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ÃO

Associações entre o nível de atividade física, o contexto escolar, a condição socioeconômica, a pressão arterial e a prevalência de obesidade e sobrepeso em adolescentes.

5. DISCUSSÃO

O presente estudo, transversal, foi realizado com estudantes do ensino médio do município de Imperatriz (Maranhão, Brasil) com intuito de identificar o IMC, a CC, a pressão arterial (sistólica e diastólica) e frequência cardíaca, assim como uma reflexão de sobre a prevalência de obesidade, obesidade abdominal e pressão arterial elevada em adolescentes. Não obstante, foi explorado a influência do nível de atividade física, do contexto escolar e da condição socioeconômica sobre estas variáveis.

No estudo em questão as perdas amostrais ficaram dentro do previsto no desenho da pesquisa, uma vez que a amostra enquadrou-se dentro do valor obtido pelo cálculo amostral e a estratificação sistemática dos sujeitos foi respeitada. Foi atendida a seleção da amostra, de acordo com as proporções por natureza e por série fornecidas pela SEDUC-MA (Maranhão, 2013).

Com base nos achados do presente estudo, podemos afirmar que a prevalência de obesidade e obesidade abdominal são elevadas na adolescência, e se relacionam significativamente entre elas. A pressão arterial elevada também se mostrou prevalente, mas esta possui apenas relação moderada com a obesidade e com a obesidade abdominal. Entre gêneros, as adolescentes do sexo feminino apresentaram maior prevalência de obesidade abdominal, enquanto os do sexo masculino apresentaram maior prevalência de pressão arterial elevada. Relativo à faixa etária, à medida que esta aumenta ocorre incremento na obesidade, obesidade abdominal e pressão arterial.

Alguns fatores se mostraram associados com o acréscimo da circunferência de cintura, IMC e pressão arterial. Quanto ao contexto escolar, os adolescentes de escolas particulares alcançaram maiores valores de PAS, enquanto a CC e o IMC aumentaram com o decorrer da seriação escolar, assim como, os alunos do turno noturno, que exibiram, também, maiores valores de CC e IMC. A condição socioeconômica e o grau de instrução do

chefe de família não influenciaram significativamente as variáveis em questão.

A prevalência da obesidade em crianças aumenta rapidamente em todo o mundo (WHO, 1998; Cole et al. 2000). Esta prevalência pode vir associada a vários fatores de risco para doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas incluindo hiperlipidemia, hiperinsulinemia, hipertensão e aterosclerose precoce (Berenson et al., 1993; WHO, 1998). Estes fatores de risco podem operar em associação com a obesidade infantil e adulta, mas pode operar também de forma independente (Must et al., 1992; De Moraes, 2013; De Moraes, 2013b). Ao passo que, a obesidade abdominal faz parte de dois critérios diagnósticos da síndrome metabólica: NCEP-ATPIII (2001) e International Diabetes Federation (IDF) (Jollife e Janssen, 2007), bem como pelo fato de estar diretamente relacionado a outros fatores de risco cardiovascular, como as dislipidemias (Freedman et al., 1999; Ramírez- Lopez et al., 2006) e diabetes mellitus (Gabbay, Cesarini e Dib, 2003; Petersen et al., 2007).

Vários estudos têm demonstrado que a obesidade, a obesidade abdominal e a pressão arterial (PAS, PAD e FC) elevada em adolescentes são bons preditores de doenças cardiovasculares na fase adulta (De Moraes, 2013b). Doenças cardiovasculares são as principais doenças (não transmissíveis) em todo o mundo e constituem um grande problema de saúde pública em muitos países (Beaglehole e Horton, 2010).

Nossos achados indicaram que a prevalência da obesidade, obesidade abdominal e pressão arterial elevada são altas, e alguns comportamentos se associaram a essa prevalência. Estudos de tendência temporal sobre obesidade e sobrepeso, em adolescentes brasileiros, apontam para aumentos na prevalência do excesso de peso (Wang, Monteiro e Popkin, 2002). Este fenômeno também é observado na síndrome metabólica (De Moraes et al., 2009), indicando um grave problema de saúde pública, devido ao fato deste quadro ter forte inclinação a se perpetuar nas fases futuras da vida (Gigante et al., 2008; Cole et al. 2000).

A prevalência de obesidade abdominal (CC) foi ainda maior que o sobrepeso e obesidade (IMC). Quando a prevalência foi analisada quanto ao sexo, foi observado que os adolescentes do sexo masculino apresentaram maior proporção (leve) para obesidade e sobrepeso, ao passo que as adolescentes do sexo feminino apresentaram maior prevalência de obesidade na região abdominal. A prevalência de obesidade na região abdominal nas adolescentes do sexo feminino pode ser explicada pelo fato de o sexo feminino apresentar maior percentual de gordura corporal que o sexo masculino, (Lee, Bach e Arslanian, 2006) independente do estágio maturacional (Taylor et la., 2000; Fernandez et al., 2004), no entanto, não há consenso na literatura (Tzotzas et al., 2008; De Moraes et al., 2010; Fernandes et al., 2011) sobre a prevalência do percentual de gordura quanto ao sexo.

No estudo em questão, não foi observado influência significativa da condição socioeconômica e do grau de instrução do chefe de família sobre a CC, o IMC e PA, apesar de indicarem aumento destas variáveis nas classes econômicas mais altas. Estes achados divergem de estudos nacionais, que têm encontrado na condição socioeconômica elevada um fator determinante do excesso de peso em estudantes do ensino médio (Magalhães e Mendonça 2003; Monteiro et al., 2004; Nunes, Figueroa e Alves, 2007; Gordia et al., 2008; De Moraes, 2008). Esse fenômeno pode ser explicado, possivelmente, porque os grupos mais abastados têm acesso a maiores quantidades de alimentos, em especial aqueles com alto teor energético (Nunes, Figueroa e Alves, 2007; De Moraes, 2008), reforçado por um comportamento sedentário maior nas classes mais altas (Reis et al., 2009). Não obstante, há evidencias de que este quadro está se modificando, com rápido crescimento da obesidade em populações de menor poder aquisitivo (Batista Filho e Rissin, 2003; Monteiro et al., 2004; De Moraes, 2008).

O grau de instrução do chefe da família também não foi identificado como fator significativo na prevalência da obesidade (IMC), obesidade abdominal (CC) e pressão arterial elevada (PAS/PAD). Porém, alguns estudos afirmam que o baixo nível de escolaridade dos responsáveis é um possível fator de risco para o desenvolvimento da obesidade nos filhos, visto que esses pais,

em geral, não são capazes de reconhecer o problema de peso do adolescente (Genovesi et al., 2005; Vourela, Saha e Salo, 2010; Pakpour, Yekaninejad e Chen, 2011).

O presente estudo encontrou diferenças no nível de atividade física entre os adolescentes. Nesta amostra, os alunos que não praticaram a recomendação mínima de 60 minutos diários de atividade física (WHO, 2010; De Moraes, Guerra e Menezes, 2013) atingiram valores menores de CC, IMC e PAS, divergindo de estudos recentes. Porém, a análise do NAF isolado não fornece uma definição completa da influência negativa sobre as variáveis citadas, pois há a necessidade de avaliá-lo em conjunto com o comportamento sedentário do adolescente, não observado no estudo. Estudo recente, em populações nacional (BRACAH) e europeia (HELENA), indica que o NAF regula o comportamento sedentário, e baixos níveis de atividade física associados a altos níveis de comportamento sedentário promovem o aumento da pressão arterial em adolescentes (De Moraes et al., 2013b), principalmente no gênero masculino.

As observações do contexto escolar levam em consideração a natureza da escola, a série e o turno. No estudo em questão, a natureza da escola foi influente na PAS, os alunos de escola particular apresentaram valores maiores de pressão arterial sistólica que seus pares de escola federal e estadual. Relativo a serie, os alunos de 1° e 2° anos apresentaram valores de CC, IMC e PAD menores, principalmente quando contrastados aos alunos do 3° ano. Enquanto, na comparação por turno, os alunos do período noturno apresentam valores de CC, IMC e FC maiores que os alunos das modalidades diurnas.

A elevada PAS em estudantes de escola privada pode ser explicada, em parte, pelo nível econômico mais elevado destes estudantes e, uma possível, ingestão maior de alimentos hipercalóricos, a redução do nível de atividade física (Tenório et al., 2010) e o aumento do comportamento sedentário (Reis et al., 2009), associados a populações com condição econômica maior (De Moraes, 2008).

O incremento da CC e do IMC com o aumento da seriação escolar pode ser explicado pelo aumento da idade, em função da série. De acordo com os preceitos do ensino médio regular (SEDUC-MA, 2013), os alunos não devem possuir a idade/série muito desviada (elevada) sob o risco de serem removidos ao ensino acelerado, supletivo ou EJA (Educação de Jovens e Adultos), e já esta bem estabelecido pela literatura a ocorrência da elevação da CC e IMC de acordo com a idade, amadurecimento, do adolescente (Taylor, 2000; Cole et al. 2000; Fernández et al., 2004; Conde e Monteiro, 2006; Cole et al., 2007; Christofaro et al., 2009; Neto et al., 2012).

Em relação ao turno, o acréscimo, do IMC e CC nos estudantes do período noturno em comparação aos alunos dos períodos diurnos (matutino e vespertino), pode ser especulado o fato dos alunos desta modalidade possuírem atividades laborais durante o dia, que podem reforçar o comportamento sedentário, corrobora na manutenção deste quadro a não obrigatoriedade da participação dos alunos, do turno noturno, nas aulas de educação física formal (não mensurado no estudo), inclusas no currículo escolar (Brasil, 1996).

Entre o gênero, os adolescentes do sexo masculino apresentaram maior CC e PAS, enquanto as do sexo feminino apresentaram maior PAD e FC. Estes achados estão de acordo com a literatura, estudos em adolescentes latino- americanos (De Moraes et al., 2013c) indicam que os meninos possuem CC maior, mas não há consenso na literatura sobre a prevalência de CC elevada e gênero (De Moraes et al., 2010), já a associação da CC e pressão arterial elevada está bem elucidada na literatura (Taylor et al., 2000; Fernandez et al., 2004; Guimarães et al., 2008; De Moraes et al., 2010). Algumas possíveis explicações para esta associação são, diretamente, que o aumento da gordura abdominal está associado a elevação da metabolização dos adipócitos localizados nesta região e, indiretamente, por meio da hiperinsulinemia decorrente da resistência a insulina consequente a distúrbio no mecanismo celular de metabolismo da glicose (Reilly et al., 2003; Guimarães et al., 2008).

A faixa etária, neste estudo, foi significativamente associada ao aumento da obesidade, obesidade abdominal e pressão arterial com o aumento da idade,

entretanto foi observado comportamento inverso da frequência cardíaca ao longo da adolescência. Apesar da CC e do IMC, na adolescência, demonstrarem um comportamento progressivo e contínuo, estas variáveis apresentaram algumas fases de incremento mais acelerados (até os 17 anos) e outras mais estáveis (18-19 anos), provavelmente devido o desenvolvimento maturacional próprio da fase, fato que confirma a necessidade de pontos de cortes específicos para estas variáveis (Taylor et al., 2000; Cole et al., 2000; Fernandez et al., 2004; Conde e Monteiro, 2006; Cole et al., 2007). Logo, a literatura indica que o acréscimo da CC e do IMC promovem a elevação da pressão arterial (Taylor et al., 2000; Guimarães et al., 2008; Alberti et al., 2009; De Moraes et al., 2013c) por isso a necessidade do controle do peso durante a adolescência como forma de promoção da saúde.

Este estudo vem a ampliar e consolidar as evidências de que o controle do excesso de peso dever representar prioridade nas estratégias de combate prevenção para a manutenção da saúde dos adolescentes. Os achados apoiam a necessidade de fomento a prática de atividade física durante a adolescência, de preferência desde a infância, o desencorajamento de comportamento sedentários e a diminuição do consumo de alimentos de grande aporte calórico (Gordia et al., 2010; Tenório et al., 2010; Leal et al., 2012; De Moraes et al., 2013) como forma de reduzir o risco de pressão arterial elevada (Silva et al., 2013; De Moraes et al., 2013b).

Nossos resultados podem auxiliar no planejamento de intervenções para a prevenção de tratamento da obesidade, uma vez que países em desenvolvimento mostram aumento na prevalência de obesidade em decorrência de alterações no estilo de vida (Cecchini et al., 2010).

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