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Discurso narrativizado em processos escriturais

processos de escritura em ato

9 GÊNESE DO DISCURSO REPORTADO EM MARÍLIA E SOFIA

84. MARÍLIA (08:36-09:07)

10.3 Discurso narrativizado em processos escriturais

Em termos de EDN, a Tabela 9 evidencia as estruturas, verbos e tempos verbais que compõem os processos escriturais de Isabel/Nara e Marília/Sofia.

Tabela 9 - Construções enunciativas relacionadas aos EDN dos ME

Construções enunciativas relacionadas aos EDN dos ME de Marília e Sofia VID+DD VID + DI VIS + DD DN Total

H1 2Aceitar (PP) 2 Gostar (PP) Incomodar (PP) Gostar (PI) Querer (PI) Insistir (PP) Impedir (PP) Ir (PP) + falar

Ficar (PP) + Impedir (Gerúndio)

11 H2 Saber (PP) 1 H3 Saber (PP) Saber (PI) 2 H4 2 Querer (PI) 2 H7 2 Pedir (PP) 4 Ensinar (PP) 3 Saber (PI) Aprender (PP) Ir (PP) + Ensinar Começar (PP) + falar 12 H8 Gritar (PP) 2 Gritar (PP) 2 Falar alto 5 Total ---- 2 1 30 33

Construções enunciativas relacionadas aos EDN do ME de Isabel e Nara

H8

2 Falar (PP)

9Avisar (PP)

Gostar (PI) 12

Total 2 ---- ---- 10

Fonte: Dados da pesquisa, 2012-2017.

Estes EDN podem ser agrupado em três grandes grupos:

1. EDN no processo de escritura que permaneceram EDN no ME; 2. EDN no processo de escritura que passaram a ser EDI no ME; 3. EDN que permaneceram na memória escritural.

Em ambas as díades, há EDN que foram combinados e inscritos como EDN, a exemplo de “irmãos não gostavam dela” (Os três irmãos, IN_H8_EDR41) e “a girafa não queria competir” (Porque a girafa tem o pescoço longo, MS_H1_EDR4). Por sua vez, o EDI “o dragão perguntou ao sol se ele poderia devolver o fogo” (MS_H8_EDR37), cuja gênese foi discutida na Seção 8, teve suas primeiras enunciações realizadas sob a forma de EDN.

Nos processos de escritura também identificamos EDN enunciados, mas não escritos – “ela [a mãe] chamou ele [Pedro] porque tava chovendo” (“Pedro e seus pensamentos”, IN_H7) e “[os macacos] não queriam fazer a escola porque eles estavam muito cansado de tanta coisa que o mestre tinha mandado eles fazerem” (Como surgiram as palavras, MS_H7).

As histórias de Isabel/Nara e Marília/Sofia possuem as três formas de DR. Durante análise, observamos o intenso diálogo que há entre elas, havendo: a) EDD nos processos escriturais que permaneceram EDD no ME ou transformaram-se em EDI ou EDN; b) EDI nos processos escriturais que continuaram EDI ou passaram a ser EDD ou EDN no corpo textual; c) EDN nos processos escriturais que se mantiveram EDN no ME ou transformaram-se em EDI. Quanto a estas passagens, observemos algumas ocorrências no Quadro 85.

Quadro 85 - Diálogos entre os EDD, EDI e EDN em textos escolares (Continua)

Processo de escritura Manuscrito escolar (ME) EDD no processo de escritura que passaram ser EDI no ME

78. ISABEL 79. ISABEL

Ela falou (Mudando entonação da voz) mãe eu tô atrasada pra escola... eu quero

(Com leve entonação da voz) ...me leva de carro (EDR6_6.2)... me leva de carroça (EDR6_6.3)

A filha [...] pediu para a mãe má que levasse ela para escola (A mãe

má_IN_H6_EDR6) 84. MARÍLIA você não pode voar, você não tem asas!

(EDR15_15.1)

Ele disse que ela não sabia bater as asas (Por que a galinha tem asa [,] mas não voa, MS_H4_EDR15) 169. MARÍLIA Ele [o esquilo] viu o senhor leão e perguntou: - o

que tenho aqui pra comer? (EDR19_19.1) Onde eu posso morar? (EDR19_19.2)

O esquilo tinha perguntado para o leão onde tinha uma casa com comida” (Por que o esquilo gosta de

nozes, MS_H6_EDR19) 169. MARÍLIA [...] O senhor leão disse: - você só pode morar em

cima:: garoto, embaixo você não pode, embaixo é muito perigoso! (EDR22_22.1)

Ela disse que era muito perigoso mora[r] embaixo (Por que o esquilo

gosta de nozes, MS_H6_EDR22)

EDD no processo de escritura que passaram a ser EDN no ME

63. ISABEL eles falaram assim se você esconder... a bola de futebol vocês vão ver” (EDR41_41.1).

Eles [...] avisaram para não esconder a bola (Os três irmãos_IN_H8) 196. MARÍLIA ele gritou pra cima: ai!!! (EDR36_36.1) O dragão gritou (Por que o sol

brilha_MS_EDR36)

EDI no processo de escritura que passou a ser EDD no ME

308. SOFIA* ele disse que eles iam aprender na escola (EDR29_29.1)

Ele disse – vocês macacos vão aprender na escola (Como surgiram

as palavras_MS_H7_EDR29)

EDI no processo de escritura que passou a ser EDN no ME

299. SOFIA* 300/302. MARÍLIA

[o mestre] pediu outra coisa (EDR27_27.1) pediu para um homem vim ensinar a eles o que era escola” (EDR27_27.2)

Um homem foi ensinar o que era escola (Como surgiram as palavras,

EDN no processo de escritura que passou a ser EDI no ME (Conclusão)

196. MARÍLIA

197. SOFIA

Ele fez um acordo com o sol se ele não brilhasse muito (EDR37_37.1) e o, e o se ele não brilhasse tanto e não entrasse no, no, no...

...no outro mundo (EDR37_37.2)

O dragão perguntou ao sol se ele poderia devolver o fogo (Por que o

sol brilha_MS_H8_EDR37) Fonte: Dados da pesquisa, 2012-2017.

Do Quadro 85, chamou-nos atenção, de modo preciso, ser mais frequente a passagem do EDD ao EDI e/ou EDN. Como visualizado, 4EDD foram escritos como EDI (IN_EDR6, MS_EDR15, MS_EDR19 e MS_EDR22) e 2EDD como EDN (IN_EDR41 e MS_EDR36). Com frequência inferior, 2EDI passaram a ser EDD (MS_EDR29) e EDN (MS_EDR27). Não identificamos EDN que tenham se transformado em EDD, tendo havido apenas um caso de EDN escrito como EDI (MS_EDR37). Talvez, estes dados indiciem a dificuldade dos alunos em preservar a fala dos personagens em DD, sendo “mais fácil” recuperar seu conteúdo (EDI) ou sinalizar a ocorrência de ato enunciativo (EDN).

De modo a finalizarmos as reflexões estabelecidas nas Seções 7, 8 e 9 dedicadas aos processos de escritura em ato, foi possível observar que o diálogo entre as alunas contribui para a combinação da história e, particularmente, para a emergência do EDR, além de haver inter- relação entre gênero textual, construção do EDR e subjetividade discente. Embora esta inter- relação seja objeto de pesquisas futuras124, ao relacionarmos as díades, Marília e Isabel são aquelas que mais se assemelham quanto ao envolvimento na criação da história, embora Nara não apresente posicionamento semelhante ao de Sofia. Nara se envolve mais na elaboração textual, seja dando ideias para o que pode ser escrito, seja concordando ou discordando do proposto por Isabel. Em muitos momentos, Sofia apenas escreve o que Marília fala e, mesmo quando Marília é a responsável por escrever, Sofia não sugere o que pode ser escrito.

Quanto à inclusão de pontuação, Isabel e Sofia apresentam características similares, solicitando as suas respectivas duplas que acrescentem travessão, dois-pontos. Além disso, Sofia e Nara se assemelham mediante o interessante em terminar mais rapidamente a história. Em ambas as díades também é frequente, mas, sobretudo, em Marília e Sofia, as alunas visarem a escrever o máximo de linhas possível – aspecto pragmático característico do âmbito escolar que não deixa de estar relacionado à extensão textual das narrativas ficcionais nele produzidas. Pontuação última que nos conduz ao interesse em realizar/aprofundar estudos que relacionem extensão textual e frequência de EDR, como sugere hipótese formulada por Boré (2010) referente ao diálogo ser “motor da invenção”.