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Capítulo I: Acarofauna (Acari: Gamasida) associada a histerídeos em

5. Discussão

Os sistemas de produção animal em confinamento são ambientes artificiais que favorecem o aparecimento da comunidade de artrópodes, devido a oferta de recursos que beneficiam o desenvolvimento desses organismos em acúmulo de esterco. Muitos ácaros encontram condições adequadas de sobrevivência nesses ambientes, como a fartura de alimentos, temperatura e umidade constante; fatores que favorecem o seu aumento populacional.

Os estudos realizados no estado de São Paulo referente a acarofauna de esterco de aves poedeiras em granjas industriais, registraram a ocorrência das famílias: Macrochelidae, Uropodidae, Sejidae, Parasitidae e Acarididae (AAGESEN, 1988; COSTA, 1989; BRUNO, 1991; SANTOS, 1991; MATTOS, 1992 e RODRIGUEIRO, 2003).

Nesses trabalhos e também em publicações americanas (LEGNER & OLTON, 1970; AXTELL, 1986; GEDEN & STOFFOLANO, 1987 e AXTELL & ARENDS, 1990) foi citada a associação entre espécies de algumas destas famílias acima com histerídeos freqüentes no esterco das aves. Entretanto, neste trabalho apenas poucos indivíduos do gênero Uroobovella da família Uropodidae, foram encontrados associados aos histerídeos. Ácaros deste gênero foram registrados nos estudos de SANTOS (1991) e RODRIGUEIRO (2003), estando distribuídos em alguns municípios de São Paulo.

Considerando-se que a acarofauna do município de São João da Boa Vista não foi estudada anteriormente, foram novos os registros das duas espécies de ácaros do gênero

Gamasellodes (família Ascidae) e de Uroobovella sp. (família Uropodidae) para a

localidade.

Ressalta-se que nas publicações referentes à acarofauna de esterco de aves poedeiras no estado de São Paulo, não houve registros da família Ascidae.

Os ácaros desta família pertencem a subordem Gamasida e a ordem Parasitiformes. A grande maioria das espécies tem hábito terrestre, mas também são encontrados em ambientes aquáticos. Segundo HALLIDAY et al., 1998, a família Ascidae apresenta cerca de 33 gêneros, com ampla distribuição. Trata-se de um grupo diversificado que vem se adaptando a um grande espectro de habitats, sendo encontrados em quase todos os continentes, exceto na Antártica.

Muitas espécies de ácaros da família Ascidae apresentam potencial para controle biológico de pragas, sendo citadas como predadoras de outros ácaros, outros artrópodes e também de nematóides (WALTER, 1988 e CROSSLEY JR, et al., 1992). Outras vivem em produtos armazenados (LINDQUIST & EVANS, 1965), algumas são foréticas em mariposas e alimentam-se de ovos e larvas desses insetos (TREAT, 1975), enquanto outras são encontradas em coleópteros e ortópteros. Até o momento não foi registrada relação de parasitismo entre esses besouros (LINDQUIST, 1962).

A abundância dos histerídeos no esterco pode estar relacionada com a abundância das espécies de ácaros, pois se sugere que os ácaros possam apresentar uma certa especificidade por uma determinada espécie de coleóptero.

O resultado da variação na freqüência e ocorrência das espécies nas estações relaciona-se com as oportunidades no ambiente. Segundo RICKLEFS (1996) algumas espécies conseguem se manter no habitat com poucos indivíduos, como as espécies raras. Outras atingem grande abundância tornando-se dominantes, mediante a variação de recursos ofertados para as populações e a influência nas interações.

O coleóptero E. modestus esteve presente em todas as estações do ano, com pico no outono. C. troglodytes foi mais abundante que os outros coleópteros. Esteve presente em todas as estações, com maior pico no inverno. O H. quadridentata foi o coleóptero menos abundante. Não apareceu na primavera e seu maior pico foi no outono.

Estes resultados condizem com os dados obtidos por BRUNO (1991), em estudos feitos em granjas de 16 municípios do estado de São Paulo. Das três espécies de coleópteros da família Histeridae citados acima, C. troglodytes foi o coleóptero mais abundante, E.

modestus ficou em segundo lugar em termos de abundância e H. quadridentata o menos

abundante.

AAGESEN (1988), relata que C. troglodytes foi o coleóptero mais abundante em esterco de aves poedeiras no Município de Bastos-SP.

GIANIZELLA & PRADO (1998), constataram a presença dos coleópteros E. modestus e C.

troglodytes durante o ano inteiro na granja Capuavinha, Monte Mor - SP, sendo eles os

histerídeos mais abundantes e dominantes onde verificamos 100% em três métodos diferentes de coleta.

A Sp1 do gênero Gamasellodes oscilou bastante nas estações, caindo relativamente no inverno e aumentando no outono. A Sp2 do gênero Gamasellodes manteve um pico crescente de ácaros, aumentando relativamente no inverno, estação em que a Sp1 foi muito baixa. Este fato pode estar relacionado com a abundância dos coleópteros, já que E.

modestus e H. quadridentata apresentaram baixo número de espécimes no inverno e C. troglodytes foi mais abundante em todas as estações.

Sugere-se que as espécies de ácaros possam apresentar uma certa preferência por uma ou mais espécie de coleópteros, levando-se em conta que a Sp1 do gênero

Gamasellodes parece estar mais associada com os coleópteros E. modestus (53,97%) e ao H. quadridentata (99,35%). Enquanto que no C. troglodytes apresentou apenas 1,45% dos

ácaros. Já a Sp2 estaria mais associada ao C. troglodytes (95,65%), sendo muito baixa a porcentagem das outras duas espécies.

Na primavera ocorreu a maior diversidade de espécies, foi observado que o número de indivíduos por espécie foi uniforme, e todas as espécies encontradas estiveram presentes, apesar do número de indivíduos totais da amostra ser bem menor que no outono, justificando assim a maior diversidade. De acordo com ODUM (1975), em situação de alta diversidade, a média da uniformidade deve estar em torno de 80%.

O outono foi à estação com maior número de indivíduos, sendo que as espécies se distribuiram uniformemente, acarretando maior índice de uniformidade.

No inverno, o número de indivíduos por espécie não teve uma distribuição uniforme, devido ao pequeno número de espécimes da Sp1 e Uroobovella, predominando a Sp2, gerando a maior dominância, bem como a menor diversidade e uniformidade.

Estes resultados podem estar relacionados com o fato de que o índice de Simpson (dominância) atribui um peso maior as espécies mais comuns e o índice de Shannon atribui um peso maior as espécies raras, justificando a maior dominância para a Sp2 (ODUM, 1975).

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