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Como previamente apresentado na revisão bibliográfica, uma das principais barreiras para a inserção das energias renováveis está no seu alto custo. Em quase todos os casos, o custo da produção das energias renováveis ainda é superior ao da geração convencional. Isso também se justifica pelo fato de que os custos externos, associados à geração elétrica convencional não são refletidos no preço. Portanto, atribuir valores econômicos e financeiros aos benefícios das energias renováveis e aos danos da energia convencional é um fator fundamental.

Remunerar toda a energia produzida por um sistema FV, ou apenas a parcela entregue à rede é uma das diferenciações existentes entre os diversos mecanismos de incentivo encontrados (IEA, 1996) (GREENPEACE, 1997). Como já foi previamente descrito no Capítulo 2, existem dois tipos gerais de políticas regulatórias de acesso à rede: sistema de preços e sistema de quotas.

Conforme Holm e Arch (2005), o sistema de preços (Feed-in Law) é o mecanismo mais recomendado para promover as FRE, não apenas nos países desenvolvidos, mas principalmente nos países em desenvolvimento. Uma vez que os países mais pobres têm necessidades básicas a serem supridas, não faz sentido adotar um programa de incentivo onde o governo tenha que entrar com um alto investimento inicial. A vantagem do sistema de preços é que não existe a necessidade de um investimento por parte do governo. Sendo assim, a análise sugere para aplicação no Brasil, um mecanismo de incentivo baseado no sistema de preços, adaptado à nossa realidade, de forma que a população pobre não viesse a pagar as taxas da geração FV nas suas tarifas de energia.

O sistema de preços tem a vantagem de que o governo não é o único participante do mercado energético. Passam a fazer parte desse mercado os pequenos, médios e grandes investidores, bem como empreendedores nacionais e internacionais. Isso traria benefícios para o Brasil, tanto em termos de tecnologia e desenvolvimento, quanto em termos de geração de empregos.

Na metodologia proposta, o governo não necessitaria subsidiar diretamente essas instalações. Uma alternativa seria facilitar e permitir um suporte financeiro em forma de taxas de crédito e empréstimos com juros baixos; dessa forma estaria encorajando e incentivando possíveis investidores, gerando uma garantia para os seus negócios. Estes indicativos nacionais deveriam ser compatíveis com os princípios do mercado interno de eletricidade, levar em consideração as características das diferentes fontes de energia renováveis, bem como as diversas tecnologias e diferenças geográficas. Os mesmos deveriam incluir períodos transitórios suficientes para manter a confiança dos investidores, permitir que esta nova fonte renovável de energia possa ser

competitiva com a geração convencional a longo prazo, limitar os custos para os consumidores e reduzir, a médio prazo, a necessidade de apoio público.

Os subsídios diretos, como forma de política pública, caracterizam-se por apresentar maior transparência em relação a incentivos que promovem a concessão de subsídios indiretos. Independentemente do tipo de subsídios, a sua concessão geralmente é justificada pelo agente público como um investimento na garantia de fornecimento. A concessão de subsídios deve ser calibrada ao longo do tempo, de forma a criar incentivos para que a fonte alternativa se torne competitiva a médio e longo prazo, sempre analisando o comportamento da demanda de energia e os custos das fontes de geração.

A proposta para um mecanismo brasileiro deveria ser baseada no limite anual e total de geração FV. Na Alemanha, não existe esse limite, mas a Espanha, com a revisão do seu mecanismo que aconteceu ao final de 2008, passou a adotar esse limite na sua potência instalada. Essa limitação no caso do Brasil teria como finalidade não encarecer demasiadamente o programa, ou seja, fazer com que o impacto na tarifa dos consumidores fosse de proporção ainda menor do que a do impacto na tarifa dos países desenvolvidos. O objetivo seria começar com metas relativamente pequenas em uma primeira etapa, até que fosse possível aumentar o número de instalações e que o mercado consiga amadurecer, dando uma maior confiabilidade e competitividade à tecnologia. Numa segunda etapa, essas metas poderiam ser revisadas e aumentadas.

Para que esses objetivos sejam cumpridos, deveria ser determinado, por intermédio de mecanismos legais, que todas as operadoras de energia sejam obrigadas a comprar e a comercializar uma determinada porcentagem (previamente estabelecida e regulamentada) de energia oriunda da tecnologia FV, conectando-a na rede elétrica de distribuição. Também deveria ser aprovada uma lei que trate especificamente da compensação (tarifa prêmio) da eletricidade oriunda das energias renováveis e do repasse desses custos ao consumidor, que inclua a energia FV. Caberia à ANEEL e à ELETROBRAS o registro e a normatização das unidades conectadas. No sentido de incluir a geração solar FV na matriz brasileira nas próximas décadas, sugere-se a proposição de um programa de incentivo à geração solar com tarifas prêmio semelhantes às praticadas no programa alemão, permitindo ao mesmo tempo em que o cidadão comum possa ter acesso à rede elétrica e garantia de compra do valor total da sua produção de energia. Um programa nestes moldes, limitado a 10 anos na aceitação de novos entrantes até um limite na escala do GWp e com pagamento de tarifas prêmio por 20 ou 25 anos em condições que remunerassem o investimento de forma satisfatória, não somente viria a viabilizar a tecnologia solar FV em grande escala no Brasil, como prepararia o sistema elétrico brasileiro para a situação da paridade tarifária a ser atingida na próxima década. Além disto, um programa deste tipo poderia atrair para este setor da economia novos recursos financeiros, advindos do investimento de agentes, inclusive pessoas físicas, que tradicionalmente não são investidores nesta área.

Outro aspecto que deve ser observado se refere a considerações relativas aos agentes distribuidores de energia: sabe-se que no programa alemão houve grande resistência por parte das empresas distribuidoras de energia, uma vez que estas não eram remuneradas pelo trabalho adicional de administrar a entrada de grandes quantidades de pequenos geradores pulverizados em seu sistema de distribuição. Neste sentido, poderia ser concebido um programa que incluísse algumas vantagens para estes agentes, de modo a que se sintam atraídos e remunerados pela sua nova atividade neste setor, evitando sua oposição à iniciativa.