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Direito constitucional do exercício de profissão: arte ou ofício

integração dos refugiados na sociedade em que estão inseridos, assegurar-lhes proteção e segurança, inclusive, garantir o direito constitucional do exercício da profissão, pois ao trabalhar os refugiados tem sua dignidade resgatada.

1.2.1.3 Direito constitucional do exercício de profissão: arte ou ofício

Imprescindível alertar que a CF/88, em seu art. 5º, inc. XIII apresenta como direito do refugiado “o livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão atendida as qualificações profissionais que a lei estabelecer.” (BRASIL, 1988).

Do mesmo modo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu art. XXIII, inciso III, apresenta a dignidade ao trabalho, afirmando que “todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.” (ONU, 1948, p. 2).

Desta forma, evidencia-se que o estrangeiro, seja ele refugiado ou não, encontra no Estado Democrático de Direito, o cumprimento do especificado no art. 1º da DUDH (ONU, 1948), que trata dos fundamentos da República Federativa, e consagra no inciso III, a dignidade da pessoa humana que se consolida por meio das dimensões sociais, políticas e morais quando o refugiado faz parte da sociedade e é merecedor de todo o respeito.

Neste sentido, Ingo Wolfgang Sarlet5 (2007, p. 62), aduz que:

Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,

5

Segundo Ingo Wolfgang Sarlet (2007, p. 37) a partir da EC 45/04 [...]o debate sobre o modo de incorporação e o valor jurídico dos tratados de direitos humanos no Brasil acabou sendo revitalizado, ademais de ganhar novos contornos, seja quanto aos aspectos procedimentais, relativos ao processo de incorporação, seja quanto a hierarquia de tais tratados na ordem interna e as consequências de sua aplicação. Aliás, embora o debate durante muito tempo tenha sido focado no problema da prisão civil do depositário infiel, cuida-se de problema muito mais amplo e de inequívoca atualidade e relevância, inclusive no que diz com a doutrina e prática do assim chamado controle de convencionalidade das leis[...] tema que gradualmente começa a receber a atenção da doutrina e da jurisprudência.

neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Na verdade, o refugiado, ao ser inserido na comunidade por meio do trabalho, está consolidando a sua dignidade e também a sua cidadania, pois:

[...] a realização do direito ao trabalho fará com que a dignidade humana assuma nítido conteúdo social, na medida em que a criação de melhores condições de vida resultar benéfica não somente para o indivíduo em seu âmbito particular, mas para o conjunto da sociedade. [...] como primeiro princípio dos direitos fundamentais, ele (o princípio dignidade da pessoa humana) não se harmoniza com a falta de trabalho justamente remunerado, sem o qual não é dado às pessoas prover adequadamente a sua existência, isto é, viver com dignidade. (LEDUR, 1998, p. 103).

Constata-se, diante do exposto, que o trabalho possibilita a promoção social da pessoa, ou seja, a oportunidade para que possa realmente se firmar em condições que atendam o mínimo existencial, ou seja, que o refugiado possa sustentar a si e a sua família com o básico necessário para uma sobrevivência decente e digna.

Menciona-se, ainda que a Cartilha para Refugiados no Brasil (recurso eletrônico, 2014, p. 6) vem ao encontro da previsão constitucional (art. 5º, XIII) e de documentos internacionais quando refere que:

Os refugiados têm direito a carteira de trabalho, podem trabalhar formalmente e são titulares dos mesmos direitos inerentes a qualquer outro trabalhador no Brasil. O Brasil proíbe o trabalho de menores de 14 anos, o trabalho em condições análogas à de escravo e a exploração sexual.

Na verdade, essa Cartilha tem como objetivo orientar os refugiados com relação aos seus direitos, pois se sabe que a falta de informação é um problema que atinge a grande maioria dos que chegam ao país, ainda mais se entram de forma irregular ou fugiram de suas pátrias por motivos religiosos, étnicos, conflitos armados.

O primeiro passo para possibilitar a integração dos refugiados é conhecer o seu perfil, sendo indispensável saber a origem, raça, cor, sexo para planejar e desenvolver ações que visem essa integração e que aqueles possam reconstruir suas vidas e encontrar em solo estranho a possibilidade do exercício de sua cidadania.

No próximo capítulo trabalham-se aspectos sobre o número de refugiados que solicitam refúgio, sua raça, cor, país de origem, bem como sobre o diagnóstico e prognóstico do sistema de refúgio para verificar ao final se não há violação aos direitos humanos.

2 A INTEGRAÇÃO DOS REFUGIADOS NO BRASIL: AÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS Á CIDADANIA

Este capítulo busca articular a integração dos refugiados com os conceitos de políticas públicas e cidadania para abordar os direitos a ter direitos de um grupo que se encontra desamparado e necessita de apoio do poder público para que este desenvolva ações que solidifiquem os direitos econômicos, sociais e culturais, em especial o direito ao trabalho, saúde e educação.

Objetiva-se também focalizar nas políticas públicas no plano interno da Lei nº 9474/97, visando a integração dos refugiados no Brasil, bem como inter-relacionando-a com a construção da cidadania a partir do pertencimento a uma comunidade organizada.

Analisam-se, a partir da perspectiva do processo de acolhimento dos refugiados no Brasil, os programas de reassentamento solidário com o intuito de verificar a sua existência em nosso país.

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