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Discursos filosóficos da representação

Nota metodológica preliminar:

Sendo inverosímil, no âmbito deste estudo, e, para além disso, contraproducente, procurar analisar, com o objectivo de esclarecer as características do paradigma representativo, todos os autores e obras filosóficas onde se manifesta a “ordem da representação”, fosse no âmbito da metafísica, da lógica e gramática, da epistemologia, da moral ou da teologia seiscentistas, foi necessário reduzir-se o leque dos autores possíveis e das problemáticas onde aquele paradigma emergiu e seleccionar aqueles personagens e momentos que pudessem revelar-se exemplares e particularmente determinantes. Por outro lado, o facto de os modos da representação serem múltiplos e da sua polissemia característica ter proliferado nos textos de uma maneira que se furtava à apresentação sistemática – ao que a problematicidade imanente da própria representação também não terá sido alheia – não permitia encontrar uma solução ou um quadro definitivo das suas características. Antes pelo contrário, só numa dinâmica problemática e até de polémica, o seu uso discursivo e importância fundamental, para compreender os modos do pensar na emergência da modernidade filosófica, poderia surgir para revelar a sua pregnância e vivacidade. Foi assim que – através da leitura dos eruditos estudos de Louis Marin sobre a representação no século XVII - encontrámos um foco de controvérsias filosóficas, científicas, religiosas e políticas nos personagens ligados à abadia de Port-Royal, mormente Antoine Arnauld, teólogo iminente e porta-voz do movimento jansenista, Pierre Nicole, co-autor com o anterior da monumental

Lógica e autor de ensaios de moral e crítica do teatro, e Blaise Pascal, genial homem de

ciência, matemático prodígio e filósofo paradoxal, apologista da religião cristã. A adesão entusiástica de Arnauld às novidades filosóficas de René Descartes, a prudência de Nicole e, finalmente, a desconfiança de Pascal relativamente aos poderes do seu sistema colocam-nos no calor da fricção entre cartesianos e anti-cartesianos no próprio seio, cheio de fervor religioso e ditado por uma rigorosa moral anti-mundana, do jansenismo, o qual revela as tensões divergentes entre uma nova visão do mundo - e, mais do que isso, uma nova forma de pensar, uma nova filosofia - e a herança cristã de inspiração augustiniana.

Neste capítulo, em particular, partiremos de um texto exemplar e determinante: La

19 esta designação, trata-se, neste livro, de muito mais do que de lógica, num sentido tradicional, e pode mesmo ser encarado como um verdadeiro compêndio da filosofia de inspiração cartesiana, pois contém “para além das regras comuns, muitas observações novas, próprias a

formar o juízo” – é o próprio título barroco que o revela! Assim se espelha nesta obra tanto a

teoria do conhecimento e a epistemologia da Dióptrica, do Discurso do Método e dos

Princípios da Filosofia como também a ontologia das Meditações de Filosofia Primeira.

Novidade dos autores desta Lógica foi a importância concedida à linguagem, ora importando (por vezes, textualmente) algumas reflexões feitas já pelo próprio Arnauld na Grammaire

Générale et Raisonnée, editada anteriormente (1660) com Claude Lancelot, e entretanto

articuladas com o propósito de encontrar as regras próprias para formar o juízo verdadeiro, ora constituindo uma teoria do signo que permite compreender o entendimento cartesiano das relações entre o pensamento e a linguagem expressa, oral e escrita. É este seu carácter multidimensional que torna este texto tão rico e útil para detectar os contornos do paradigma representativo na filosofia da época. Mais ainda, porque, para esclarecer o sentido e o alcance das suas proposições, articularemos a leitura das passagens mais determinantes para o nosso propósito com a de outros textos que as inspiraram ou com outros textos da própria mão de Antoine Arnauld, resultantes da incessante correspondência e dos intensos debates com outros reputados filósofos – Descartes, Malebranche e Leibniz. A importância da Lógica revela-se ainda na influência, difícil de ignorar, que teve na difusão do pensamento cartesiano e na instrução europeia filosófica até aos finais do século XIX, não só em França, como em Inglaterra, onde foi quase imediatamente traduzida e muitas vezes reeditada, acabando por ser adoptada nos programas de ensino de Cambridge e Oxford21. Em Portugal, apesar de nunca ter havido qualquer edição ou tradução da Lógica de Port-Royal, a sua influência no século XVIII exprimiu-se, por exemplo, no pensamento de Manuel de Azevedo Fortes, que, na sua

21 Na edição crítica, cf. Arnauld, Antoine & Nicole, Pierre, La Logique ou L’Art de Penser, contenant, outre les

regles communes, plusieurs obsevations nouvelles, propres à former le jugement, Édition critique présentée par Pierre Clair & François Girbal, Presses Universitaires de France, Paris, 1965, os editores apresentam um catálogo das muitas reedições francesas e inglesas até à data daquela edição crítica, o que só por isso serve como um bom indicador do interesse que desde a primeira edição foi manifestado pela obra. No prefácio da tradução inglesa, Logic or The Art of Thinking, containing, besides common rules, several new observations appropriate for forming judgement, translated and edited by Jill Vance Buroker, (Cambridge Texts in the History of Philosophy), Cambridge University Press, Cambridge – New York – Melbourne, 1996, p. xxiii, o editor recorda que: « The Port-Royal Logic was the most influential logic from Aristotle to the end of the nineteenth century. The 1981 critical edition by Pierre Clair and François Girbal lists 63 French editions and 10 English editions, one of which (1818) served as a text in the course of education at the Universities of Cambridge and Oxford.» Já neste ano de 2011, saíu uma nova edição crítica da responsabilidade de Dominique Descotes, da Lógica de Port-Royal, na editora Honoré Champion, colecção Sources Classiques. [Arnauld, Antoine & Nicole, Pierre, La Logique ou l’Art de Penser, Édition critique par Dominique Descotes, col. Sources Classiques, Éditions Honoré Champion, Paris, 2011.] Na medida em que desenvolvemos o trabalho de investigação desde 2007, trabalhámos apenas com a edição de Clair & Girbal.

20 eclética Lógica Racional, Geométrica e Analítica (1744)22, retoma a estrutura da obra francesa e partes substanciais do seu conteúdo, resumindo ou traduzindo as suas ideias e palavras para português23 e, também, no grande nome do Iluminismo português, Luís António Verney, que escreveu também uma Lógica (1750)24, fortemente influenciada pela Logique ou

L’Art de Penser. Com a refundação da lógica e o desenvolvimento da linguística moderna dos

finais do século XIX e princípios do século XX, as obras de Port-Royal caíram no esquecimento, pelo menos até meados dos anos 60, quando Noam Chomsky, no seu estudo,

Cartesian Linguistics (1966), reconheceu ali a intuição de uma gramática generativa que ele

pretendia desenvolver25, ou quando Michel Foucault, em Les Mots et les Choses (1966), nelas identificou o nascimento da “episteme clássica”26. Desde então, um novo interesse pelo círculo de Port-Royal permitiu uma maior atenção, nomeadamente, ao pensamento filosófico de Antoine Arnauld, figura secundarizada pela história da filosofia, mas que se tem vindo a

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Na apresentação feita por Pedro Calafate à edição contemporânea da primeira parte desta obra, chamada Lógica Racional, realça-se o facto de que ela «constitui um veículo privilegiado para o conhecimento do ideário das Luzes em Portugal, não apenas no plano da lógica, como também nos domínios da filosofia da história, da ética, da filosofia política, da física, da teodiceia e da pedagogia, temas abordados num quadro vincadamente eclético, onde confluem “antigos” e “modernos”, mas sob a marcada influência da célebre Lógica de Port- Royal, cujo título verdadeiro era La Logique ou L’Art de Penser, elaborada por Nicole e Arnauld…», cf. Manuel de Azevedo Fortes, Lógica Racional, Apresentação de Pedro Calafate, Colecção Pensamento Português, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2002, p. 12.

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Bastará olhar para o índice da obra de Azevedo Fortes para verificar que ela se divide do mesmo modo que a Lógica de Port-Royal em quatro partes (livros), sendo a primeira dedicada à «Primeira Operação do Entendimento» [conceber], a segunda à «operação do Entendimento, que é Julgar», a terceira ao «Discorrer» e, finalmente, a quarta – que é um acrescento típico dos manuais de lógica após o renascimento e que, em rigor, trata de um problema epistemológico, o do método, que é – ao «Ordenar». Cf. Azevedo Fortes, op. cit., pp.7-9 e 24.

24 De Re Logica ad usum Lusitanorum Adolescentium Libri Sex foi o manual de lógica destinado aos jovens

portugueses, escrito em Latim, por Luís António Verney e traduzido pela primeira vez para português, muito recentemente, por Amândio Coxito, o qual na breve apresentação que faz da obra, enfatiza também a grande influência dos jansenistas de Port-Royal, a par da de John Locke. Mas é o próprio Verney quem lhes presta justa homenagem no capítulo V [Da Correcção da Lógica], do primeiro livro da sua Lógica: «Entre os cartesianos, sobressai, entre outros, o autor de A Arte de Pensar [Verney não sabia quem era exactamente o autor da Lógica mas sabia que a sua autoria costumava ser atribuída a «dois ou três filósofos de Port-Royal»]... Neste autor, é digno de ser aplaudido o seguinte: 1. a clareza e a ordem; 2. abstém-se de questiúnculas inúteis e de palavras que nada significam; 3. esclarece os assuntos com exemplos familiares que são muito úteis para os principiantes, excepto quando expõe certos temas exigidos pela matemática; 4. no final da terceira parte, investiga com perspicácia e muito minuciosamente as causas dos falsos raciocínios (...); 5. na quarta parte, onde trata do método, ensina muitas coisas que elucidam a arte crítica (...); 6. desvenda e refuta com extrema agudeza de espírito certas perversões dos aristotélicos.» Cf. Verney, Luís António, Lógica, tradução de Amândio Coxito, Portugalia Monumenta Neolatina vol. X, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010, p. 95. 25

Cf. Chomsky, Noam, Cartesian linguistics: a chapter in the history of rationalist thought, Third Edition with a new introduction by James McGilvray, Cambridge University Press, Cambridge - New York, 2009, p. 83: «In many respects it seems to me quite accurate, then, to regard the theory of transformational generative grammar, as it is developing in current work, as essentially a modern and more explicit version of the Port-Royal theory»! Para uma crítica do empreendimento chomskyano, ver Jean-Claude Pariente, L’Analyse du Langage à Port- Royal - six études logico-grammaticales, Le Sens Commun, Les Éditions de Minuit, Paris, 1985, designadamente, o capítulo 1, «Grammaire générale et grammaire générative», páginas 17 a 48.

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Cf. Foucault, Michel, Les Mots et Les Choses. Une Archéologie des Sciences Humaines, coll. « Bibliothèque des sciences humaines », Gallimard, Paris, 1966, pp. 13-14.

21 revelar determinante para compreender os contornos e subtilezas das principais obras e ideias do século XVII27.

*

A “ «representação» revela-se uma designação global e proteica, de contornos incertos”, dizia Fernando Gil, em Mimesis e Negação, e concluía: “mais do que dum conceito, conviria falar de uma instância da representação”28. Nunca esta afirmação terá sido tão verdadeira como o foi no século XVII. Por onde quer que se procure, a representação ordenou o discurso filosófico e a expressão. Desde logo, as teorias do conhecimento, fossem empiristas ou racionalistas, tentaram resolver a relação cognitiva do homem com o mundo através desse dispositivo que permite tornar presente um ‘objecto’ ao seu ‘sujeito’. As epistemologias de uma nova revolução científica criaram uma distância entre investigador e investigado, com o propósito de afastar ilusões, “ídolos” e preconceitos – sensoriais, linguísticos ou de formação. Mas tiveram de a compensar, reconstruindo derivadamente a visão do mundo, desviando-a através de um método e mediando-a por imagens e linguagens objectivas, as únicas capazes de garantir um conhecimento certo e o poder sobre a natureza

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Várias monografias, colóquios e obras dedicadas à obra filosófica de Antoine Arnauld surgiram nas últimas décadas do século XX. Depois de, em 1965, se ter feito a primeira edição crítica da Lógica de Port-Royal, reeditou-se, em 1986, umas das suas mais importantes e relevantes obras para a filosofia moderna, Des Vraies et des Fausses Idées, no Corpus des Oeuvres de Philosophie en Langue Française. Em 1989, nos EUA, Steven

Nadler dedica um importante estudo a Arnauld e à doutrina cartesiana das ideias. Em 1991, a Librairie

Philosophique J. Vrin edita uma monografia dedicada ao seu pensamento filosófico: Aloyse Raymond Ndiaye, La Philosophie d’Antoine Arnauld, Bibliothèque d’Histoire de la Philosophie, Librairie Philosophique J. Vrin, Paris, 1991. Em 1994, celebrando-se os 300 anos da morte do “Grand Arnauld”, realiza-se um colóquio internacional na Sorbonne à volta dessa figura marcante do século XVII, que resultaria mais tarde na publicação das actas desse colóquio em Vv., Antoine Arnauld (1612-1694) Philosophe, Écrivain, Théologien, Chroniques de Port-Royal, nº 44, Bibliothèque Mazarine, Paris, 1995. No mesmo ano, realiza-se uma journé d’étude, dedicada à figura filosófica de Arnauld, desta feita em Clermont-Ferrand, de onde também resultaria a edição impressa dos estudos, focados na filosofia da linguagem e do conhecimento deste personagem de Port-Royal, em Pariente, Jean-Claude (ed.), Antoine Arnauld: Philosophie du Langage et de la Connaissance, Bibliothèque d’Histoire de la Philosophie, Librairie Philosophique J. Vrin, Paris, 1995. Em língua inglesa, foram sobretudo os trabalhos de Elmar J. Kremer que se dedicaram ao seu pensamento e correspondência filosófica com outros grandes pensadores da época, nomeadamente, em 1994, com The great Arnauld and some of his philosophical correspondents, e, em 1996, com a edição de Interpreting Arnauld, ambos publicados pela University of Toronto Press. Já no século XXI, Denis Moreau edita e traduz uma selecção de textos filosóficos de Arnauld que apenas eram acessíveis, em língua latina, na velhinha edição do século XVIII das obras completas: Denis Moreau (Ed.), Textes philosophiques: conclusions philosophiques. Dissertation en deux parties sur la vision des vérités en Dieu et l'amour de la vertu. Règle du bon sens. De la liberté de l'homme, Épiméthée: Essais Philosophiques, Presses Universitaires de France, Paris, 2001.

28 Gil, Fernando, Mimesis e Negação, Estudos Gerais - Série Universitária, Imprensa Nacional Casa da Moeda,

Lisboa, 1984, p. 38. Na versão anterior deste texto, publicada na revista Filosofia e Epistemologia III, op. cit., p. 15, em vez de ‘instância’, Fernando Gil usa a expressão ‘ordem da representação’.

22 que daí emanava. Porém, nem só nos domínios especificamente cognitivos foi determinante tal dispositivo, também no discurso jurídico, civil ou canónico, para onde, aliás, a etimologia do “representar” remete, ou no pensamento político e social, onde os homens se substituíam e desdobravam física, simbólica ou legalmente, segundo a dinâmica da representação. Mesmo na teologia cristã, pulularam as discussões sobre representações, fossem as do corpo e sangue de Cristo, no sacramento da eucaristia, ou as do corpo da própria Igreja, nos seus clérigos e leigos. Nas artes, sobretudo nas plásticas, o seu lugar parece indiscutível, estabelecendo-se como paradigma, mas mesmo na música se viu nascer, no dealbar do século, o dramma per

musica, a ópera, a cantata ou o stile rappresentativo. O teatro parece ter tido um novo fulgor –

será necessário recordar que Shakespeare, Calderón, Racine ou Molière surgiram todos no espaço de um século? -, a dança ou o ballet – a dança como espectáculo - ganharam nova visibilidade e requinte e a literatura viu-se ocupada em grande parte pela dramaturgia, pelo romance fantasioso e pelas experiências visuais na poesia. Com efeito, parece ter havido uma sensação generalizada da efemeridade e transitoriedade da vida e dos seus acontecimentos e uma necessidade quase patológica de captar essa passagem em todos os seus momentos e aspectos. Porque representar é também uma maneira de dominar o tempo.

A omnipresença dessa “ordem da representação” parece, então, fazê-la coincidir com todos os domínios do pensar e, por isso, com o quadro geral da “pensabilidade” do mundo no século XVII. Pelo que, a maneira mais imediata de tentar compreender os principais aspectos dessa ordem será debruçando-nos sobre o discurso filosófico acerca do pensamento e da sua relação com as coisas. Não sendo, na economia desta tese, possível investigar tudo o que foi dito e todos os que o disseram, decidimos partir de um texto que é, ao mesmo tempo, um discurso sobre o pensamento e um compêndio de um dos principais sistemas conceptuais do século, a filosofia cartesiana.

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Secção 1.

Os contornos de uma ideologia cartesiana da representação

Uma Lógica das ideias

Falamos da Lógica ou a Arte de Pensar, escrita a duas mãos, por Antoine Arnauld e Pierre Nicole, e editada pela primeira vez em 166229, que é muito mais do que um manual de lógica no sentido tradicional, versando sobre teoria do conhecimento, epistemologia, metafísica, geometria, moral e até teologia, inspirado pela doutrina de René Descartes, pelo pensamento de Santo Agostinho – tendência principal do movimento jansenista30 do qual os autores do livro eram algumas das principais figuras, sobretudo o “Grande Arnauld”, seu porta-voz e defensor activo nas frequentes controvérsias teológico-políticas – e ainda por outro dos personagens ligados à abadia de Port-Royal, Blaise Pascal31. Tendo como principal propósito fornecer as regras para «formar o (seu) juízo & [para] o tornar tão exacto quanto

29 Cf. Arnauld & Nicole, La Logique ou L’Art de Penser, op. cit., p. 4.

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O movimento denominado assim por estar ligado aos ensinamentos teológicos do holandês Cornelius Jansen, autor do Augustinus, livro condenado em 1642, onde o autor recupera a doutrina de Santo Agostinho sobre a natureza e a liberdade humanas e a graça divina contra os semi-pelagianos ou, no contexto pós-tridentino, os molinistas.

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A influência de Blaise Pascal [talvez mais do que a de Descartes] é mais do que uma mera inspiração. Na verdade, no Discurso I que introduz a Lógica, os próprios autores admitem que nem tudo o que aí está escrito é da sua autoria, mas que a «Monsieur Pascal» (referência acrescentada na 2ª edição de 1664, pois, na 1ª, de 1662, referiam-se a ele apenas anonimamente como um “excellent esprit”) são tomadas de empréstimo muitas reflexões e considerações, que ele tinha anteriormente feito, nomeadamente, no seu opúsculo inédito De l’esprit géométrique, influência determinante na quarta parte da Lógica, dedicada ao método: «On est obligé neanmoins de reconnaître que ces reflexions qu’on appelle nouvelles, parcequ’on ne les voit pas dans les Logiques communes, ne sont pas toutes de celui qui a travaillé à cet ouvrage, & qu’il en a emprunté quelques-unes des livres d’un celebre philosophe de ce siècle [Descartes], qui a autant de netteté d’esprit qu’on trouve de confusions dans les autres. On en a aussi tire quelques autres d’un petit écrit non imprimé, qui avoit été fait par feu Monsieur Pascal, & qu’il avoit intitulé, De l’esprit géométrique, & c’est ce qui est dit dans le chapitre 9. de la premiere partie de la difference des définitions de nom, & des définitions de chose, & les cinq regles qui sont expliquées dans la quatriéme partie, que l’on y a beaucoup plus étenduës qu’elles ne le sont dans cet écrit.», in Arnauld & Nicole, La Logique…, op. cit., p. 21.

Segundo Michel Le Guern, o editor das obras completas de Blaise Pascal, na colecção da Pléiade, a contribuição de Pascal para a Lógica de Port-Royal não se reduziria, porém, a esse “empréstimo” reconhecido pelos seus autores: «Il semble bien qu’il faut lui attribuer aussi les développements les plus techniques, qui sont placés au centre de l’œuvre: ils constituent la fin de la seconde partie et le début de la troisième. Pour cette attribution, on ne dispose pas de preuve matérielle, mais on y est conduit par un faisceau d’indices suffisant pour établir une probabilité forte.»; ocupando-se Le Guern, nas páginas seguintes, a demonstrar esses indícios e, baseando-se no «manuscrito Vallant», publica os excertos da Lógica que seriam da autoria de Pascal, acompanhados de uma série de esquemas e desenhos sobre os silogismos e a conversão das proposições. Cf. Pascal, B., Œuvres Complètes, Edição apresentada, estabelecida e anotada por Michel Le Guern, Bibliothèque de la Pléiade, NRF,

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