduzem modos institucionais, bem como novas formas de significação a partir de práticas organizativas da cidade.

Como recorte de análise e delimitação de campo, estudo a dinâmica urbana relacionada à pichação na cidade de Belo Horizonte, onde vislumbrei um circuito de atuação que perpassa o poder público, a sociedade civil e os pichadores. Reforço que esse circuito: i) não se refere

somente aos pichadores em suas práxis de ocupação do espaço urbano, ou simplesmente em suas intervenções, que nem de longe deixam de comunicar e mais de perto apontam o âmago de questões subjetivas; ii) colide impetuosamente com as visões políticas e estéticas da sociedade moderna, impregnadas pelo pensamento econômico capitalista e por sistemas sociais estigmatizantes; iii) se aproxima das assimilações de movimentos contra culturais, como os ligados à cultura de rua proveniente do movimento Hip Hop, junto ao qual também se mantém uma linha tênue relacionada à recente institucionalização do grafite, que sorrateiramente é apropriado pelos modelos de gestão urbana; e iv) confronta diretamente às concepções ideológicas de governos em suas orientações de organização da cidade e controle sobre o comportamento dos cidadãos, estabelecidos por mecanismos, tais como o Estatuto da Cidade e Código de Posturas, definidos e aplicados pelo poder público.

As práticas de organização da cidade e seus cidadãos orientam o tratamento da pichação por meio de ações de repressão dos pichadores, sensibilização da sociedade e limpeza de lugares pichados. De outro ângulo, a própria pichação sugere uma prática de subversão e resistência ao controle deliberado pelo governo da cidade. O estudo da dinâmica urbana relacionada à pichação em Belo Horizonte focaliza esse circuito a partir do estudo de caso do Projeto de Combate à Pichação, vinculado ao programa Movimento Respeito por BH, em interfaces com demais entes públicos e organismos sociais; e também destaca as percepções dos indivíduos e grupos praticantes da pichação de BH, entre outros indivíduos e grupos não organizados, que de algum modo o representam no contexto sociourbano.

Ante as assimetrias e limitações presentes na cidade, não discuto a pichação, exclusivamente, como fenômeno urbano, uma vez que essa conotação talvez isente perspectivas de atribuição subjetiva dos indivíduos e grupos com ela envolvidos. No entanto, não busco uma abordagem de análise puramente psicológica, ética ou moral e, talvez, me aproxime mais de uma compreensão da prática enquanto fenômeno social, dado que, ao discutir seus impasses, vislumbro muitas de suas conexões e reflexos das questões sociais. Assim, a pichação, por ora, compreende bem mais uma prática de intervenção subjetiva na cidade e corresponde, portanto, a um apelo identitário que também contempla aspectos topográficos e exerce práticas organizativas.

Com base nas compreensões sobre os elementos empíricos e demais aspectos concernentes aos elementos das temáticas referenciadas, apresento, na Figura 1, o esquema teórico-empírico esboçado para o estudo da dinâmica urbana conexa ao circuito da pichação em Belo Horizonte:

Figura 1 – Esquema teórico-empírico

O esquema que proponho para análise da dinâmica urbana conexa ao circuito da pichação em Belo Horizonte fundamenta-se, então, na observação de unidades e arranjos organizacionais entre agentes públicos, entes privados e sociedade civil, mobilizados a partir do programa Movimento Respeito por BH (MRpBH), que comunga políticas públicas e serviços urbanos