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DISCOPATIA REGIÕES TORACOLOMBAR E CERVICAL

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.2 DISCOPATIA REGIÕES TORACOLOMBAR E CERVICAL

Na neurologia, é necessário uma anamnese rica em informações, exame físico geral bem feito, observação de sinais que o paciente demonstre e/ou proprietário relate durante atendimento e exame neuro-específico completo, além da eficiência em solicitação de exames complementares realmente necessários.

Com exceção do uso da radiografia simples e da mielografia, as demais opções, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, tem um custo financeiro considerado mais elevado e não são todas as cidades que dispõem desta tecnologia, para que assim possa ser localizado o local da lesão da forma mais eficiente possível e poder sugerir o melhor tratamento para a situação em que o paciente estiver vivenciando.

De acordo com a neuroanatomia, a coluna vertebral pode ser dividida em cervical, torácica, lombar, sacral e caudal (figura 10). Os segmentos medulares não estabelecem uma relação perfeita com as vértebras (regiões mais posteriores), (MORISHIN FILHO, 2012).

FIGURA 10 – SEGMENTOS MEDULARES

Um exame neurológico bem feito é crucial para confirmar se há o envolvimento do sistema nervoso central ou do sistema nervoso periférico, para localizar a lesão e classificá-la. A figura 11 abaixo mostra os possíveis locais de lesão.

FIGURA 11 – LESÃO NEUROLÓGICA

FONTE: Adaptado por MORISHIN FILHO 2012

O quadro 1, nos mostra a localização dos segmentos medulares dentro dos corpos vertebrais no cão.

QUADRO 1 – LOCALIZAÇÃO DOS SEGMENTOS MEDULARES

Segmento Medular Corpos Vertebrais

C1-C5 C1-C4 C6-T2 C4-T2 T3-L3 T2-L3 L4 L3-L4 L5,L6,L7 L4-L5 S1-S3 L5 Caudal L6-L7 Nervos espinhais da cauda equina L5-sacro

Entrando mais no foco deste trabalho, podemos dizer que a doença do disco intervertebral (DDIV) é uma das mais importantes neuropatias dentre as discopatias intervertebrais, constitui um dos distúrbios neurológicos mais comuns diagnosticados em pacientes veterinários (FOSSUM, 2005, p.1219; ARIAS et al.,2007, p.2).

A degeneração de disco intervertebral pode resultar em protrusão ou extrusão de material de disco para o canal medular, causando compressão da medula espinhal, e sinais clínicos que variam de dor aparente à mielopatia transversa completa (ETTINGER, 2004, p. 667). Podem ocorrer alterações degenerativas em qualquer disco intervertebral, porém elas são mais comuns na coluna cervical, torácica caudal e lombar (ETTINGER, 2004, p.667).

As extrusões de disco são mais comuns nas regiões cervicais e de T11 a L3 da coluna vertebral. É provável que fatores genéticos tenham algum papel (ETTINGER, 2004, p.668).

Neste estudo foram verificados os espaços intervertebrais (EIV) acometidos. A figura 12 ilustra o disco saudável.

FIGURA 12 – SECÇÃO TRANSVERSAL DE UM DISCO INTERVERTEBRAL NORMAL

FONTE: BRIGITTE A. BRISSON, DMV, DVSC, INTERVERTEBRAL DISC DISEASE IN DOGS (2010)

Legenda:

Ligamento Dorsal Núcleo Pulposo Ligamento Ventral

Lesões toracolombares representam 84 a 86% dos problemas de discos intervertebrais em cães. As lesões cervicais são responsáveis por 14 a 16% dos problemas de DDIV em cães. Ocorrem mais comumente entre T11-T12, T12-T13, T13-L1 e L1-L2 (JEFFERY, 1995, p.87; ARIAS et al., 2007, p.2; LORENZ, COATES, KENT, 2011 p.113).

Numa série de 2.257 pacientes, 26,5% das lesões ocorreram em T12-T13, e 25,4% em T13-L1 (SLATTER, 1998, p.1291;1298). Também é descrito que 70% das DDIV acometem a região toracolombar entre T11-L2, e a mais comum entre as vértebras T12-T13 (JEFFERY, 1995, p.87).

Há outros dados publicados, que embora semelhantes, apresentam pequenas diferenças entre si, como o relato que os segmentos medulares mais acometidos foram o toracolombar/lombar (68,1%) e o lombossacro (19,3%), (MENDES, ARIAS et al, 2012 p.6). Figura 13, disco degenerado.

FIGURA 13 – SECÇÃO TRANSVERSAL DE UM DISCO INTERVERTEBRAL DEGENERADO DE UM

CÃO CONDRODISTRÓFICO

FONTE: BRIGITTE A. BRISSON, DMV, DVSC, INTERVERTEBRAL DISC DISEASE IN DOGS (2010)

Legenda:

O núcleo pulposo gelatinoso foi substituído pelo material mineralizado e condroide.

No que diz respeito às raças, a mais comumente afetada é a dachshund; as raças shih tzu, pequinês, lhasa apso, welsh corgi, e beagle se encontram em risco significativo (SLATTER, 1998, p.1298).

Algumas raças pequenas relatadas possuem maior risco de desenvolver hérnia de disco intervertebral. Podem ocorrer precocemente nas raças que apresentam condrodistrofia (CHRISMAN, 1985, p.354; JEFFERY, 1995, p.85; ARIAS et al, 2007, p.3; BRISSON, 2010, p.4). O quadro 2 mostra estas raças mais acometidas.

QUADRO 2 – RAÇAS MAIS ACOMETIDAS POR DDIV, REGIÕES TORACOLOMBAR/LOMBAR/SACRAL SEGUNDO LITERATURA

FONTE: Adaptado de CHRISMAN (1985, p.354); JEFFERY (1995, p.85); ARIAS et al (2007, p.3); BRISSON (2010, p.4)

A condrodistrofia é uma condição na qual a cartilagem epifisária dos ossos longos ossifica prematuramente e, consequentemente, os membros param o crescimento antes da maturidade. Este abrandamento do crescimento afeta a ulna antes do rádio e esta falta de sincronização resulta no encurvamento da articulação

RAÇAS MAIS ACOMETIDAS TORACOLOMBAR/LOMBAR/SACRAL Basset Hound Beagle Bichon Frisé Cocker Spaniel Dachshunds Dálmata Dobermann Pinscher Jack Russel Terrier

Maltês Labrador Retriever Lhasa Apso Pastor Alemão Pequinês Poodle Toy Rottweillers Shih Tzu SRD Terrier Brasileiro Wesl Corgi

do cotovelo. Além dos membros encurtados, as raças condrodistróficas, frequentemente, apresentam o canal vertebral mais estreito e está relacionada à ocorrência de calcificação de discos intervertebrais (FELICIANO et.al, 2009, p.1).

Em publicação que se verificou as raças mais acometidas na região toracolombar, as ocorrências foram: dachshund (22/45), seguida pelos cães sem raça definida (7/45), cocker spaniel (6/45), lhasa apso (3/45), Poodle (4/45), beagle (1/45), terrier brasileiro (1/45) e pequinês (1/45) (ARIAS et al, 2007, p.3).

No que se refere aos animais de grande porte, os cães mais comumente relatados são os cães sem raça definida, pastor alemão, labrador retriever, rottweillers, dálmatas e doberman pinschers (BRISSON, 2010, p.4). Os Pastores alemães com 7 a 9 anos de idade apresentam discopatia com maior frequência em região toraco-lombar os doberman pinscher com 5 a 10 anos de idade apresentam discopatia em região cervical (CHRISMAN, 1985, p.356).

A incidência por idade para a discopatia clínica em cães de raças condrodistróficas é mais elevada por volta dos 3 a 6 anos (SLATTER, 1998, p.1291; LORENZ, COATES, KENT, 2011, p.110), e há relatos também entre 3 e 7 anos (BRISSON, 2010, p.4).

Em animais de raças não - condrodistróficos, a faixa etária de pico de incidência é, aproximadamente, entre os 6 e 8 anos (SLATTER, 1998, p.1291). São raros os animais que apresentam sinais antes dos três anos de idade (CHRISMAN, 1985, p.356; BRISSON, 2010, p.4).

No que se refere ao gênero dos animais, embora a prevalência da discopatia toracolombar seja aproximadamente igual em machos e fêmeas, foi observado um fator de risco sutil, mas significativo, relacionado ao gênero/peso (i.é, risco em machos>risco em fêmeas castradas>risco em fêmeas). Estas diferenças também poderiam ser atribuídas aos efeitos protetores do estrogênio contra a degeneração dos discos (SLATTER 1998, p.1298). Alguns relatórios encontraram que machos e fêmeas castradas estavam em maior risco de desenvolver hérnia de DDIV que as fêmeas (BRISSON, 2010, p.5).

Os cães são divididos (pesos considerados na idade adulta), em mini (1 a 10kg), médios (11 a 25kg), grandes (26 a 44kg) e gigantes (acima de 45kg) (Nutrição: Mini, Medium, Maxi e Giant, ROYAL CANIN, 2012). O termo mini descreve os cães que pesam entre 1kg e 10kg na idade adulta, tal como o dachshunds, que

são incluídos nesta classificação (Filhotes de Raças Pequenas, ROYAL CANIN, 2012). A perda de peso para os animais obesos pode ser de grande ajuda (CHRISMAN, 1985, p.360).

A obesidade é um distúrbio nutricional que pode desencadear inúmeras alterações no aparelho locomotor, associadas a um risco aumentado de dor e lesões envolvendo todos os segmentos corporais, particularmente a coluna vertebral (SIQUEIRA, SILVA, 2011, p. 1).

A distribuição da gordura corporal, central ou periférica, interfere diretamente no alinhamento corporal do paciente obeso, promovendo uma sobrecarga e predispondo ao aparecimento de desvios posturais. Sob a influência desse desequilíbrio biomecânico causado pelo acúmulo de tecido adiposo no abdômen (gordura central) ainda pode ocorrer uma hipotrofia muscular, associada ao atraso da ativação dos músculos estabilizadores da coluna, contribuindo, assim, para o aparecimento da instabilidade lombar no indivíduo obeso (SIQUEIRA, SILVA, 2011, p. 1)

Em cães da raça dachshunds 19% a 24% são esperados exibir sinais clínicos relativos à DDIV em sua vida e são responsáveis por 45% a 73% de todos os casos de extrusão de disco aguda em cães. Dachshunds são 12,6 vezes mais propensos a desenvolver hérnia de DDIV do que outras raças (BRISSON, 2010, p.4). O padrão da raça dachshund, também conhecida como teckel, possui um peso de aproximadamente 9 kg (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CINOFILIA, 2005, p.9). Dachshunds têm uma expectativa de vida acima da média, de 12 a 15 anos (Dachshund, EUKANUBA, 2012).

A média de peso do lhasa apso varia de 5 á 9 kg, e a expectativa de vida é de 12 á 14 anos (Lhasa Apso, TUDO SOBRE CACHORROS, 2012). E nos beagles a média de peso varia entre 9 e 14kg (Beagle, EUKANUBA, 2012).

Quanto à localização cervical, as discopatias cervicais respondem por 15% de todas as extrusões de disco intervertebral caninas. O local de extrusão cervical mais comum é o espaço intervertebral de C2-C3; a frequência de envolvimento diminui de C3-C4 até C7-T1 (SLATTER 1998, p.1291; COUTO, 2001, p.800; FOSSUM, 2005, p.1219; BRISSON 2010, p. 10-11). É comum o acometimento do disco C6/7 em cães de raças de grande porte (COUTO, 2001, p.800).

Numa série de 363 casos, 44% das lesões ocorreram em C2-C3, 23,5% em C3-C4, 13,5% em C4-C5, 13% em C5-C6, 4,5% em C6-C7, e 1,5% em C7-T1 (SLATTER 1998, p.1291).

Porém, recentes estudos relataram C5 a C6 e C6 a C7 como os espaços mais comumente afetados entre todas as raças de cães que apresentam a doença intervertebral cervical (BRISSON, 2010, p.11).

Oitenta por cento das protrusões de disco cervical ocorrem em dachshunds (figura 14), beagles e poodles. Afetam-se mais comumente raças condrodistróficas, de meia-idade (FOSSUM, 2005, p.1219). Quadro 3 mostra as raças mais acometidas e a figura 14 dachshund com arqueamento de dorso devido DDIV.

Aparentemente, não há predileção quanto ao gênero, e a maioria dos animais afetados encontra-se entre os 4 e 8 anos de idade (SLATTER, 1998, p.1291). Estudos recentes mostram que 24 a 50% dos casos envolvem raças grandes, onde os labradores e rottweillers (cães não distróficos) são mais comumente afetados. A média de idade de diagnóstico é entre 6 e 8 anos. (BRISSON, 2010, p.10).

QUADRO 3 – RAÇAS MAIS ACOMETIDAS POR DDIV, REGIÃO CERVICAL SEGUNDO LITERATURA

FONTE: SLATTER (2008); FOSSUM (2002); BRISSON (2010) FIGURA 14 – DACHSHUND COM DDIV

TORACOLOMBAR

FONTE: HANDBOOK OF VETERINARY NEUROLOGY, LORENZ, COATES, KENT, 2011, P.116

RAÇAS MAIS ACOMETIDAS CERVICAL Beagle Dachshunds Labrador Retriever Poodle Toy Rottweillers

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