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O direito de livre circulação e permanência no território dos Estados-Membros

Capítulo III DIREITOS E DEVERES ADQUIRIDOS PELOS CIDADÃOS NACIONAIS COM A CDANANIA EUROPEIA

1. Direitos do cidadão decorrentes da cidadania europeia

1.1 O direito de livre circulação e permanência no território dos Estados-Membros

O direito de livre circulação e permanência no território dos Estados-Membros é um direito extensivo a todos os cidadãos e está diretamente relacionado com a cidadania e com os direitos fundamentais. É um direito que está consagrado na alínea a) do n.º 2 do artigo 20.º e no artigo 21.º, n.º 1 do TFUE, bem como no artigo 45.º da Carta.

Com efeito, nos termos do artigo 21.º, n.º 1 do TFUE “Qualquer cidadão da união goza do direito de circular e de permanecer livremente nos territórios dos Estados-membros, sem prejuízo das limitações e condições previstas nos Tratados e nas disposições adoptadas em sua

125 DUARTE, Maria Luísa – Estudos de Direito da União e das Comunidades Europeias. Coimbra: Coimbra Editora. 2000. ISBN 972-32-0995-0. pg.16-17

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aplicação.”127 Hoje, este direito está regulado pela Diretiva 2004/38/CE128 sobre o direito de livre circulação dos cidadãos da União e dos membros da sua família.

Se é verdade que o direito de permanência, antes do Tratado de Maastricht, era um direito exclusivo dos “trabalhadores” assalariados e independentes, com a cidadania europeia passou a beneficiar a todos os cidadãos nacionais de qualquer Estado-Membro, nos termos artigo 21.º, nº 1 do TFUE. Agora, qualquer cidadão da UE pode circular, permanecer, residir, viajar, estudar, trabalhar, ou até mesmo reformado se a sua posição financeira o permitir, com proteção, em situações iguais aos dos nacionais desses Estados-Membros, direitos estes que estão interligados com o direito de circulação e permanência.

Pascal Fontaine 129 frisa a importância da livre circulação ao referir que “A liberdade de circular sem ser objecto de controlo é a principal condição da existência do espaço sem fronteiras. Mas ficaria reduzida a um direito formal se não fosse acompanhada do direito de se estabelecer, de trabalhar ou de residir em toda a [a UE], sem limitação de tempo ou condição discriminatória no exercício de uma actividade profissional” 130 O certo é que é reconfortante saber que qualquer cidadão usufrui de igualdade de direitos em qualquer país da UE para onde quer que se desloque e qualquer que seja o motivo.

Ser cidadão da UE ganhou um sentido de direito fundamental que antes não tinha. Este direito consagrado no artigo 21.º TFUE é uma das maiores conquistas da integração europeia e é inerente à cidadania europeia, considerada pelo Tribunal de Justiça o “estatuto fundamental” do cidadão europeu. Isto deu origem a uma nova Europa mais humana, solidária e respeitada, em que não importa ser cidadão nacional ou europeu, porque todos têm os mesmos direitos131.

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Só pode existir proibição a esta liberdade de circulação, se houver motivos de ordem, de segurança ou de saúde pública que o impeçam, nos termos Capítulo VI da Diretiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de 2004 “relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados-Membros”.

128 “Diretiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de 2004 relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados- Membros, que altera o Regulamento (CEE) n.° 1612/68 e que revoga as Diretiva 64/221/CEE, 68/360/CEE, 72/194/CEE, 73/148/CEE, 75/34/CEE, 75/35/CEE, 90/364/CEE, 90/365/CEE e 93/96/CE”.

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FONTAINE, Pascal - A União europeia. Trad. Ana Moura. Pref. de Francisco Lucas Pires. Lisboa: Editorial Stampa, 1995. Tradução original: L’Union Européenne, pg. 168-169.

130 Ibidem pg. 168-169

131 Esta liberdade de circulação pode ser extensiva “aos nacionais de países terceiros que residam legalmente no território de um Estado-Membro”, de acordo com a Diretiva 2003/109/CE, para os casos de residentes de longa

Só que para que tudo isto se tivesse tornado uma realidade e para que os cidadãos nacionais pudessem usufruir destes direitos houve necessidade de uniformizar a legislação comunitária tanto quanto à forma de intervir como de proceder e agir. Neste sentido, o Parlamento Europeu e o Conselho da União adotaram a Diretiva 2004/38/CE, de 29 de Abril de 2004“ relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados-Membros” 132/ 133, que regulou o regime jurídico da livre circulação ao nível europeu. Pode, contudo, haver exceções em relação a este direito, mas estas prendem-se diretamente com motivos de segurança pública, ordem pública ou de saúde pública.

Nos termos desta Diretiva “A livre circulação das pessoas constitui uma das liberdades fundamentais do mercado interno que compreende um espaço sem fronteiras internas, no qual a liberdade é assegurada134 (…) quando os nacionais dos Estados-Membros exercerem o seu direito de livre circulação e residência135 (…) [assim como] a livre circulação dos membros da família que não sejam nacionais de um Estado-Membro.”136

Uma das grandes novidades da Diretiva 2004/38/CE foi precisamente a de eliminar a exigência do cartão de residência para os nacionais dos Estados-Membros apenas bastando “possuir um bilhete de identidade ou passaporte válido, sem prejuízo de um tratamento mais favorável aplicável às pessoas à procura de emprego, conforme reconhecido na jurisprudência do Tribunal de Justiça.”137

Isto porque de acordo com a jurisprudência do TJ, o cartão de residência tinha um valor meramente declarativo e não constitutivo do direito de residência. Logo esta Diretiva até proíbe

duração e em conciliação com a Diretiva 2003/86/CE, em relação ao direito de reagrupamento familiar e conjugada com artigo 45.º da Carta.

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Directiva 2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de 2004 “relativa ao direito de livre circulação e residência dos cidadãos da União e dos membros das suas famílias no território dos Estados- Membros”, que altera o Regulamento (CEE) n.° 1612/68 e que revoga as Directivas 64/221/CEE, 68/360/CEE, 72/194/CEE, 73/148/CEE, 75/34/CEE, 75/35/CEE, 90/364/CEE, 90/365/CEE e 93/96/CE.

133 Esta Diretiva foi transposta para o ordenamento jurídico português pela Lei nº 37/2006, de 9 de Agosto. 134 2.º Considerando da Diretiva 2004/38/CE de 29 de Abril de 2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004.

135 3.º Considerando da Diretiva 2004/38/CE de 29 de Abril de 2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004.

136 8.º Considerando da Diretiva 2004/38/CE, de 29 de Abril de 2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004.

137 9.º Considerando da Diretiva 2004/38/CE, de 29 de Abril de 2004 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 29 de Abril de 2004.

os Estados-Membros de o exigirem aos nacionais de outros Estados-Membros. Apenas podem exigir um registo, mas é apenas uma opção. O Cartão de residência apenas existe para os membros da família dos cidadãos da UE quando esses membros da família sejam nacionais de Países Terceiros138.

De todos os direitos adquiridos com a cidadania europeia, o direito de livre circulação é o mais relevante e o que tem mais impacto no quotidiano dos cidadãos europeus, porque só estes “dispõem de uma relação de ampla liberdade com o território estadual: podem entrar e sair quando entenderem e pelo tempo que lhes aprouver; podem circular no seu interior sem qualquer limitação; podem fixar-se em qualquer dos seus pontos e desenvolver aí qualquer actividade lícita; não podem ser expulsos do território” 139.

O direito de circulação e residência dos cidadãos europeus estão cada vez mais igualados aos cidadãos nacionais, porque não estão sujeitos a controlos: de entrada, de saída, residência ou atividade profissional, que é exigido aos estrangeiros. Como refere Constança Urbano de Sousa “por exemplo um cidadão (…) [europeu] que queira fixar residência em Portugal e aqui trabalhar não necessita de nenhum visto ou outra formalidade.”140