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O pastor no cargo de vereador nas sessões da Câmara

CAPÍTULO III – Um homem de Deus na Câmara mariliense

3.12 O pastor no cargo de vereador nas sessões da Câmara

Observações também relevantes para a compreensão do trabalho do pastor foram as sessões da Câmara, onde pudemos acompanhar mais de perto o seu trabalho cotidiano enquanto vereador. As sessões observadas foram no período de março a novembro de 2004, às segundas-feiras, às 17h, abertas ao público. Na Câmara, vimos o comportamento do pastor diante dos demais vereadores e da população, uma vez que as sessões foram transmitidas pela Rádio Dirceu AM. Luis Jorge votou sempre com os vereadores de situação, maioria, ou seja, apoiou projetos e leis de interesse do Executivo, mas no início do mandato, segundo informações de Rui Albano, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) na cidade até 2005, o pastor tentou articular com os demais vereadores para ser o presidente da Câmara e não conseguiu apoio suficiente, o que, segundo o entrevistado, o fez permanecer por curto período de tempo na oposição ao então prefeito, Abelardo Camarinha (PMDB).

Durante o período de observação, o pastor não ocupou a tribuna nenhuma vez para falar no pequeno expediente, período de 10 minutos, em que os vereadores podem tratar de seus assuntos. Apenas no dia 15 de março de 2004, falou sobre o requerimento número 365/2004 do vereador José Menezes, ligado à igreja Assembléia de Deus em que o assunto era Moção de repúdio à aprovação,

pela Câmara de Deputados, no último dia 12 de fevereiro, do fim da pena de prisão para os usuários de drogas, o que permite um abrandamento perigoso quanto à questão das drogas, deixando nas mãos do juiz, em vez da polícia, a função de definir se o caso é de tráfico ou de “consumo pessoal”. O requerimento foi aprovado,

na tribuna e citou o seu trabalho na recuperação de drogados mantido pela ABC desde 2000 em parceria com a Prefeitura e da importância da assistência aos jovens, futuro do país, uma vez que, segundo ele, as drogas destroem vidas e famílias. Nas sessões seguintes, chegou a se inscrever no pequeno expediente, mas não falou.

Outro ponto marcante do comportamento foi o não envolvimento em discussões, demonstrando estar tranqüilo durante as sessões e falando pouco, mesmo em ocasiões em que ocupou a primeira secretaria ou até a presidência da casa, procurou manter o equilíbrio e o bom senso entre os colegas, exemplo disso foi numa sessão em que presidiu os trabalhos por algum tempo, onde havendo discussão entre os vereadores Pedro Pavão (PP), da oposição e Roberto Monteiro (PMDB), líder do Executivo na Câmara na época, intervindo apenas para pedir que não discutissem durante as votações. Na entrevista em seu gabinete, justificou a postura dizendo que “Deus não ouve gritos vazios”, preferindo agir a ficar debatendo. E sua forma de ação foi através da apresentação de requerimentos e projetos de leis.

Afirmou ainda que buscava experiência e contato com a população que trazia idéias para apresentação de projetos, assim acredita ter sido um dos vereadores que mais apresentou projetos, no período. O pastor disse ainda que teve um bom convívio na Câmara, apesar das divergências de opiniões em alguns assuntos, mas acredita ser necessário divergir, já que se trata de casa de debates. Na sua opinião, o vereador tem responsabilidades muito grandes, porque atende às reivindicações do povo.

Explicou que durante o mandato, procurou levar uma vida digna com fidelidade, sinceridade, honrando cada voto que recebeu e não se desviando dos

seus objetivos que era beneficiar o povo. No início do mandato, percebeu que a participação popular era mínima e apresentou projeto aprovado no final de 2002 com muito trabalho em que a Câmara ficou obrigada a mandar cópia dos projetos em deliberação para sindicatos e associações para incentivar a participação popular. Com isso, esperava que surgissem mais cobranças e sugestões, acreditava que a população tinha que despertar para o trabalho dos vereadores, que devem agir para proporcionar melhorias de vida para a população, devem ouvir mais, observar mais e agir para resolver problemas da população também carente.

Bourdieu (1989) explica que em política, dizer é fazer, ou seja, fazer crer que se pode fazer o que se diz

[...] e, em particular, dar a conhecer e fazer reconhecer os princípios de divisão do mundo social, as palavras de ordem que produzem a sua própria verificação ao produzirem grupos e, deste modo, uma ordem social. (BOURDIEU, 1989, p.185-186).

Durante a pesquisa, encontramos um feito pouco louvável ou discreto do pastor em notícia publicada na imprensa local no início de 2004, quando é citado como sendo um dos 19 vereadores que votaram favoravelmente ao aumento de salário para a gestão 2005-2008, aprovado em sessão extraordinária realizada em dezembro de 2003. Os salários passaram de R$ 2.200,00 para R$ 4.293,00, representando 50% do salário de um deputado estadual. Na entrevista concedida por Luis Jorge em seu gabinete, afirmou que o antigo salário era insuficiente para cobrir os gastos cotidianos de um vereador e que as despesas com combustível giravam mensalmente em torno de R$ 500,00, para atender aos eleitores. O assunto aumento de salários de políticos sempre gera polêmica, mas seja em âmbito local, estadual ou nacional, a população pouco interfere, permitindo que os legisladores aumentem os seus salários conforme desejam, mesmo com a interferência da imprensa, que ultimamente tem mostrado repetidas vezes, a tendência à aprovação

de altos salários para vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, governadores, senadores e Presidente da República. O que não acontece proporcionalmente se comparados com os valores dos salários recebidos pela maioria dos trabalhadores, baseados no valor do salário mínimo.

Mesmo com a polêmica dos salários, podemos considerar a postura do pastor como discreta, pelo seu não envolvimento em discussões, o que indica que Luis Jorge não tem carisma individual (Oro, 2003b), ou seja, a eleição do pastor em 2000 ocorreu mais em razão do apoio da Universal do que por suas qualidades pessoais, apesar do trabalho que já desenvolvia na ABC. Lembra a pesquisa Novo Nascimento, do Instituto de Estudos da Religião (ISER) de 1994 segundo a qual 95% dos fiéis da IURD declararam votar nos candidatos apoiados pela denominação. Quando perguntado sobre quem foram os seus eleitores nas duas campanhas em que participou, Luis Jorge afirmou ter sido pessoas da mesma fé.