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O controle hormonal do remodelamento ósseo envolve vários fatores, num maquinário complicado. O HT é essencial para o desenvolvimento do osso, e tem um importante papel no crescimento linear e na manutenção da massa óssea, enquanto o E2 tem um efeito complexo no esqueleto, incluindo sua regulação e manutenção. A ocorrência de uma alteração neste sistema, que mantém a homeostasia do osso, pode levar a vários tipos de doenças, entre elas o osteossarcoma.

Nossos resultados evidenciaram que o crescimento das células ROS 17/2.8 (que possui receptores hormonais tanto para estrógeno, como para hormônio tireóideo) é afetado pelo tratamento com E2 de maneira dose dependente, portanto, quanto maior a concentração de E2, maior a proliferação e menor o TD. Estes resultados estão em

concordânica com vários estudos (Bland, 2000; Fohr et al., 2000; Rao et al., 2003), os quais mostram que, quanto menor a concentração de E2, maior a osteoclastogênese.

Quando estas células são tratadas com T3, constatamos que uma concentração muito reduzida do hormônio (infrafisiológica) promove um aumento significante no tempo de dobramento celular. Isto poderia mostrar um indício na diminuição do turnover ósseo na presença de doses muito baixas de T3, sugerido por Kisakol et al., 2003, indicando ser o hormônio tireóideo extremamente importante para o metabolismo ósseo.

À medida que a concentração de T3 (quando isolado) vai aumentando, nossos resultados apontam um decréscimo acelerado no tempo de dobramento. A atividade do hormônio tireóideo sobre estas células ósseas mostra, portanto, grande similaridade com a atividade promovida pelo estrógeno, quando estão atuando separadamente. Estes dados estão em concordância com estudos realizados por Gu et al., 2001, e Pepene et al., 2003, os quais documentaram que o T3 estimula a proliferação de células osteoblásticas; e contrários a outros trabalhos (Siddiqi et al., 1998; Kisakol et al., 2003, Lakatos, 2003, Gouveia, 2004), os quais evidenciaram que a atividade predominante do T3 é a de reabsorção do tecido ósseo. Com nossos resultados, poderíamos especular que o hormônio tireóideo, ao ligar-se ao seu receptor, esteja agindo como um fator oncogênico, e que esta ação deva estar ocorrendo via proliferação de osteoblastos.

A interação entre E2 e T3 pode fornecer vários mecanismos para realizar adaptações metabólicas, uma vez que existem respostas provocadas pelo E2 que são dependentes de T3, como o controle do crescimento, massa óssea e triglicérides (Fitts et al., 2001).

Observamos que, na presença de estrógeno em concentração infrafisiológica (semelhante ao que ocorre na menopausa), a associação com o hormônio tireóideo (que isoladamente apresentou função semelhante ao estrógeno, de proteção ao tecido ósseo), nas dosagens supra e infra, provoca diminuição no tempo de dobramento destas células. Isto indica a importância da manutenção do hormônio tireóideo em concentração fisiológica, nesta condição.

O crescimento celular diminuído acarretado por baixos níveis de T3 isolado é revertido quando o estrógeno é adicionado ao meio. Estes dados estão em concordância com Merimsky et al., 2002, os quais observaram que pacientes hipotireoideos foram aqueles que apresentaram o maior número de casos de osteossarcomas. Notamos, em nossos resultados, que o tratamento com T3 infrafisiológico (situação que simula o hipotireoidismo), juntamente com diferentes níveis de estrógeno, provoca diminuição no TD, aumentando a proliferação celular, o que poderia simular uma atividade oncogênica.

Quando os níveis de estrogênio estão na concentração fisiológica, a associação com as diferentes concentrações de hormônio tireóideo (supra, fisio e infrafisiológicas) não provocou diferenças significativas no TD destas células. Já numa dosagem fisiológica de hormônio tireóideo, a associação com níveis supra e fisiológicos de estrógeno, provoca diminuição do TD em relação a doses fisiológicas isoladas de T3. Podemos observar que, quando o hormônio tireóideo está normal, a falta de estrógeno aumenta o TD. Não ocorre a mesma situação quando o estrógeno está normal e há falta de T3, já que não há alteração no TD, em relação à concentração isolada de T3. Presumimos, assim, que exista um controle primário e predominante do metabolismo ósseo promovido pelo estrógeno, quando a associação destes hormônios é realizada.

A presença da concentração suprafisiológica de estrógeno, quando isolada, promove uma diminuição extremamente acentuada no tempo de dobramento. Ao adicionarmos T3 em doses fisiológicas, notamos que o TD aumenta (ficando próximo daquele encontrado nas dosagens fisiológicas dos dois hormônios), o que alerta para a reposição hormonal, visto que a incidência de osteossarcoma, em humanos, mostra um pico de incidência nesta faixa etária (Sandberg & Bridge, 2003).

Nas células de rato ROS 17/2.8 o estrógeno e o T3 têm efeito na diminuição no tempo de dobramento de forma dose-dependente. A associação dos hormônios provoca diminuição ou manutenção no tempo de dobramento, quando comparado às dosagens isoladas, com exceção das combinações da dose supra de E2 com diferentes doses de T3, principalmente nas duas dosagens suprafisiológicas, na qual há um aumento expressivo no TD. Poderíamos especular que o excesso de hormônios possa diminuir o número de receptores hormonais e provocar uma saturação destes receptores, tendo como conseqüência uma diminuição da proliferação celular. Fujimoto et al., 2004, demonstraram que esta resposta à associação dos dois hormônios (T3 e E2) pode ocorrer devido ao T3 induzir a expressão do RNAm do ER alfa, e que o T3 age sinergisticamente nas respostas induzidas pelo estradiol.

A expressão do marcador de reabsorção óssea (RANKL) acompanhou de forma muito próxima os resultados encontrados no crescimento das células. Assim, onde obtivemos maior proliferação celular, a expressão deste marcador esteve fortemente reduzida, mostrando ser um bom indicador do padrão de atividade óssea. Tanto nos tratamentos isolados com estrógeno, como com T3, a expressão do RANKL foi maior nos tratamentos que apresentaram maior tempo de dobramento celular (ou menor proliferação).

O envolvimento do RANKL é demonstrado em casos de metástases ósseas secundárias a carcinomas de mama e próstata, e tumores associados com severa osteólise (Wittrant et al., 2004). Da mesma forma que Kwan et al., 2004, propomos que o RANKL é um índice preditivo forte para a evolução da atividade óssea. Esta importância torna-se ainda maior quando estamos frente ao diagnóstico de uma lesão tumoral.

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