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5. DIREITOS DAS PESSOAS SURDAS NAS NORMAS BRASILEIRAS

5.2. DIREITOS DAS PESSOAS SURDAS NAS NORMAS

INFRACONSTITUCIONAIS

No ano seguinte à promulgação da Constituição, em 1989, foi sancionada a Lei nº 7.853, que dispunha sobre a integração social das pessoas com deficiência.

A intenção da Lei foi editar normas gerais que assegurassem o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social179.

178 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro

Gráfico, 1988. 292 p., art. 227. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 24 out. 2018. 179 BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Brasília, Art. 1º, caput. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm. Acesso em: 7 abr. 2019.

Os princípios180 preconizados são os valores básicos da igualdade de

tratamento e oportunidade, da justiça social, do respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito, além do afastamento das discriminações e os preconceitos de qualquer espécie.

Sobre as medidas para assegurar às pessoas portadoras de deficiência181 o

pleno exercício de seus direitos básicos, a Lei elenca ações nas áreas da educação, saúde, formação profissional e trabalho, recursos humanos e edificações182.

É perceptível, dentre essas ações, a presença de enunciados generalistas e abertos, e mesmo a simplista repetição de garantias constitucionais, como ocorre no título de edificações183, que prevê a adoção e execução de normas que garantam a

funcionalidade das edificações e vias públicas, que evitem ou removam os óbices às pessoas portadoras de deficiência, permitam o acesso destas a edifícios, a logradouros e a meios de transporte - qual a Convenção disciplina em seu já mencionado artigo 227, § 1º, II.

Como se verá a seguir, apenas em 1999, dez anos depois, essa lei será regulamentada através do Decreto nº 3.298.

Importa destacar a afirmação da Lei que, quanto à Educação, obriga a inserção de escolas especiais, privadas e públicas, no sistema educacional e a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em estabelecimento público de ensino.

Por outro lado, o documento estudado afirma que o poder público deve se responsabilizar por matricular compulsoriamente em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoas portadoras de deficiência os capazes de se integrarem no sistema regular de ensino.

Tal dispositivo sugere uma categorização das pessoas com deficiência entre as capazes e as incapazes de se integrarem no sistema regular de ensino. Essa

180 BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Brasília, art. 1º, §§ 1º e 2º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm. Acesso em: 7 abr. 2019.

181 Nomenclatura adotada pela Lei nº 7.853. 182 BRASIL. Lei nº 7.853, Op. cit., art. 2º. 183 BRASIL. Lei nº 7.853, Op. cit., art. 2º, V, a.

separação, além de excluir da lei uma grande parcela das crianças ao sugerir a incapacidade de se relacionarem socialmente, provoca a discriminação que a própria lei alega combater184.

Ademais, a Lei não estabelece qualquer critério para explicar essa capacidade mencionada. O que potencializa ainda mais os preconceitos e aumenta a dificuldade de acesso à educação.

Pensando em crianças surdas, é fácil sugerir que a comunicação em uma língua não oral possa ser considerada argumento para se alegar a incapacidade de integração no sistema regular de ensino, o que reduz significativamente o potencial desenvolvimento escolar e social dessas.

Isso posto, é possível afirmar a importância dessa Lei, especialmente ao considerar o período histórico brasileiro, de recém instituição do Estado Democrático de Direito. Entretanto, a norma é marcada pela generalidade e estabelece políticas que acabam por segregar mais que integrar, além de carregar designações arcaicas, como o termo “portador de deficiência”, o que se justifica pela idade que a norma já tem - quase 30 anos.

Ainda assim, é inegável o valor dessa produção legislativa para o país, conquanto trouxe à discussão política e social temas de especial relevância. Além disso, apesar de não trazer nenhuma previsão expressa de atenção às pessoas surdas, a Lei 7.853/89 disciplina sobre crimes e ritos processuais específicos à proteção das pessoas com deficiência.

Em 1990 foi sancionado o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei Nº 8.069/90). Baseado na proteção integral à criança e ao adolescente, o ECA esteia suas bases na não discriminação e garantia de gozo, pelas crianças e adolescentes, de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, a fim de lhes entregar a possibilidade de desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade185.

A Lei não faz qualquer menção específica à surdez ou disposições de atenção a crianças e adolescentes surdos, mas demonstra um compromisso de atenção aos

184 Ver Figura 4 e Figura 5.

185 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 13 jul. 1990, art. 3º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 25 fev. 2019.

menores com deficiência em áreas como saúde, assistência social, adoção e educação.

Na Educação, o ECA traz uma novidade em relação à Lei 7.853/89: assegura o atendimento educacional especializado às crianças com deficiência preferencialmente na rede regular de ensino186. Aqui não se fala de capacidade ou

incapacidade de adaptação, tão somente estabelece o dever estatal de incluir as crianças com deficiência na rede regular de ensino.

Inobstante isso, vale quebrar um pouco a linha do tempo que aqui se constrói para mencionar a Política Nacional de Educação Especial187, que quatro anos depois,

em 1994, propôs a chamada “integração instrucional”, que rezava o ingresso em classes regulares de ensino apenas pelas crianças com deficiência que possuíssem “condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”.

A disposição da Política reforça a ideia de exclusão, vez que muitos surdos acabam sendo encaminhados para a Educação Especial por não possuírem, muitas vezes, condições de desenvolver a comunicação em espaços regulares de aprendizagem.

A Lei 8.160, de janeiro de 1991 traz, em seus seis artigos, disposições sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva188.

Essa Lei obriga a colocação do "Símbolo Internacional de Surdez" em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso.

Interessante refletir que a Lei não compele os locais a promoverem ações de acesso, circulação e utilização de seus serviços às pessoas surdas ou com deficiência

186 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, 13 jul. 1990, art. 54, III. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 25 fev. 2019.

187 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 1994, p. 19.

188 BRASIL. Lei nº 8.160, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8160.htm. Acesso em: 25 fev. 2019.

auditiva, mas apenas regulamenta a sinalização daqueles que já servem ou são acessíveis a esse público.

Voltando a uma norma de atenção à Educação, tem-se a Lei 9.394189 de 1996,

que instituiu as Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Sem destinar nenhum dispositivo específico às pessoas surdas, mas com um capítulo específico para a Educação Especial, a LDB assegura os serviços de apoio especializado na escola regular, sempre que necessário, a fim de atender às peculiaridades da clientela de Educação Especial.

A norma que regulamenta a Lei 7.853/89, já citada acima, é o Decreto 3.298, de 1999. Ele dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção.

Sobre a surdez, o texto original apresentava categorias de deficiência auditiva, que distinguia a surdez leve, moderada, acentuada, severa, profunda e anacusia, de acordo com os decibéis percebidos pelo indivíduo. Entretanto, essa categorização foi suplantada com a edição do Decreto nº 5.296 de 2004, que passou a considerar como deficiência auditiva a “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz”. Não há mais, portanto, a gradação da surdez.

Ademais, Decreto 3.298 afirma caminhar em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos e estabelece princípios de ações conjuntas do Estado e sociedade civil para a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto socioeconômico e cultural, além da garantia, às pessoas portadoras de deficiência, do pleno exercício de seus direitos básicos, e respeito aos indivíduos, dignos de receber igualdade de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados190.

Em 2000, a Lei 10.098 estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência. Com relação ao

189 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 26 fev. 2019.

190 BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Brasília, Art. 5º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3298.htm. Acesso em: 25 fev. 2019.

público surdo, essa Lei reconhece a Língua Brasileira de Sinais como forma de interação dos cidadãos191, dispõe sobre a oferta de lugares específicos para pessoas

com deficiência auditiva em locais de espetáculos, conferências, aulas e outros de natureza similar192, além do uso da linguagem de sinais ou outra subtitulação em

serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens193.

De especial importância para o povo surdo, o artigo 18 garante a implementação, pelo Poder Público, da formação de profissionais intérpretes de linguagem de sinais e de guias-intérpretes, para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. A regulamentação desse direito ocorre a posteriori, em 2005, através do Decreto 5.626.

Em janeiro de 2001 fora aprovado o Plano Nacional de Educação. Com um modelo diferente das leis anteriores, já que se organiza a partir de diagnóstico, diretrizes e metas, a Lei 10.172/01 se propõe a atender o dispositivo constitucional de integração dos portadores de deficiência na rede regular de ensino194 e, para tanto,

lançará mão da qualificação dos professores, além da adaptação das escolas em suas condições físicas, mobiliário, equipamentos e materiais pedagógicos195.

O Plano dedica um ponto exclusivamente ao tema da Educação Especial196 e

aborda a importância de um acompanhamento escolar sistemático e desde cedo, a fim de promover a melhor assistência aos alunos com deficiência.

Dentre os objetivos e metas que atendam o público surdo, o Plano estabelece a criação de programas para equipar adequadamente os locais de ensino com aparelhos de amplificação sonora e outros que facilitem a aprendizagem197. Como

191 BRASIL. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,

e dá outras providências. Brasília, Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm. Acesso em: 24 mar. 2019. Art. 2º, d, IX. 192 Ibidem, art. 12.

193 Ibidem, art. 19.

194 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro

Gráfico, 1988. 292 p., art. 208, III. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 24 out. 2018. 195 BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras

providências, Brasília, ponto A, 3.2. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 26 abr. 2019. 196 Ibidem, ponto 8.

prazo, a Lei estabelece cinco anos para as escolas da educação básica e dez anos para as instituições de ensino superior.

A meta seguinte refere-se à disseminação da Língua brasileira de Sinais. Sua intenção era implantar o ensino da Língua Brasileira de Sinais para os alunos surdos e estender esse aprendizado aos seus familiares e integrantes da unidade escolar. O Plano estabelece prazo de cinco anos para o ensino e dez anos para a generalização desse, que se daria mediante um programa de formação de monitores, em parceria com organizações não-governamentais198.

Ademais, a Lei baseia-se no princípio da não discriminação ao estabelecer como meta a criação de políticas que facilitem às minorias o acesso à educação superior. Reconhecendo as minorias como vítimas de discriminação, o Plano cita o uso de programas de compensação de deficiências da formação escolar anterior do aluno, a fim de possibilitar a competição em igualdade de condições nos processos de seleção e admissão ao nível superior de ensino199.

Ainda em 2001, o Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou a Resolução CNE/CEB nº2, que definia as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica.

A importância dessa resolução reside na afirmação de que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos”200, e conta com a organização das escolas

para o atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais, de forma que mantenham-se asseguradas as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. Isso se contrapõe à ideia de métrica de capacidade imposta pela já mencionada Política Nacional de Educação Especial, de 1994.

A resolução traz ainda ações de promoção de acessibilidade201. Segundo ela,

a acessibilidade aos conteúdos curriculares deve ser garantida pelos sistemas de ensino. Nesse sentido, a Resolução incentiva a utilização de linguagens e códigos

198 BRASIL. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras

providências, Brasília, ponto 8.3, 11. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10172.htm. Acesso em: 26 abr. 2019. 199 Ibidem, ponto 4.3, 19.

200 BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Parecer CEB/CNE 17/2001, homologação publicada no DOU 17/08/2001. Resolução CNE/CEB 02/2001, Art. 2º, publicada no DOU 14/09/2001.

aplicáveis, como a língua de sinais, reforçando que isso não deve prejudicar o aprendizado da língua portuguesa.

Em 2002 é sancionada uma das principais normas para a comunidade surda no Brasil: a Lei 10.436202, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais - Libras - como

meio legal de comunicação e expressão.

A Lei visa garantir que poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos atuem institucionalmente no apoio ao uso e difusão da Libras, e ofereçam atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva203.

Sua regulamentação ocorreu três anos mais tarde, por meio do Decreto 5.626204, de dezembro de 2005. O texto do decreto, preliminarmente, ressalta

elementos culturais e de liberdade individual ao definir quem aquela norma considera pessoa surda205. É assim considerada a pessoa que tem perda auditiva e se utiliza do

meio visual (ao invés do oral-auditivo) para interagir e relacionar-se com o mundo. Destaque-se aqui a atenção dada, nesta definição à cultura própria e uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.

Essa consideração de elementos próprios da cultura surda sugere respeito aos direitos individuais dos surdos, conquanto não se baseia em classificações meramente objetivas medidas em decibéis, mas valoriza as peculiaridades e preferências das pessoas que lidam com perda auditiva.

O Decreto estabelece a inserção da Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de fonoaudiologia, e nos cursos de formação professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e isso inclui todos os cursos de licenciatura, além de Pedagogia e Educação Especial206.

202 BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras

e dá outras providências. Brasília, Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm. Acesso em: 7 maio 2019. 203 Ibidem, arts. 3º e 4.

204 BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 7 maio 2019.

205 Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras (Ibidem).

Seus capítulos seguintes tratam da formação do professor e do instrutor de Libras; do acesso das pessoas surdas à educação pelo uso e difusão da Libras e da língua portuguesa; da formação do tradutor e intérprete de Libras; da garantia do direito à educação das pessoas surdas; da garantia do direito à saúde das pessoas surdas; do papel de apoio ao uso e difusão da libras pelo poder público e empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos207. Além disso, o Decreto

estabelece que deve haver previsão orçamentária para atender às demandas elencadas208.

As ações e obrigações determinadas por este Decreto são de especial importância para a promoção dos direitos das pessoas surdas pois são criteriosas quanto a prazos e formas para, precipuamente, facilitar o acesso dos surdos à educação, saúde e serviços públicos em geral.

Além disso, a norma preocupa-se em garantir a prioridade aos surdos na ocupação de cursos de formação e cadeiras de ensino de Libras209. Esse acesso e

mais ainda, essa prioridade é de fundamental importância para a difusão da Libras, mas também cumpre papel inestimável no que diz respeito à dignidade.

Isso porque, a exemplo do que vem sido construído através desta dissertação, o Decreto parte de um pressuposto de desigualdade e, a fim de solucioná-la, propõe medidas de ordem social, consubstanciadas nos direitos mais basilares dessa classe, quais sejam: educação e trabalho.

Mesmo ao tratar da garantia do direito à saúde, a norma reconhece a importância e precedência da educação quando, diante do diagnóstico de surdez, prevê o encaminhamento do atendido à área de educação210.

207 BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de

19 de dezembro de 2000. Brasília, Capítulos III a VIII. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm. Acesso em: 7 maio 2019. 208 Art. 28. Os órgãos da administração pública federal, direta e indireta, devem incluir em seus orçamentos anuais e plurianuais dotações destinadas a viabilizar ações previstas neste Decreto, prioritariamente as relativas à formação, capacitação e qualificação de professores, servidores e empregados para o uso e difusão da Libras e à realização da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, a partir de um ano da publicação deste Decreto (Ibidem).

209 Ibidem, art. 4º, pu; art. 5º §2º, art. 6º §2º, art. 7º §1º.

210 Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas ou com deficiência auditiva em todas as esferas da vida social, devem garantir, prioritariamente aos alunos matriculados nas redes de ensino da educação

Fica nítido, na análise deste Decreto, seu cuidado com ações afirmativas que privilegiam a acessibilidade das pessoas surdas. À educação, ao mercado de trabalho, ao serviço de saúde e aos órgãos e empresas prestadoras de serviço público.

Além disso, a intenção de difusão da Língua Brasileira de Sinais é formalmente alcançada pelo Decreto quando da oferta de novas vagas de formação na área da Libras e educação de surdos211; do surgimento de um novo nicho profissional212, em

razão do primeiro ponto; e da capacitação dos profissionais ligados à prestação de serviços públicos213.

Isso posto, é possível inferir, pelas razões acima expostas, que o Decreto nº 5.626 se estabeleceu como uma norma de grande impacto e o ano de 2005 foi de especial importância para o povo surdo.

Em 2006 o Ministério da Educação (MEC) lançou um completo documento de direitos humanos. O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - PNEDH214

básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas,