• Nenhum resultado encontrado

P IPELINE P OLITICS

3.6 DIPLOMACIA DE DUTOS

3.6.1 PROJETOSRUSSOS

A maior parte das rotas que transportam recursos russos ou centro-asiáticos para a Europa pertence à Bielorússia e à Ucrânia, embora a crise do gás de 2007 entre

a primeira e a Rússia tenha resultado em aquisição pela Gazprom38de parte importante

da rede física de gasodutos naquele país, restando a Ucrânia como uma espécie de último bastião dos países intermediários.

Conquanto a rede de gasodutos entre Europa e Rússia/Cáspio tenha sido construída nos últimos 40 anos, a sua ampliação esbarra em uma intrincada engenharia geográfica e política. Conturbações geopolíticas retardam investimentos essenciais nessa região. Os atrasos têm um efeito multiplicador sobre os custos, muitos dos quais superando em 50% as estimativas iniciais, como nos casos dos gasodutos Nord Stream Line, já concluído, e Nabucco, cuja execução tornou-se improvável.

Considerado o grande favorecido nas crises russo-ucranianas, o Nord Stream é um projeto subaquático de 1.224 km no Mar Báltico, conectando a cidade russa de Vyborg e a alemã Greifswald. Da Alemanha, o gás é distribuído para Bélgica, Holanda,

38 Majoritariamente estatal, a Gazprom é a maior produtora de gás do mundo. Além de produzir 75% do gás na

Rússia, exerce o monopólio sobre as exportações e os contratos com países fornecedores no Cáucaso e na Ásia Central.

116

Dinamarca, França e Reino Unido. Seu trajeto foi planejado de forma a evitar Ucrânia, Bielorússia, Polônia e Lituânia, sendo esses dois últimos membros da UE e opositores da aproximação política do bloco com Moscou.

A construção foi aclamada por seus defensores por aliviar as rotas sujeitas a turbulências políticas nacionais, e condenado pelos que viam na sua construção nova monopolização pela Gazprom. A estatal russa é majoritária no consórcio com as

alemãs BASF/Wintershall eE.ON Ruhrgas, e a holandesa Gasunie.

Os protestos do Leste Europeu e da Suécia, a incômoda presença do ex- chanceler alemão Gerhard Schröder no comitê de acionistas e a preservação ambiental no Báltico perderam na disputa argumentativa para a segurança energética da Europa Ocidental. Nord Stream foi concluído, em 2012, e representou uma derrota para os esforços diplomáticos norte-americanos para convencer seu principal aliado na Europa continental a desistir do projeto.

Para a Rússia, os impasses europeus e transatlânticos sobre gasodutos favorecem o South Stream Line. Segundo na linha de importância para a Gazprom, este gasoduto permitiria o transporte da Rússia para Turquia e Bulgária, de onde bifurcariam duas extensões, sendo a primeira via Grécia para Itália, e a segunda via Sérvia e Hungria até a Áustria. Entre outras vantagens, o South Stream daria à Rússia acesso ao mercado sul europeu de petróleo e gás, hoje mais facilmente atendido por produtores árabes e africanos.

O maior empecilho técnico é o custo de engenharia a 2.000 metros abaixo do Mar Negro, muito embora a dificuldade física possa ser mais facilmente superada do

que o impasse político com a Romênia e a Ucrânia, cujaszonas econômicas exclusivas

se interpõem no caminho. Diretamente contrário aos interesses de ambas, envolvida a primeira no Nabucco e a segunda nas rotas tradicionais, e embora o South Stream esteja amparado pela UNCLOS, os dois países podem exigir verificações ambientais e

de segurança que retardem a sua construção.Outra questão é a permanência da frota

117

Ucrânia tenta evitar que a Rússia rompa uma cadeia logística favorável aos intermediários.

3.6.2 PROJETOSOCIDENTAIS

Dentre os projetos de energia apoiados pelos Estados Unidos nas regiões analisadas, South Caucasus Pipeline (SPC)39 e Baku-Tbilisi-Ceyhan (BTC) foram os que apresentaram melhores resultados até hoje.

O BTC começou a ser planejado em 1998, tendo recebido incentivos do governo Clinton na ocasião. Richard Moningstar, ex-conselheiro especial para assuntos de energia no Cáspio e um dos maiores defensores do projeto identificou vários objetivos estratégicos para a sua construção.

(…) would advance many different U.S. and regional policy goals: making energy resources from the landlocked Caspian region available on the international market; promoting economic development and civil society in the countries of Azerbaijan, Georgia, and Turkey; and ensuring that neither Russia nor Iran developed a monopoly over pipelines from the Caspian region (BELFER CENTER, 2003).

Defesa semelhante partiu mais de uma vez do ex-senador republicano Richard

Lugar – possivelmente o congressista mais comprometido com o desenvolvimento de

uma política externa de energia para a Ásia Central e o Cáucaso – a exemplo de seu

pronunciamento no Comitê de Relações Externas do Senado, no final de 2012.

118

U.S. strategic interests in linking the nations of the Caspian Sea region with European and global markets have long been recognized and supported on a bipartisan basis. Energy is the economic lifeblood of many NATO allies and partners in the Europe and Eurasian region, and dependence on Russia and Iran for energy imports or exports remain a central detriment to those nations’ sovereign independence in policy making, economic development, and security. When U.S. allies are made vulnerable in this way, it undermines our own bilateral relationships and weakens our multilateral diplomatic and military efforts Development of a Southern Corridor to link the Caspian to Europe with oil and natural gas pipelines was an early element of a U.S. strategy to end that dependence. The first stage was achieved with the completion of Baky-Tblisi-Ceyhan (BTC) oil pipeline from Azerbaijan to a Turkish Mediterranean port and the South Caucasus Gas Pipeline (SPC) from Azerbaijan to Turkey (LUGAR, 2012).

A AIOC estabeleceu um acordo com Azerbaijão, Geórgia e Turquia, em 1998, para a construção de um oleoduto ligando a capital azerbaijana Baku à georgiana Tbilisi, e esta à cidade de Ceyhan, na Turquia. Para viabilizar o projeto, o governo norte-americano garantiu investimentos federais através da pouco conhecida agência Overseas Private Investment Corporation e do U.S. Export-Import Development Bank.

O propósito do envolvimento federal não foi propriamente financiar a obra, mas legitimar a ideia perante grupos domésticos reticentes. Havia grande preocupação no setor corporativo em relação ao plano, uma vez que o retorno do investimento dependia de que o preço do barril de petróleo se mantivesse alto e as reservas azerbaijanas provassem um potencial de longo prazo.

Embora visto como um eldorado de energia no pós-Guerra Fria, o Cáspio teve sua capacidade constantemente questionada por vários especialistas. Por essa razão, incluir o petróleo iraniano na rota sempre foi uma demanda das corporações, mas a hipótese era sistematicamente descartada, pois, àquela altura, vigiam as primeiras sanções norte-americanas a empresas estrangeiras que comercializassem recursos e serviços de energia com o Irã. Ademais, convidar o Irã a participar da iniciativa significava aumentar a dependência mundial de energia em relação ao Oriente Médio.

119

Do ponto de vista econômico, a melhor rota para o BTC cruzava locais de instabilidade política e separatismo, inclusive no próprio Azerbaijão, mas também na Turquia. Como se pode observar no mapa a seguir, a lógica da logística foi vencida pelas barreiras políticas.