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3 EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS: MOMENTOS QUE CONSTITUEM

3.3 DIREITOS DAS CRIANÇAS

Um dos objetivos específicos desta pesquisa foi observar e analisar se os direitos das crianças da Educação Infantil estão sendo reconhecidos e valorizados. Em contato com o ambiente da pesquisa constatou-se que alguns dos direitos estão, de fato, sendo propiciados, porém, de maneira camuflada. As crianças participaram, desenvolvendo diferentes brincadeiras e movimentos, mas não sabiam que tais ações e momentos de interação eram seus direitos. A partir de conversas, contação de histórias e olhar documentário sobre os direitos na infância, as crianças começaram a ter noção do que são direitos das crianças.

Nesse sentido, Sarmento (2001, pp. 25-26) convida a refletir sobre o direito cultural que propõe o conhecimento das diferentes culturas e discussões, a fim de possibilitar maior inserção das culturas nas escolas; o direito pessoal, que respeita a individualidade de cada criança e pensa nas políticas públicas inclusivas; e o direito político, segundo o qual a criança participa ativamente nas decisões sobre as atividades educativas.

Em vista disso acredita-se que o direito cultural esteve entrelaçado na proposta da pesquisa, pois ao desenvolver o estudo houve o fortalecimento das diferentes culturas e costumes. Ao assistir ao vídeo “Toda criança tem direitos”, as crianças tiveram a oportunidade de ver diferentes raças. O vídeo mostra alguns dos direitos das crianças, como direito à liberdade, a ter uma família, ir à escola, enfim, são crianças com diferentes cores, o que possibilitou dialogar sobre a diversidade. Essa diversidade está presente na sociedade, pois muitas crianças vivem na abundância enquanto outras em situações muito precárias, além do racismo que, apesar das políticas públicas que lutam pela igualdade e democracia, ainda marginaliza as pessoas de outras raças.

Na Figura 16, a seguir, as crianças brincam e interagem de diferentes maneiras.

Figura 16. Meninos e meninas interagindo

Fonte: dados da pesquisa (2018).

A foto marca o momento do recreio e, por ser um dia chuvoso e frio, as crianças ficaram na sala de aula. Enquanto uns conversavam, outros brincavam com diferentes objetos. As meninas ficaram em um grupo separado dos meninos pelo fato de não estarem em concordância quanto ao brincar.

O direito pessoal é aquele que respeita o tempo, da criança, sua cultura, raça, desejos, medos, alegrias e oportuniza espaços prazerosos para que se sinta participante do lugar. Ademais, deve conter materiais acessíveis e adequados no sentido de estimular as crianças a construir suas brincadeiras.

Figura 16. Menina brincando com tinta

Fonte: dados da pesquisa (2018).

A imagem remete à ideia da realização, do direito pessoal e cultural, entre outros. O desenho foi realizado por uma menina incentivada a desenhar algo interessante a partir dos vídeos relacionados aos seus direitos. A tintura à base de tinta guache foi realizada em cima da própria mesa com o auxílio de uma folha de ofício. Quase todas desenharam uma criança, o que se deve ao fato de se sentiram importantes, e de ter o direito de se expressar na escola.

Exercer o direito político na condição de criança é algo que ainda continua sofrendo exclusões. Participar das decisões não é algo tomado como satisfatório para os adultos. É importante ter a consciência de que não é a criança decidindo, tomando decisões, mas sim trazendo sua voz, suas necessidades, sua realidade, partindo de seu contexto histórico e cultural.

Segundo Tomás e Soares (2009), em “Cosmopolitismo infantil: uma causa (sociológica) justa”, a infância passa por várias formas de exclusão social, econômica, cultural e política. O impacto da globalização e a generalização das políticas globais têm atingido os grupos sociais da infância. Grandes barbáries têm assolado as crianças, privando-as de seus direitos, como as meninas que sofrem exploração sexual, além da proliferação da pornografia infantil na internet e a exploração das crianças de cinco anos nos teares da Índia. Essas crianças se

tornam invisíveis à sociedade, pois representam uma “visibilidade negativa”, não havendo denúncias para a resolução desses quadros dramáticos que afetam a maior parte das crianças em países menos desenvolvidos, sem direito de ter voz e intervir nos processos que lhes dizem respeito (TOMÁS; SOARES, 2009).

O cosmopolitismo infantil é compreendido como um debate de várias vozes: organizações, movimentos e vozes de cientistas sociais que buscam a proteção e promoção dos direitos das crianças e sua inclusão na discussão sobre a globalização. Apesar de debates, avanços e busca por melhor qualidade de vida para as crianças, o atual cenário é preocupante. A infância tem sido marcada por muitos obstáculos que comprometem a integridade física e psicológica da criança.

Podemos refletir com as autoras que pensar uma sociedade mais justa e comprometida com o bem-estar dos seres humanos, em especial das crianças, é uma necessidade nos dias atuais, pois o ser humano é capaz de compreender o mundo que o rodeia, mas, muitas vezes, ignora a sua própria condição humana. O momento político brasileiro requer que se repense as atitudes para que as crianças possam ter uma vida melhor, que seus direitos sejam reconhecidos, pois a infância clama por seu lugar na sociedade, lugar que é seu por direito.

Faz-se necessário, portanto, repensar a exclusão que muitas crianças enfrentam e sofrem a cada dia, desde as mais simples até as mais complexas. As atitudes do ser humano podem fazer toda a diferença na vida de muitas crianças em diversos contextos, pois o seu posicionamento diante das situações a colocam a par dos acontecimentos bons e ruins que as crianças têm passado.

Os direitos da infância precisam ser conhecidos e reconhecidos por todos para que possam sair do papel e assumir o seu caráter de significação e emancipação na vida das crianças, construindo aprendizagens e deixando marcas edificantes que são levadas para toda a vida.

Destaca-se com indignação a pouca participação ativa das crianças no direito político, pois são excluídas desse cenário, suas necessidades não são atendidas e muitas vivem sem o mínimo de conforto e até sem direito à vida digna.

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