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5.1 RESULTADOS DA ABORDAGEM QUALITATIVA

5.1.2 Direcionadores de ecoinovações

A biodiversidade amazônica é considerada um fator potencial que pode direcionar ecoinovações, através do desenvolvimento de novos produtos, por meio de biotecnologias, biofármacos, biocosméticos e fitoterápicos (plantas medicinais). Todavia, muitos obstáculos impedem o desenvolvimento de ecoinovações, os quais serão abordados na sequencia. Sobre a biodiversidade os entrevistados se manifestaram assim:

[…] a inovação verde é o que a gente vive aqui no Estado …muitas empresas estão desenvolvendo tecnologias verdes… temos muita competência na área de recursos naturais (…) (E1).

[…] as [empresas] regionais que estão nascendo aqui eu já vejo que elas estão buscando inovações. Estão buscando produtos novos para colocar no Mercado. Esses produtos sempre voltados e incluidos na nossa biodioversidade (…) (E4). […] a gente percebe que tem muitas ideias de inovação nessa área de biotecnologia” (…) (E6).

[…] as empresas… se sentem motivadas a desenvolver novas tecnologias, tecnologias ecorrenováveis a partir da utilização, por exemplo, de outros produtos que não venham mitigar a natureza (…) (E7).

[…] nós temos que começar a pensar em produtos que… o futuro da Zona Franca tem que ser a partir de elementos que nós temos aqui, mineral, animal ou plantas (…) (E8);

[…] o bionegócio. Bionegócio são as atividades que usam de uma maneira a floresta. Então você pode trabalhar com cosméticos, biocosméticos, fitoterápicos. É difícil, mas tem uma perspectiva para se trabalhar com fitoterápicos. É a questão também da fruticulture, da piscicultura, da própria madeira se pudesse se achar um mecanismo de você usá-la de maneira sustentá-vel (…) (E9);

[…] [a empresa foi fundada] em 1986, fruto de uma observação que era realizada desde a época da faculdade, que era transformer a biodiversidade amazônica em produto … a biodiversidade e matérias primas regionais (…) (E13).

[…] precisamos desenvolver algumas soluções que atendam as novas exigências do mercado de consume, que estejam alinhadas com essa questão global da politica ambiental, dos ecoprodutos sustentáveis… A nossa biodiversidade nos leva naturalmente a enxergar as possibilidades econômicas que se podem desenvolver (…) (E16).

A biodiversidade como direcionador de ecoinoivações reforça as ideias de Hart (1995) a respeito de uma visão baseada em recursos naturais (natural-resource-based view).

No futuro, parece inevitável que os negócios (mercados) serão restringidos e dependentes dos ecossistemas (natureza). Em outras palavras, é provável que a estratégia e a vantagem competitiva nos próximos anos sejam enraizadas em capacidades que facilitem uma atividade econômica ambientalmente sustentável - uma visão baseada em recursos naturais da empresa (HART, 1995, p. 991).

Nesse sentido, Hart (1995) argumenta que as restrições e desafios relacionados ao ambiente natural (biofísico) impulsionarão o desenvolvimento de novos recursos e capacidades das empresas.

Com relação à regulação como indutor de ecoinovações, os resultados encontrados mostram algumas particularidades em relação à ZFM. O rigor da legislação não tem efeito em algumas empresas estrangeiras, onde “os requerimentos da companhia são mais restritos que o da legislação” (E15). Este resultado de certa forma contradiz a teoria que considera, de forma ampla, que os marcos regulatórios e a política ambiental têm forte impacto e podem “forçar” ecoinovações (RENNINGS, 2000; HORBACH, 2008).

Por outro lado, a legislação de incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus não prevê qualquer benefício para empresas que ecoinovarem (E3; E7). Triguero, Moreno- Mondéjar e Davia (2013, p.33) ao pesquisarem os direcionadores de diferentes tipos de ecoinovação em pequenas e médias empresas européias concluem que o “acesso a subsídios e incentivos fiscais na Europa não tem qualquer efeito significativo sobre as decisões de ecoinovação, no nível das empresas”. A legislação dos Processos Produtivos Básicos (PPB), que estabelece as etapas mínimas de industrialização a serem executadas na ZFM, não prevê a utilização de insumos regionais (E3; E7). Se houvesse esta obrigatoriedade, o rigor desta legislação teria efeito positivo sobre o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis.

Foram identificamos outros fatores que também podem influenciar e direcionar o desenvolvimento de ecoinovações, como: a) disponibilização de recursos não reembolsáveis para pesquisa e desenvolvimento (E4); b) oferta de cursos inovadores, como engenharia de bioprocesso, que é focado na preocupação com processos de biodiversidade, para produção com sustentabilidade (E9); c) desenvolvimento de processos reversos para evitar que resíduos do processo industrial contaminem o ambiente e que possam ser reutilizados em aplicações produtivas (E9); d) melhor qualificação de projetos para obtenção de licenças junto aos órgãos ambientais (E9); e) certificação ambiental, crédito de carbono e processos renováveis (E7); f) competitividade (E5); g) necessidade econômica pela continuidade dos negócios (E6); h)

criatividade, como forma de compensar a falta de recursos (E6).

Competitividade é um direcionador puxado pelo mercado (market pull driver) aderente a literatura (RENNINGS, 2000; BERNAUER et al., 2006). A Certificação ambiental (ex. ISO 14.000) tem característica tecnológica e também pode ser relacionada à regulação, se for se houver obrigatoriedade pela legislação. As empresas podem ter seus Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) embora não certificados. Horbach, Rammer e Rennings (2012, p. 114) afirmam que o SGA “parece ser muito importante especialmente para a introdução de tecnologias mais limpas para a redução de custos”.

A captação de recursos não reembolsáveis para pesquisa e desenvolvimento é um driver que não pode ser aceito de forma generalizada. Cuerva, Triguero-Cano e Córcoles (2014, p. 110) encontraram resultados conflitantes sobre a influência de subsídios públicos para inovações ambientais. Segundo estes autores, “subsídios públicos não são relevantes para explicar a inovação verde” enquanto que, para Horbach (2008, p. 168) subsídios “tem uma influencia altamente significante sobre inovação ambiental de produto”.

Os demais drivers encontrados na pesquisa, não tem uma classificação específica na literatura. O direcionador “melhor qualificação dos projetos para a obtenção de licenças ambientais” pode ser classificado como empurrado pela regulação (regulatory push), porque obriga as organizações controlarem seus processos ambientais.

Os direcionadores “desenvolvimento de processos reversos” e “de processos renováveis”, por terem ligações com o desenvolvimento de novas tecnologias são drivers do tipo empurrados pela tecnologia (technology push).

A “formação de recursos humanos em um curso inovador”, como engenharia de bioprocesso pode ser considerada um driver relacionado à tecnologia.

A “necessidade econômica” (necessidade de sobrevivência) pode ter um entendimento pode ser amplo e abrangente. Quando extensivo a todas as empresas e relacionado à redução de custos, pode ser um direcionador puxado pelo mercado (market pull). Como condição específica da organização, é um direcionador relacionado a fatores internos (internal fator), opção que melhor classifica o objeto da entrevista. A “criatividade”, por sua vez, pode ser um fator ligado ao desenvolvimento de novas tecnologias e neste caso seria um direcionador empurrado pela tecnologia (technology push). Quando for uma atitude ou uma competência para atender as expectativas do mercado será um direcionador de demanda (demand side). Como não foi percebida na análise das entrevistas qual a perspectiva os entrevistados estariam se referindo, optou-se por considerá-las como um direcionador relacionado a fatores internos (internal fator).

O estudo não identificou direcionadores de demanda (demand side) (HORBACH, 2008; KESIDOU; DEMIREL, 2012; TRIGUERO; MORENO-MONDÉJAR; DAVIA, 2013). Uma possível explicação tem relação com o perfil das organizações entrevistadas. Expectativas do mercado, conscientização ambiental e preferências por produtos ambientais não faz parte do escopo das atividades das plantas industriais na ZFM, que tem por foco, exclusivamente, as atividades relacionadas com a produção. A responsabilidade ambiental e práticas de negócio das firmas replicam as políticas internas das matrizes e não se originam de intervenções do mercado. Em relação às empresas regionais, um dos entrevistados (E13) afirmou que “para o empresariado local, produtos de inovação da biodiversidade não tem valor” e que o comportamento do consumidor é norteado apenas pelo fator preço.

Em suma, os principais direcionadores são: (i) recursos da biodiversidade; (ii) rigor da legislação dos PPB para EI; (iii) recursos não reembolsáveis para P&D; (iv) cursos inovadores voltados a processos de biodiversidade para produção com sustentabilidade; (v) desenvolvimento de processos reversos para reutilização de resíduos em aplicações produtivas; (vi) melhor qualificação de projetos para obtenção de licença ambiental; (vii) certificação ambiental; (viii) competitividade; (ix) necessidade econômica para continuidade do negócio (sobrevivência); (x) criatividade. Dado que estes fatores encontram-se ainda em vias de gerarem novas inovações e a sua identificação teve caráter exploratório serão considerados como direcionadores potenciais de ecoinovação na Zona Franca de Manaus. Direcionadores relacionados a regulação dependem também de mudanças na legislação. Estudos futuros são recomendados para validação e aprofundamento desses achados. O Quadro apresenta a consolidação desses achados. A categorização dos direcionadores seguiu a que costumeiramente é utilizada na literatura, porém com a ionclusão de uma nova categoria. Como os recursos da biodiversidade não são mencionados em outros estudos, estes passam a ser classificados como direcionadores empurrados pelo meio ambiente (environment push), em alusão as inovações ambientais ou ecoinovações.

Quadro 24 – Potenciais direcionadores de ecoinovação na Zona Franca de Manaus Categorização dos potenciais

direcionadores de ecoinovação Discriminação

Empurrados pelo meio ambiente

(environment push)  Recursos da biodiversidade Puxados pelo mercado

(Market pull)  Competitividade

Empurrados pela tecnologia (technology push)

 Recursos não reembolsáveis para P&D  Cursos inovadores em processos de

biodiversidade, para produção com sustentabilidade

 Desenvolvimento de processos reversos de utilização de resíduos

 Criatividade

Fatores regulatorios (regulatory push)

 Rigor da legislação dos processos produtivos básicos (PPBs)

 Melhor qualificação de projetos para obtenção de licença ambiental

 Exigência de Certificação ambiental

 Responsabilidade ambiental e práticas de negócio das firmas

Fatores Internos

(internal factors)  Necessidade econômica de perenização do negócio (sobrevivência)

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da pesquisa qualitativa (2017).

5.1.3 Dificuldades, Obstáculos e possíveis soluções para o desenvolvimento de