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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.6 DIRETRIZ TEÓRICA DA PESQUISA

Nesta pesquisa foram utilizados fundamentos dos conceitos de redes empresariais de negócios, bem como os seus tipos e a governança no âmbito supra-empresarial.

Dentre as diversas abordagens ou correntes teóricas sobre redes inter-organizacionais e os estudos das redes de empresas, consideraram-se aquelas propostas por Castells (1999), Human e Provan (1997), Oliver e Ebers (1998), Marcon e Moinet (2001) e Zaccarelli et al. (2008). Para a governança supra-empresarial, orientou-se pela abordagem supra- organizacional apresentada por Schermerhorn Jr. (1975) e adotaram-se os conceitos propostos por Zaccarelli et al. (2008).

A caracterização da rede empresarial de negócios, no que se refere especificamente aos seus elementos, é uma proposta de alguns fatores para o modelo conceitual teórico preliminar desta pesquisa e apresenta um conjunto de relações complexas. Conforme a literatura pesquisada, o caráter fragmentado e complexo do objeto de estudo em questão evidencia que a adoção de uma categorização genérica pode oferecer mais condições para atender às finalidades da pesquisa, visto que se pretende estudar diferentes redes empresariais de negócios estratégicas. Além disso, uma tipologia ou classificação com critérios especializados de análise (por exemplo, análise de fluxos financeiros, fluxos de informações, ligações entre stakeholders, etc.) demandaria um estudo analítico de determinada área e conseqüente aumento na dificuldade de acessar informações (MARCON; MOINET, 2001, p.167). Este motivo também justifica a adoção relativamente genérica aqui descrita sobre os efeitos que a compõe. Entre as correntes distintas de Olivers e Ebers (1998), aquela da “estratégia” se posiciona o estudo. Diante de atributos complexos, deve haver parcimônia implícita para a pesquisa dessas redes, entre o seu número e a riqueza de poder possibilitar resultados compostos por muitas variáveis de respostas (feedbacks) ou indicadores que a explicam. Esses elementos fazem parte de uma dimensão do tipo de rede estudado.

Adotou-se a proposta de racionalidade lógica versus a racionalidade estratégica de Zaccarelli et al. (2004) e outros, descrita e discutida anteriormente, para o entendimento e distinção da Redes Estratégicas. Semelhante ao conceito de Redes de Negócios dos autores, as Redes Empresariais de Negócios Estratégicas foram definidas como sendo conjunto de empresas de

um setor econômico, que estão integradas não necessariamente em razão de uma aglomeração geográfica, pois este não é determinante para a sua constituição e funcionalidade, que se constituem e integram a partir do modo ou forma estratégica de pensar, cujos interesses de negócios em comum têm a finalidade de vencer a competição. Tais interesses motivam as empresas para uma complementação de competências e decisões supra-empresariais, que produzem efeitos que podem gerar maior poder competitivo.

Desse modo, as redes de negócios lógicas ou estratégicas podem ser reconhecidas por meio de efeitos. No caso das estratégicas, Zaccarelli et al. (2008) apresentaram dez efeitos por eles denominados “fundamentos da performance competitiva das redes”. Para chegar a estes, os autores partiram de um modelo mental, o qual as redes estratégicas são configuradas a partir do pensamento estratégico, conforme exposto na fundamentação teórica. Dessa maneira, os cinco primeiros efeitos apresentados, a seguir, podem ocorrer sem governança, ou seja, são viáveis precariamente por auto-organização, enquanto que, no caso dos outros efeitos restantes, governança é indispensável para viabilizá-los.

Esses efeitos de redes empresariais de negócios estratégicas estão ordenados a seguir:

a) a fidelização mútua como orientação nas transações entre empresas da rede. Com o aumento da preferência pela realização de negócios entre empresas que trabalham em conjunto com produtos ou serviços afins, aumenta-se a “fidelização”, que passa a orientar as mútuas transações. Ocorre, então, o fortalecimento dos inter- relacionamentos, o aumento na reciprocidade e cooperação, devido à melhora da articulação e alinhamento entre as empresas. O processo de fidelização decorre de uma interação entre negócios, associada ao aprofundamento e à constância nas transações comerciais entre as empresas, podendo, desta maneira, constituir uma escala de progressão ou evolução de tais relacionamentos. Tal tipo de escala pode se iniciar em nível zero, no qual não há na empresa vendedora, com pedidos específicos da empresa compradora, e chegar ao nível máximo de relacionamento entre as empresas, no qual existem complementaridades que repercutem na própria gestão das empresas;

b) a especialização de empresas: A velocidade de desenvolvimento com investimentos e custos inferiores, com flexibilidade empresarial dentro do conjunto de empresas é gerada a partir da exploração de um bem ou serviço (ou de algum de seus componentes), ocorrendo uma especialização da mesma. Esta especialização pelas

empresas do conjunto produz vantagem competitiva para a Rede Empresarial de Negócios Estratégia, se comparadas às outras empresas isoladas. Quanto mais especializadas forem as empresas do conjunto no processo de produção ou de desenvolvimento de serviço, maior produtividade e flexibilidade terá a rede empresarial e maior será o seu poder competitivo;

c) a compra de insumos ou serviços diretamente dos produtores/prestadores, sem intermediários puros, que são aqueles que não agregam valor, com a eliminação de membros do canal. A obtenção de insumos ou de serviços diretamente de seus produtores ou prestadores, eliminando esses agentes intermediários, é conseguida de maneira progressiva. Os intermediários acrescentam custos sem contrapartida de aumento mais que proporcional para o conjunto das empresas e acabam enfraquecendo até que a mesma se desconfigure ou se quebre. A saída desse tipo de agente que se inviabiliza economicamente permitirá ganhos do conjunto empresarial na capacidade de competir, que pode ser associado à redução de custos de produção ou desenvolvimento e/ou o acesso a mercadorias/serviços. Os resultados positivos obtidos com a compra de insumos e/ou serviços diretamente dos produtores/fornecedores/prestadores de serviços estimularão as empresas do conjunto a buscarem aqueles que possuem credibilidade, favorecendo o relacionamento e processo de fidelização de negócios;

d) a abrangência de negócios com a inclusão daqueles relevantes ou significativos para o produto principal da rede. A incorporação de empresas que trazem um negócio novo dentro da rede, fornecendo ou adquirindo produtos e/ou serviços que contribuem de modo significativo ao serviço principal do conjunto, ampliando a Rede Empresarial de Negócios Estratégica, estenderá os benefícios do relacionamento de fidelização de importância estratégica. As posições privilegiadas de competitividade são determinadas pela redução de custos logísticos, potencial de integração e sinergia com benefícios em áreas de marketing ou pesquisa e desenvolvimento, e/ou outras alternativas de ganhos;

e) a agilidade na substituição seletiva de empresas: Em uma Rede Empresarial de Negócios Estratégica, as empresas que apresentam problemas em sua gestão, que ocasionem redução de sua eficiência e, conseqüentemente, influenciam no desempenho do conjunto como um todo, são substituídas. A capacidade da rede em

substituir com rapidez as empresas que estejam desalinhadas com o todo poderá determinar a sua competitividade;

f) a homogeneização da intensidade dos fluxos de produtos/serviços com a integração dos procedimentos informalmente instituídos entre empresas. Os fluxos de produtos/serviços ou de insumos que ocorrem em toda a Rede Empresarial de Negócios Estratégica entre as empresas que a compõem necessitarão de uma coordenação que seja capaz de alinhá-los, homogeneizá-los e integrar os procedimentos informalmente instituídos à sua gestão. Deverá existir uma atuação exercida por governança supra-empresarial que reverta a tendência do desalinhamento entre os fluxos, evitando a elevação ou redução de níveis de estoques gerais ou, no caso dos serviços, o descontrole das informações e do atendimento das necessidades e da prestação em tempo adequado, assim como os custos deles decorrentes e conseqüente descontinuidade de movimentos, elevação de custos por interferência e/ou reprogramação;

g) a introdução de inovações para alinhamento entre os negócios. A Rede Empresarial de Negócios ganha poder competitivo quando suas empresas conseguem alinhar os negócios entre si, a partir de uma integração de processos e/ou procedimentos de gestão adotados mutuamente, uma vez que auxiliam no compartilhamento de recursos ou serviços para atender à demanda e às necessidades dos clientes ou do mercado. Tal tipo de integração está condicionado ao exercício da governança, que intervém, estimula e orienta de maneira discreta, sem interferir diretamente na gestão individual das empresas do conjunto;

h) a introdução de novas tecnologias nas empresas do conjunto. Diante dos avanços tecnológicos ocorridos a partir da década de 1980, de todas as suas conseqüências na sociedade, foi observada a grande contribuição no surgimento dos vários tipos de redes inter-organizacionais. As empresas da Rede Empresarial de Negócios Estratégica, em face às novas tecnologias que estão sendo disponibilizadas continuamente, procuram se beneficiar delas, selecionando-as em um processo de implementação ou de atualização constantes, para aplicação nas diversas etapas de constituição do produto ou serviço, nos processos do conjunto ou em relação ao produto/serviço final. Com isto, observa-se um aperfeiçoamento empresarial. No entanto, a introdução coordenada de novas tecnologias nas empresas, de maneira

compartilhada/integrada, e para benefício dos interesses da rede empresarial como um todo, somente é possível com a governança, sendo que o seu exercício colocará o conjunto de empresas em situação de vantagem, se comparado aos concorrentes; i) o compartilhamento de investimentos, riscos e lucros. Com o avanço da

reciprocidade e da cooperação pela fidelização na Rede Empresarial de Negócios Estratégica, durante a sua evolução, verificam-se diversos ganhos e benefícios, entre os quais o compartilhamento de investimentos, riscos e lucros. Em tal situação, ocorrem financiamentos conjuntos de equipamentos, instalações e/ou tecnologias demandadas, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são distribuídos, as perdas são compensadas, dentre outros. Os custos diretos e indiretos são compartilhados, reduzindo seus impactos em cada empresa da rede empresarial, permitindo a otimização dos recursos financeiros. Os lucros diretos e indiretos são compartilhados, que aumentam devido a essa otimização e, principalmente, ao maior poder de negociação e compensação de riscos, alcançados pelo conjunto como um todo, aumentando-se, desse modo, a sua competitividade. Entretanto, este estágio de compartilhamento está condicionado à existência de governança;

j) a estratégia do conjunto como um todo para competir como rede de negócios. Na busca pelo aumento do seu poder competitivo e enfrentamento de outras redes de negócios ou empresas isoladas, as Redes Empresariais de Negócios Estratégicas buscam assegurar orientações de ação e de decisão entre as empresas do conjunto, de maneira a alcançar diferenciais e a se concentrarem em ganhos de competitividade como um todo. O diferencial competitivo é, então, o resultado de uma estratégia a partir do exercício de governança, fundamental para balizar as prioridades de competição diante de outras redes de negócios.

As redes de negócios existem em um ambiente e podem ser vistas a partir do contexto supra- organizacional “federativo”, nos termos discutidos por Schermerhorn Jr. (1975). Com base nesse contexto, é possível entender que a governança supra-empresarial tem mecanismos para coordenar decisões pela rede e em prol da mesma. Para Zaccarelli et al. (2008), essas decisões teriam por finalidade produzir efeitos que resultariam em benefícios não apenas para uma empresa isoladamente, mas para o conjunto delas. Estes benefícios retornam para o fenômeno da entidade supra-empresas e ocorrem em toda a rede, sem que sejam facilmente visualizados ou percebidos.

Assim sendo, o governo não é feito por um ator, organismo ou associação, mas por meio de uma atuação posicionada acima das empresas da rede, que ocorre de maneira velada ou sutil. A governança supra-empresas, sendo orientadora da estratégia, estabelece-se como causalidade primeira do desempenho na competição, e também pode ter um caráter duplo, podendo a primeira vir a ser influenciada pelo segundo.