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2.3 CATOLICISMO SERGIPANO DO SÉCULO XX

2.3.4 Diocese de Estância

Assim como Propriá, a Diocese de Estância começa sua história própria em 1960, quando é criada pela bula papa Ecclesiarum Omnium, porém o Monsenhor Francisco de Assis Portela, eleito para governar a diocese, renunciou e o Papa João XXIII nomeou como primeiro bispo Dom José Bezerra Coutinho, empossado em 1961. (SILVA, 2014, p.7).

59 O território diocesano possui 6.736 Km² e uma população de 471.508, conforme o Censo de 2010. Circunscreve dezesseis municípios das regiões sul e centro -sul de Sergipe: Arauá, Boquim, Cristinápolis, Estância, Indiaroba, Itabaianinha, Lagarto, Pedrinhas, Poço Verde, Riachão do Dantas, Salgado, Santa Luzia do Itanhy, Simã o Dias, Tobias Barreto, Tomar do Geru e Umbaúba. Limita-se com o Oceano Atlântico, a Arquidiocese de Aracaju-SE, a Diocese de Alagoinhas -BA e a Diocese de Paulo Afonso-BA. (DIOCESE DE ESTÂNCIA, 2018)

A Diocese de Estância teve um intelectual como seu primeiro bispo, pois Dom Coutinho, além de bispo de Sobral, Ceará, foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Associação de Imprensa de Aracaju, da Academia Sobralense de Estudos e Letras, Honorário da Academia Fortalense de Letras e Presidente de Honra da Academia Brasileira de Hagiologia (DIOCESE DE SOBRAL, 2018)

Ao vir morar e Estância, trouxe consigo o Padre Joaquim Antunes de Almeida, mais conhecido por Padre Almeida, uma vez que a diocese ainda não tinha um clero para começar os trabalhos. Este padre vai desempenhar um papel importante na reforma agrária de Sergipe, devido a sua opção pela libertação dos pobres. (ESTÂNCIA NEWS, 2018)

Porém, a Diocese de Estância não se alinha nem com a opção pelos pobres vivida na Diocese de Propriá, nem com o conservadorismo de Dom Luciano na Arquidiocese de Aracaju. Por isso Estância é uma diocese cuja identidade parece uma grade incógnita, tendendo para um afastamento das questões sociais e o investimento em movimentos eclesiais, mesmo Dom Coutinho tendo participado do Concílio Vaticano II e se mostrar aberto á reforma em curso.

A abertura e o convite para a instalação de movimentos eclesiais nessa igreja local é uma característica da gestão de Dom Coutinho. Hoje a Diocese de Estância possui sete movimentos instalados, são eles a Legião de Maria, Renovação Carismática Católica, Focolare, Cursilhos de Cristandade, Apostolado da Oração, Mãe Rainha e Serra, além de associações leigas, obras pontifícias e pastorais de manutenção e transmissão da fé. (DIOCESE DE ESTÂNCIA, 2018)

O sucessor de Dom Coutinho foi Dom Hidelbrando Mendes Costa que, até então era bispo auxiliar da Arquidiocese de Aracaju, colaborador fiel de Dom Luciano Cabral Duarte. A posse de Dom Hildebrando na Diocese de Estância se deu em 1986 com a renúncia de Dom José Bezerra Coutinho, em função da idade (DIOCESE DE ESTÂNCIA, 2018). Nessa época governava a Diocese de Propriá, Dom José Palmeira Lessa e, com a posse de Dom Hildebrando em Estância, Dom Luciano passa a influenciar as três dioceses de Sergipe.

Eis o que fez Dom Luciano ao “interferir” na formação dos padres brasileiros quando, junto com os bispos de Estância (Hildebrando Mendes Costa) e Propriá (José Palme ira Lessa, atual bispo de Aracaju), criaram o Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição e assim deram a formação sacerdotal do Brasil mais uma opção de est udos. (BARRETO, 2015, p.8)

60 Os seminaristas de Estância estudaram no seminário de Aracaju até a posse do terceiro bispo da diocese, Dom Marco Eugênio Galrão Leite Almeida, que sucedeu a Dom Hildebrando após renúncia por limite de idade em 2003. O novo bispo decidiu que os seminaristas da diocese não mais estudariam no seminário arquidiocesano, e decidiu enviar os seminários para estudar no sudeste do país e alguns em Roma.

Essa decisão demonstrou a postura que o bispo teria no governo da Diocese de Estância. Sua gestão diocesana se deu em meio a uma sucessão de conflitos internos devido à forma como Dom Marco Eugênio se relacionou com o clero, provocando uma divisão da diocese em grupos a favor e contra o bispo, culminando em polêmicas públicas com a renúncia de alguns padres, afastamento de outros e suicídio de um diácono.

O auge das polêmicas se deu com o suicídio de um diácono que, ordenado em 2011, começou a atuar na Igreja de Boquim, Sergipe, enquanto aguardava ser ordenado padre. Porém, segundo relato das testemunhas no processo que consta no Diário de Justiça do Estado de Sergipe (DJSE) o pároco:

o acusou de envolvimento homossexual com um coroinha pelo fato deste ter ganhado do diácono uma aliança, que para o mesmo representava compromisso co m Deus, tendo o pároco, todavia, interpretado de maneira equivocada. Nã o bastasse isso, a zeladora da paróquia noticiou ao padre que o afilhado do diácono, teria dormido em seu quarto. Embora esclarecido que o mesmo somente pediu para usar o seu notebook para assistir a um filme, o fato foi levado maliciosamente ao conhecimento do bispo ao qual era subordinado. Comunicados os aludidos fatos informalmente ao bispo da diocese de estância, Dom Marco Eugênio, este, p or sua vez, o acusou de pedofilia, suspendendo suas atividades paroquiais sem qualquer apuração formal e nem lhe permitindo o contraditório. Segundo aos autores, foi instaurado procedimento pelo conselho tutelar para averiguar a acusação, o qual concluiu que o diácono era inocente (DJSE, 2017, p.685)

Após essa acusação, o bispo extinguiu qualquer possibilidade do diácono se tornar padre. Segundo o DJSE (2017, p.685), para tentar resolver isso o diácono tanto protocolou recurso, quanto foi encontrar pessoalmente, o Arcebispo de Aracaju Dom José Palmeira Lessa, que afirmou não ter recebido o documento, mas recebeu o diácono. Sem resolução, na volta do encontro com o arcebispo, o diácono envenenou-se e veio a falecer após dezoito dias internado no Hospital de Urgências de Sergipe e a população local revoltou-se com os envolvidos.

Essa revolta ficou evidente nas pichações da parede do Instituto Diocesano, escrito “Fora Dom Marco Eugênio” e “Dom Marco Eugênio, Padre Gildeon e Helena mataram o Diácono Rafael” na parede da casa do bispo. (SANTOS, 2012)

61 IMAGEM 2: PICHAÇÃO NA PAREDE DA CASA DO BISPO DE ESTÂNCIA

FONTE: SANTOS, 2012

A repercussão logo se tornou abaixo assinado, com assinaturas de leigos e sacerdotes denunciando o bispo à nunciatura. E, após visita de um enviado da nunciatura para ouvir todas as partes envolvidas, a punição a Dom Marco Eugênio Galrão Leite Almeida foi sua transferência para ser bispo auxiliar na Arquidiocese de Salvador. Com isso, a Diocese de Estância ficou sob administração apostólica de Dom Giovanni Crippa, que em 2014 foi nomeado bispo diocesano.

A gestão de Dom Giovanni se inicia com a difusão de mais comunitariedade e menos clericalização, marcado inicialmente pela orientação de que todos os movimentos e pastorais da diocese estudassem o documento da CNBB Comunidade de Comunidades, uma nova

paróquia, que aparecerá diversas vezes nessa dissertação. Em seguida solicitou a realização dos

círculos bíblicos nas casas, guiados pelos subsídios da CNBB, no período da Campanha da Fraternidade, novena missionária, mês das vocações, mês da Bíblia e novena de natal; orientou o clero a ter moderação no uso de túnicas, batinas e clergyman, a observar o cumprimento das normas canônicas na adoração à eucaristia, para evitar exageros e “emocionismos”.

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CAPÍTULO III

COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE EM SERGIPE

No terceiro capítulo, são mapeadas as CEBs que existem em cada uma das dioceses ou arquidiocese da Província Eclesiástica de Sergipe. Além disso, são apontadas as formas como se organizam em cada contexto, uma vez que cada igreja local tem sua particularidade.

Tendo identificado, via dissertações e artigos utilizados no segundo capítulo, algumas comunidades em Propriá e Pacatuba, foi feito estudo de campo para observar como se organizam atualmente e, nas visitas, foram indicados outros locais em que as CEBs existem, para que essas comunidades também fossem observadas. Isso só foi possível graças às interligações que os membros dessa rede de comunidades possuem, seja porque essas pessoas estão juntas também em movimentos sociais e pastorais católicas, ou mesmo porque as CEBs compõem uma rede de comunidades com vida similar que comungam de atividades conjuntas. Por isso, caso haja alguma CEBs não identificada nessa pesquisa, provavelmente não pertence a essa rede interligada e seus membros tampouco são conhecidos por esses que foram visitados, o que é quase impossível.

Convém destacar que o percurso da observação de campo começou na Diocese de Propriá, nos municípios de Propriá, Neópolis, Ilha das Flores e Brejo Grande e Pacatuba. Como a CEBs é uma rede de comunidade, ao sair da Diocese de Propriá veio a sugestão de conhecer as CEBs na Arquidiocese de Aracaju e na comunidade Colônia Treze, da Diocese de Estância.

Foram feitas observações de campo durante dez (10) dias nos Municípios de Propriá, Neópolis, Ilha das Flores, Brejo Grande, Pacatuba, Aracaju e Lagarto. Durante o dia ocorria as observações da comunidade e às noites eram feitos os diários de campo. Foram feitos onze diários de campo descrevendo o máximo de detalhes possíveis de serem colhidos a partir dos itens norteadores do roteiro de observação.