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O discurso da Igreja Universal: a Teologia da Prosperidade

CAPÍTULO II – Teologia e prática religiosa

2.1 O discurso da Igreja Universal: a Teologia da Prosperidade

O Neopentecostalismo ou o que Freston (1993) chama de terceira onda do Pentecostalismo no Brasil tem uma característica que a difere da primeira e segunda ondas: a Teologia da Prosperidade (TP). Na chamada primeira onda a ênfase das pregações estava na glossolalia que é o falar em línguas estranhas e a segunda onda enfatizava a cura divina; mas a prática dos dons do Espírito Santo e o exorcismo são alguns dos principais temas da pregação do discurso da terceira onda e entre as igrejas consideradas neopentecostais, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) é um exemplo de denominação que prega amplamente a TP em seus cultos, que segundo Durkehim (1978) trazem aos participantes momentos “[...] de alegria, de paz interior, de serenidade, de entusiasmo, que são, para o fiel, a prova experimental de suas crenças”. (DURKHEIM, 1978, p.228).

A Teologia da Prosperidade surgiu nos Estados Unidos nos anos 40 e se desenvolveu na década de 70 entre grupos carismáticos norte-americanos onde é conhecida também como Positive Confession (Confissão Positiva), Faith Movement (Movimento de Fé), Faith Prosperity Doctrines (Doutrina de Fé e Prosperidade) e Health and Wealth Gospel (Saúde e Riqueza Evangélica). O termo Confissão Positiva faz referência à crença de que os cristãos detêm o poder, conforme o que foi prometido nas Escrituras e adquirido através do sacrifício de Jesus, de tornar real o que declaram, decretam, confessam ou determinam em voz alta.

Para os adeptos da TP, os pedidos falados com fé tornam-se divinamente inspirados, ou seja, as palavras proferidas com fé têm o poder de criar realidades, já que o mundo espiritual, que determina o que acontece no mundo material, é regido

pela palavra. Os evangélicos neopentecostais “[...] defendem que possuirão tudo o que determinarem verbalmente, com fé em nome de Jesus. Saúde perfeita, prosperidade material e felicidade, ‘direitos’ do cristão anunciados na Bíblia, naturalmente figuram entre as bênçãos mais declaradas.” (MARIANO, 1996, p. 29).

Um dos primeiros a difundir a TP ou Confissão Positiva para outros países foi Kenneth Hagin, que se inspirou em Essek William Kenyon, escritor, pregador batista, metodista, pentecostal e itinerante sem vínculos denominacionais. Kenyon foi radialista famoso entre os anos 30 e 40 e adepto de ensinamentos das “seitas metafísicas” derivadas da filosofia do Novo Pensamento e segundo Mariano (1999), essa filosofia foi formulada por Phineas Quimby que estudou espiritismo, ocultismo, hipnose e parapsicologia.

O texano Kenneth Hagin, popularizou o Pentecostalismo através da mensagem presente no Evangelho de Marcos (11: 23,24) que diz: “Tudo quanto em oração pedires, credes que recebeste e será convosco”, ele tinha 16 anos e estava desenganado pelos médicos quando, ao compreender o significado da mensagem, levantou as mãos para o céu e agradeceu pela cura, mesmo sem perceber sinal de melhora, levantou-se da cama e sentia-se curado. Com isso, Hagin espalhou a idéia de que Deus é capaz de dar o que o fiel desejar: basta ter fé e acreditar que as próprias palavras têm poder. Surgindo assim, a Teologia da Prosperidade: aos verdadeiros fiéis nunca faltará dinheiro ou saúde. Essa idéia foi amplamente divulgada por Hagin nos Estados Unidos e em outros países como o Brasil, através de seus mais de 100 livros, por diversos pregadores e líderes missionários.

Mariano (1999) explica que Hagin foi evangelista batista, porém crente na cura divina, logo se aproximou dos pentecostais, recebendo o batismo no Espírito Santo em 1937. Foi pastor da Assembléia de Deus até 1949 e depois, se tornou

pregador itinerante. Hagin (1999) explica que o único livro que considera bom sobre o assunto é o de E.W. Kenyon: The Wonderful Name of Jesus, ou seja, O Maravilhoso Nome de Jesus, quase o mesmo título do seu livro: O Nome de Jesus. Ele aconselha o leitor a adquirir um exemplar de Kenyon que, segundo a sua opinião é conhecimento pela revelação, é a própria palavra de Deus; dizendo ainda que conheceu a obra de Kenyon em 1950, dois anos depois de sua morte, através de um irmão de fé que afirmou a semelhança na pregação entre ambos sobre a fé e a cura. Em seu livro, Hagin (1999) relata que ao saber do modo de pregação de Kenyon, começou a verificar a vida dele, “[...] uma vez que a Bíblia ensina que devemos ser imitadores daqueles que, pela fé e paciência herdam as promessas (Hb. 6:12).” (HAGIN,1999, p.8-9). O autor admira que um homem realmente viva aquilo que ensina e lembra que durante um seminário sobre o nome de Jesus citou livremente a obra de Kenyon e que gosta da maneira com que o autor agrupa as Escrituras para o estudo. Reconhece que tem apreço pelo conhecimento da revelação que Deus deu a Kenyon a respeito do “Nome maravilhoso”, pela disposição e obediência para ensinar e viver a revelação.

O missionário explica como ter os pedidos atendidos por Jesus: basta que o fiel faça a sua solicitação apenas uma vez invocando o seu nome, sem duvidar de que receberá a bênção e diz ainda como o crente pode aprender a usar o nome de Jesus para melhorar a sua vida através da oração e expulsar demônios. O autor começa explicando sobre o Nome de Jesus que segundo ele, detém poder e autoridade, explicando que uma pessoa pode ter um nome grandioso de três modos: ao nascer, como os reis; operando grandes realizações e ainda receber, por doação. No caso de Jesus, segundo o autor, seu nome é grandioso porque Ele, Jesus, herdou, porque fez grandes realizações e porque Seu nome Lhe foi doado,

herdando um nome grandioso do que qualquer ser angelical. Como Filho, é herdeiro de todas as coisas e com relação à doação, Hagin (1999) explica que Deus atribuiu- lhe um nome que está acima de qualquer outro e ao derrotar o mal, Jesus conquistou esse nome. Hagin (1999) trata da autoridade no Nome, o seu uso no batismo, na salvação, no dia-a-dia, para expulsar demônios, a cura, terminando com a ênfase na importância do crente confessar a sua fé no Nome de Jesus, ou seja, o que é considerado pelo autor, a confissão positiva.

Conforme Mariano (1999) E.W.Kenyon nunca escreveu ou pregou sobre