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Neste trabalho foi realizada a comparação dos comportamentos específicos presente na relação mãe-filho entre os grupos com e sem problemas de comportamento, meninos e meninas. Esperava-se encontrar que as variáveis relativas às práticas positivas e habilidades sociais fossem mais frequentes paraas meninas (BANDEIRAet al., 2006; MARINet al., 2011) e grupos sem problemas de comportamento (ALVARENGA; PICCININI, 2009; BOLSONI-SILVA; MARTUANO, 2007; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010 a/b), assim como as variáveis relativas aos problemas de comportamento e práticas negativas fossem mais frequentes para os meninos (GARDINAL; MARTURANO, 2007; LEMAN; BJORNBERG, 2010; MARINet al., 2011) e grupo com problemas de

105 comportamento (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2007; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010a). Os resultados foram, parcialmente, ao encontro das hipóteses.

Com relação às habilidades sociais, em sua maioria, as maiores médias forammaiores para as meninas e para o grupo sem problemas de comportamento, conforme o esperado e indo ao encontro da literatura que também aponta para esta relação (ALVARENGA; PICCININI, 2009; BANDEIRA et al., 2006; BOLSONI-SILVA; MARTUANO, 2007; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010 a/b; MARINet al., 2011). A variável específicaque mais apareceu (para amostra total e de pré-escolares) foiconversar, enquadrando-se na categoria de Bolsoni-Silvaet al. (2009) referente a Iniciativa Social. Neste cenário, pode-se supor que a habilidade social conversar se constitui um repertório complexo e comfunções diversas, haja vista as diferentes situações em que conversar pode ser considerado um repertório adequado e a gama de comportamentos/respostas que são inclusas nesta categoria, justificando sua maior média para o crianças sem problemas de comportamento (BOLSONI-SILVA et al., 2011; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010b) .

Entre os pré-escolares, além da habilidade social conversar, que apareceu para o grupo sem problemas de comportamento,agradecerdemonstrou relevância para as crianças com problemas de comportamento, possivelmente por ser um repertório pouco complexo e altamente reforçado pelo entorno. Este dado corrobora a literatura que afirma que tais crianças, apesar do alto número de problemas de comportamento, também apresentam habilidades sociais (LEME; BOLSONI-SILVA, 2010b). Entre os escolares, as meninas apresentaram a habilidade social desculpar-se mais frequentemente que os meninos. Às meninas é esperado maior repertório de comportamentos de ordem moral e submissão (SAMPAIO; VIEIRA, 2010), além de serem reforçados pelo entorno, mais frequentemente, comportamentos de assertividade e empatia (BANDEIRAet al., 2006; CONCENTINO- ROCHA; LINHARES 2013), fatores que pode auxiliar na compreensão deste resultado.

106 Com relação aos problemas de comportamento, as médias foram maiores para os meninos e para as crianças com problemas de comportamento, conforme a literatura as variáveis que mais apareceram foram: desobedecer, responder mal, ficar com raiva, esquivar- se e ficar quieto(ACHENBACH; EDELBROCK, 1976; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010b; LEMAN; BJORNBERG, 2011; PATTERSONet al., 2002). Com relação às crianças pré- escolares, os problemas de comportamento foram mais significativos tanto para o grupo clínico, quanto para os meninos. Em ambos os casos, as variáveis específicas que foram significativas referiram-se aos problemas externalizantes, o que a literatura aponta como fator comum nessa idade (ACHENBACH; EDELBROCK, 1976; LEME; BOLSONI-SILVA, 2010b; LEMAN; BJORNBERG, 2011).

Já para as crianças em idade escolar, os problemas de comportamento não diferenciaram os grupos clínicos e não clínicos, em desacordo com a literatura (CIA; BARHAM, 2009; BOLSONI-SILVA, MARTURANOet al, 2009), em contrapartida, diferenciou meninos de meninas, com maior média para os meninos (LEMAN; BJORNBERG, 2010). Para os escolares do sexo masculino, apenas variáveis específicas referentes aos comportamentos internalizantes (ficar quieto, esquivar-se e ficar tímido) foram estatisticamente significativas, apesar da tendência desses comportamentos serem mais frequentes para as meninas (ACHENBACH, EDELBROCK, 1976; PATTERSONet al., 2002) e de se encontrar externalizantes para este contexto e população (BOLSONI-SILVA; MARTURANOet al, 2009). Por outro lado, estes resultados remetem à literatura que afirma que os comportamentos externalizantes tendem a diminuir com a idade, enquanto que os internalizantes tendem a aumentar (ACHENBACH; EDELBROCK, 1976). Por isso, vale ressaltar a importância das práticas educativas aplicadas aos meninos, pois em geral, são eles os que mais sofrem com as práticas negativas, em especial relacionadas à agressividade (MARINet al., 2011).

107 Com relação às práticas educativas negativas, as categorias demonstraram, em geral,relaçãocomos comportamentos das crianças do grupo com problemas de comportamento e do sexo masculino, corroborando a literatura que também aponta esta relação (ALVARENGA; PICCININI, 2009; BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2007). As práticas que mais apareceram foram bater, colocar de castigo, agressividade do cônjuge, sentir-se mal ebrigar com a criança.

Ao analisar as práticas educativas negativas para os diferentes grupos, nota-se que para os pré-escolares do grupo clínico, apenas a variável sentir-se malfoi significativa, contudo, para os meninos pré-escolares, houve maior gama de variáveis significativas, como bater, colocar de castigo, sentir-se mal e agressividade do cônjuge. Apesar das crianças em idade pré-escolarapresentarem mais problemas de comportamento, em especial os externalizantes (BOLSONI-SILVAet al., 2010; PIZATO et al., 2014), parece que as mães deste grupo utilizam menos práticas negativas, em comparação com o grupo de escolares. Entretanto, há uma mudança neste cenário ao se tratar dos pré-escolares do sexo masculino; neste caso, há um aumento das práticas negativas utilizadas pelas mães, compatível ao grupo dos escolares. Esta diferença pode ocorrer porque no grupo clínico também existem meninas, e então, os comportamentos de tolerância e auto controle das mães podem ser destinados às filhas (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2010; LEMAN; BJORNBERG, 2010), esta hipótese pode ser reiterada uma vez que não houveramnos resultados desta pesquisa práticas negativas significativas aplicadas às meninas.

Com relação aos meninos, tanto em idade escolar como pré-escolar, houve predomínio das práticas negativas relacionadas à agressividade, especialmente a variável agressividade do cônjuge, assim, mesmo se tratando de crianças pequenas, os pais parecem emitir comportamentos agressivos com maior assiduidade aos meninos do que às meninas (MARIN et al., 2011), talvez por se acreditar que às meninas deva ser ensinado maior

108 númerodecomportamentos morais e menor agressividade, já aos meninos são permitidos comportamentos agressivos e impulsivos (SAMPAIO; VIEIRA, 2010). Outro fator que parece relevante é a tendência dosmeninosademonstrarem mais comportamentos externalizantes do que as meninas, exigindo de mães e pais maior repertório habilidoso e competência social (BANDEIRAet al., 2006; CONSENTINO-ROCHA; LINHARES, 2013).

Sobre as práticas positivas, destacam-se as variáveis ter mesma opinião que o cônjuge, explicar e sentir-se feliz, que apareceram sempre para as crianças sem problemas de comportamentos ou meninas, indo ao encontro da literatura da área, que aponta para tal relação (BOLSONI-SILVA; MARTURANO; MANFRINATO, 2005; LEME; BOLSONI- SILVA, 2010a). Para o grupo de pré-escolares, ter a mesma opinião que o cônjugefoi significativo com relação às meninas. Por isso, parece haver alguma relação entre paradigmas sociais referentes à educação (MARIN; MARTINS; FREITAS; LOPES; PICCININI, 2013)das meninas e as HSE-P mais frequentemente, aplicáveisa elas, uma vez que tanto a mãe quanto o pai, segundo os dados encontrados, costumam estar de acordo quanto à educação das filhas, o que não parece ser tão frequente com os meninos, demonstrando então que há mais frequentemente consistência nas práticas parentais aplicáveis às meninas, justificando que elas tenham menos problemas de comportamento (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2007).

Analisando-se os resultados referentes aos escolares, encontra-se relação entre HSE-P e crianças sem problemas de comportamento, e novamente aparece ter a mesma opinião que o cônjuge, junto com explicar e sentir-se feliz. Ter a mesma opinião que o cônjuge é uma prática educativa que demonstrou relevância para as crianças em idade pré- escolar e escolar. Este dado aponta para a importância dos cônjuges estarem em acordo quanto à educação dos filhos, a fim de prevenir os problemas de comportamento, pois uma vez que o casal concorda entre si quanto aos aspectos importantes para a educação da criança,

109 ela tem maiores chances de compreender quais comportamentos são permitidos e esperados no ambiente familiar (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2007). Com relação a variável explicar, esta refere-se a uma habilidade que faz parte do vasto repertório comportamental de conversar, de forma mais específica, quando se explica algo, procura-se tornar claro e compreensível alguma ideia, valor ou comportamento por exemplo, colaborando com a instalação de comportamentos socialmente habilidosos, por a) ajudar a criança a entender vantagens e desvantagens de certos comportamentos; b) oferecer modelo empatia (ao demonstrar paciência e compreensão diante da dúvida); c) auxiliar a criança a compreender os motivos dos pais se comportarem de um jeito ou de outro em relação a ela; e por fim, d) ajudá-la a ficar sob controle de regras, importantes para o seu desenvolvimento saudável (por exemplo, lavar as mãos antes das refeições, cumprimentar ao chegar em algum lugar, não gritar em certos ambientes etc.). Sobre sentir-se feliz, infere-se haver uma relação entre a maneira como as mães se sentem frente aos comportamentos que emitem na educação dos filhos e a forma como estes respondem. Uma vez que as respostas das crianças aos comportamentos das mães são reforçadoras, há a produção da sensação de bem estar, além de aumentar a probabilidade de que tal comportamento materno ocorra novamente.

Os resultados da presente pesquisa reiteram a importância do contexto em que a criança está inseridapara o seu desenvolvimento saudável e para a aprendizagem de comportamentos essenciais que a auxiliarão no convívio social (ACHENBACH, 1991; BEE, 2003; MACCOBBY; MARTIN, 1991; PATTERSON et al., 2002). Ao se consideraro ambiente que cerca a criança, destaca-se que a família (BOLSONI-SILVA, 2008; DESSEN;

SZELBRACIKOWSKI, 2006; GOMIDE, 2006; LINSet al., 2012)e a escola (BOLSONI-

SILVA et al, 2010; PIZATOet al., 2014) são de grande importância, por se constituírem espaço de grande convívio dela com adultos e pares, adquirindo assim, a função de viabilizar o ensino de valores básicos, constitutivos da formação cidadã. Sobre este assunto, alguns

110 autores (FRIAS-ARMENTA; SOTOMAYOR-PETTERSON; CORRAR-VERDUGO; CASTELL-RUIZ, 2004; MARIN et al.,2011; SAMPAIO; VIEIRA, 2010)discorrem a respeito da diferença entre as práticas educativas de pais e mães e apontam que o sexo dos filhos é um dos fatores que influenciam nesse distinção, além disso, de modo geral, parece existir uma diferença sobre os comportamentos que são esperados pelos meninos e pelas meninas em contextos muito semelhantes. Com relação aos dados da presente pesquisa, parece ficar evidente essa diferença, uma vez que os meninos demonstram mais problemas de comportamento, as meninas mais habilidades sociais e houve diferença no comportamento das mães (e também dos pais) em relação a cada um deles: mães e pais parecem ser mais agressivos com os meninos, já com as meninas, há uma maior exigência para a adoção de comportamentos moralmente corretos e mais habilidosos.

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